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Um breve olhar para a interface

No documento felipezschaberalvespassos (páginas 94-98)

6. APRESENTAÇÃO, ESTUDO E ANÁLISE DOS CASOS E OBJETOS

6.2. ANÁLISE DOS OBJETOS DE ESTUDO

6.2.1. Exile Without End Palestinians in Lebanon

6.2.1.3. Um breve olhar para a interface

Quanto ao aspecto da interface, devemos considerar que o especial utiliza-se de elementos distintos do jornalismo convencional, mesmo em se tratando de materiais especiais, como neste caso. Por não possuir a experiência centrada no percurso textual tradicional, Exile Without End utiliza-se de um artifício que cria uma espécie de visão em “primeira pessoa”, permitindo aos usuários traçarem sua rota no material como se estivessem explorando uma espécie de “mundo virtual”, aspecto que pode ser remetido à experiência que antigos jogos point and click exploravam. Tem-se cada parte percorrida, uma por vez, anunciando os elementos presentes, os quais não necessariamente estarão nas mesmas posições e repetidos nas ocasiões seguintes.

Tal detalhe estrutural é evidenciado no momento em que nos deparamos com a tela inicial do webdocumentário. Nela, podemos adentrar no material por meio do botão enter, enquanto transcorre um vídeo que atua na apresentação do campo, evidenciando alguns traços e aspectos que poderão ser encontrados mais à frente. Somados a esses elementos, temos um breve texto introdutório, compondo a interface inicial.

Adentrando no especial, encontramos uma estrutura – a qual será empregada em todas as partes subsequentes do documentário – que se utiliza de uma imagem móvel ao fundo – em realidade trata-se de uma fotografia na qual realizamos uma espécie de pan35, revelando

pontos que não podiam ser visualizados anteriormente – sendo perpassada por quadros – boxes – que permitem a navegação no material e assim seja realizada a exploração dos conteúdos. Há de se notar também a presença da barra inferior, que atua como uma espécie de atalho e de índice, fornecendo possibilidades de deslocamento para partes específicas do material, como visualizar por completo o mapa, que se encontra sempre ancorado no canto inferior esquerdo da tela, e seguir especificamente para qualquer um dos vídeos do material, passo que desfigura a intenção proposta pelo webdocumentário, que é permitir a criação de percursos exploratórios e “interativos”. Na mesma barra, ainda pode-se ingressar no blog dos repórteres, contatar a equipe do órgão de comunicação, acessar os créditos, divulgar o material nas redes sociais, trocar a língua do material e operar a função “tela cheia”. Aliás, convém destacar que é através da função “tela cheia” que é alcançada a experiência imersiva do especial, uma vez que, por esse modo, se dá a atenção necessária aos elementos sonoros e visuais presentes ali.

35 Pan: Também conhecido como panorâmica ou panning, é um movimento efetuado com a câmera horizontalmente, geralmente em velocidade lenta, de um lado para outro. Fonte: www.fazendovideo.com.br/vtart_154.asp

Figura 11: Tela de uma das partes de Exile Without End evidenciando os elementos presentes em uma das ambiências do material.

Seguindo esse percurso, podemos perceber que a interface não é estritamente rígida, tal como costuma se empregar nos materiais jornalísticos da Web, nos quais predominam os percursos textuais, porém ela também não pode ser conceituada como “móvel” ou “metamórfica”, devido ao fato de que nela são mantidos elementos e preceitos básicos em sua estruturação. Em termos de usabilidade, encontramos o título e a barra inferior como pontos de ancoragem que padronizam o material, facilitando a exploração e o entendimento básico de suas funcionalidades. Por sua vez, a estrutura de boxes – que são devidamente nomeados – espalhados pela tela de fundo age como uma espécie de guia de elementos que podem ser encontrados no ambiente representado pela foto, incitando a exploração e sugerindo a particularidade de que eles pertencem à dinâmica natural desses locais.

No que concerne à função dos conteúdos do design, notamos atribuições básicas para os botões principais e subordinados. Além disso, a possibilidade da foto de fundo ser “explorada” faz com que se tenha uma noção de “profundidade” do local, uma vez que essa imersão cria a noção de campo de visão, a qual experienciamos em um local quando estamos fisicamente presentes, mesmo que essa noção aconteça de forma confinada no material, devido ao seu evidente limite de exploração na tela. A sua vez, os boxes possuem funcionalidades específicas, sendo acionados no momento em que percorremos o ponteiro do

mouse sobre eles. Uma vez acionados, eles se ampliam e evidenciam uma breve apresentação textual, apontando em conjunto uma foto ilustrativa e, em alguns casos, permitindo que seja realizado um clique para que acessemos um segundo nível de conteúdo, esse podendo ser a apresentação de vídeos ou de galerias de fotos dos personagens ou dos locais que são mostrados. Destacamos que, no momento em que qualquer um desses boxes é acionado, o fundo do material é escurecido, dando a entender que estamos ingressando em outra instância do conteúdo. No que trata da estrutura dos vídeos, eles são convencionais, dotados de um design de interface padronizado, na qual segue-se o exemplo utilizado na grande maioria dos web players atuais. As galerias, igualmente, seguem a premissa tradicional, na qual é exposto a foto principal em um primeiro plano enquanto as outras fotos se encontram minimizadas no canto direito para que possam ser acessadas posteriormente.

Figura 12: Apresentação do box acionado em Exile Without End, apresentando o fundo escurecido.

Para concluir, sustentamos que esse tipo de interface atua na explicação do material e também clama ao usuário para que ele continue o seu percurso nos conteúdos presentes no corpo do material. Ela não é necessariamente o melhor exemplo de organização para que se possa realizar um processo jornalístico por meio de informações duras e racionais, como é o caso de dados ou argumentações. No entanto, temos de considerar que esses aspectos foram mais explorados no blog dos repórteres, que se vale da construção tradicional. De toda forma,

acreditamos que também essa não é premissa do próprio webdocumentário, que segue uma outra orientação. O que se percebe é que a interface, estruturada nesses moldes, atua diretamente no processo comunicacional, convergindo com a intenção do webdocumentário, que aponta para a viabilidade de se proporcionar uma experiência sensorial que se utiliza de um viés exploratório e pessoal ao longo dos percursos trilhados pelos usuários.

No documento felipezschaberalvespassos (páginas 94-98)