• Nenhum resultado encontrado

O papel do brincar e do brinquedo para a aprendizagem: a importância de brinquedos, jogos e materiais adaptados,

P. é assim brincalhona, gosta muito de brincar, é bem extrovertida, ela curte qualquer coisa que você der para ela descobrir, ela quer ver, quer conhecer, ela só fica triste

6.3.2. O papel do brincar e do brinquedo para a aprendizagem: a importância de brinquedos, jogos e materiais adaptados,

histórias, atividades lúdicas e recreativas

As mães das crianças concebem o brincar como uma ação fundamental para a aprendizagem de seus filhos. Consideram as brincadeiras, a imitação, o faz-de- conta, brincadeiras com boneca, travessuras, jogos pedagógicos, brinquedos de montar e jogos de construção essenciais para o processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças com deficiência visual.

A opinião de Edi revela que “o espaço de brincar é uma instrução, eles aprendem a brincar junto”:

... Brincar é muito importante, principalmente para ela que não tem todas as formas de brincar. Têm certas brincadeiras que ela pega rápido, outras têm que explicar duas ou três vezes para estar pegando. Eu acho superimportante brincar, ela gosta de brincar da Adoleta, esconde-esconde; na minha infância eu era muito moleque, brincava de correr, pular, esconde-esconde, quem atira pedra mais longe. Eu brincava de médico, professora,

meu sonho é ser professora então minha brincadeira melhor era de professora. Em casa ela tem boneca, ursinho, aqui na Laramara ela pega para levar para casa joguinho de montar. Acho o espaço de brincar uma instrução, eles aprendem a brincar junto. De primeiro P. brincava sozinha e ela chega aqui e junta com os meninos, ela aprendeu a brincar com todo mundo. Ela tem muitos amigos aqui. (EDI)

...O que eu acho bacana aqui, é que... aqueles bonequinhos, aquelas câmaras de ar, quantas vezes eu já ajudei a vestir, a costurar, fechar. Nossa acho muito lindo... E a calça da vovó também é interessante... a cobra... Porque os brinquedos, eu acho assim importante, não é só pra elas, pra gente também, porque o momento em que a gente pega na mão... a gente sente a sensibilidade, e gente sente a necessidade que eles necessitam... só o fato da gente tocar neles, a gente já sente assim, já sabe que eles vão gostar... porque é uma coisa assim que, como que eu posso explicar, que chama a atenção.

... Eu observo que as crianças menorzinhas, quando terminam de serem atendidas, elas perguntam: não posso brincar um pouquinho na brinquedoteca? Além dos brinquedos, tem as brincadeiras, eles gostam de estar no espaço... isso é muito importante... (BIA)

Os relatos das mães indicam que as crianças com deficiência visual gostam das brincadeiras comuns a todas as crianças tais como: imitar, brincar de faz-de-conta, de escola e de representar a professora. Gostam de brincadeiras corporais, correr, pular, brincar com água, carrinho, bola, brincar com animais, de bicicleta; brincar com os irmãos, vizinhos e mães.

... Ela tem assim brincadeira predileta. Tem uma brincadeira muito boa, falar no celular... é sempre estar escrevendo, tipo secretária, ela quer imitar muito a professora, em explicar, em conversar, contar, ela faz uma aula aqui no Laramara chega em casa ela quer fazer do mesmo jeito que fez com ela, ela quer fazer em casa, é assim você conta alguma coisa pra ela, fala alguma coisa com ela, aquilo dali ela já vai fazer uma estória: mãe, eu vou cantar... na escola a professora, mãe o que é que cai em pé e corre deitado? Eu não sei filha, o que é? A chuva... (EDI)

... Brincadeira que ele prefere, o que ele gosta mais, de jogar bola, brinca de carrinho bastante... Agora bola ele gosta de jogar daquela que ele ganhou aqui. Aquela que tem o guizo. Ele gosta daquela bola, porque ele joga com o cachorro... Ele joga a bola e o cachorro vai buscar... e o cachorro fica jogando com ele... ele põe a patinha em cima da bola... fica esperando ele ir... quando ele vai, ele joga a bola pra outro lado, sabe, parece uma criança. (BIA)

... Ela gosta da brincar, pintar, desenhar, ela gosta de copiar desenhos de bichos: Hello Kitty, turma da Mônica, coisa assim. (CLEUSA)

Na visão das mães, os brinquedos interessantes e preferidos pelos filhos são os carrinhos com som, as bolas de guizo, os jogos de montar, de construção, quebra- cabeça, pebolim e a boneca para as meninas.

... Na brinquedoteca, ela vai bastante lá. Ela gosta principalmente de monta-monta, ela vai na brinquedoteca e nem brinca de boneca, ela gosta de pegar o carrinho pra passear com a boneca, mas se ela vê o monta-monta, ela desliga tudo, porque ela gosta, ela acha interessante ficar montando, fazer quebra-cabeça essas coisas assim. Ela ama montar, o que ela não gosta, assim eu ainda não vi um que ela não gosta, até de carrinho ela brinca, porque ela acha interessante pegar o carrinho assim jogar ele e ela sair, não tem assim um brinquedo que ela não goste, eu sei que ela ama muito o celular dela. (EDI) ... Ela tem boneca, ela tem roupas, as bonecas dela todas tomam banho, todas são trocadas, todas têm as roupas lavadas. E ela veste a boneca... Dá nome pra boneca. Todas elas têm nome, só que quando ela enjoa do nome ela troca e coloca outro, tem os nomes da boneca elas dão banho, ela lava a roupa, ela quer... tudo o que uma dona de casa faz, e que ela vê eu fazendo ela quer fazer também. (EDI)

... Ele gosta mesmo é dos carrinhos, ele tem bastante carrinho, principalmente, carrinho de polícia, ambulância, ônibus. Esses são os prediletos dele... E daqui ele já levou bastante ele já levou carrinho, já levou quebra-cabeça, pebolim ele já levou também. (BIA)

As mães dos alunos que freqüentam atualmente Laramara valorizam os jogos e materiais adaptados, considerando-os muito importantes para a aprendizagem e mostram conhecer as necessidades educacionais especiais de seus filhos. Revelam trabalhar em conjunto com a escola e a Instituição na adaptação dos materiais e recursos necessários na sala de aula. Os relatos indicam ainda que as mães participam ativamente da educação e da inclusão escolar de seus filhos e ajudam a escola na preparação e adaptação dos jogos e materiais especiais.

... Ela tem recurso especial lá na escolinha, a professora sabe... a professora já veio fazer cursos aqui, já fez o projeto de inclusão... eu fiz... no começo foi a professora do Laramara que foi até lá, então volta e meia a Laramara vai até lá ou então quando elas têm dúvida de alguma coisa, eu faço a ponte, e eles vêm até aqui ou então eles vão até lá... Ela não vai usar o Braille, é letrinha comum, só que ampliada, na casa agora ela está com os óculos da 3,5 graus e ela vai passar de novo na ortóptica pra ver como já fez um certo tempo que ela está com os óculos, vamos ver se ela vai aumentar porque o grau dela é 7, então ai vamos nós ver se já pode aumentar mais um pouco, como ela já acostumou, dependendo do desenvolvimento dela com os óculos é que a gente vai saber como vai ser a escrita dela, a leitura. Tem livrinhos de estórias, ela tem livrinhos de alto relevo, na maneira do possível que eu posso ir pegando cada coisa um pouquinho. Ela conta figuras. Quando ela está com os óculos, ela é bem danada. (EDI)

... Muito importante... por exemplo, a criança cega, normalmente, nas lojas você não encontra... um brinquedo de acordo, não só para cegos, para outras pessoas com outras deficiências, às vezes, você não encontra. Precisa ser uma loja de departamento muito boa para encontrar um brinquedo, assim, que seja para uma criança que tenha deficiência e eu acho que o trabalho das voluntárias fazendo esses brinquedos para a criança, nossa, é muito importante, sim, é muito bom. (NEIA)

... A professora, ela ajuda muito, porque ela faz aquela ampliação do caderno, as letras são bem ampliadas, xeroca tudo.. então é um trabalho! Nossa é maravilhoso! Por ser interior, desde o momento que nós chegamos lá, daí eu passei algumas coisas, elas estiveram aqui, tão sempre presentes, tão sempre ligando para tirar algumas dúvidas, então através disso elas vão se orientando, uma vai passando para outra, tem a outra escola também que está se interessando... até eu tô mais interessada em fazer essa prancheta, pra mim tá passando pra elas. Porque a prancha, eu tenho, meu irmão quem fez, ele é serralheiro, ele pegou fez uma. Aí quando eu vi essa que é feita de papelão, eu falei, quero aprender essa porque é mais fácil, mais barato e fácil de tá levando... É... sabe o quebra-cabeça, na escola, a professora fez um, aí ele não gostou daquele.. ele falou que era feio, porque era uma pintura muito ruim. . . daí nós compramos as canetinhas e nós fizemos. (BIA)

... Eu comprei dessa vez xadrez. Adaptado, então, nós estamos aprendendo. Tem o quebra-cabeça, eu fiz aquele jogo de damas, que aprendi a fazer aqui, eu aí peguei e falei, eu vou fazer um... então ele tem o dominó. Ele tem o livro de AVD da criança tá deitando, se levantando, escovando os dentinhos... O livrinho. Com uma historinha que fala das horas, das horas em que ele podia, por exemplo, da hora que ele ia levantar, fazer a lição, almoçar... Ele tem o maior cuidado... ele mostra para as pessoas, aí ele abre... ele mesmo abre para as pessoas. (BIA)

A fala das mães indica que as crianças com deficiência visual gostam de todas as atividades lúdicas e recreativas. Gostam de estórias e contos clássicos, de livros infantis em relevo e estórias de terror. Gostam de música, de cantar, dançar, dramatizar, assistir televisão e de passear. Indicam que os jovens gostam muito de música, teatro, esportes, passeios e de tocar instrumentos musicais. As mães pontuam ainda a importância dos brinquedos especiais.

... Ela gosta também... onde tem aquelas leituras, os livrinhos Agora sim, pra ela é mais interessante, porque de primeiro ela não ia porque ela não sabia ler.... agora ela devora tudo, que ela quer ver um por um. Tem livrinhos de estórias, ela tem livrinhos de alto relevo, na maneira do possível que eu possa ir pegando cada coisa um pouquinho. Ela conta figuras quando está com óculos. Fantasia, ela coloca, teve uma vez que ela se pintou todinha e eu falei pra ela: P. você vai assim pra casa filha? E ela foi com o olho de uma cor, o rosto de outro. Ela não gosta assim dessas coisas de monstro, ela não gosta, principalmente quando vai fazer a mímica, a gente vai pra cima olha o monstro essas coisas aí ela não gosta, mas a estória dos três porquinhos... romântica também. (EDI)

... Ela gosta de música, de dançar, é apaixonada por novela também, com a P. eu não tenho muito trabalho, mas de brinquedos e brincadeiras ela gosta de tudo, tudo que for o mundo da brincadeira ela vai em todos e curte tudo. E ela chegou a ir pra piscina, já fez bastante exercício, já está aprendendo a afundar, a subir, a bater na bóia, as pernas, os braços. Então, ela gosta de brincar de fazer de conta, de imitar a professora. Ela ama também a banda Calipso, então imagina é uma dançarina de primeira é porque ela assiste assim, ela canta, ela dança, ela coloca o controle da televisão como se fosse o microfone dela, ali já é o palco dela... (EDI)

... E sempre que eu posso eu saio, eu levo ele pra passear, estava tendo o circo, aí no sábado, nós fomos pro circo... aí eu não paro, às vezes meus irmãos falam assim: Nossa B.!

você não só pára! Você não sai sozinha!... mas são meus amigos, além de amigos, são amigos... eu me divirto com eles. Lá tem um... chama deserto, sabe, é um terreno com uma erosão, ficou aqueles buracos enormes... Ai nós vamos pra lá, não é muito pertinho, mas também não é longe, nós vamos a pé... aí leva uns lanches... Nossa aí já coloca aquelas roupinhas bem velhinhas, bem surrada... porque a gente saí de lá molhada, porque tem o riozinho que passa embaixo, aí a gente desce, dá a volta pro outro lado... (BIA)

... A gente brincava muito, eu contava muitas estórias para ela, estórias de terror. E no negócio de Playcenter ela vai em tudo e nessa casa assombrada ela fazia eu ir com ela, eu quase morria e ela ia na boa. (RAQUEL)

... Ele tem um violão. Mas ele quer mesmo uma guitarra. Nossa! Ele tá doido por uma guitarra! Daí eu falei pra ele que guitarra tá meio difícil porque não tem nem onde colocar. Ele gosta da TV Cultura... são vários desenhos... Nossa! Ele adora aqueles desenhos e gosta também do... ai, como é que chama? (BIA)

... G. faz muita coisa, está fazendo balé, começou agora. É expressão corporal, não é balé clássico. Com as meninas, ela faz condicionamento físico na ACM. Fez natação, ginástica todo mundo reclama que é muito difícil. Boxe. Ela fez boxe, escondido de mim, porque ela ia pra natação e um dia ela falou: mãe, eu posso fazer boxe? De jeito nenhum, você está ficando louca? Mas não por achar, porque eu nunca vi a G. deficiente visual, nunca vi, eu criei a G. enxergando ou eu aceitava demais ou eu não aceitava nada, eu não sei te falar ainda não, mas eu não queria, porque eu achava uma coisa estúpida pra uma menina, imagina, e deixava ela na natação e ela ia lá pra cima. Começou a fazer teatro com o B. M. ele é diretor de teatro e trabalha com cadeirantes e cegos no teatro dele. Porque a G. falou que até lá os cadeirantes é que são os artistas... e deixam os cegos de lado e ela fica muito revoltada com isso. Ela deu um tempo porque ela ficou muito revoltada. Não, não é assim a gente também diz que ele fica bravo porque ele quer expressão e lógico deficiente visual é difícil. Tem que ensinar né, mas eles não gostam de ensinar. E aí acabam dando mais valor para os cadeirantes e acaba deixando os deficientes visuais de lado. (RAQUEL)

É interessante ver o quanto as mães foram receptivas com nossas idéias referentes ao brincar. Quando, em 1997, entreguei a cada mãe o manual Papai e mamãe vamos brincar?, do qual constavam quarenta brinquedos simples que desenvolvi, mostrando como confeccioná-los e como brincar com eles, queria sensibilizar a família para a importância do brincar.

Com essa intenção, criei, ao mesmo tempo o Espaço de Integração e Convivência da Família, para que ela o utilizasse na criação e confecção de brinquedos.

Agora cada mãe recebeu um exemplar do livro Brincar para Todos, ensinando como confeccionar os cento e nove brinquedos desenvolvidos na Instituição e como brincar com eles. Esperamos que esta ação traga um resultado ainda maior

para o envolvimento das mães.

6.3.3. O papel da Instituição: a opinião das mães sobre os