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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3 BREVE HISTORIOGRAFIA DA ANÁLISE DE CONTEÚDO

A análise de conteúdo desenvolveu-se nos EUA, no inicio do século XX. A mensuração era rigorosamente necessária na abordagem do material analisado, que eram essencialmente jornalísticos. Dava-se o início dos estudos quantitativos dos jornais em circulação na época. Conforme mostra BARDIN (2011, p. 21) “desencadeia-se um fascínio pela contagem e pela medida (superfície dos artigos, tamanho dos títulos, localização na página)”. Um dos grandes nomes que compõem a história da análise de conteúdo é H. Lasswell que realizou em meados de 1915 análises de jornais e propagandas”. Essas análises de propagandas de diferentes países perdura até a primeira guerra mundial, porém de 1939 a 1945 esse processo passar a ter objetivos diretamente ligados a estratégias militares e política.

No decorrer do século XX, aumentam os estudos e as investigações com a aplicação de analise de conteúdo. Estudos que vão desde análises estatísticas de símbolos presentes em textos literários a estudos de personalidade em pacientes com distúrbios psicológicos. Percebe-se que a análise de conteúdo vai tomando forma a medida que é utilizada nas várias áreas do conhecimento.

Porém nas décadas de 1950 e 1960 apesar dessa expansão surgem os questionamentos em torno da aplicabilidade das técnicas de análise de conteúdo, o que gera certa desilusão por parte de alguns especialistas. Bardin cita que um dos mais fervorosos especialistas em análise de conteúdo, Berelson expressa o seu desencantamento com o método ao afirmar: “a análise de conteúdo como método não possui qualidades mágicas e raramente se retira mais do que nela se investe e algumas vezes até menos; no fim de contas, nada há que substituía as ideias brilhantes” (BERELSON apud BARDIN 2011, p. 25). As discussões também giram em torno das avaliações quantitativas ou qualitativas e na menor exigência da abordagem quantitativa essa que desde o inicio deu o tom das investigações.

Esses questionamentos surgem a partir das queixas e indagações nos planos epistemológicos e metodológicos da análise de conteúdo. Duas concepções são concebidas no plano epistemológico, a representacional e a instrumental. Essas concepções são entendidas por I. de Sola Pool e citados por Bardin:

De maneira grosseira arrogamo-nos o direito de dizer que representacional significa que o ponto importante no que diz respeito à comunicação é o revelado pelo conteúdo dos itens lexicais nela presentes, isto é, que algo nas palavras da mensagem permite ter indicadores validos sem que se considerem as circunstancias, sendo a mensagem o que o analista observa. Grosso modo instrumental significa que o fundamental não é aquilo que a

mensagem diz à primeira vista, mas o que ela veicula, dados o seu conteúdo e as suas circunstancias. (I. de SOLA POLL apud BARDIN (2011, p. 26). Algumas indagações em relação à aplicação da análise de conteúdo como a falta de precisão em estudos linguísticos e a linguagem não verbal fazem surgir nas décadas de 1960 e 1970 o uso do computador como recurso através de softwares que passam a condicionar os estudos quantitativos na analise de conteúdo.

Com o passar dos anos a análise de conteúdo torna-se robusta e passa a ser utilizada em vários campos do conhecimento adequando-se sempre que necessário aos objetivos pretendidos, como destaca BARDIN (2011, p. 37) “a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações”.

A análise de conteúdo não se trata de um instrumento, mas de um leque de apetrechos, ou, com maior rigor, será um único instrumento, mas marcado por uma grande disparidade de formas e adaptável a um campo de aplicação muito vasto das comunicações. Bardin (2011, p. 38) cita P. Henry e S. Moscovici para enfatizar a aplicabilidade da análise de conteúdo, afirmando “(...) tudo o que é dito ou escrito é susceptível de ser submetido a uma análise de conteúdo”.

Vários especialistas em análises apontam os conceitos que mais se adéquam ao conjunto de técnicas, entre eles podemos citar WEBER (1990, p.9) que define análise de conteúdo como um método de pesquisa que utiliza um conjunto de procedimentos para tornar válidas inferências a partir de um texto. MORAES (1999, p.9) também aponta a sua definição “constitui-se de uma metodologia de pesquisa utilizada na descrição e interpretação e documentos e textos das mais diversas classes”. A análise de conteúdo trabalha as diversas formas de comunicação entre os homens, para encontrar as mensagens subjacentes a um texto. Seu uso é indicado para materiais impressos, pois podem ser feitas quantas vezes forem necessárias.

A análise de conteúdo tem como ponto de partida a mensagem verbal (oral e escrita), gestual, silenciosa, imagética, figurativa, documental. Essas mensagens podem ser uma palavra, um texto, um enunciado ou um discurso. Nesse sentido Bardin diz:

A análise de conteúdo pode ser considerada como um conjunto de técnicas de análises de comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens. A intenção da análise de conteúdo é a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção e de recepção das mensagens, inferência esta que recorre a indicadores. (quantitativos ou não) BARDIN (1977, P.38)

A análise de conteúdo a priori surge como uma técnica de análise de dados quantitativos, mas por ser um procedimento de investigação abre-se a abordagem qualitativa. Bardin descreve como essas abordagens são feitas:

Na análise de quantitativa, o que serve de informação é a frequência com que surgem certas características do conteúdo. Na análise qualitativa é a presença ou a ausência de uma característica de conteúdo ou de um conjunto de características num determinado fragmento de mensagem que é tomada em consideração. BARDIN (2011, p.26).

Por se tratar de uma metodologia que também considera a abordagem qualitativa, a interpretação pessoal do pesquisador em relação aos dados selecionados pressupõe-se que aconteçam a partir de valores, vontades, premissas, e até da fé do investigador.

Na análise de conteúdo não basta descrever os conteúdos é necessário à inferência que consiste em operação intelectual que o leitor realiza para construir proposições novas a partir de informações que ele encontrou no texto. Todas as informações adicionadas ao texto podem ser consideradas de inferências. Para que as inferências aconteçam ao longo da leitura do texto é necessário o conhecimento prévio do leitor sobre o contexto das informações e o próprio texto auxilia nas inferências.