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3. Caracterização energética do sector

3.8. Breves considerações do cele

Com o Protocolo de Quioto foi dado um importante passo no combate às alterações climáticas resultantes do aquecimento global do planeta. Este fenómeno climático tem o grande potencial de agravar certas circunstâncias na sociedade actual, nomeadamente a perda de espécies, o acesso à água, a produção de alimentos e o aumento da frequência e da intensidade de desastres climáticos.

O principal “activador” do aquecimento global é a emissão excessiva de gases com efeito de estufa para a atmosfera, destacando-se o dióxido de carbono (CO2). Antes da Revolução Industrial, no final do séc. XIX, a concentração de dióxido de carbono na atmosfera terrestre era de apenas 280 ppm. Actualmente a concentração de CO2 é de cerca de 390 ppm. Estudos concluem que para se prevenir um desastre climático é necessário reduzir a concentração de CO2 para pelo menos 350 ppm até 2050, conforme se apresenta na Figura 40.

Figura 40 – Redução necessária da concentração de CO2 na atmosfera para o valor mínimo de segurança ambiental. (Fonte: The Sustainability Funders)

Uma das medidas adoptadas pela União Europeia (UE) para o cumprimento do Protocolo de Quioto, consiste na adopção de um instrumento de cariz obrigatório para determinadas instalações designadamente a Directiva 2003/87/CE, de 13 de Outubro, alterada pela Directiva n.º 2004/101/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 27 de Outubro, que cria o mecanismo de Comércio Europeu de Licenças de Emissão (CELE), entretanto transposta para a ordem jurídica interna pelo Decreto-Lei n.º 233/2004, de 14 de Dezembro, com a última redacção que lhe foi dada pelo Decreto-Lei n.º 154/2009, 6 de Julho, habitualmente designado por Diploma CELE.

A finalidade desta directiva é ajudar os Estados Membros da União Europeia (UE) a cumprir com os compromissos de limitação ou redução das emissões de gases de efeito de estufa de uma forma sustentável. O facto das empresas que participam no comércio de emissões poderem comprar e/ou vender licenças de emissão permite reduzir emissões ao mínimo custo. Este instrumento aplica-se ao sector energético e a sectores energeticamente intensivos, que representam sensivelmente quase metade das emissões de gases com efeito de estufa ao nível europeu, designadamente produção e transformação de metais ferrosos, cimento, cal, indústria vidreira, cerâmica e produção de pasta de papel, papel e cartão.

Cada Estado Membro elaborou, em relação a cada período do comércio de emissões, Planos Nacionais de Atribuição de Licenças de Emissão (PNALE), onde se fixam os níveis totais de emissões no comércio de licenças de emissão e o número de licenças de emissão atribuído a cada instalação dentro do seu território. No final de cada ano, as instalações têm a obrigação de entregar uma quantidade de licenças equivalente as suas emissões. As empresas cujas emissões se situam abaixo da quantidade atribuída podem vender as licenças que lhes sobram. As empresas com dificuldades para manter as suas emissões dentro das licenças que lhe foram atribuídas podem optar por tomar medidas para reduzir as suas próprias emissões (como por exemplo, investir numa tecnologia mais eficiente ou utilizar fontes de energia com menos emissões de carbono), comprar no mercado de licenças a quantidade em falta ou então optar por uma combinação de ambas as opções, que pode depender dos seus custos relativos. Deste modo, as emissões são reduzidas da forma que for mais rentável para o operador.

Transaccionaram-se, em média, 350 mil licenças por dia em 2010, tendo sido a Bluenext a principal bolsa europeia do mercado de carbono.

O Comércio Europeu de Licenças de Emissão (CELE) abrange 46 % do total das emissões de dióxido de carbono na União Europeia e cerca de 10 mil instalações dos seguintes sectores:

o Centrais termoeléctricas o Refinarias

o Cogeração o Pasta e papel o Metalurgia o Cimento e cal o Cerâmica o Vidro

Em Portugal, foi de carácter obrigatório para 244 instalações no período 2005-2007 (Despacho Conjunto nº 686-E/2005) e de 212 no período 2008-2012 (Despacho 2836/2008).

No geral, as empresas destes sectores (nomeadamente a indústria da cerâmica e do vidro) podem ser indirectamente abrangidas pelo CELE, caso respeitem o seguinte critério:

“Combustão de combustíveis em instalações com uma potência térmica nominal total superior a 20 MW (excepto em instalações de incineração de resíduos perigosos ou resíduos urbanos)”.

No caso específico da indústria do vidro, o critério utilizado para a inclusão de instalações no 1º (2005/7) e 2º (2008/12) período de aplicação é:

“Produção de vidro, incluindo fibras de vidro, com uma capacidade de fusão superior a 20 toneladas por dia”.

E para a indústria da cerâmica:

"Instalações para o fabrico de produtos cerâmicos por cozedura, nomeadamente telhas, tijolos, tijolos refractários, ladrilhos, produtos de grés ou porcelanas com uma capacidade de produção superior a 75 toneladas por dia e/ou uma capacidade de forno superior a 4 m3 e uma densidade de carga enfornada por forno superior a 300 kg/m3."

Com base neste critério, apresenta-se na Tabela 20 o número de empresas da indústria cerâmica abrangidas pelo Lei n.º 233/2004 na actual redacção (CELE) e pelo Decreto-Lei n.º 71/2008 (SGCIE).

Tabela 20 – Número de empresas da indústria cerâmica abrangidas pelo CELE e SGCIE no ano de 2011

Produtos cerâmicos CELE SGCIE Total

Argila expandida 0 2 2

Extracção de matérias-primas 0 1 1

Tijolo e abobadilha 52 2 54

Telha e acessórios de telhado 10 4 14

Pavimento e revestimento 2 26 28

Louça sanitária 0 8 8

Cerâmica utilitária e decorativa 0 10 10

Total 64 53 117

Atendendo aos novos limiares de abrangência e inclusão de novas actividades e novos gases com efeito de estufa (GEE) designadamente os perfluorcarbonetos (PFC’s) e o óxido nitroso (N2O), que constam do anexo I da Directiva 2009/29/CE, transposta para o Decreto-Lei nº 30/2010 existirá um novo universo de instalações abrangidas pelo regime CELE no período pós-2012. A quantidade total de licenças de emissão é determinada a nível comunitário e a regra principal para atribuição de licenças de emissão é o leilão, mantendo-se (em menor escala) a atribuição gratuita, feita por aplicação de benchmarks (produto, combustível) e fall back definidos a nível comunitário.

A partir de 2013, o critério de aplicação do CELE para a indústria cerâmica altera, baseando-se apenas em um factor:

“Fabrico de produtos cerâmicos por cozedura, nomeadamente telhas, tijolos refractários, ladrilhos, produtos de grés ou porcelanas, com uma capacidade de produção superior a 75 toneladas por dia”.

Este critério é válido para o período de 2013 a 2020 e irá abranger um maior número de empresas. Assim prevê-se que as 2 empresas de argila expandida, a empresa extractora de matérias-primas, as 2 empresas de tijolo, as 4 empresas de telha, as 26 empresas de pavimento e revestimento e as 8 empresas de louça sanitária indicadas na Tabela 20 venham a estar abrangidas pelo CELE.

4. Síntese da informação recolhida nos inquéritos e nos relatórios de

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