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4. O SISTEMA EUROPEU DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

4.2. A U NIÃO E UROPEIA

4.2.2. A ADESÃO DA U NIÃO E UROPEIA À C ONVENÇÃO E UROPEIA PARA A P ROTEÇÃO DOS D IREITOS DO

4.2.2.5. Breves consideradores sobre a adesão da União Europeia à CEDH

Neste sentido, em consideração das competências específicas de cada órgão da União, afigura-se lógico que as instituições europeias, através das quais foram emanados os atos jurídicos em causa, devam representar a União Europeia em juízo. Esta asserção parte igualmente da ideia de que serão estas as instituições que poderão, em fase posterior ao processo, vir a proceder à alteração dos atos jurídicos, conformando-os com as disposições da CEDH.

Quanto à segunda questão, consideramos que a exigência pelo esgotamento das vias internas de recurso, no caso em que um ou mais Estados-membros sejam co-demandados, é uma solução dificilmente coerente e harmoniosa. Em primeiro lugar, impor-se-ia sobre os indivíduos um encargo excessivo, que possivelmente resultaria num abandono do mecanismo da co-demanda, obrigando-os a recorrer aos tribunais internos de todos os Estados-membros envolvidos na violação de uma das disposições da CEDH. Em segundo lugar, através de uma tal solução, poder-se-ia dar o caso dos tribunais internos produzirem decisões contraditórias. Por último, vale a consideração de que o esgotamento das vias de recurso, leva a pressupor, no limite, que os tribunais internos de um Estado-membro da CEDH representam uma via de recurso às decisões dos tribunais internos de um outro Estado-membro, algo que é inconcebível à luz do princípio da igualdade e com respeito às soberanias dos Estados.

4.2.2.5. Breves consideradores sobre a adesão da União Europeia à CEDH

Face a esta sucinta análise relativa ao projeto de adesão da União Europeia à CEDH em cumprimento do disposto no n.º 2 do artigo 6.º do TUE podemos retirar as seguintes conclusões.

No respeitante à articulação de catálogos de direitos – a CDFUE e a CEDH – observa-se em prima facie os dois instrumentos, face ao projeto de adesão, continuarão a vigorar sobre um espaço comum, sem que tal pressuponha uma

185 relação vertical entre ambos, sendo que no entanto, é preciso ter-se em atenção que o TEDH não dispõe de competência para apreciar os direitos inscritos na CDFUE que não tenham correspondência na CEDH, reservando-se esta competência para os tribunais nacionais e para o TJUE.

Ainda sobre a perspetiva desta articulação, concluímos também que a União Europeia irá aderir somente aos Protocolos Adicionais n.º 1 e n.º 6º – os mesmos a que aderiram todos os Estados-membros da União. A adesão aos restantes protocolos far-se-á em bloco, evitando que através da União Europeia, os Estados- membros sejam compelidos a cumprir com determinados Protocolos que rejeitaram enquanto Parte no Conselho da Europa.

Na perspetiva das competências dos tribunais, vimos que de acordo com os termos do Tratado da União Europeia, o TJUE não possui competência para se pronunciar sobre os atos PESC, exceto quanto ao previsto na disposição do 2.º parágrafo do artigo 275º TFUE – que por seu turno, remete para os artigos 40º TUE e 263º TFUE. Quanto ao TEDH, verifica-se que por princípio, este terá competência para se pronunciar sobre estes atos e sobre a sua conformidade com a CEDH. Todavia, no seguimento daquilo que expusemos, tal competência não afasta de todo a intervenção do TJUE. Desde logo, através do sistema de reenvio prejudicial, este tribunal pode ser chamado a apreciar uma questão relacionada com a PESC, tendo a possibilidade, tal como sugere a Comissão Europeia e a Alemanha, bases para dilatar a sua atuação neste campo.

No âmbito da presunção da “proteção equivalente” verificamos que o projeto de acordo não é totalmente elucidativo, deixando a questão em aberto e à mercê do entendimento que o TEDH venha a manter. Vimos que caso Bosphorus, o Tribunal de Estrasburgo concedeu uma autêntica “carta-branca” à União Europeia, baseando-se num pressuposto, que ainda, que ilidível beneficia a União e seus Estados-membros. Tal situação não se verifica em relação às demais partes da Convenção e poderá por isso ser causa de alguma instabilidade no seio da Convenção, pois recorde-se que a adesão da União à CEDH esta dependente também da aceitação das restantes partes, pelo que não é conveniente que se procure obter um regime privilegiado que venha a desequilibrar o princípio da igualdade entre as Partes que aderiram à CEDH. Todavia, a manter-se a orientação

186 relativa à presunção da “proteção equivalente”, verificamos que a mesma pode ser afastada. Na jurisprudência do TEDH observámos por exemplos em que tal sucedeu. Estes casos relacionam-se sobretudo com a margem de discricionariedade de que os Estados-membros dispõem aquando da transposição para a ordem nacional dos atos jurídicos da União Europeia.

Por último, quando ao mecanismo da co-demanda, este foi estruturado no presente projeto de adesão por forma a evitar que o TEDH se venha a pronunciar sobre o direito da união europeia, decidindo perante os casos concretos a quem deve ser dirigida a queixa apresentada pelos indivíduos e pelas pessoas coletivas. O n.º 6 do artigo 3.º do projeto garante também a possibilidade de intervenção do TJUE, se ainda não o tiver feito em sede do reenvio prejudicial, nos casos em que um ou mais Estados-membros venham a ser diretamente demandados e a União venha a aceitar constituir-se enquanto co-demandada, servindo este mecanismo para garantir não só que o TJUE teve oportunidade para aferir a conformidade do ato da União com a CEDH, mas também porque ao fazê-lo, permite-se que o princípio da autonomia do direito da União seja preservado. Como tivemos oportunidade de referir a grande vantagem para a proteção dos direitos humanos é óbvia: a decisão do TEDH irá vincular a União Europeia e os Estados-membros que estejam presentes como partes num processo.

A grande conclusão relativamente à adesão da União Europeia à CEDH encontra-se indubitavelmente na ideia de que ainda que as competências do TJUE sejam preservadas e respeitadas, o TEDH terá a “última palavra”, pronunciando-se sobre a conformidade do direito da União Europeia em relação à CEDH. Por este motivo, a análise que adiante realizaremos relativamente às restrições ao direito de propriedade originadas pelos instrumentos de resolução das instituições bancárias, tomarão por base a CEDH, e em particular, o seu artigo 1.º do Protocolo n.º 1.

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