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Capítulo 3 Levantamento do Quarteirão do Martinho da

3.2 Enquadramento Histórico

3.2.1 Breve História da Cidade de Lisboa

Em todos os rios de considerável caudal que atravessam ou nascem em Portugal existe, na sua foz ou ao longo do seu percurso, pelo menos uma grande cidade. Tal facto é bem notório no maior rio que atravessa Portugal Continental, o Rio Tejo, que tem perto da foz a maior cidade do país, Lisboa. O segundo maior rio, o Douro, tem igualmente a segunda maior cidade, a cidade do Porto, junto à sua foz. O Rio Mondego tem na sua margem a cidade de Coimbra. E assim sucessivamente, sempre a confirmar a importância que os cursos de água têm para a fixação das povoações – rios de água, mares de gente.

De facto, a localização de Lisboa à beira rio e à beira mar, com fauna e flora ricas, com água em abundância, colinas e vales com excelente exposição solar, são condições que favoreceram, desde sempre, a fixação humana.

As estações paleolíticas e neolíticas encontradas provam que a região de Lisboa tinha já um povoamento denso no decorrer da pré-história. Esta região foi também palco de encontro entre povos: Os Celtas (Século VIII-VII a.C.), os Cartagineses (Século V a.C.), os Fenícios e os Romanos (princípios do Século II a.C.), todos eles a habitaram. Mais tarde vieram os Bárbaros e em 711 chegaram os Mouros que ali permaneceram até 1147 (não esquecendo também os povos que tentaram saquear Lisboa: suevos, alanos, silingos e visigogos) (ver Figura 3.2).

1147 1850

1600 1950

1750 1970

Figura 3.2 – Gravura de Brunino de Lisboa (finais do Século XVI) e sua evolução no tempo

Uma antiga etimologia fenícia da palavra Lisboa (Alis Ubbo – enseada amena) poderia ser a origem do seu nome, mas a lenda do herói grego Ulisses parece ser a mais convincente da sua origem. Os romanos em 205 a.C. após a conquista da Lusitânia chamaram-na Olissipone e os Árabes chamavam-na de Lixbunâ.

Os primeiros traços típicos de cidade foram criados pelos romanos. As suas construções encontram-se 3 a 4 metros abaixo das construções actuais da cidade, destacando-se as termas do império de Tibério, que se encontram sob a actual rua da Prata.

Porém, os bairros mais antigos de Lisboa foram criados pelos árabes: vielas tortuosas, pequenas praças e casas que quase se tocam de um lado ao outro das ruas estreitas. Os árabes construíram, também, a primeira muralha de Lisboa que, até então, estava exposta aos ataques dos vândalos. Essa muralha com 15 000 m2 foi erguida com pedras das construções romanas destruídas pelos mouros. Antes da nacionalidade, a população de Lisboa rondava os 15 000 habitantes.

Em 1147, Lisboa foi tomada por D. Afonso Henriques e as suas tropas. A cidade expandiu-se e D. Afonso III, em 1256, faz de Lisboa a capital do reino. No final da primeira dinastia, D. Fernando vê-se obrigado a construir nova muralha (1373-75) com 105 000 m2, 34 portas e 77 torres, para abranger uma cidade que não parava de crescer.

A parte central de Lisboa estabeleceu-se, a partir do Século XV, no vale mais profundo, onde séculos antes existia um braço do Tejo. O terreno é pantanoso, mau para as edificações, mas o bastante para afastar a concentração de diversas actividade naquela zona. Por curiosidade, nas caves do Teatro D. Maria II (1843-46) ainda se ouve correr água subterrânea.

Em 1515-21 foi construída a torre de Belém e em 1523 a Casa dos Bicos.

Em 1531 outro grande terramoto abalou Lisboa. Seguiram-se outros, em 1551 e 1597 (França, 1987).

Nos Século XV, a população de Lisboa rondava os 50 000 habitantes, no Século XVI, os 80 000 e, no Século XVII os 100 000 (Figura 3.3).

(a) (b)

Figura 3.3 – Lisboa no século XVII e XVIII: (a) Lisboa em 1650, planta topográfica de João Nunes Tinoco ; e (b) Terreiro do Paço (lado poente) antes de 1755 Lisboa era então a capital europeia do comércio, onde se cruzavam carregamentos de âmbar, benjoim e almíscar, rubis da Birmânia, diamantes da Narsinga e pérolas do Ceilão, ouro de Sofala, coral, pimenta, moedas bárbaras, etc. No porto encontravam-se marinheiros de todos os países, soldados, cambistas, mercadores, artífices, frades e mendigos. Por ano entravam no estuário do Tejo cerca de 2000 embarcações (Figura 3.3). E a população de Lisboa continuava a crescer em larga escala (126 000 habitantes em 1626). Enfim, o mercantilismo reinava na altura.

Consequentemente, com o aumento exponencial da população, Lisboa começava a ter problemas de salubridade pública. Escritos do Século XVIII relatam que em Lisboa ninguém se lavava e que a cidade estava cheia de becos imundos...

Em 1755 um violento terramoto, seguido de um devastador incêndio pôs fim a séculos de história lisboeta.

Imediatamente à catástrofe e sob a direcção do Marquês de Pombal, uma nova Lisboa nasceu dos escombros. Novos planos para a cidade foram estudados e implementados, durante quase todo um século. A cidade cresceu em direcção a Campolide, Rato, Alcântara e Arroios.

O primeiro recenseamento oficial de população foi efectuado em 1864 e apontava para cerca de 167 000 habitantes dentro de Lisboa e 34 000 nas áreas periféricas, que hoje já pertencem à cidade (ver Figura 3.2). Um século mais tarde, o censo de 1960 apontava para 817 300 habitantes: Nasceu a cidade industrial e cosmopolita.

Em 1886 foi construída a Avenida da Liberdade, a primeira avenida de Lisboa. Os limites da cidade foram corrigidos, abarcando agora Chelas, a estrada militar da Ameixoeira, o Lumiar e Sete Rios.

A Estação do Rossio foi inaugurada em 1887.

Em 1888 foram traçadas as linhas das Avenidas Novas de Lisboa que ligam os vários pontos da cidade. A população em 1890 era de, aproximadamente, 301 000 habitantes.

Nos primeiros anos do Século XX as classes altas de Lisboa continuavam a passar os verões nas quintas que se estendiam por Benfica e pelo Lumiar, enquanto os menos abastados apanhavam um ónibus puxado a cavalos em direcção a Olivais, Campolide e Chelas.

O acentuado crescimento demográfico e a elevada discrepância entre o nível de vida rural e citadino, justificava a elevada afluência a Lisboa e, em 1900, o número de residentes nascidos fora da capital ultrapassa já o dos lisboetas de origem.

A zona industrial de Lisboa alastrou-se ao longo da margem do Tejo. Os armazéns e as moagens situavam-se agora no Beato e em Xabregas, as fundições na Boavista, as fábricas em Alcântara e os trabalhadores moravam nos bairros pobres da Mouraria, Alfama, Castelo, Graça e Madragoa.

Em 1959 foi inaugurado o Metropolitano de Lisboa.

As Primeiras Grandes migrações dão-se até aos anos sessenta, quando a população de Lisboa atinge cerca de 802 000 habitantes. Os limites da cidade estenderam-se até Belém, Benfica e Carnide, Lumiar e Ameixoeira, Charneca e Olivais.

Em 1970, a cidade obtém quase a configuração actual, com 750 000 habitantes (ver Figura 3.2). Nela se distinguem, com facilidade, três grandes zonas: a Baixa, o Porto e os bairros velhos.

O censo de 1981 registou 807 937 habitantes na cidade e 2 069 467 na Grande Lisboa. Em 1991, novo censo contou 663 394 habitantes em Lisboa, 1 836 484 na Grande Lisboa e 1 460 231 no Vale do Tejo, somando 3 296 715 habitantes (ver Tabela 3.1).

Esta é a breve história de Lisboa, desde os seus primórdios até aos nossos dias. A grande metrópole que foi o centro da Europa Ocidental, no período Manuelino e Iluminista de Pombal, está cheia de cultura viva, esculpida no “rosto” e nos “ossos” das estruturas dos edifícios, inclusivé enterrada nos alicerces que as suportam.

3.2.1.1 Alguns Dados Estatísticos Referentes a 1991

Nas tabelas 3.1 a 3.5 apresentam-se alguns dados estatísticos referentes ao censos realizado em 1991 (Censos, 1991).

Tabela 3.1 – População residente, população presente e famílias

População Residente População Presente Famílias

HM H M HM H M Residentes Clássicas Institu-cionais

Zona Geográfica 1 2 3 4 5 6 7 8 Lisboa e Vale do Tejo 3.296.715 1.584.016 1.712.699 3.310.253 1.594.391 1.715.862 1.126.900 884 Grande Lisboa 1.836.484 871.747 964.737 1.855.640 883.605 972.035 634.182 565 Lisboa 663.394 302.849 360.545 681.063 315.108 365.955 245.070 344

HM – Homens e mulheres; H – Homens; M – Mulheres

Tabela 3.2 – Núcleos familiares, alojamentos e edifícios Alojamentos Familiares Núcleos

Familiares

Residentes Total Clássicos Outros

Alojamento Colectivos Edifícios Zona Geográfica 1 2 3 4 5 6 Lisboa e Vale do Tejo 956.561 1.438.481 1.422.198 16.283 3.535 660.238 Grande Lisboa 524.596 747.081 753.759 13.322 2.143 217.181 Lisboa 184.205 278.033 270.835 7.198 1.201 62.041

Tabela 3.3 – Principais materiais utilizados na construção em Lisboa e Vale do Tejo Edifícios segundo o número de pavimentos

Total Percen-tagem Com 1 Com 2 Com 3 Com 4 Com 5 Com 6 Com 7 ou mais Zona Geográfica 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Elementos resistentes 660.237 100% 400.389 165.809 33.213 30.884 14.319 6.608 10.375 Betão armado 302.108 46% 143.970 92.213 19.500 22.507 10.456 4.185 9.277 Paredes resistentes sem

serem de betão armado 240.272 36% 166.712 50.946 10.652 6.858 2.998 1.157 949 Pedra 90.692 14% 66.386 19.756 2.469 1.110 650 232 119 Madeira 5.309 1% 4.261 673 174 129 58 13 4 Outros 21.856 3% 19.060 1.921 418 250 160 21 26 Paredes exteriores 660.237 100% 400.359 166.509 33.213 30.854 14.819 5.608 10.375 Alvenaria de tijolo 469.958 71% 267.608 129.855 25.183 24.429 10.814 4.177 7.892 Alvenaria de blocos de

betão ou outros blocos 84.122 13% 52.783 16.465 4.685 4.526 2.400 1.012 2.251 Pedra não aparelhada 66.528 10% 47.617 14.342 2.295 1.170 687 277 140

Madeira 3.981 1% 3.596 233 55 51 26 9 11 Outros 35.648 5% 28.755 4.614 995 678 392 133 81 Cobertura 660.237 100% 400.389 165.609 33.213 30.854 14.319 5.608 10.376 Em terraço 10.959 2% 2.747 1.213 718 1.529 1.106 765 2.881 Inclinada 642.476 97% 395.506 162.991 31.959 28.591 12.630 4.501 6.298 Revestida a telhas 626.220 (97%) 383.358 161.054 31.416 28.036 12.208 4.343 5.805 Revestida a outros materiais 16.256 (3%) 12.148 1.937 543 555 422 158 493 Mista 6.802 1% 2.106 1.305 536 734 583 342 1.196

Tabela 3.4 – Edifícios, segundo a forma da cobertura Cobertura Em terraço Inclinadas revestidas a telhas Inclinada com outros revestimentos Mista Zona Geográfica 1 2 3 4

Lisboa e Vale do Tejo 10.959 626.220 16.256 6.802

Percentagem (2%) (95%) (2%) (1%)

Grande Lisboa 6.739 196.951 9.625 3.866

Percentagem (3%) (91%) (4%) (2%)

Tabela 3.5 – Edifícios, segundo os principais materiais utilizados nas paredes Elementos Resistentes Paredes Exteriores

Betão armado Paredes resisten- tes sem ser de betão armado

Pedra Madeira Outros Alvenaria de tijolo corrente Alv. de blocos de betão ou outros blocos Pedra não apare- lhada Madeira Outros Zona Geográfica 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Lisboa e Vale do Tejo 302.108 240.272 90.692 5.309 21.856 469.958 84.122 66.528 3.981 35.648 Percentagem (46%) (36%) (14%) (1%) (3%) (71%) (13%) (10%) (1%) (5%) Grande Lisboa 109.861 77.933 23.784 2.170 3.433 161.855 28.256 18.961 1.461 6.648 Percentagem (51%) (36%) (11%) (1%) (1%) (74%) (13%) (9%) (1%) (3%)

Na Figura 3.4 apresenta-se a evolução da população da Cidade de Lisboa até ao final do Século XX. 0 100000 200000 300000 400000 500000 600000 700000 800000 900000 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800 1900 2000 População