• Nenhum resultado encontrado

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 O LIVRO DIDÁTICO: RECURSOS E POSSIBILIDADES

2.1.6 Distribuição do Elemento Água no Planeta

O ser humano tem em sua composição 70% de água, e a utiliza para os mais diversos usos desde para saciar a sede até o preparo dos alimentos, higiene pessoal e lazer. No entanto o maior uso é para produção de mercadorias. Dos cerca de 1.386 milhões de km³ de água da terra, 96,5% são salgadas. Os 35 milhões de km³ de água doce correspondem a 2,5% do total de água do planeta. Do total de água doce 68,7% encontra-se em áreas de difícil acesso e uso, como a Antártica (21.600 km³), o que equivale a 6,7% do total de água doce da Terra e os picos gelados de altas montanhas. Os 30,3% restantes estão distribuídos entre subsolo (30,1%), rios, pântanos, entre outros. A tabela 1 a seguir exemplifica bem a distribuição natural de água.

Tabela 1 - Distribuição natural da água Quantidade (1.000 km³) % na hidrosfera % de água doce Renovação anual Km³ Oceanos 1.338.000 96,5 505.000 Subsolo 23.400 1,7

Água doce no subsolo 10.530 0,76 30,1 16.700

Umidade do solo 16,5 0,0001 0,05 16.500

Glaciares e cumes gelados 24.064 1,74 68,7 2.532

Lagos: água doce 91,0 0,007 0,26 10.376

Lagos: água salgada 85,4 0,006

Pântanos 11,5 0,0008 0,03 2.294 Rios 2,12 0,0002 0,006 43.000 Biomassa 1,12 0,0001 0,003 Vapor d’água 12,9 0,001 0,04 600.000 Água doce 35.029,2 2,53 100 Total 1.386.000 100

Fonte: UNESCO & WWAP (2003:68) in Ribeiro (2008).

Essa distribuição não obedece a critérios de renda ou econômicos e sim a processos naturais. Esses processos envolvem fatores climáticos, geológicos e os mais diversos usos do solo. Ribeiro coloca que “cerca de 21.200km³ (0,002% do total da água doce) são de acesso mais fácil pela espécie humana, escoando em corpos d’água. Parte da água retorna à atmosfera em forma de vapor d’água, o que impede seu uso”. Outros dados refletem a amplitude e importância desse recurso natural, de forma exemplificada Ribeiro (2008) descreve que:

Cerca de 505.000 km³ de água evaporam-se dos oceanos anualmente. Na parte continental, a evaporação chega a 72.000 km³. Do total de chuvas da Terra 80% ocorre nos oceanos (cerca de 458.000 km³ por ano) Os 20% restantes somam 119.000km³, que caem sobre as terras emersas. Estima-se que o volume de água do planeta que é de 1.386 km³ se mantém estável durante os últimos 500 milhões de anos. (Ribeiro 2008, p. 26)

Em relação à distribuição de chuva nos continentes essas são irregulares tanto em quantidade quanto em ocorrência. Um exemplo claro dessas irregularidades são as regiões semiáridas e úmidas do Brasil com 500 mm/ano e mais de 2.500 mm/ano respectivamente.

Ressalta-se que os maiores índices de chuvas se verificam nas regiões intertropicais e temperadas da Terra. Em áreas mais úmidas, ou seja, maiores precipitações ocorrem os excedentes hídricos com importantes reservas subterrâneas e rios perenes. O que não torna essas regiões livres de problemas que envolvam o acesso e utilização da água.

Os usos múltiplos da água incluem irrigação, indústria, navegação, turismo, lazer e abastecimento doméstico, este ultimo assume caráter de extrema importância para os povos das regiões semiáridas do globo, devido a baixa disponibilidade, notadamente em certo período do ano. PETRELLA (2002, p. 59) lembra que “desde os primórdios, a água sempre foi um dos reguladores sociais mais importantes. As estruturas das sociedades camponesas e das comunidades aldeãs, onde as condições de vida estão intimamente ligadas ao solo, eram organizadas ao redor da água”. Atualmente é tratada como mercadoria, como afirma Coutinho (2010) apud Marx (2005). O conceito de Marx enfatiza essa questão:

Mercadoria é um objeto produzido pelo trabalho humano, que é trocado por seu produtor em vez de ser por ele consumido e que, por suas propriedades, satisfaz às necessidades humanas de qualquer natureza, diretamente como meio de subsistência ou indiretamente como meio de produção. A utilidade é então a mais importante e indispensável qualidade da mercadoria. A utilidade, que se realiza no uso ou no consumo, confere à mercadoria o seu valor de uso. (Marx, 2005, p.13)

São vários os problemas relacionados ao uso das águas, as ações antrópicas são as principais responsáveis pelos impactos que comprometem a qualidade e disponibilidade desse recurso, provocando em várias regiões a sua escassez. Em regiões áridas e semiáridas onde a disponibilidade e a distribuição tornam os conflitos em torno dos usos da água mais explícitos. Esse recurso natural indispensável à sobrevivência humana torna-se objeto de barganha, dominação e apropriação.

Além da irregular distribuição e os desiguais níveis de precipitações o homem através das atividades agrícolas, indústrias, domésticas entre outras, alteram desde a qualidade e a quantidade de água disponível para o consumo humano. Nesse sentido Rebouças, considera:

A espécie Homo Sapiens sapiens- o homem que sabe da qual deriva a raça humana atual surgiu há aproximadamente cinquenta mil anos. Graças à força da inteligência, a união da inteligência e aos atos regidos pela inteligência, nos tornamos, ultimamente, capazes de influir em nível nunca imaginado, na hidrosfera, na atmosfera e biosfera. (REBOUÇAS, 1999. p, 5).

É essa capacidade do homem de promover mudanças, altera os espaços e definir prioridades para atender as suas demandas é que vêm ao longo da historia ampliando os conflitos, os embates e as distorções entre as nações e nas questões relacionadas à água. As atividades humanas ocasionam os mais diversos impactos sobre o meio. Dos vários espaços e paisagens mais alterados pelas ações antrópicas, os espaços agrícolas se destacam já que tem que alimentar a população mundial e atender ao mercado externo. E por esses motivos as atividades agrícolas consomem água em grande escala para atender ao mercado e cada vez em maior quantidade para aumentar a produtividade.

Aproximadamente de 70% da água coleta no mundo é destinada para a agricultura (principalmente a irrigação) sendo esta atividade que mais demanda o uso da água em suas varias etapas da produção (PETRELLA, 2002). E em algumas regiões do planeta esse consumo chega a ser 10 vezes maior que na produção industrial. As várias modalidades de produção agrícola desde a de alimentos até os biocombustíveis estão cada vez utilizando mais água (RIBEIRO 2008).

Para que as atividades agrícolas atendam as demandas principalmente de alimentos se faz necessário que conheçam as condições geográficas das áreas cultivadas, como a capacidade de reposição das bacias hidrográficas, dos tipos de culturas adequadas a cada região além das técnicas adequadas a cada tipo de solo. Essas são medidas que evitam consequências ambientais que comprometeram a produtividade agrícola e que necessitará de um volume maior de água para a produção.

O uso inadequado da água na produção agrícola mundial vem agravando a qualidade e quantidade desse recurso. A água destinada a agricultura em muitos países ultrapassa a quantidade das reservas disponíveis.

Em países da América latina utiliza-se 5% de suas reservas em agricultura, como no Nordeste brasileiro, a fruticultura exportadora é um exemplo de uso insustentável dos recursos hídricos (RIBEIRO 2008). Alguns países europeus e os Estados Unidos já utilizam de 5% a 10% de suas reservas para a produção agrícola e os dados mais alarmantes estão em países do Oriente Médio que já consomem mais de 40% de suas resevas para agricultura o que vem acentuando os conflitos nessa região.

A indústria utiliza a água em grande escala em todos os seus processos de produção desde a produção de matérias- primas, na limpeza de equipamentos ao resfriamento do maquinário. Os tipos de indústrias que mais demandam o uso da água são alimentícios, do refino do petróleo e a produção do papel.

A água para ser utilizada no processo industrial requer o tratamento para a retirada de materiais em suspensão, gazes e minerais. Suas características naturais são alteradas para o uso industrial e posteriormente a água recebe elementos e substancias que alteram suas características os que a tornam poluídas. E partir disso são devolvidas aos corpos d’ água através dos efluentes que na maioria das vezes não são tratados de forma adequada.

Embora a produção agrícola e a industrial utilize a água em maior escala ela também é consumida em várias outras atividades humanas como: o uso doméstico, lazer, esportes, navegação e na produção de energia elétrica, através das hidroelétricas. Porém, o mau uso e o desperdício nessas atividades também vêm comprometendo as reservas de água ocasionando a escassez, contaminação e poluição, como exemplo, uma problemática que se agiganta é em relação às cidades, onde o consumo de água cresce alarmantemente e os gestores urbanos parecem não se dá conta, deste fato.

A crise da água é anunciada por muitos estudiosos embora a população já perceba as consequências para os seres humanos como para os ecossistemas. Cerca de 1/3 da população mundial vive em países onde a falta de água vai de moderada a altamente impactante, e o consumo representa mais de 10% dos recursos renováveis da água (RIBEIRO, 2008). Mais de 1 bilhão de pessoas tem problemas de acesso a água potável e 2,4 bilhões não tem acesso a saneamento básico. Isso vem causando centenas de milhões de caso de doenças e mortes por veiculação hídrica. Além dos números que já demonstrem uma crise da água, a sua distribuição desigual e o consumismo de uma minoria da população agravam esse cenário. Entretanto há os que defendem que a crise da água tem como fator principal o crescimento populacional, porém estudos da UNESCO & WWAP (2003 p. 13) “indica que o consumo da água cresceu mais que a população nos últimos 50 anos”. Portanto não é o crescimento populacional que causa a crise da água, mas o uso irresponsável pelo capital privado para fins de acumulação do capital (RIBEIRO. 2008).

Em regiões áridas e semiáridas é onde a disponibilidade e a distribuição tornam os conflitos em torno dos usos da água mais explícitos. Esse recurso natural indispensável à sobrevivência humana torna-se objeto de barganha, dominação e apropriação. Daí a urgência nas discussões em torno das políticas hídricas projetadas e implantadas nessas regiões e na abordagem mais dinâmica e integradora da temática água e recursos hídricos através das instituições principalmente a escola com seus agentes e mecanismos de compreensão.

A água é essencial para manutenção da vida no planeta, e tal qual a sua importância, o debate em torno dessa temática deve estar presente nas diversas esferas do conhecimento. E

para tanto a escola tem um papel primordial e fundamental nas discussões e questões relacionadas à água e recursos hídricos.