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Breves reflexões sobre o cenário macroeconômico

4 EVOLUÇÃO RECENTE DO SETOR DE CERÂMICA

4.1 Breves reflexões sobre o cenário macroeconômico

Do ponto de vista macroeconômico, a economia brasileira tem passado por mudanças estruturais a partir dos anos 1990, que se aprofundam ao longo dos anos 2000. Na década de 1990, o cenário de estabilização monetária, pós-implementação do Plano Real e os ganhos advindos do fim do imposto inflacionário contribuem para a recuperação da renda média da população.

A despeito das restrições associadas às políticas de orientação ortodoxa, que se mantém ainda no primeiro Governo Lula (2003-2006) (combinação do regime de metas de inflação com o câmbio flutuante e a política de geração de superávit fiscal primário, visando à continuidade do controle inflacionário), o grande destaque nos anos 2000 é a construção de uma rede de proteção social no Brasil, na qual se sobressai a expansão da cobertura da previdência rural, incluindo trabalhadores não contributivos.

Certamente um dos marcos na nova política social fica por conta dos programas governamentais de transferência de renda, como o Bolsa Família, e do seu potencial para o aumento da demanda de bens de consumo e dinamização do mercado interno, fator especialmente importante no Nordeste brasileiro. Mesmo com a manutenção da política de elevadas taxas de juros praticadas na economia brasileira, algumas iniciativas voltadas para a focalização, porém, com efeitos mais estruturais no médio e longo prazos, também são empreendidas como estratégia relevante de combate à pobreza, como os programas de microcrédito. Com o objetivo de democratizar o crédito a camadas menos favorecidas da população, excluída do sistema financeiro tradicional, permitem a pequenos e médios empreendedores o acesso a recursos para a montagem de pequenos negócios (RODRIGUES; ALVES, 2012).

Ao mesmo tempo, um novo perfil do mercado de trabalho dá sua contribuição para a boa evolução dos indicadores sociais, caracterizando-se por elementos de caráter mais universal e mecanismos mais estruturais para o combate à pobreza. Nesse sentido, ressaltam- se a recuperação do poder de compra do salário mínimo e o aumento do grau de formalização do mercado de trabalho brasileiro.

Apesar do cenário de crise mundial do final de 2008, cujos reflexos são sentidos de forma mais evidente no 1° semestre do ano seguinte, os gastos sociais federais (GSF) continuam a trajetória de expansão, assumindo um caráter nitidamente anticíclico, assim

como passa a ser a política econômica do segundo Governo Lula (2006-2010) (RODRIGUES; ALVES, 2012). Para o IPEA (2011, p.8),

ao invés de acompanhar a desaceleração do PIB, como ocorrido em momentos anteriores de crise econômica, o GSF (gasto social federal) retoma uma taxa de expansão acelerada, assumidamente como instrumento de enfrentamento/recuperação ante à recessão que se instalava.

Nesse contexto, é relevante a ação governamental na implementação de grandes projetos de infraestrutura e em projetos privados, garantindo uma melhor performance da construção civil brasileira, que vem experimentando inúmeras transformações. A política do governo Lula se empenhou em corrigir gargalos estruturais históricos, particularmente a carência de obras pesadas (pontes, portos, rodovias, hidrelétricas etc.) e o déficit habitacional. Nessa perspectiva, sobressai-se o crescente volume de crédito desde 2006 para o setor de construção, já diante, a partir de 2005, de uma política de redução suave nas taxas de juros, além de ampliação dos prazos de pagamento (CBIC, 2010). Comandam esse conjunto de transformações, o Programa de Aceleração do Crescimento – PAC (Janeiro/2007) e o Programa Minha Casa Minha Vida – PMCMV (Março/ 2009). O PAC, como programa de desenvolvimento, representa um conjunto de medidas focadas em obras de infraestrutura logística e infraestrutura social e urbana, tendo por objetivo incentivar o investimento privado e melhorar a qualidade dos gastos públicos. Através do PMCMV, para atuar no déficit habitacional existente, vem aumentando os volumes de investimentos em habitação e infraestrutura urbana, ampliando o espaço urbano e estimulando a demanda por serviços e emprego.

A importância dessas transformações se traduz no forte estímulo ao setor de construção civil e na extensa cadeia produtiva a ele associada, possuindo, portanto, características multiplicadoras e aceleradoras do desempenho econômico, já que o mesmo se encontra na base do desenvolvimento e aprimoramento da infraestrutura do país. Destaca-se, ainda, como grande empregador de mão de obra, por possuir uma elevada participação na formação bruta de capital fixo e na geração de Produto Interno Bruto (PIB). Para a Câmara Brasileira de Indústria e Comércio - CBIC (CBIC, 1994, p. 1)

a construção civil absorve direta e indiretamente um grande contingente de mão de obra qualificada e semi-qualificada; utiliza-se de capital, tecnologia e insumos predominantemente nacionais; apresenta um pequeno coeficiente de importação; possui baixa relação capital/produto e elevado efeito multiplicador e distributivo de renda; além da expansão do seu nível produtivo contribuir sobremaneira para a melhoria das condições infra-estruturais do país.

Completam, em nível federal, o conjunto de programas de infraestrutura, os programas Copa 2014, com destaque para as obras de mobilidade urbana nas cidades-sedes do evento e Olimpíadas 2016, onde se sobressaem a construção dos equipamentos esportivos e uma rede de novas instalações hoteleiras, com efeitos multiplicadores na cadeia de serviços urbanos.

O estado do Ceará, também nos anos 2000, inclui-se na perspectiva de retomada do investimento público, desta vez associado ao conjunto de investimentos estruturantes realizados em nível federal, através do PAC. Estruturado a partir de três eixos, logístico, energético e social e urbano, envolve a implantação de uma Siderúrgica e um terminal de Gaseificação, ambos no Complexo Portuário do Pecém, que devem contribuir para consolidar a competitividade neste porto e uma Usina de Biodiesel, na região de Quixadá. Destaca-se a criação do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia (PROINFA), que já prevê a expansão e implantação de novos parques eólicos no estado, e a instalação de três usinas térmicas. Completa, ainda, o programa de investimentos, a construção da Ferrovia Transnordestina, que deverá beneficiar os estados do Piauí, Pernambuco e Ceará. Na infraestrutura social e urbana, sobressaem-se os investimentos no Programa Luz para Todos, os Planos Locais de Habitação, o esgotamento sanitário da Região Metropolitana de Fortaleza, a ampliação do abastecimento de água e esgotamento sanitário em diversos municípios cearenses e a retomada dos investimentos na construção do Metrô de Fortaleza e construção dos metrôs de Sobral e Cariri (BRASIL, 2013). Destacam-se, ainda, a reforma do aeroporto internacional de Fortaleza, inconclusa e com fortes atrasos no cronograma original; a drenagem do porto do Mucuripe, permitindo acesso a navios maiores; integração de bacias; a Transposição do rio São Francisco; a construção de barragens; ampliação e construção de rodovias, o que deve permitir uma maior qualidade e melhor mobilidade no transporte urbano.

Vale ressaltar que, para o Ministério das Minas e Energias (BRASIL, 2009, p.17), a construção civil é “um segmento que tanto demanda minerais de emprego in natura, como também outros cuja aplicação ocorre, depois de serem submetidos à transformação nas indústrias de cerâmica, cimento e gesso”. Desta forma, acompanhando a tendência de crescimento da construção civil, os investimentos em exploração mineral têm mostrado uma tendência de crescimento nos anos 2000. Ainda conforme o MME (BRASIL, 2009), a alocação de recursos neste segmento faz da região Nordeste “o segundo polo de atração no país, superada apenas pelo estado do Pará e, recebendo mais de 20 % do total investido no país”, o que tem permitido à região o atendimento da demanda da mineração regional, com exceção da cerâmica de revestimento, ainda dependente de produto transferido do Sul e

Sudeste do país. Assim, a recuperação e investimentos em largos elos da cadeia da construção, no período recente, têm efeitos diretos na indústria de cerâmica vermelha.

Do mesmo modo, vale ressaltar que a inflexão na condução da política macroeconômica recente e a implementação de um receituário de orientação mais ortodoxa, com fortes restrições dos gastos do governo, ajuste monetário e contenção do crédito, devem ter efeitos no curto prazo, no desempenho do setor. A restrição no nível de atividade econômica, a baixa propensão do setor privado a investir, as altas taxas de desemprego e a desaceleração da renda real dos trabalhadores afetam a dinâmica da construção civil, e o segmento de cerâmica vermelha tem demonstrado alta elasticidade da demanda, portanto, grande sensibilidade a alterações no desempenho da economia.