• Nenhum resultado encontrado

TERCEIRO CAPÍTULO

3 A POÉTICA DO TRADUZIR (RE)CONHECIDA: TEMAS DA TRADUÇÃO REVISITADOS

3.1 BREVE INTRODUÇÃO À TRADUTOLOGIA

Esta seção tem como objetivo fornecer um panorama geral da Tradutologia de Albir (2011) para que, adiante, seja possível traçar um paralelo entre o ponto de vista da poética do traduzir e o da Tradutologia em relação aos temas mencionados anteriormente. Essa breve apresentação fala da ciência da tradução a partir de seus próprios conceitos e não tem o intuito de ser uma exposição pormenorizada dessa disciplina.

A obra de Hurtado Albir, Traducción y Traductología, se propõe a explicar como funciona a tradução e o que é a Tradutologia. Segundo a autora, essa é uma disciplina que se consolida apenas a partir dos anos 1980 e trata da tradução em todas as suas manifestações, tanto a partir de estudos teóricos, quanto de estudos descritivos e aplicados. Além disso, ela se ocupa do fazer

tradutório nas suas diversas manifestações e a partir de perspectivas diversas. Nas palavras de

Albir: “[...] la Traductología es la disciplina que estudia la traductión; se trata, pues, de un saber

sobre la práctica traductora. La Traductologia es una disciplina científica, que necesita, además,

entablar relaciones con otras disciplinas” (2011, p. 25).

3.1.1 História da tradução40

Inicialmente, segundo Albir (2011), é necessário refletir sobre a evolução da reflexão sobre a tradução. O intuito dos estudos históricos sobre a tradução, de acordo com Woodsworth (1998 apud ALBIR, 2011), é relatar a história da sua disciplina e esses estudos se consolidaram apenas na década de 1980. Mesmo assim, Albir (2011) aponta que existem outros trabalhos históricos que

40 Os títulos das subseções desta seção, exceto a última (cf. 3.1.4), seguem a ordem da reflexão do terceiro capítulo de

datam de antes dessa época. A autora indica, ainda, que alguns autores, como D’Hulst (1991), Lambert (1993)41 e Pym (1992, 199842) salientam a importância que os estudos históricos têm em relação à disciplina tradutológica. Segundo Albir, “la necesidad de avanzar en los estudios históricos es vista también por los teóricos como una manera de legitimizar la Traductología (Lambert, 1993) y de intoducir mayor tolerancia ante los diferentes enfoques y, a la vez, mayor unidad (D’Hulst, 1994)” (2011, p. 101).

Em relação à história, Albir (2011) aponta, também, para a necessidade de observar a diferença entre a história da tradução e a história dos estudos sobre a tradução. Segundo a autora, a história da prática da tradução e a história dos estudos sobre a tradução apresentam questionamentos diferentes. A autora se baseia em Woodsworth (1998 apud ALBIR, 2011), que afirma que a história da prática da tradução se pergunta sobre o que foi traduzido, por quem, em que circunstâncias e em que contexto social ou político, enquanto que a história dos estudos sobre a tradução se questiona sobre o que disseram os tradutores sobre sua prática, como se avaliaram as traduções em épocas diferentes, que tipo de conselhos os tradutores deram, como se ensinou a tradução e como esse discurso se relaciona com outros discursos do mesmo período.

A partir daí, Albir apresenta uma bibliografia de autores que supuseram possíveis divisões da história da tradução, especialmente por períodos, como Santoyo (1987), Kelly (1991), Mallafré (1991). Ao fim dessa exposição, no entanto, a autora apresenta sua própria divisão por períodos. Segundo ela, existem dois períodos da história da tradução: um que vai de Cícero até o início das teorias modernas após a Segunda Guerra e outro que vai do início das teorias modernas até os dias atuais, no qual surge a Tradutologia. As contribuições mais importantes, ao que tudo indica, são aquelas encontradas no segundo período definido pela autora. Segundo ela, é nesse período que surgem questões fundamentais sobre a tradução (ALBIR, 2011). O debate está centrado na importância da análise do processo tradutório e na reivindicação do caráter textual da tradução. No

41 A referência ao estudo de Lambert (1993) não está presente na bibliografia fornecida por Albir em Traducción y

Traductología. A referência encontrada, em pesquisa online, foi de um artigo publicado em 1993 na revista The Interpreters’ Newsletter. Desse modo, a referência completa que está presente na bibliografia desta dissertação diz

respeito ao artigo encontrado.

42 Nas referências da obra de Albir, o livro de Anthony Pym aparece com o título de Method in Translation Theory, enquanto que o título original correto é Method in Translation History. Aponto para o deslize da utilização do termo

entanto, é apenas a partir dos anos 1980 que esse debate se torna mais acirrado com a aparição de uma quantidade cada vez maior de estudos acerca desses aspectos.

A partir da caracterização de cada período, subdivididos em períodos ainda menores, Albir faz uma apresentação geral das questões que nascem com cada um deles e suas implicações em reflexões posteriores. Dessa maneira, a autora tende a justificar a necessidade de observar a história da tradução para que, em seguida, se possa caracterizar a Tradutologia de forma aprofundada.

3.1.2 Caracterização da Tradutologia

A caracterização da Tradutologia, segundo Albir, se inicia com uma discussão em torno da denominação da disciplina. Segundo a autora,

a pesar de que en español la denominación más extendida para referirse a la disciplina que se ocupa de estudiar la traducción parece ser la de Teoría de la traducción o

Traductología, ésa no es la única denominación existente; otras denominaciones

coexisten: Linguística aplicada a la traducción, Translémica, Translatología, Ciencia de

la traducción, Estudios sobre la traducción y Estudios de la traducción. (ALBIR, 2011,

p. 133)

Contemplando vários autores da área, Albir tenta demonstrar que essa é uma discussão necessária e pertinente para uma reflexão sobre a tradução. Para ela, “la diversidad de denominaciones lleva pareja una diversidad de enfoques” (ALBIR, 2011, p. 134). E essa diversidade de enfoques é uma justificativa para requerer uma unificação da terminologia para se referir a área. Assim, Albir aponta que “en este libro [Traducción y Traductología] utilizamos la denominación Traductología, concibiéndola como la disciplina, con entidad propia, encargada de analizar la traducción (escrita, oral, audiovisual) y que asume, pues, el conjunto de estudios en torno a ella” (2011, p. 135).

A partir dessa exposição, Albir aponta, então, para a consequência do surgimento de uma disciplina científica nova, “con entidade propia” (ALBIR, 2011). Desse modo, apresenta, a partir

do cotejamento de ideias de diversos autores, a especificidade do lugar da Tradutologia no contexto das ciências.

Segundo a autora, as primeiras reivindicações de uma análise mais sistemática da tradução consideravam a teoria da tradução como um ramo da linguística aplicada ou contrastiva. No entanto, o texto de James S. Holmes, “The Name and Nature of Translation Studies” (1972), aparece como uma base de esclarecimento para a denominação da teoria e o que ela supõe e indica. O papel desse autor é apresentado por Albir através de uma citação de Mary Snell-Hornby: “De manera bastante atípica entre los teóricos de la época, Holmes no veía la disciplina como una subdivisión de otra subdisciplina, bien fuera la lingüística aplicada o cualquier otra, sino como una disciplina que surgía con entidad propia” (1991, p. 14 apud ALBIR, 2011, p. 136).

De qualquer maneira, para Albir (2011), a autonomia da disciplina é justificada a partir da sua evolução e da sua consolidação a partir da década de 1980. Além disso, ao afirmar que o objeto de estudo da Tradutologia é amplo, a autora argumenta a favor de uma característica específica e essencial da disciplina: seu caráter multidisciplinar. Para ela,

el traductólogo debe acudir en su análisis a disciplinas como la sociología, antropología, ciencia cognitiva, psicología, historia, lingüística, etc., y, además, a la crítica literaria, los estudios cinematográficos, la pedagogía, etc., según el objeto específico de estudio (la traducción literaria, la traducción audiovisual, la didáctica de la traducción, etc. (ALBIR, 2011, p. 137)

Desse modo, é possível indicar, como o faz a autora, que o objeto de estudo da Tradutologia supera o marco da linguística, necessitando, assim, do apoio das outras áreas de estudo.

Na continuação de sua caracterização da disciplina, Albir (2011) observa, então, o âmbito de atuação da Tradutologia. Segundo a autora, a concepção que se impõe hoje é a de uma disciplina integradora. Ou seja, que abarca todo o campo da tradução e que deixa para trás concepções restritivas e atomizantes. Seguindo o pensamento de Snell-Hornby (1988), Albir indica que é necessária uma reorientação da forma de pensar a tradução, especialmente uma revisão das formas tradicionais de categorização e que se apresente com um enfoque mais integrador que contemple a tradução na sua totalidade. Para Albir (2011), “considerar la disciplina en su totalidad, comporta

tener presente todo el ámbito de los estudios sobre la traducción; este ámbito es vastísimo, introduciéndose, como hemos dicho, en campos que se nutren de muchas disciplinas” (p. 137-138).

O posicionamento que a autora se mostra favorável e que, até mesmo, leva adiante na sua obra, é aquele de Holmes (1972), mencionado anteriormente. De acordo com Albir (2011), Holmes efetua a primeira reflexão metateórica sobre a Tradutologia a caracterizando e propondo uma classificação das diversas áreas de estudo que a integram. Nas palavras de Albir: “Holmes señala, en primer lugar, una rama pura y otra aplicada, y distingue después entre estudios teóricos, descriptivos y aplicados” (2011, p. 138). A partir da reflexão de Holmes (1972), Albir (2011) indica, então, que as distinções que o autor apresenta são fundamentais para a concepção da disciplina. Desse modo, Albir (2011) lança considerações sobre a proposta de Holmes.

Em primeiro lugar, a autora observa as relações existentes entre as três subáreas de estudo, apontando para a relação intrínseca entre os estudos teóricos e os estudos descritivos e, em seguida, entre os estudos teóricos e descritivos e os estudos aplicados. Em suma, “los estudios teóricos representan el marco abstracto (la equivalencia potencial), y proporcionan la cobertura teórica; los estudios descriptivos se refieren a los casos concretos (equivalencia actualizada) y proporcionan los datos empíricos; se reserva a los estudios aplicados un carácter a priori, prescriptivo y normativo” (ALBIR, 2011, p. 142).

A segunda consideração é sobre as teorias parciais indicadas por Holmes (1972). Para Albir (2011), existe uma confusão acerca da proposta desse autor: “En primer lugar, se adscriben a los estudios teóricos objetos de análisis, como son las variedades de traducción (modalidades, tipos) que conllevan inevitablemente una descripción previa de su funcionamiento” (ALBIR, 2011, p. 143) e, em segundo lugar, “estamos de acuerdo con Lvóvskaya (1997: 103 y ss.) en su crítica a los principios que sustentan la división en teorías parciales propuestas por Holmes” (ALBIR, 2011, p. 143), pois Zinaida Lvóvskaya afirma que “estando de acuerdo con Holmes en lo que se refiere a las tres ramas de estudios traductológicos y a la necesidad de desarrollar teorías particulares, creemos, sin embargo, que éstas deberían configurarse exclusivamente a partir de las modalidades de traducción y de los tipos de textos” (1997, p. 105 apud ALBIR, 2011, p. 144). Albir (2011), nesse ponto, afirma que prefere utilizar a ideia de investigaciones parciales ou particulares para que sejam evitados problemas de ordem descritiva.

A terceira consideração é sobre os objetos de estudo de cada uma das três subáreas e isso indica uma reformulação da proposta de Holmes. Assim, Albir avança indicando que é necessário pensar sobre a importância da implicação recíproca das três subáreas, sobre a conexão entre as investigações gerais e parciais e sobre a relação das investigações parciais entre si e seus objetivos nas modalidades e tipos de tradução. Desse modo, a autora propõe, então, seis variáveis teóricas:

1) Si se considera el proceso y/o el producto.

2) La noción que se analiza: equivalencia, invariable, unidad, método, estrategia, técnica, problema, error.

3) El problema concreto estudiado: lingüístico (siglas, nombres propios, etc.), textual (conectores, tipologías textuales, etc.), extralingüístico (temático, cultural, etc.), pragmático (intencionalidad, funciones de la traducción, etc.), etc.

4) La variedad de traducción analizada, que ocupa un lugar central: modalidad (traducción a la vista, interpretación consecutiva, etc.), tipo (traducción técnica, traducción poética, etc.) clase (traducción directa/inversa, traducción pedagógica, etc.).

5) Las lenguas y culturas implicadas en el análisis.

6) La dimensión histórica, es decir, si se trata de un análisis en diacronía o en sincronía, de una investigación sobre la historia de la traducción o sobre la historia de la reflexión en torno a la traducción. (ALBIR, 2011, p. 146)

De acordo com Albir (2011), essas variáveis devem ser consideradas de maneira inter- relacionada e afetam as três subáreas propostas por Holmes. Para a autora, é possível analisar uma noção (equivalência, por exemplo) num contexto mais abstrato com o objetivo de elaborar uma teoria mais geral.

3.1.3 Concepção da Tradutologia

Segundo Albir (2011), a tendência atual dos estudos sobre a tradução é a de apresentar a tradução como um ato comunicativo e textual e não como um processo de transcodificação entre duas línguas. No entanto, a autora se opõe a essa visão ao afirmar que “por nuestra parte [...], hemos manifestado una visión integradora de la traducción, cuyos tres rasgos esenciales son ser texto, acto de comunicación y proceso cognitivo desarrollado por un sujeto” (ALBIR, 2011, p. 147).

Desse modo, a autora observa que definir a tradução como um processo interpretativo e comunicativo de reformulação de um texto com os meios de uma outra língua que se dá num contexto social e com uma finalidade determinada diz respeito diretamente ao ponto de vista que ela assume em relação à Tradutologia. Assim, é necessário, então, observar a importância da ideia de integração que propõe Albir.

Para a autora, em primeiro lugar, cumpre observar a integração da herança teórica da disciplina. Apesar de citar autores atuais que se propõem a pensar a tradução a partir de uma perspectiva integradora, Albir vê em Holmes (1972), ainda, o precursor dessa ideia. Assim, a ideia geral é de que ‘necesitamos una teoría del proceso de la traducción, una teoría del producto (el texto) y una teoría de la función de la traducción en la sociedad de recepción” (ALBIR, 2011, p. 148). Além de Holmes, Danica Seleskovitch (1968) também foi pioneira ao afirmar que a tradução não é uma atividade entre línguas, mas uma atividade discursiva.

De qualquer modo, a concepção da Tradutologia, em Albir (2011), é uma concepção integradora, mas que surge do pensamento sobre a tradução. Ou seja, primeiro se observa qual a visão sobre a tradução para, então, definir a disciplina. Se se toma a tradução a partir de uma visão integradora, é natural que se tenha uma concepção de Tradutologia que também a seja. “Forman, pues, parte de la Traductología todas las investigaciones desarrolladas en su rama teórica, descriptiva y aplicada, con las diferentes variables que hemos señalado” (ALBIR, 2011, p. 149).

Pensar, então, como se tomam os estudos tradutológicos indica descrever quais os objetivos da Tradutologia. Segundo Albir, “el objetivo de la teorización en torno a la traducción no es, a nuestro modo de ver, prescribir, sino más bien describir, explicar y, en todo caso, predecir” (2011, p. 149). Baseando-se novamente em Holmes, a autora aponta dois objetivos fundamentais dos estudos teóricos e descritivos da tradução: 1) descrever os fenômenos do traduzir e da(s) tradução(ões) como se manifestam na experiência e 2) estabelecer princípios gerais a partir dos quais esses fenômenos podem ser explicados e previstos. Na mesma esteira do pensamento, Albir aproxima as considerações de Rosa Rabadán (1991), que afirma haver três razões de ser de qualquer disciplina empírica: descrever, explicar e prever de modo sistemático e coerente os objetos reais de seu estudo.

Ahora bien, la imbricación que hemos señalado entre las tres ramas de la disciplina y la concepción no mecanicista de los estudios aplicados, nos lleva a matizar que estas tres funciones afectan a las tres ramas de la disciplina y no son compartimientos estancos que se relacionan respectivamente con cada una de ellas. (ALBIR, 2011, p. 150)

Na continuação de sua reflexão, Albir traz à tona a relação entre a teoria e a prática no âmbito da tradução. Segundo ela, a discussão em torno dessa relação é bastante ampla e nem todos os teóricos estão de acordo quanto aos objetivos da disciplina (ALBIR, 2011). De acordo com a discussão efetuada por Holmes (1978), há de se perguntar se os estudos sobre a tradução encontram sua justificativa ao apresentarem uma utilidade prática para o tradutor. Segundo Albir (2011), Holmes não acreditava que essa utilidade era um critério de pertinência e que a ajuda prestada ao tradutor depende do estado da teoria. A autora aponta, ainda, para a visão de Robert Larose (1989), que diz que o objetivo da Tradutologia não é necessariamente auxiliar o tradutor, mas que pode lhe ser útil e que a utilidade está em relação com o valor do estudo efetuado.

Em relação aos modelos estáticos ou prescritivos de algumas teorias, Albir (2011) argumenta que a natureza dinâmica da linguagem os anula. Com base em Roger Bell (1991), a autora afirma que “un modelo teórico de la traducción no resolverá todos los problemas del traductor, se trata entonces de describir (y explicar) reglas que ayuden a comprender el proceso, formulando estrategias para enfrentarse a los diferentes problemas y coordinar los diversos aspectos” (ALBIR, 2011, p. 150). Além dessa visão, a autora situa ainda as ideias de Rabadán (1991), para quem a redução dos fenômenos da tradução a categorias fixas, estabelecidas a partir de critérios estáticos, conduz apenas à distorção da realidade, de Lancy Hewson e Jacky Martin (1991), que afirmam que o objeto de estudo sobre a tradução é a virtualidade do processo tradutor e daquilo que é produzido, incidindo, então, num pensamento sobre as condições de variação na produção tradutora. Além desses, Lvóvskaya (1997) também se faz presente na discussão de Albir (2011), pois afirma que “en su condición de ciencia explicativa, la teoría de la traducción explica la interrelación de los factores que pueden entrar en juego, determinando la estrategia y delimitando las opciones del sujeto de la actividad” (Lvóvskaya, 1997, p. 99 apud ALBIR, 2011, p. 151).

Por sua parte, Albir (2011), após a exposição dessas visões diferentes sobre a relação entre a teoria e a prática, apresenta suas próprias conclusões com o intuito de condensar uma ideia geral

sobre os objetivos da Tradutologia que contemple grande parte das características apontadas pelos autores. Assim, segundo a autora,

[…] son objetivos prioritarios de la disciplina:

̶ Construir el aparato conceptual apropiado que sirva para definir y explicar los fenómenos relacionados con la traducción en todas sus manifestaciones, y para predecir los problemas y factores que entran en juego.

̶ Describir y explicar la traducción (proceso y producto) en todas sus variedades recogiendo y midiendo datos que permitan clasificar los diversos fenómenos así como definir regularidades, probabilidades, principios, normas comunicativas, etc. (ALBIR, 2011, p. 151)

De forma resumida, a autora aponta, ainda, que, dada a natureza dinâmica da tradução, advinda da própria natureza dinâmica da linguagem e dos elementos múltiplos presentes na comunicação tradutora, os estudos descritivos se sobressaem. Para ela, as prescrições possíveis dizem respeito às normas comunicativas, aos princípios e às regularidades. Além disso, outra prioridade da disciplina é “avanzar en las investigaciones parciales y en la investigación empírica, recogiendo, midiendo y explicando datos” (ALBIR, 2011, p. 151). Cumpre ainda retomar, de acordo com Albir (2011), que o conflito entre teoria e prática depende do valor da descrição e da análise efetuada.

3.1.4 Pequena crítica à Tradutologia

Esta breve introdução à Tradutologia teve como função apresentar, de forma resumida, o modo de funcionamento do pensamento dessa disciplina em relação à tradução e a sua própria constituição. Antes de avançar para o cotejamento dos pontos de vista diferentes em relação aos temas propostos, cabe, no entanto, tecer alguns comentários que soam necessários em relação ao posicionamento da Tradutologia a partir do ponto de vista da poética do traduzir.

Em primeiro lugar, a Tradutologia apresenta uma preocupação científica bastante grande, o que, por si só, já mostra a distância teórica em relação à poética (cf. 2.2.1). Como foi possível perceber, a reflexão sobre o lugar da tradução no seio das ciências está constantemente presente

nas teorias que se debruçam sobre o fenômeno da tradução. Por mais que se apresente a partir de uma visão integradora, a disciplina tradutológica deseja uma integração que se dá internamente à ciência e acaba por recair sempre sob o império do signo que está nas bases do pensamento científico. A poética, por sua vez, trata de uma teoria de conjunto, mas que se situa fora do escopo da ciência, visto que a centralidade do objeto da poética está ligada ao modo contínuo da linguagem.

Enquanto a poética funciona a partir de um pensamento contínuo que demanda uma teoria de conjunto que faz perceber o papel maior da tradução no âmbito da linguagem, a Tradutologia tende a especializar em unidades cada vez menores os campos de atuação da tradução e das