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Breve explanação histórica do período abordado

CAPÍTULO 1. DISCUSSÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA

1.3. Breve explanação histórica do período abordado

Após estas elucidações conceituais, precisamos realizar uma breve análise do primeiro período a ser estudado cronologicamente por nós, bem como sua estrutura organizacional e suas facetas políticas. Somente compreendendo historicamente o período homérico é que poderemos ver como as divindades ctônicas se encaixam na religiosidade deste período – ou como não se encaixam. Não é propósito nosso neste trabalho realizar uma análise profunda dos poemas Ilíada e Odisseia – as obras escritas mais significativas deste período que chegaram até nós. Também não é nossa intenção a proposta de um cotejo entre as duas obras. Nosso propósito é mais modesto, até porque estas obras pouco nos dizem em relação às divindades ctônicas. Este tópico consiste somente em situar o período homérico e suas especificidades, para termos condições de analisarmos as estruturas sociais da época e como os deuses telúricos se encontravam ou se ausentavam dentro delas.

O período homérico é – em sua quase totalidade – fruto de controvérsias entre seus próprios especialistas, a começar por sua delimitação temporal. Alguns historiadores colocam a formação do período ainda na Idade do Bronze, de XII a VIII a.C.51. Outros preferem colocar o período homérico como uma mescla do período micênico – anterior – e o período posterior ao micênico52 desconhecido em sua quase totalidade por nós pela falta de fontes escritas. O próprio período micênico só se torna conhecido com a decifração do Linear B, a escrita da época. Resgates arqueológicos de tabuinhas com este tipo de escrita nos proporcionaram novas interpretações sobre o período dos palácios.

As principais fontes do período homérico que chegaram até nós são os poemas

Ilíada e Odisseia, atribuídos a Homero, além dos resgates arqueológicos. As

características de um mundo que o poeta coloca em seus poemas, ora se parecem com o mundo micênico, ora se distanciam dele. Pierre Vidal-Naquet elucida as dúvidas entre os especialistas em relação ao período de Homero e aos escritos deste: para alguns Homero retratou certamente o mundo micênico. Outros creem que se trata de um outro mundo, com reminiscências deste período micênico53. Concordamos que, embora

51 GLOTZ, Gustave (1946), p. 23. 52 MOSSÉ, Claude (1993), p. 13. 53 VIDAL-NAQUET, Pierre (2002), p. 15.

características micênicas estejam presentes nas Epopéias Homéricas, várias peculiaridades posteriores também podem ser percebidas, se tratando, deste modo, de um período posterior.

Moses Finley (1988) situa o período homérico entre os séculos X e IX a.C., ou seja, posterior ao micênico. Pierre Vidal-Naquet (2002) no livro O Mundo de Homero data até o início do século VIII a.C. Concordamos com a opinião destes autores no que tange o entendimento de que a as Epopéias Homéricas, embora possuam características micênicas como a supremacia de uma realeza, também possuem características posteriores a ela, o que nos faz pensar que o referido período seja uma mescla do anterior e do atual, com traços dos quatro séculos anteriores, dos quais não temos fontes escritas.

Homero retrata em suas obras o cotidiano dos homens e também dos deuses. Percebemos nos poemas que os deuses são como os homens: passionais, sentem raiva, amor, alegrias, tristezas e fraquezas. Assim como os homens, os deuses têm opiniões próprias e tomam partido conforme seus interesses. Embora os deuses sintam emoções semelhantes à dos humanos, a vontade destes sempre prevalece; nenhuma cidade é construída ou uma guerra conhece seu vencedor sem a intervenção deles54. Na Ilíada percebemos claramente que o soberano Zeus é quem decide o destino da batalha; porém os outros deuses usam de persuasão e de seu poder divino para também manipularem a guerra conforme seus interesses. Os deuses de Homero estão longe de habitarem o Olimpo perfeito da Teogonia de Hesíodo; de serem tranqüilos e onipotentes quanto ao que acontecia no mundo dos mortais.

Este período é marcado por algumas peculiaridades organizacionais e políticas. O século VIII a.C. foi um século de suma importância para a história do povo helênico, pois foi neste século que teve fim o período micênico e se configurou a conhecida polis:

O século VIII é um período muito importante na história do mundo grego e, aliás, do mundo mediterrâneo em geral (Roma, por exemplo, foi fundada em 753 a.C.). Trata-se de uma época na qual se consolida, na Grécia européia, insular e asiática, uma forma original de vida em sociedade, a pólis. Um grupo de homens livres diz ‘ nós’ ao falar em nome de todos. Os reis já não existem ou então têm apenas papel simbólico. As cidades são governadas não pelo povo, mas por homens (relativamente) ricos, possuidores de terras mas também, as vezes, entregam-se ao grande comércio marítimo.55

54 SISSA, Giulia; DETIENNE, Marcel (1990), p. 41. 55

Analisando as palavras de Vidal-Naquet têm-se a impressão de que, em um curto espaço de tempo, a sociedade grega se viu sem reis, com outra forma de governo e de organização. Sabermos que as transformações políticas e sociais não ocorreram desta forma é primordial. Segundo Jean-Pierre Vernant um dos fatores que contribuíram para a dissolução do estado monárquico foi a invasão dórica que põe fim aos palácios micênicos e rompe por longos séculos o vínculo entre a Grécia e o Oriente56. Neyde Theml acrescenta que divergências políticas entre os próprios reis causaram o enfraquecimento do que ela chamou de Estados Palácios57 facilitando assim a conquista dórica. Este período micênico anterior a polis, de acordo com Gustave Glotz58, compreendia principalmente três segmentos sociais59. O primeiro segmento seria o dos nobres: reis descendentes de deuses, como é possível verificar nas epopeias homéricas. O segundo seria os demiurgos, trabalhadores que viviam em sua maioria nos aglomerados urbanos. Eram cantores, médicos, adivinhos, arautos ou artesãos. Finalmente os thêtes compõem alguma multidão, não possuem trabalho fixo, alguns mendigam, outros se tornam mercenários, porém não possuem moradia fixa nem segurança. Porém os thêtes não podem ser confundidos com escravos. Eram homens livres – no sentido literal da palavra – que recebiam por seus serviços.

Já foi visto no início deste tópico que a opinião de Glotz diverge da nossa em relação à datação do período homérico e também sobre a organização urbana vigente na época em que Homero viveu. Vemos em autores mais modernos, como Finley, Mossé e Vidal-Naquet, que a realidade retratada nas epopeias homéricas não é exclusivamente micênica; embora existam semelhanças, como os palácios e os templos que, em Tróia, situam-se no alto da acrópole, evocando mais as cidades micênicas do que a polis do século VIII a.C.60. A arqueologia já tratou de mostrar como a realidade das cidades no período em que os poemas foram escritos – séculos VIII e VII a.C. – era dessemelhante em alguns aspectos do período micênico, como acreditava Glotz. A descrição supracitada da organização social realizada por Glotz ainda é relevante, desde que tenhamos a consciência de usá-la para o período micênico. Foi toda esta organização

56 VERNANT, Jean-Pierre (1986), p. 24. 57 THEML, Neyde (1988), p. 25. 58 GLOTZ, Gustave (1980), p. 30-31. 59

Usaremos “segmento” por acreditarmos que o termo “classe” faz-se desapropriado para o período, já que esta noção de classe vem carregada de outro sentido, muito mais ligado ao capitalismo industrial ocorrido a partir do século XIX.

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social que poderia ter ruido com a expansão dórica no Peloponeso, na Ásia Menor e nas ilhas do Mar Egeu61.

Todavia a transformação mais significativa foi sem dúvida no campo político. Todas as questões que antes eram de interesse geral do soberano são agora submetidas a uma arte oratória e somente se resolverão com a conclusão de um debate. Para isto se faz necessária a formulação de discursos e argumentações62. A polis torna-se então um espaço essencialmente político e “do” político. E a política é pública. Pode-se entender então que por meio das discussões que outrora não se faziam necessárias, agora emergem de todos os lados, transformaram a Grécia em uma pátria da oratória e do diálogo e as pessoas em indivíduos políticos capazes de formularem seus próprios questionamentos. Os indivíduos igualam-se e se enxergam unidos por interesses comuns ao grupo, a philia63. A partir da formação da polis acontece uma relação recíproca, substituindo a relação hierárquica de submissão do período real micênico. Até o herói homérico da Ilíada, sempre nobre e divinizado é substituído pelo hoplita, o soldado- cidadão. A façanha individual dos heróis da guerra de Tróia é substituída pelo valor militar de lutar pelo coletivo.

Contudo, mesmo na Ilíada, há passagens em que o interesse coletivo vai além da individualidade: “E é precisamente por os heróis formarem uma sociedade de iguais que a realeza exercida no seio da cidade pelo mais ‘real’ de entre eles nunca poderia ser uma realeza tipo monarquia absoluta”64

. Podemos perceber que, nestes momentos, as Epopeias Homéricas distanciam-se da monarquia vivida pela sociedade micênica. Destarte não podemos cair no equívoco de pensarmos que todos os indivíduos possuíam direitos políticos igualitários e o mesmo espaço nas discussões. A política era uma coisa para a aristocracia e os homens abastados; artesãos, comerciantes e principalmente escravos não dispunham de tempo para se dedicar a política.

Continuando com nossa digressão, pretendemos discorrer sobre as transformações políticas e sociais que ocorreram com o fim da época homérica e o início da chamada época arcaica – o período das tiranias – e pontuar as transformações políticas e sociais que aconteceram em constante relação com as transformações culturais e religiosas. Centramos nossa pesquisa basicamente na cidade de Atenas, por ser a Cidade-Estado que mais documentos nos legou; todavia outras poleis também

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ROCHA PEREIRA, Maria Helena da (1993), p. 159.

62 VERNANT, Jean-Pierre (1986), p. 35. 63

Idem, p. 42.

serão contempladas. É imprescindível ressaltar que além de Atenas muitas outras tiranias aconteceram em todo o território grego65 e seria errôneo de nossa parte creditar menos importância a estes governos. Adentrarmos mais profundamente na tirania de Pisístrato e de seus filhos, por entendermos que esta tirania foi de extrema importância para o ctonismo, pois foi a forma de governo que mais o difundiu. Quando se faz necessário, citamos outras tiranias em nível de comparação. É essencial elucidarmos que na época arcaica Atenas ainda não conhecia seu apogeu; pelo contrário, antes das guerras medo-persas Atenas era muito mais atrasada do que a maioria dos centros helênicos66. De acordo com Norberto Guarinello, é com esta guerra que Atenas se tornará a Cidade-Estado mais importante e, conforme o autor, exercer seu imperialismo67.

A nossa intenção é elucidar brevemente a transição do período anterior para o período arcaico. É fundamental para a compreensão de esta transição entender os fatores econômicos que modificaram a estrutura política e propiciaram a formação de um novo campo político. Compreendemos que no período homérico a aristocracia exerceu amplo poder social, porém as transformações econômicas ocorridas na passagem do século VIII para o século VII a.C. fizeram com que outros segmentos sociais também enriquecessem: “A crescente riqueza das comunidades no século VII era, em parte, distribuída entre homens que estavam fora das aristocracias dominantes e que se ressentiam de sua falta de influência”.68

Mas como enriqueceu este segmento social, que até então estava subjugado à aristocracia, na passagem de um século para outro? Os historiadores apontam-nos alguns fatores que foram determinantes. O primeiro deles seria a origem da colonização grega que, embora tenha muitas versões, transformou os valores e conceitos econômicos até então vigentes na sociedade. A aristocracia, que já não poderia depender exclusivamente da terra, foi comercializar com outras sociedades, abrindo assim espaço para as rotas comerciais. Um número de homens que não fazia parte da aristocracia lançou-se ao mar para comercializar materiais que a Grécia não possuía ou era muito

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Para ver as outras tiranias, tanto no período arcaico como em outros períodos da história grega ver: MOSSÉ, Claude. La Tyrannie dans la Grèce antique. Paris: Quadrige/PUF, 2004. Mossé inova os estudos da tirania nesta obra. As tiranias mais conhecidas e estudadas são efetivamente as do mundo arcaico. A historiadora analisa profundamente outras tiranias de outros períodos, que tradicionalmente não são analisadas, como o clássico e até o helênístico.

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LEVI, Mario Atilio (1991), p. 30.

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GUARINELLO, Norberto L. (1994), p. 14.

pobre, como o ferro, imprescindível para o fabrico de armas e utensílios69, ou o trigo trazido do Egito. Desta forma a aristocracia já não possuía o monopólio das rotas comerciais. Entretanto, falar em economia para o período arcaico é demasiadamente complexo, pois os pensadores antigos não haviam formado este conceito até antes do século IV a.C. e é com os filósofos deste período que surge uma reflexão sobre a moeda e a atividade mercantil.

Posteriormente vieram se juntar a estes mercadores integrantes do campesinato que foram arruinados por esta nova prática mercantil, enfraquecendo os privilégios aristocráticos70. Este campesinato se moderniza e modifica o conceito de sociedade pastoril:

No entanto, temos provas concretas de que o século VIII assistiu ao desenvolvimento de uma economia agrícola e expensas das formas de economia pastoril dominantes no decurso dos séculos obscuros. (...) E o grande poema de Hesíodo, Os Trabalhos e os Dias, composto em fins do século VIII, chegou inclusive a ser considerado como a primeira obra de agronomia grega digna desse nome. O aumento demográfico, revelado pelo estudo das necrópoles, dá igualmente testemunho desse crescimento da produção agrícola, que deve ter derivado, se não de melhores técnicos (não se sabe ao certo quando é que o arado vem a surgir, e a própria charrua irá continuar a ser um instrumento relativamente primitivo até época bastante tardia), pelo menos do arroteamento das eschatiai, das zonas fronteiriças.71

Esta evolução agrícola tirou grande parte da influência comercial da antiga aristocracia pastoril, que começa a ver seu patrimônio definhar.

Todavia, está claro para os estudiosos deste período que um outro grupo ascendeu com o enfraquecimento da antiga aristocracia: trata-se dos artesãos. A cerâmica passa a ser um produto acalentado pelo consumo – haja vista o número de centros de produção – pela multiplicidade de formas e pelo aperfeiçoamento da técnica e do estilo72. Estes artefatos passam a ser usados tanto por comerciantes – como recipiente de transporte de trigo, azeite ou vinho, ou mesmo como utensílio a ser comercializado – como pelo oikos, para função cotidiana. Com a popularização da cerâmica – que causou também o embaratecimento da mesma – as famílias passaram a utilizá-la como primeiro utensílio para a cozedura e armazenamento alimentar. Já a

69 MOSSÉ, Claude (1989), p. 103. 70 Idem, p. 122. 71 Idem, p. 123. 72 Idem, p. 124.

família aristocrática se vê obrigada a diminuir sua prole, pois a terra era cada vez menor e a partilha em muitos filhos acabaria por tornar ínfimo o território herdado por cada um73. Assistimos nesta época ao começo do endividamento camponês – que culminará com as reformas de Sólon, como veremos – e do declínio aristocrático e da mão-de-obra que para ela trabalhava. A documentação não elucida com precisão as causas deste endividamento, mas Aristóteles, na obra Constituíção de Atenas, aponta que um dos motivos seria a exportação de cereais de outras localidades, resultando em um colapso da produção local74.

Outra causa de extrema importância – para alguns de principal importância – para a transformação ocorrida no início do arcaísmo não é determinantemente econômica, mas social. Trata-se da chamada reforma hoplítica. A representação mais antiga conhecida de uma falange hoplítica está no vaso coríntio oinochoe Chigi, datado do século VII a.C.75 Podemos concluir então que no século VII a.C. a falange já existia e, como até este momento não se encontrou nenhuma representação anterior a este século, supomos que a falange surge aí.

Uma parte da população helênica, que transformou de forma significativa suas finanças com o comércio, passou a investi-las na compra de armamentos e panóplias e compuseram um exército de conquistas; eram os hoplitas que compravam o metal trazido por mercadores para seus armamentos e ofereciam seus serviços em guerras e batalhas, exercendo assim uma manutenção do novo sistema vigente. Este exército colaborou para o esfacelamento da já arruinada aristocracia pastoril, uma vez que ajudaram o estabelecimento das tiranias em toda a Grécia:

Para começar, digamos apenas que a falange não criou uma situação revolucionária, mas que ela deu aos descontentes – pelo menos a uma parte dos descontentes – um meio de se fazer ouvir. Ao mesmo tempo, ela eliminava, no nível das consciências, uma das justificações do monopólio aristocrático. Nesse sentido, ela foi uma condição sine qua

non para uma mudança política importante. Temos vários indícios do

controle dos hóplitas por parte de tiranos quando de seus “golpes de Estado”, e depois deles.76

Como foi dito no capítulo anterior, o hoplita substituiu a ideia do herói homérico, nobre e descendente direto dos deuses. Contudo, para integrar este novo

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A Constituição de Atenas, IX. Trad. Francisco Murari Pires.

74

MOSSÉ, Claude (1989), p. 137.

75 Idem, p. 141. 76

exército o indivíduo deveria ser abastado e com renda suficiente para custear seu próprio armamento de guerra. Trabulsi alerta para o fato de não podermos pensar a falange como “classe hoplítica” ou “classe consciente de si própria” 77

. Eles foram, na maioria dos casos, utilizados por manobras de tiranos para a tomada do poder. Para o ctonismo, a reforma hoplítica propiciou o enfraquecimento das bases aristocráticas, que por sua vez perderam o poder de controle sobre a religiosidade da polis, fazendo os cultos rurais e mistéricos adentrarem no seio das cidades e serem apropriados pelos tiranos, que tinham intenção de alargar suas bases entre os populares e as camadas mais pobres. A falange hoplítica foi solidária no sentido de contribuir para este processo.

Com este colapso na estrutura vigente, o momento se torna maduro para uma tomada de poder por um tirano, pois os antigos governantes estavam arruinados e os novos governos, por sua vez, ainda encontravam-se desarticulados. Algumas tentativas ocorreram – como o caso de Cílon, em Atenas – porém a maioria fracassou. Com o medo de uma tomada de poder, a nova elite que se formou passa a adotar um sistema de leis e convoca alguns membros desta elite para tornarem-se legisladores. Surgem aí as primeiras figuras realmente históricas conhecidas na política grega. Peter V. Jones afirma que por volta de 621-20 a. C. o primeiro legislador ateniense conhecido por nós, Drácon, publica um código de leis que veio a tornar-se proverbial por sua severidade, baseado em regularizar os procedimentos que tratam de homicídio. Suas leis basearam especificamente a dar uma resposta ao descontentamento dos eupátridas após a possibilidade de uma possível tirania de Cílon78.

Destarte a questão mais complexa e profunda que nasceu deste colapso – a crise no sistema econômico agrário – não conseguiu ser nem sequer mitigada por Drácon. É daí que surge o principal legislador ateniense: Sólon. Este foi nomeado árkhon em Atenas por volta de 594-93, já no século VI a.C.79. Por sua tentativa de legislar para todos, alguns autores crêem que foi de Sólon que nasceu a democracia80 ou que durante a legislação deste a Grécia viveu a própria democracia81. Não partilhamos da noção de que Sólon instalou a democracia ateniense ou que o mesmo foi um democrata. A democracia trilhou um caminho relativamente lento após a tirania dos Pisistrátidas, que parte de Clístenes até chegar ao seu principal nome, Péricles.

77 Idem, p. 60. 78 JONES, Peter V. (1997), p. 6. 79 Idem, p. 7. 80 BIGNOTO, Newton (1998), p. 33. 81 GLOTZ, Gustave (1980), p. 87.

Tratando rapidamente da legislatura de Sólon – já que nosso objetivo com este período é somente o de compreender o processo que propiciou a tomada de poder por Pisístrato – podemos ter como certo que este legislador modificou as bases da política e da sociedade ateniense, porém sem a capacidade de transformá-las. O governante diminui os poderes da então nova aristocracia que havia se instalado no campo e elabora leis para os trabalhadores destas terras: os hectémoroi82 e os pelatai83, creditando maior

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