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BREVE HISTÓRICO DA HIDROELETRICIDADE BRASILEIRA

CAPÍTULO 2: EXPERIÊNCIAS DE IMPLANTAÇÃO DE USINAS HIDRELÉTRICAS NO BRASIL COM DESLOCAMENTOS

2.1. BREVE HISTÓRICO DA HIDROELETRICIDADE BRASILEIRA

A matriz energética brasileira depende principalmente de aproveitamentos hidrelétricos. Segundo levantamento realizado por Bermann (2007), de acordo com dados da ANEEL (2007), no Brasil, a hidroeletricidade é responsável por cerca de 76,6% da capacidade instalada de geração no país, e por 82,8% da eletricidade consumida. Vale ser destacado que nesse contexto o planejamento da expansão da potência instalada tem se baseado principalmente na construção de novas usinas hidrelétricas, sendo que a realidade dos empreendimentos se pauta num processo de implantação que está baseado em licitações concedidas antes da obtenção da licença ambiental, e ainda, vários desses empreendimentos possuem alto potencial de impacto ambiental, afetando ecossistemas, bacias hidrográficas, sem avaliação de sinergias e interdependências.

Em relação aos programas ambientais projetados para a “mitigação” dos impactos causados por tais empreendimentos, estes são caracterizados pelo não atendimento satisfatório das demandas econômicas e ambientais, além

disso, caracterizam-se por serem programas ambientais pontuais e individualizantes.

Segundo Bermann (2007) no que se refere à utilização dos recursos hídricos, o panorama da geração de energia elétrica no Brasil “[...] tem sido considerada uma prioridade, apesar de uma legislação antiga que já estabelecia os princípios do uso múltiplo das águas, como o Código das Águas de 1934 [...]”. (BERMANN, 2007, p. 139).Bermann (2007) aponta ainda que a Lei n.9.433, de 8 de janeiro de 1997, definidora da Política Nacional de Recursos Hídricos e dos instrumentos do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, apenas corrobora esses princípios, sem torná-los efetivamente executáveis.

No que diz respeito à implantação de hidrelétricas tem-se a regulação por parte de dois órgãos do governo, Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), criada pela Lei nº 9.427, de 26 de dezembro de 1996, em substituição ao antigo Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE) que foi extinto no processo de reestruturação do setor elétrico brasileiro. E o outro órgão é a Agência Nacional das Águas (ANA), criada pela Lei nº. 9.984 de 2000. Deve ser acrescentado que existia a superposição de competências entre os dois órgãos, que por sua vez só foi parcialmente superada com a Resolução nº. 131, de 11 de março de 2003, que estabeleceu como competência da ANA a Declaração de Reserva de Disponibilidade Hídrica (DRDH), impondo à ANEEL a responsabilidade pela obtenção prévia da referida DRDH, como pré-requisito para a licitação de concessão ou autorização do uso do potencial hidráulico.

Acrescenta-se a esse panorama a criação de um outro órgão, em apoio ao Ministério das Minas e Energia, que é a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) com atribuições definidas pela Lei nº 10.847, de 15 de março de 2004, com as seguintes atribuições: considerar a promoção dos estudos de potencial energético, incluindo inventário de bacias hidrográficas, e a promoção dos estudos de viabilidade técnico-econômica e socioambiental de usinas

hidrelétricas, bem como a obtenção da Licença Prévia Ambiental para aproveitamentos hidrelétricos.

Em relação ao potencial hidrelétrico brasileiro, Bermann (2005), baseando-se em dados da ELETROBRAS (2005) explicita que esse potencial é composto pela soma da parcela do potencial estimado (remanescente + individualizado) com a do potencial inventariado. O valor identificado pelo potencial inventariado está mais próximo da possibilidade de ser implementado. Corresponde a soma do potencial de projetos identificados em bacias hidrográficas já inventariadas, com o potencial dos estudos de viabilidade e de projeto básico, além do potencial de usinas já em construção e em operação. Bermann (2007) ainda em conformidade com dados obtidos de relatórios da ELETROBRAS (2005) e ANEEL (2007) cita:

A capacidade instalada das usinas hidrelétricas atualmente em operação (cerca de 74 mil MW) representa não mais que 28,4% do potencial hidrelétrico total no Brasil, estimado em 260,1 mil MW. Essa situação é utilizada como argumento para aqueles que preconizam uma expansão mais vigorosa dos projetos de usinas hidrelétricas no Brasil. (BERMANN, 2007, p.140).

Esse potencial hidrelétrico brasileiro pode ser visualizado na Tabela 3 em que se tem o total inventariado por bacia hidrográfica.

Tabela 3: Potencial Hidrelétrico brasileiro por bacia hidrográfica – situação em dezembro de 2000

Bacia Hidrográfica Total (MW) Total (%)

Bacia do rio Amazonas 105.410 40,5 Bacia do rio Tocantins 27.540 10,6 Bacia do Atlântico Norte/Nordeste 3.402 1,3 Bacia do rio São Francisco 26.319 10,1 Bacia do Atlântico Leste 14.092 5,4 Bacia do rio Paraná 60.378 23,2 Bacia do rio Uruguai 13.337 5,1 Bacia do Atlântico Sudeste 9.617 3,7

Brasil 260.095 100,0

Fonte: ANEEL, 2002. Org. Priscila Costa (2011).

Sendo assim, segundo relatório da ANEEL (2010), a hidroeletricidade, historicamente predominante na matriz brasileira, representava, no final de 2009, 71% da capacidade, com 165 empreendimentos com potência de 75.484,24 MW, conforme mostrado na Tabela 4, contra 73% em 2008.

Tabela 4: Empreendimentos de Geração de Energia Elétrica (Em Operação) Em 2009

Tipo Número de

empreendimentos

Potência

(MW) %

Usina hidrelétrica – UHE 165 75.484,24 71,01 Pequena central hidrelétrica– PCH e

Central geradora hidrelétrica - CGH 663 3.126,13 2,94 Usina termelétrica– UTE 1313 25.081,35 23,59 Central geradora eólica– EOL 36 602,28 0,57 Central geradora fotovoltaica– SOL 1 0,02 0,00 Usina termonuclear – UTN 2 2.007,00 1,89 Total 2180 106.301,02 100,00

Fonte: ANEEL, 2010. Org. Priscila Costa (2011).

Além disso, a ANEEL (2010) registra que a queda da participação da hidroeletricidade foi superada pela expansão de todas as outras fontes, exceto pela energia termonuclear, que caiu de 1,96% para 1,89%, por sua vez, a termoeletricidade, que fica em segundo lugar de destaque, teve sua participação aumentada de 22,18% para 23,59% do total, divididos entre 1.313 usinas com capacidade de 25.081,35 MW. E, a geração por Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH) e Centrais Geradoras, aumentou de 2,54% para 2,94%, como mostra a tabela 4 para o ano de 2009, na comparação com o ano anterior, enquanto a geração eólica subiu de 0,33% para 0,57%.

Apesar dessa queda apresentada pela participação da hidroeletricidade na matriz elétrica brasileira ainda se tem o predomínio de projetos de empreendimentos hidrelétricos no país em comparação com as outras fontes energéticas. Em relação ao potencial hidrelétrico do país deve ser ressaltado a questão dos impactos decorrentes da expansão da capacidade instalada da hidroeletricidade. Conforme elucida Bermann (2007):

As possibilidades de expansão da capacidade hidrelétrica a ser instalada no Brasil, entretanto, encontra muitos problemas. Praticamente a metade desse potencial (50,2%) encontra-se localizado na região amazônica, principalmente nos rios Tocantins, Araguaia, Xingu e Tapajós. As conseqüências sociais e ambientais da possibilidade de implantação dos empreendimentos hidrelétricos previstos na região, envolvendo questões como as relacionadas com reservatórios em terras indígenas ou a manutenção da biodiversidade, exigem atenção e cuidados muito além da retórica dos documentos oficiais. (BERMANN, 2007, p. 140).

Além disso, Bermann (2007) aponta o significativo potencial hidrelétrico a ser aproveitado nas bacias dos rios Paraná e Uruguai, representando cerca de 29% do total. O autor acrescenta que:

Nessas regiões do Sul do país, caracterizadas por uma elevada densidade populacional nas áreas rurais, o processo de ‘deslocamento compulsório’ dessas populações ribeirinhas para a formação dos reservatórios dos empreendimentos hidrelétricos previstos também exige toda a atenção e cuidados, para que não se reproduzam os problemas verificados no passado recente. (BERMANN, 2007, p. 140).

No que se refere às demais bacias hidrográficas, Bermann (2007) assinala a restrita disponibilidade hídrica para novos aproveitamentos hidrelétricos nas bacias Atlântico Leste, São Francisco, Atlântico Sudeste e Atlântico Sul. Bermann (2007) ainda enfatiza a noção de “potencial hidrelétrico” dos cursos d’água, chamando a atenção deste em oposição a outros possíveis “potenciais”, como ele enumera: “[...] pesqueiro; irrigação; turístico; cultural; de biodiversidade”. (BERMANN, 2007, p. 141). Dessa maneira, alerta sobre a acentuada prioridade da geração elétrica em comparação com os demais usos das águas.