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Capítulo II: Atividade educativa

3. Breve panorâmica histórica da literatura infantil

O aparecimento da literatura infantil escrita ocorreu recentemente se comparada com a longevidade da literatura oral, pois as suas raízes já vêm desde muitos anos atrás, através de mitos, crenças e rituais religiosos, narrativas, canções, adivinhas, etc.

Segundo Domingos Sá (1981: 11 e 12), a literatura infantil é uma “ típica arte de memória” em que os textos armazenados são “transmitidos de geração em geração como um acervo de experiência humana e de sabedoria intemporais, como expressão da memória dum povo e duma cultura…”. Estes textos continuam na memória dos contadores e na memória pronta e tenaz das crianças que são exercitadas através de “adequados mecanismos lúdico-formais [assim] „contar um conto‟, „aprender um conto‟, „saber um conto‟ são por excelência actividades memoriais” (Sá, 1981:12)

No inicio da literatura infantil escrita verifica-se que, do ponto de vista semântico- pragmático, “exige normas e convenções muito peculiares de ficcionalidade, incompatíveis com uma concepção racionalista ou mecanicista do mundo e da vida. (Sá, 1981: 12)

Os textos da literatura infantil pretendem demonstrar um enigma, um insólito, o bem e o mal, o amor e o ódio, a justiça e a injustiça.

Segundo estudiosos, a literatura infantil escrita surgiu, em finais do século XVII, com os Contos da mamã Ganso de Perrault. No entanto é intitulado como “período de oiro” da literatura infantil – o período romântico onde apareceram obras como os contos dos irmãos Grimm, os contos fantásticos de E.T.A Hoffman, os contos de H. C. Andersen, etc.

Nesta época, a literatura infantil passou a obter um estatuto e uma função que nunca lhe tinham sido atribuídos, ou seja, “a modificação do estatuto da literatura infantil no polissistema literário, durante o romantismo, correlaciona-se com as transformações socioculturais, ideológicas e económicas verificadas na Europa na primeira metade do séc. XIX.” (Sá, 1981: 13)

A alfabetização cresceu, sobretudo, nos países industrializados da Europa e fez com que se criasse um público, cada vez mais numeroso, para a literatura infantil, concluí- mos, então, que a educação pré-escolar está interligada com o desenvolvimento da industrialização e as transformações que ocorreram ao longo dos séculos. Mas na segunda metade do séc. XIX, por causa das guerras, muitas crianças morreram,

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verificando-se então que “a criança e a sua educação constituem valores cimeiros da Humanidade… [e que] a literatura infantil, quer oral, quer escrita, tem desempenhado uma função relevantíssima, atendendo aos seus destinatários, na modelização do mundo, na construção dos universos simbólicos, na convalidação de sistemas de crenças e valores.” (Sá, 1981: 14)

Denota-se que as raízes do pré-escolar já vêm de há muito tempo atrás com “As ideias dos grandes educadores e teóricos da pedagogia infantil como Rousseau, Froebel e Montessori [que] continuam a influenciar a educação pré-escolar nos nossos dias. O termo, introduzido por Froebel, “kindergarten” (jardim de infância), por exemplo, tem vindo a ser adoptado desde então por diversas culturas”. ( Tietze, 1993: 9)

A partir dos anos 60 do século XX, a taxa de frequência das crianças com idades correspondentes ao pré-escolar aumentou consideravelmente, tal como se pode verificar no Quadro 1.

Em muitos países ocidentais industrializados devido ao facto de estarem ligados a programas de educação compensatória, que consistiam numa medida compensadora para as condições de pobreza das crianças sem posses e sem experiências educativas, ou seja, as crianças mais pobres assim frequentavam os jardins-de-infância e tinham a oportunidade de obter educação.

Tendo em conta esta evolução, a procura por jardins de infância a tempo inteiro aumentou de forma espectacular na maior parte dos países, fazendo com que houvesse um afastamento dos filhos com os pais, porém estes começaram a não dar atenção aos filhos, mas o principal objetivo dos pais, nesta altura, ao colocar os filhos nestas

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instituições educativas, era que exercessem a função de guarda, mas que se veio a perder ao longo do tempo, pois hoje em dia a procura dos centros educativos é também para funções educativas. Desta forma, o objetivo dos pais, ao colocarem as crianças nos jardins de infância, era ter onde deixar os filhos protegidos, enquanto trabalhavam, não dando valor se eles aprendessem ou não.

Algumas datas importantes retiradas do livro de Domingos Sá Guimarães (1981):

1901- Reforma de 1901, A literatura oral e tradicional passou a fazer parte do currículo

da formação dos professores.

1928- das oficinas Gráficas da Biblioteca Nacional, obra de Henrique Marques Júnior

que tem como título Algumas Achegas para um Literatura Infantil.

1967- Criado e Planificado o Programa de Leitura Infantil e Juvenil Orientada, que logo

depois de aprovado foi posto em prática na Biblioteca Pública de Braga.

1974- monografia de Marques Júnior e a 1ª edição do Catálogo da Literatura Infantil,

publicado sob a égide do Secretariado para a Juventude.

1976- Brochura de António Manuel Couto Viana, intitulada – João de Deus e um século

de literatura Infantil em Portugal. Trata-se de uma conferência proferida por Couto Viana na Academia Portuguesa de Ex-Líbris.

1978- Publicada a edição portuguesa de Morfologia do Conto de Vladimir Propp, cuja

1ª edição russa data de 1928

- Reformulação dos programas do ensino público, no plano de estudos dos professores do 1º ciclo a disciplina de Literatura Infantil.

1979- foi publicada a obra A Literatura para a Infância da autoria de Alice Gomes. 1988- Encerramento da Escolas de Magistério Primário e a passagem para o Ensino

Politécnico e para as Universidades

É importante que se estude a literatura infantil para que haja um “enriquecimento e valorização da Cultura Portuguesa”. (Sá, 1981: 22)

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