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4.3.1. Espaços lúdicos de Laramara - Mara Olimpia de C Siaulys3

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Academic year: 2019

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Todos os programas desenvolvem brincadeiras e usam brinquedos que garantem à criança o acesso aos recursos mais adequados à sua educação, de forma lúdica e prazerosa. Procuramos sempre envolver e motivar a família para que utilize brinquedos e brincadeiras em sua interação com a criança.

4.3.1. Espaços lúdicos de Laramara

Corredor sensorial: localizado logo na entrada, possui variados elementos da natureza e traz para a criança muitas sensações diferentes: água, areia, pontes, animais, sons de pássaros etc.

Acervo de Brinquedos: com 1500 itens diferentes, está à disposição das crianças e profissionais para suas brincadeiras.

Larabrinc: brinquedoteca adaptada e preparada para que as crianças possam brincar com autonomia, desenvolver a criatividade e a fantasia; nela, as brincadeiras em grupos são sempre muito alegres e animadas. As crianças podem continuar brincando em casa, com seus irmãos e amiguinhos, porque a brinquedoteca Leve e Brinque possibilita a retirada de seus brinquedos preferidos.

Piscina: local muito alegre e animado, destina-se à socialização e recreação das crianças e famílias. Importante na aquisição da consciência corporal, temporal e espacial, melhora a auto-estima e confiança da criança.

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Lugarejo, Cantinho de leitura: Livrinhos adaptados e ilustrados com elementos concretos, figuras em relevo e brinquedos são muito úteis para as crianças com deficiência visual e uma importante forma de iniciação à leitura. Reunimos neste espaço muitos livros infantis, alguns em Braille, para que os grupos de crianças possam participar de leituras interessantes e motivadoras.

Ainda para incentivar a leitura e interação familiar, as crianças em início de alfabetização elaboram um livro em parceria com pais e irmãos: é o “livro vivo”. Nele, elas narram fatos de sua vida diária, acrescentando novas páginas à medida que surgem novos acontecimentos. A ilustração com elementos concretos fica por conta da família. A narração e representação de histórias também são recebidas com alegria pelas crianças, que vivem assim um mundo de descobertas e fantasias.

Passeios à praia e ao campo, ao zoológico e parques são oferecidos muitas vezes às crianças.

Projetos Teen e Brinc Ar Feliz: procurando facilitar ainda mais a inclusão da criança com deficiência visual nas creches, escolas e na comunidade foram criados esses projetos que promovem a visita de grupos de escolares e crianças de creches à Laramara. Os visitantes recebem explicações, conhecem nossas instalações, brincam junto, realizam atividades, constroem brinquedos e se familiarizam com as crianças da Instituição. Paralelamente, são feitas palestras aos profissionais das creches, sobre a importância do brincar e do brinquedo e sobre a detecção de problemas visuais nas crianças.

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inclusão na família, escola e comunidade, sendo Laramara uma instituição caracterizada como Centro de Desenvolvimento Humano e Apoio à Inclusão.

Entendemos que a atuação de uma organização social como Laramara deve estender-se a todas as partes do território brasileiro, procurando parceiros para identificar as necessidades e soluções.

Em todos os momentos de nossa trajetória procuramos nos superar para manter viva a idéia que tivemos desde o início: assegurar à pessoa com deficiência visual igualdade de oportunidades para que ela possa ser realmente um cidadão integrado e integral.

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5. Procedimentos Metodológicos

Este capítulo apresenta questões referentes à metodologia de pesquisa, dentre elas: o histórico, o tipo da pesquisa, as informações sobre os alunos e familiares, critérios utilizados para a composição da amostra e cenário onde a pesquisa foi desenvolvida. Descreve os procedimentos utilizados para a coleta de dados e análise dos resultados.

5.1. Origem da pesquisa

Esta pesquisa originou-se, num primeiro momento, da necessidade de sistematizar as idéias referentes à validade do uso de brinquedos especiais e adaptados e das brincadeiras, na interação com crianças deficientes visuais em nossa prática institucional. Num segundo momento, julgamos ser importante refletir sobre o papel da ludicidade como elemento mediador das relações pais-filho, da socialização, da inclusão escolar e comunitária.

Por esse caminho foram investigadas duas questões:

a) O papel e a função do brincar, de brinquedos especiais e brinquedos adaptados para a aprendizagem e inclusão social das crianças com deficiência visual;

b) O papel e o nível de participação da família na aprendizagem, no desenvolvimento e inclusão social de seus filhos, por meio do brincar e do brinquedo.

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5.2. Tipo de pesquisa

O caminho escolhido para este estudo foi o da pesquisa qualitativa etnográfica, que teve como principal preocupação “o significado das ações e dos eventos para as pessoas ou os grupos estudados. Esses significados são diretamente expressos pela linguagem ou transmitidos indiretamente pelas ações” (ANDRÉ, 2003, p.19). Para registrar as interações, comunicações dos alunos e pais e as ações lúdicas das crianças foi utilizado o procedimento de videografia.

Como dito, procurou-se compreender o significado e a importância do brincar e do brinquedo especial ou adaptado para a inclusão das pessoas com deficiência visual. Esses significados constituem a própria cultura desse grupo, entendendo-se cultura como: “o conhecimento já adquirido que as pessoas usam para interpretar experiências e gerar comportamentos” (SPRADLEY apud ANDRÉ, 2003, p. 19). Nesse sentido, a cultura abrange neste trabalho o que as pessoas pensam, fazem, o que sabem e o que construíram, sendo esses fatos investigados com os alunos e os pais.

Trata-se, portanto, de um estudo etnográfico envolvendo “a observação participante, a entrevista intensiva e a análise de documento” (ANDRÉ, 2003, p. 28). É participante porque a pesquisadora tem profundo grau de interação com a situação estudada, contato direto com os alunos pesquisados, as famílias, profissionais e é mãe de uma jovem com deficiência visual, presidente da Instituição onde se deu o estudo e autora dos brinquedos selecionados.

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5.3. Identificação dos participantes e critérios de seleção

Os sujeitos envolvidos na pesquisa foram cinco alunos com deficiência visual, pessoas com cegueira e baixa visão, cinco mães e esta pesquisadora. Para obtenção dos elementos necessários em face dos objetivos, foram incluídos:

- 4 alunos com cegueira congênita e uma aluna com baixa visão, atendidos em Laramara desde o Programa de Intervenção Precoce (atividades organizadas para crianças de 0 a 3 anos) sendo que dois deles já faziam parte do grupo atendido na Santa Casa e foram encaminhados ao trabalho da Laramara na época de sua fundação. Alguns ainda freqüentam o Programa de Jovens e Adultos e o Centro de Recursos Tecnológicos da Instituição, estando incluídos em escolas de ensino médio ou superior; - 5 mães de crianças que freqüentam atualmente a Instituição.

Foram os seguintes os critérios de seleção dos participantes dessa pesquisa: ser usuário atendido pela pesquisadora no passado, o tempo de permanência e assiduidade na Instituição, ser aluno incluído na escola regular desde pequeno e história de participação da família nos projetos de brinquedo da Instituição.

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Tabela de Participantes

Participantes

Nome fictício Idade Escolaridade-Profissão Deficiência visual Procedimentos de coleta

Raí* 19 Estudante-Terceira série do Ensino Médio congênita Cegueira Transcrição de entrevista gravada em vídeo

Klaus* 20 Estudante- Terceira série do Ensino Médio

Cegueira congênita

Transcrição de entrevista gravada em vídeo Adriana* 15 Estudante – Oitava série

do Ensino Fundamental Baixa visão

Transcrição de entrevista gravada em vídeo Gigi* 19 Estudante do Curso Superior de Música congênita Cegueira Transcrição de entrevista gravada em vídeo

Tati* 27

Graduada em Música e Estudante do 3º ano do Curso Superior de Letras

Cegueira congênita

Transcrição de entrevista gravada em vídeo

Edi** 36 Primeiro Grau –Diarista - Transcrição de entrevista gravada em vídeo

Néia** 55 Do lar - Transcrição de entrevista

gravada em vídeo Bia** 48 Primeiro Grau- Do lar - Transcrição de entrevista gravada em vídeo

Raquel** 46 Segundo Grau -Do lar - Transcrição de entrevista gravada em vídeo Cleusa** 36 Graduada em Direito –

Micro-empresária

-Transcrição de entrevista gravada em vídeo

*Alunos participantes da pesquisa ** Mães participantes da pesquisa

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outra jovem participante nunca freqüentou Laramara, mas interagiu comigo desde seu nascimento.

Duas jovens são universitárias, uma delas cursa a segunda faculdade. Dois jovens estão terminando o Ensino Médio e pretendem fazer o curso superior. A outra está cursando a oitava série do Ensino Fundamental.

Durante todo o tempo em que os atendi, a nossa interação foi muito afetiva, as atividades alegres, com brincadeiras e constante diálogo. Exploramos muitos objetos, constantemente renovados; cada um deles era motivo de conversas, idéias novas surgiam o tempo todo, criávamos histórias engraçadas, o que ampliava muito a experiência e o vocabulário dessas crianças. Nossos encontros não tinham o formato de aula ou de atendimento terapêutico, mas eram práticos, divertidos, descontraídos e intuitivos; muitos fatos eram relatados espontaneamente, por eles e por mim, ampliando o significado e alcance de cada situação.

Em várias ocasiões, fui criticada por utilizar brincadeiras e brinquedos em excesso, pois naquela época muitos consideravam esta forma de trabalho “pouco séria”. Entretanto nunca deixei de acreditar neste caminho para interagir com as crianças e, enquanto desenvolvi meu trabalho, segui esta mesma conduta; sabia ser esta interação benéfica para as crianças, observava mudanças em seu comportamento, na ampliação de seu mundo e em sua inclusão. Sentia que as crianças entendiam e valorizavam esses momentos, a minha preocupação em procurar objetos variados para nossas brincadeiras, em criar situações interessantes, em trazer novidades e realmente me envolver com elas. Demonstrava sempre meu respeito por seus desejos e interesses e procurava atender suas necessidades. Assim, fomos construindo uma relação que só se interrompeu no momento em que tive de realizar outro trabalho na Instituição.

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I. RAI

Natural da Bahia, apresenta cegueira total provocada por infecção ocular de causa desconhecida, ocorrida aos 4 meses de idade.

Falou aos 3 anos de idade, andou aos 4 e tirou a fralda com 3 anos; aos 6 anos iniciava o aprendizado de escovar dentes e tomar banho.

Pertencia a uma família extremamente carente, que não tinha como atender a suas necessidades básicas, morava em um barraco, localizado em zona de alta periculosidade; seus pais estavam sempre desempregados e a família dependia da pensão recebida por Raí.

Entrou em Laramara em 10/02/1993, com 6 anos de idade, permanecendo nela até os dias de hoje, portanto 13 anos, com alguns períodos de interrupção.

Embora nunca tivesse recebido atendimento profissional até iniciar o trabalho em Laramara, apresentava desenvolvimento motor bastante razoável, boa postura e bom potencial de aprendizado, sendo ativo, vivaz e interessado.

Foi encaminhado ao nosso serviço pelo Posto de Saúde de Santo Amaro e integrado ao meu trabalho, Pedagogia Especializada, com uma freqüência de 2 vezes por semana.

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Era uma criança curiosa, com muita vontade de aprender e ampliar seu mundo, que era muito restrito.

Usamos alguns brinquedos especiais já desenvolvidos naquela época, como: Bola-Rebola, Colméia Alfabética, Gira-Gira, Caixinha de Números e Alfa-Braille.

Raí participou ainda do atendimento feito por outra pedagoga e de vários programas como: Atividades de Vida Diária, Orientação e Mobilidade, Atividades Aquáticas, Brinquedoteca e Oficina de Expressão Artística. Freqüentava todas as atividades recreativas e culturais da Instituição: festas, saraus, acampadentro, passeios, cinema etc.

Hoje vem a Laramara esporadicamente e ainda não participou do Curso de Educação para o Trabalho por incompatibilidade de horário.

II. KLAUS

Natural de Osasco (SP), nasceu prematuro, com sete meses de idade gestacional, tendo ficado na incubadora por vinte e dois dias; apresenta cegueira total causada por Retinopatia da Prematuridade. Andou com 2 anos de idade.

Foi encaminhado à Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e seu atendimento iniciado em 25/06/1986. Comecei a atendê-lo aos dois anos quando já freqüentava escola infantil. Visitei a escola algumas vezes para realizar orientação à professora sobre as necessidades específicas de Klaus.

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Entrou em Laramara em 1992 onde permanece até hoje, por 13 anos consecutivos. Atualmente faz parte de um grupo de trabalho psicossocial.

Iniciamos trabalhos para integração sensorial, conhecimento dos objetos do ambiente, brincadeiras para melhoria da coordenação motora, orientação espacial, ampliação do vocabulário, atividades de vida diária, reprodução de objetos com massa de modelar e alfabetização em máquina Braille. Utilizamos alguns brinquedos que já haviam sido desenvolvidos como: Alfa-Braille, Colméia Alfabética, Bola-Rebola e Caixinha de Números.

Klauss mostrava grande dificuldade no aprendizado, não retinha os conceitos, havendo necessidade de retomá-los sempre num próximo atendimento. Foi diagnosticado como tendo um pequeno retardo mental.

Foi atendido por outras pedagogas e participou de vários programas como: Atividades de Vida Diária, Orientação e Mobilidade, Atividades Aquáticas, Brinquedoteca, Oficina de Expressão Artística e Educação para o Trabalho. Freqüentou todas as atividades recreativas e culturais da Instituição: festas, saraus, acampadentro, passeios, cinema etc.

III. ADRIANA

Natural de Santana de Parnaíba (SP), apresenta baixa-visão causada por Amaurosis Congênita de Leber; possui um pequeno resíduo visual no lado externo, periférico, do olho direito.

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Durante o tempo em que a atendi fizemos brincadeiras para melhorar sua eficiência visual e complementamos com trabalhos de estimulação tátil. Foram feitas todas as tentativas para alfabetizá-la com letras comuns, o que não foi possível, pois seu resíduo visual é insuficiente. Entretanto, a pequena visão que possui permite que conheça cores e facilita muito seu deslocamento no ambiente. Participou ainda do atendimento feito por outras pedagogas e de vários programas como: Atividades de Vida Diária, Orientação e Mobilidade, Atividades Aquáticas, Brinquedoteca e Oficina de Expressão Artística. Freqüentou várias atividades recreativas e culturais da Instituição: festas, saraus, acampadentro, passeios, cinema etc. Hoje recebe também orientação para uso de auxílios ópticos.

IV. GIGI

Natural de Osasco (SP), apresentou aos quatorze meses de idade quadro de Retinoblastoma Bilateral e passou por enucleação; recebeu dez aplicações de quimioterapia.

Começou em Laramara em 24/06/1992, ficando em atendimento comigo por um ano. Por apresentar boas condições para integrar-se à escola, foi desligada da Pedagogia. Era uma criança inteligente, curiosa, com bom vocabulário, comunicativa, conhecia muitos objetos do ambiente, tinha boa coordenação motora, utilizava os sentidos de maneira adequada, tinha ótima postura.

Durante o ano em que trabalhei com Gigi, tivemos uma interação muito alegre e rica de experiências interessantes. Brincamos com muitos materiais que adaptei para nossas aulas e nossa convivência foi muito proveitosa para ambas.

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V. TATI

Natural de São Paulo (SP) nasceu prematura com seis meses e meio de idade gestacional, permaneceu por 2 meses em incubadora. Apresenta cegueira total por Retinopatia da Prematuridade.

Não freqüentou Laramara, mas foi educada por mim desde seu nascimento. Iniciou na educação infantil aos quatro anos, em escola estadual, participando da sala de ensino regular e sala de recursos. Foi transferida para escola particular na sexta série.

5.4. Procedimentos de Coleta de Dados

Os dados foram coletados através de entrevista semi-estruturada, individual, com os jovens e mães. As entrevistas foram filmadas e seu conteúdo foi transcrito. A posterior observação dos vídeos permitiu uma análise detalhada dos gestos, atitudes, expressões, tonalidades de voz, que auxiliaram no entendimento do que foi expresso na entrevista.

As entrevistas permitiram conhecer a história de vida, os fatores socioculturais presentes na vida cotidiana dessas pessoas. Por meio delas também foi possível: a) Conhecer quais as brincadeiras, brinquedos e jogos preferidos pelos alunos com deficiência visual;

b) Compreender o papel e a função das brincadeiras, do brinquedo e do jogo para o processo de aprendizagem e desenvolvimento desses alunos;

c) Levantar o valor do brinquedo especial e adaptado para a aprendizagem e inclusão escolar.

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uso dos brinquedos; tentativa de resgate das lembranças que eles guardam das brincadeiras, durante o atendimento na Instituição.

As entrevistas foram realizadas mediante diálogo e conversa espontânea entre a entrevistadora e o aluno e entre a entrevistadora e a mãe, em um espaço privativo. As entrevistas e seu registro em vídeo tiveram a permissão dos entrevistados, com as devidas assinaturas de termo de consentimento, conforme Anexo 2, de acordo com o aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

5.5. Procedimentos de análise de dados

Após as entrevistas, filmadas, foi feita imediatamente a escuta, observação e a transcrição dos depoimentos, adotando-se o processo de assistir os vídeos e assinalar os apontamentos relativos a posturas, atitudes durante as falas, transcrição das falas e leitura flutuante recomendada por Thiollent (1985): leitura global para apreensão do todo e depois leitura detalhada, buscando recortar as falas e significados que expressem as opiniões e pensamento dos entrevistados.

As opiniões, os sentimentos, os significados, as necessidades e os conteúdos foram organizados mediante recorte das falas, selecionado-se os aspectos comuns e elencando-se os temas passíveis de análise.

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6. Apresentação e discussão dos resultados

A transcrição das entrevistas realizadas com os cinco jovens que participaram de meus trabalhos doze anos atrás, e que ainda participam de algum programa ou serviço da Instituição, é feita a seguir. Da mesma forma, será colocada a palavra de cinco mães, sendo quatro delas mães de crianças pequenas, participantes do trabalho de Laramara atualmente, assíduas freqüentadoras da Instituição há vários anos e a quinta, que é mãe da jovem Gigi.

6.1. Apresentação e análise do conteúdo das entrevistas dos

alunos

Serão analisados neste capitulo o conteúdo das entrevistas, as opiniões, os sentimentos, as lembranças e experiências sobre o brincar e o brinquedo, expressos na fala dos jovens e mães entrevistados. Apresentam-se fragmentos de fala que revelam o quanto o brinquedo foi significativo no processo de aprendizagem de cada um e no processo de inclusão social e escolar, além dos aspectos afetivos e emocionais.

6.2. Depoimentos dos alunos

As informações coletadas nas entrevistas foram organizadas e agrupadas em três itens:

-Inclusão social: Opinião dos alunos sobre si mesmos, sentimentos e construção de vínculos, relações interpessoais e sociais, expectativas e desejos dos alunos em relação à inclusão na escola, no trabalho e sociedade.

-O papel do brincar e do brinquedo para a aprendizagem: a importância de brinquedos, jogos e materiais adaptados, histórias, atividades lúdicas e recreativas.

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São apresentados alguns recortes das falas e cada depoimento foi identificado com o nome fictício do entrevistado.

6.2.1. Inclusão Social

A opinião dos jovens revela a construção de auto-imagem positiva, sentimentos de segurança, independência e clareza quanto aos objetivos de vida e luta para conquistar seus ideais. Demonstra pensamento crítico, capacidade de reflexão sobre suas possibilidades e dificuldades. Eles mostram ter equilíbrio emocional, auto-aceitação e maturidade, sendo independentes e bem integrados socialmente.

...Porque eu andei participando de alguns festivais de música... eu tive uma vitória que eu chamo de vitória pessoal, o fato de conseguir expor uma coisa que você fez, que com todas as dificuldades conseguiu passar para o público, isso é muito gostoso...

...Este ano eu já termino o colegial e eu não pretendo parar, pretendo dar seguimento àquilo que a gente vem sempre batalhando, eu acho que a vida deixa de existir a partir do momento em que você deixa de sonhar. Eu sou muito sonhador...

...Eu tenho um pensamento de me profissionalizar na área de informática. Mesmo sendo uma área que eu não gosto, eu não tenho aptidão para isso. É desafio entendeu? Por você não gostar da coisa e saber que precisa daquilo...

...Eu pretendo realmente mexer com música a partir desse ano que vem! Na verdade, eu quero me profissionalizar. Uma coisa mais prática do que o teórico, é lógico que ambas caminham juntas, não existe uma prática sem a teoria. É que a faculdade é uma coisa teórica demais! Muito teórica, muito teórica. Coisas que talvez você não vai utilizar, e você de certa forma vai acabar perdendo um certo tempo, porque eu sempre tenho um pensamento comigo, Dona Mara, eu acredito que tempo perdido não volta atrás.Ai pro futuro, quem sabe se eu fizer uma faculdade voltada à música né, mas aí quando eu já estiver com a graça de Deus, eu já estiver estabilizado profissionalmente na música, aí a gente vai se acertando... Eu aprecio muito o violão, mas o teclado é indispensável, é lá onde consigo compor as minhas canções. Tenho um teclado simples né? Mas foi ele que me possibilitou escrever as vinte músicas, até quem sabe trinta, coisa assim! Eu tenho bastante música! Eu tenho agora um pensamento de ir até alguns cartórios de registro para me informar, pra registrá-las! Porque eu andei participando de alguns festivais de música, foram inclusive eles que me fizeram pegar gosto pele coisa. Em um deles eu fiquei empatado com outro grupo na final, e o outro não, a gente acabou não conseguindo obter um resultado satisfatório...(RAÍI)

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Entretanto Raí teve a grande vantagem, a presença constante de uma mãe muito dedicada.

É surpreendente ver a forma como o jovem superou os obstáculos causados pela mais extrema pobreza e privações materiais. Demonstra hoje estar seguro daquilo que quer e pretende para seu futuro, suas expectativas de carreira e como planeja viabilizar isto.

...Eu tinha uma característica de liderança, eu fui representante de classe por duas vezes se não me engano, depois com o tempo eu fui ficando meio bobona, para não dizer outra coisa, eu acabei perdendo um pouco essa característica de liderança... (TATI)

...Estou no 2º ano de bacharelado em canto lírico lá na USP, curso de música. Mas, é legal, eu queria fazer popular no início, mas como USP e UNESP só têm lírico, só tem música erudita, e pra eu morar em Campinas... Meu trabalho é em São Paulo, casamento, evento, não tinha como eu mudar toda a minha vida pra Campinas, pra fazer um curso de música popular, então eu fiz na USP, estou gostando assim mesmo, achei que ia ser um saco, mas não, é muito legal, é muito bom. Faço piano popular. Faço, eu trabalho com o popular, eu não trabalho com o erudito, eu estou estudando o erudito, mas estou engatinhando ainda. Estou trabalhando, estou fazendo casamentos, eventos pra firma, órgãos públicos, eu vivo de música, é a minha profissão, então estou ai trabalhando, faço programas, programas de TV não são remunerados, são mais pra marketing mesmo, nenhuma espécie de mídia é remunerada ao menos pra mim que não sou famosa nada, para os outros eu não sei, a minha profissão é fazer casamentos, eventos em geral, festinhas, eventos pra empresa, então a gente trabalha bastante com isso... (GIGI)

...Agora tenho 15 anos estou na 8ª série, acho que foi em 94 que eu vim pra cá, com 4 anos. Estou na escola L. C., no bairro em que moro, em Santana do Parnaíba. Eu estava freqüentando também o Mackenzie, dias de terça e fazia natação só que agora eu parei de fazer... eu achei melhor estar indo, em vez de no Mackenzie estar indo para T. que é lá na sala de recursos... eu achei melhor. Eram as dúvidas que eu tinha, era assim, dúvidas ai que fosse do Braille, mais difícil de fazer aí eu ia lá na T e ela me ajudava. Por exemplo matemática, agora... são coisas assim que às vezes fica difícil; conhecer os sinais todos utilizados... (ADRIANA)

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Laramara, no caso até incluindo essa parte no curso de informação, porque muita gente pergunta como é o bate-papo....

...Antes eu tocava teclado, agora eu comecei a fazer percussão, bateria, eu pretendo trabalhar na parte de sonoplastia aqui na Laramara, estou estudando na parte de áudio de teatro também... (KLAUS)

Os jovens Raí, Gigi e Klaus demonstram preocupação com a futura vida profissional e continuam seus estudos. Os depoimentos mostram esforço pessoal para o sucesso na vida escolar e realização profissional, o que comprova a hipótese de Vygotsky (1983), como já discutido anteriormente no capítulo teórico, quanto ao conceito de compensação, no sentido de que a deficiência provoca no indivíduo uma força motriz capaz de superar as dificuldades. Para Vygotsky (1989), cegueira não é meramente a ausência da visão; a cegueira causa uma total reestruturação de todo o organismo e de toda a personalidade, criando uma nova e única matriz da personalidade, traz à vida nova força; criativamente muda tendências normais das funções e organicamente refaz e forma a mente do indivíduo.

Importante lembrar que os jovens entrevistados foram submetidos, quando crianças, a situações bastante difíceis, que poderiam ter deixado marcas e seqüelas em sua personalidade e prejudicar seu futuro, gerando comportamentos de medo ou dificuldades nas relações sociais. Poderiam ser hoje pessoas fragilizadas emocionalmente, pela história traumática de longa permanência em UTI neonatal e dolorosas cirurgias oculares; ou pelo sofrimento causado pelo retinoblastoma seguido de enucleação e tratamento com quimioterapia; ou ainda sofrer as conseqüências da privação total de recursos materiais causada pela extrema pobreza ou a privação afetiva devido à rejeição e não-aceitação da cegueira pelo pai. Isto, entretanto, parece não ter acontecido: os jovens demonstram haver superado esses problemas, desenvolveram-se bem, com auto-estima, coragem e força de vontade para alcançar sucesso na vida, não obstante as dificuldades no passado e algumas que permanecem até hoje.

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se ocupa dela e com quem se relaciona e cria vínculos, que lhe dá autoconfiança e segurança, que lhe serve de referência. Esta pessoa deveria ser preferencialmente o pai ou a mãe, mas pode ser um dos avós (como no caso de um dos jovens), ou educadores. Realmente havia esta pessoa na vida de cada um deles.

Pesquisa realizada nas ilhas do Havaí durante 40 anos, com 800 crianças que viviam em grande privação, em ambientes sociais permeados de criminalidade, vício em drogas, álcool, negligência e falta de estímulos, mostrou o seguinte resultado: 70% delas tornaram-se pessoas bem integradas à sociedade, com profissão, família e emprego; 30% passaram por situações difíceis na juventude, mas se reintegraram à sociedade na idade adulta; 10 a 15 % apresentaram comportamento anti-social.

Constatou-se então que, além do fator genético e do meio ambiente, houve um terceiro fator decisivo para seu desenvolvimento: o relacionamento. Cada uma dessas crianças encontrou em sua vida uma pessoa que lhe dedicou um amor profundo, não sendo necessariamente seus pais, mas avós, vizinhos e outros (Glöckler, 2003, p. 41).

Temos ainda um estudo sobre jovens presos em uma penitenciária dos Estados Unidos, mostrando que, quando crianças, eles não brincaram, não ouviram histórias, foram educados pela TV e pelo videogame e não contaram com pessoas que lhes dessem segurança (Craemer, 2003, p. 57).

O depoimento seguinte demonstra a importância de dois professores na vida do jovem:

Aqui eu tive dois professores que significaram, dentro da natação eu digo, significaram

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de mim que me fez crescer bastante, entendeu? (RAÍ)

Na fala seguinte os jovens mostram uma interação afetiva com a família referindo que o brincar proporcionou a construção de vínculos positivos, que a interação e relação no brincar e atividades cotidianas se deu mais com a mãe, avós, irmãos e vizinhos do que com o pai. Fica clara também a importância do adulto como participante da brincadeira. As interações sociais das crianças com adultos ou companheiros mais experientes impulsionam a formação de seu pensamento e comportamento. Verifica-se que na brincadeira a presença do adulto e de outras crianças funciona como mediadora na socialização, facilitando as trocas de conhecimentos, a aprendizagem, a linguagem e o desenvolvimento. Assim, para a criança, o brinquedo é mais que um objeto de manipulação; significa também a presença de uma pessoa brincalhona, que descubra do que ela mais gosta e que esteja disponível para brincar. Revela ainda a importância das primeiras relações que se estabelecem com a família na construção da personalidade, para favorecer a autonomia, a identidade, os valores e a qualidade de suas relações com as outras pessoas.

...Quando era bem pequena eu brincava mais com a minha mãe porque pelo próprio contato que nós tivemos... brincava muito, muito mais com a minha mãe. Com o meu pai era muito mais uma coisa intelectual, eu fazia muita pergunta pra ele e com a minha mãe eu também fazia muita pergunta, mas tinha o interagir falando oralmente, tinha a brincadeira, muito contato físico desde muito pequena. Brincadeira de correr no corredor que ela ficava numa ponta e eu na outra e ela ia batendo palma e me chamava pode vir e, corre, corre... e eu ia correr e a abraçava... Com os irmãos eu tive uma diferença de idade meio grande, houve uma diferença grande entre mim e eles...

...Eu acho que minha mãe tem um lado engraçado, acho que até sem muita consciência na época, ela incentivou essa minha independência, minha auto-suficiência, e incentivou que me virasse sozinha... (TATI)

Com o meu pai... o meu pai não tinha muito jeito de me ensinar a jogar, uma coisa assim né, porque ele ficava com medo de me machucar pelo fato da minha cegueira né? Então ele ficava: Oh filho! não dá, o pai não sabe como te ensinar. Então era muito legal! (RAI)

...A vovó é tudo pra gente. Eu tenho avô da parte do meu pai que mora no interior. Que é maravilhoso também, ele tem loja, então uma loja é Carlito Calçados e na outra é Gigi Mar, e ele tem um monte de netos e ele diz que sou a neta mais linda que ele tem, pra gente é muito orgulho isso. Eu tenho bastante primo, uma penca. Olha eu não sou muito de amigos... sei lá eu tenho uma vida social bastante agitada mas eu não sou muito de sair de ficar com amigos, ir ao cinema, ficar com o pessoal, não tenho turminha. Não dá muito tempo também!(GIGI)

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Deus eu tive muitos vizinhos também, eu tinha seis anos e os vizinhos tinham cinco e dez anos, então dava para brincar. (RAI)

Os relatos dos jovens mostram que as interações sociais proporcionadas pelo brincar ocupam um espaço de destaque em sua vida.

Eles falam da importância de conviver com outras crianças na escola, aprender a expressar desejos, sentimentos, emoções, participar da vida e do mundo. Valorizam a inclusão escolar, não só como oportunidade de conhecer e estabelecer relações com outras crianças de sua idade, com ou sem deficiências, de compartilhar experiências e ampliar seu mundo, mas também de desenvolver ao máximo suas possibilidades e, principalmente, de adquirir autonomia e independência.

Importante saber que todos os jovens entrevistados freqüentaram desde cedo escola infantil, com dois, quatro e seis anos, o que parece ter sido fundamental para sua socialização, aprendizagem e desenvolvimento.

...Na escola A. P. foi diferente, as pessoas me receberam melhor porque na escola já havia outros deficientes, aliás não só visual como surdo, auditivo, mental e outros visuais, que foi legal porque eu via que eu era diferente com relação às pessoas que enxergavam mas eu tinha pessoas iguais ou semelhantes a mim, também pessoas cegas, foi muito legal eu ver... (TATI)

A jovem fala de quão interessante foi para ela conhecer e conviver com crianças que tinham deficiência visual e também outras deficiências, podendo identificar-se com elas, compartilhando experiências, enriquecendo seu mundo interior e ampliando suas vivências.

... Eu gostava muito, eu era muito amiga das crianças no primário, no ginásio eu tive

uma coisa, uma amiga que foi fundamental no desenvolvimento das minhas relações com as pessoas, que foi a V. aquela minha amiga, porque as crianças de maneira geral eram cheias de dedos comigo por causa de eu ser cega...

...Na A. P. (escola) brincava sim, brincava com outras crianças cegas e crianças que enxergavam, porque eu entrei na classe comum, no primeiro ano eu fiquei só na sala especial, na sala de recursos, depois eu fui pra classe comum. (TATI)

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bastantes amigos de escola pra brincar, às vezes eu apanhei... (GIGI)

Gostaria de lembrar a afirmativa que fiz na parte teórica deste trabalho, baseada em uma experiência de mais de vinte anos, que as crianças cegas que contaram com a mediação de pessoas dispostas a apoiá-las em sua aprendizagem, desde bebês, tiveram oportunidade de participar do ambiente familiar, freqüentar escola, passear, interagir, comunicar-se com brincadeiras e atendimento adequado, mostram estar incluídas na sociedade. Isto podemos ver no relato desses jovens.

6.2.2. O papel do brincar e do brinquedo para a aprendizagem e

desenvolvimento

Os jovens entrevistados revelam que o brincar foi fundamental para sua interação, comunicação e aprendizagem, tanto no ambiente familiar como no escolar e comunitário. Citam a importância da brinquedoteca, da fantasia, do mundo do faz-de-conta, das brincadeiras com o corpo, o correr, pular, a exploração do ambiente, como elementos fundamentais para a aprendizagem, para o desenvolvimento físico, sensorial e psicológico. Valorizam o espaço e o tempo que lhes foram proporcionados e as inúmeras possibilidades de brincar de forma integral e saudável. Mostram ainda o apreço que tinham pelo envolvimento dos profissionais em suas brincadeiras.

Para Cunha (1994) os educadores são parceiros de aventura e estão aí para descobrir as necessidades e procurar subsidiar as manifestações das potencialidades da criança. O papel do educador é sensibilizar para o brincar.

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quieta até hoje sem falar nada... (ADRIANA)

...Essa coisa de pular e tal, a professora especializada também logo depois me estimulou muito, ela me ensinava a rolar na grama, pular corda, acho que foi ela que me ensinou, mas enfim, a correr. (TATI)

De acordo com Merleau-Ponty (1999, p. 279):

Para que os estímulos sensoriais façam sentido, é necessário que a criança tenha oportunidade de vivenciá-los de forma integral, uma vez que o contato corporal lhe fornece informações mais precisas e significativas. A percepção se constrói a cada momento pelo próprio sujeito e o sujeito no mundo é o seu corpo no mundo.

O corpo é o lugar de aprender e é com o corpo, com suas sensações e com as experiências motoras que a criança vai poder criar conceitos abstratos sobre o mundo e as coisas (Trindade, 2003, p. 125).

...Aqueles brinquedos da escola, ah, um brinquedo que chamava trepa-trepa que você ia subindo e pulando de um ferro para o outro, imagine que uma pessoa leiga imaginaria que um cego pode brincar disso, no entanto, a gente brincava; tinha um outro brinquedo lá que

chamava troca de mão, era como se fosse um espaldar, uma barra vertical cheia de barras horizontais, você ia botando a mão numa barra, na outra e na outra, eu me pendurava naquilo e ia fazendo aquele negócio, trocando de mão me pendurando nas barras, foi fundamental para o meu desenvolvimento físico. Na praia também. Na praia eu corria, brincava na areia, castelo, tomava banho de mar, pegava naqueles tatuzinhos subindo na minha mão; eu também tive a oportunidade de conhecer muitos insetos e mesmo animais de médio porte porque meu pai sempre gostou muito de natureza e animal e ele me dava tudo, me dava tudo na mão tudo que eu pude pegar tudo que eu pude enquanto criança eu peguei, criança é corajosa não tem noção do perigo, depois que você cresce você fica com medo, medroso...(TATI)

“Para a criança deficiente visual o contato pele-a-pele e o diálogo corporal são formas primárias de comunicação e interação; são formas importantes para a construção da noção do eu e do outro e motivador essencial para despertar o desejo de busca das pessoas e objetos.” (MEC, 2001, p. 105)

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cercam: a temperatura das mãos de quem o toca, o tônus subjacente àquele toque, as emoções que determinam aquele tônus. É capaz de distinguir através de seus sentidos, a diferença entre suavidade e tensão, ternura e frieza, aconchego e indiferença, tranqüilidade e medo.” (Benevides, 2003, p. 115)

O depoimento a seguir mostra com fidelidade esta afirmativa:

Eu me lembro da nossa casa de Mongaguá, onde a gente ia com muita freqüência nas férias...a gente brincava de passar anel..., você encanou de pedir pra todo mundo me dar a mão e umas vinte pessoas me davam a mão e quando chegava a mão da minha mãe eu conhecia porque era mais quentinha e meio asperazinha, igual à minha mão, meio mão de pedreiro, então eu conhecia, mão de cozinheira e o tamanho.

...Olha, eu acho que foi fundamental, assim, eu posso listar pelo menos uns 30 tipos de brincadeiras que eu fiz com a minha mãe, com outras crianças e mesmo sozinha. A questão do brinquedo foi fundamental, por exemplo os de tato me ajudou pra eu distinguir os diferentes tecidos, roupas, o que é seda, o que é veludo, o que é lixa, ai com outras coisas, o que é couro e eu sempre fui muito esperta com relação a isso porque assim, sempre fui muito estimulada; o brincar me ajudou também com relação à leitura do Braille... fundamental porque se a criança tem a mão toda presinha, toda tensão, depois ela não consegue ler Braille por exemplo eu não conseguiria provavelmente tocar bateria... (TATI)

O saber-fazer se enriquece na parceria com o adulto, sobretudo mãe-criança; é a mediação do adulto no brincar que dará forma aos conteúdos intuitivos, transformando-os em idéias lógico-científicas, características dos processos educativos. A presença do adulto favorece concentração prolongada e elaboração complexa e é importante combinar brincadeira livre e atividades orientadas (Bruner, apud Kishimoto, 1999).

O depoimento a seguir mostra isto com muita clareza:

...Lembro-me de uma época muito boa, acho que foi 1997, chegou a brinquedoteca aqui no prédio novo, eu amava a brinquedoteca. A M brincava com a gente, eu tinha lá um carro de bombeiro e não sei o que e tudo mais e eu adorava aquilo e aí a gente aproveitava para contar histórias, ela sempre lia uma história para gente, era muito legal. (RAÍ)

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Por meio das brincadeiras as crianças deficientes visuais podem adquirir consciência do próprio corpo, relacioná-lo com o ambiente e aprender a realizar as atividades comuns do dia-a-dia, alimentação, higiene, vestuário, tendo ainda oportunidade para o desenvolvimento da integração sensorial.

...Acho que brincar é essencial pra qualquer pessoa, eu gosto de brincar até hoje, brinco com os meus primos, eu acho muito importante, acho que é um desenvolvimento essencial pra criança, acho que sonhar é muito importante. O sonho, você acaba brincando de faz-de-conta, aquela coisa de entrar no mundo da fantasia, aquela coisa de sonhar mesmo eu sou um super-herói eu posso fazer tudo isso. Querendo ou não é uma auto-estima que você vai pegando, criando, é um desenvolvimento que você vai tendo do seu psicológico... acho que brincar é muito importante. Essa coisa de ler também, e leitura me ajudou muito até pra ter uma imaginação mais fértil, pra sonhar com mais coisas, ter uma amplitude maior então, acho que brincar é essencial e não deixem nunca da brincar porque brincar é demais, às vezes eu me tranco no meu quarto coloco a música alta a fico lá sonhando com sabe... faço isso até hoje... (GIGI)

O brinquedo permite que a criança interprete e viva o mundo adulto numa relação com o faz-de-conta. Para a criança com deficiência visual poder representar a realidade, ela precisa brincar de faz-de-conta, junto com as outras crianças, observando como elas assimilam, interpretam e recriam o real (MEC, 2002, p. 47).

Vygotsky (1984) refere ser a brincadeira crucial para o desenvolvimento cognitivo, pois o processo de criar situações imaginárias leva ao desenvolvimento do pensamento abstrato e das relações entre significados de objetos e ações. A criança cria situações imaginárias, incorporando elementos do contexto cultural, adquiridos por meio da interação e comunicação.

As brincadeiras preferidas e prazerosas relatadas pelas meninas foram: brincar de boneca, de casinha, faz-de-conta, dramatizar; andar de bicicleta, brincar com água e brincadeiras na piscina. Já para os meninos, brincar de faz-de-conta, parque (gira-gira), jogar bola, patins, andar de bicicleta e piscina. Observa-se na fala de todos os entrevistados muito prazer nas brincadeiras e travessuras de criança.

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família, as pessoas não concordavam muito eu comecei a fazer meio escondido, a rodinha começou a cair e eu comecei a não pedir mais.. e eu lembro que era a minha madrinha, eu pedia para a minha madrinha ir lá e colocar a rodinha e eu comecei a não pedir e tomei alguns tombos; as pessoas ficavam preocupadas, mas eu sempre dava um jeitinho de, à tarde, quando o povo estava dormindo andar de bicicleta sozinha pra eu treinar o equilíbrio e aí eu aprendi sozinha a me equilibrar mesmo na bicicleta isso foi muito legal...(TATI)

...Gostava bastante de brincar. Tudo que eu fazia pra mim era uma brincadeira. Eu jogava bola com o pessoal, andava de patins, me arrebentava, me quebrava todo, bicicleta também...(KLAUS)

Eu me lembrei de outro brinquedo que tinha que era uma casinha, onde elas eram cheias de portinhas e tinha umas chaves que eram assim tipo, como eu poderia te falar? Que se colocava na boca do negócio e ia girando e ai, eu ia tirando aqueles brinquedos de lá e ia colocando, se achava estrela, se achava não sei o quê! Depois também tinha umas formas não é? Tinha uma pecinha e assim é a nossa vida, a gente tem que com os vizinhos, achar a chave certa para você se relacionar com o teu vizinho né? É verdade você tem que achar uma chave, talvez seja uma, a paciência, talvez seja a sua simpatia, ter que achar a chave certa pra você se dar bem com o seu vizinho. Esse brincar talvez tenha sido uma das chaves dentre muitas que a gente tem dentro de nós né? (RAÍ)

O brincar possibilita a formação de vínculos afetivos para trocas sociais e culturais. O brinquedo evoca, representa e reproduz a realidade, não apenas os objetos, mas uma totalidade social.

Achei muito interessante a relação feita por Raí entre um brinquedo em que havia várias portinhas e as respectivas chaves para abri-las. Ele compara as chaves a instrumentos que deveríamos procurar para facilitar as relações com as diferentes pessoas.

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divertiam à beça, na época também tinha a Camila, a Mariana, as gêmeas, e eu ia para esse gira-gira, ai um dia eu não saí de lá, ficava por horas, às vezes eu saía tonto e eu falava: estava dirigindo um ônibus, e porque eu falava que estava dirigindo um ônibus? Porque, provavelmente, eu não tinha visão e como que o ônibus vai sempre reto, não, ele faz algumas curvas, e o gira-gira não, estou dirigindo o ônibus e adorava! (RAÍ)

...Mas era uma casinha de boneca e eu gostava de entrar naquela casinha e eu brincava que era mãe de um monte de filhinhos, então eu brincava com os meus filhinhos imaginários. Eu tinha um amigo imaginário que era o Lombardi, que era inspirado no Lombardi do Sílvio Santos mesmo, e eu brincava de bola com ele eu jogava bola numa mão e na outra e ele, supostamente jogava de volta pra mim, era uma mão e a outra eu jogava assim a bola, eu mesma corria pra pegar, e que mais? De escolinha, eu adorava brincar de escolinha que eu era a professora que pegava a caneta e o papel, ficava lá escrevendo. Colocava boneca, mas às vezes botava e às vezes não, às vezes eu só imaginava. Brinquei de teatro na praia, foi a primeira vez que eu brinquei e na escola também, mas na praia eu tive uma época uma babá e tive umas primas, uma das meninas lá, a M. que era muito criativa e ela sei lá onde que ela viu em algum acampamento de alguma coisa de crente e nos incentivou a isso, a gente montava, criava peça, fazia teatrinho umas 6, 8 crianças a gente montava uma peça e apresentava... ah, uma época aí eu adorava assistir o Chico Anysio e Jô Soares que tinha duas vezes por semana; eu gravava aquilo em áudio em cassete e ficava decorando o script e ficava imitando os personagens e aí eu montava e produzia, era eu e a V., quando tinha mais alguma amiga mais alguns amigos nós nos juntávamos e pegava e montava aqueles quadros, eu sou jovem, e aí a gente chamava todo mundo pra apresentar os quadros.. (TATI)

Vygotsky focalizou e caracterizou como jogos de papéis ou brincadeiras de “faz-de-conta” brincar de casinha, de bonecas, viajar de ônibus e para ele o principal não é o objeto em si, mas o significado estabelecido pelas brincadeiras, as idéias, a relação objeto-significado.

O brinquedo torna-se dessa forma uma transição entre o objeto, a ação e o significado atribuído pela criança, e o brinquedo é também uma atividade regida por regras; mesmo num universo do “faz-de-conta” há regras que devem ser seguidas. São as regras das brincadeiras que levam as crianças a se comportarem de forma mais avançada.

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Como vemos, as histórias de vida narradas pelos jovens, suas experiências cotidianas, a cultura revelada no conteúdo de suas palavras, nas brincadeiras, nas discussões, foram importantes estratégias pedagógicas para a construção de uma aprendizagem significativa.

Na interação com as crianças, utilizei muitos objetos de uso comum, de escritório, da natureza, da praia e do campo. Usava réplica de animais e de objetos pouco acessíveis. Realizávamos atividades variadas e as crianças participavam de experiências interessantes e motivadoras e conversávamos sobre os mais variados assuntos.

Observando as necessidades das crianças, comecei a desenvolver os brinquedos e a utilizá-los em nossas brincadeiras.

Os jovens revelam bastante interesse por brinquedos especiais, adaptados e multissensoriais tais como: brinquedos musicais, objetos sonoros, o quartito (caixa com brinquedos de diferentes texturas formas, tamanhos e função), brinquedos que estimulam a curiosidade tátil. Os brinquedos de encaixe, de montar, construir, e outros foram bastante apreciados por todos os alunos entrevistados.

...Tinha um, bom, de encaixe tinha um monte, tinha um de encaixe que era um pino, pinão comprido e eu tinha que ir encaixando umas rodinhas, rodinha pequena, rodinha menor, rodinha maior, tinha um de canequinha que tinha que botar as canequinhas, era um canecão e eu ia botando uma dentro da outra até chegar a pequenininha, e as de canequinhas tinham vários formatos, tinha uma caneca bem redonda e vou falar tinha uma que era uma caneca meio oval o mesmo tipo de brinquedo mas outro material, o mesmo conceito. Ai, olha só, essa coisa oval, sabe o que eu associava? A lua, as pessoas me falavam que a lua era oval que ela fazia meia lua, aquela bola no formato de um croissant e a lua inteira eu pensava num ovo, mas fantasia de criança, ai eu pensava que se um dia eu enxergasse e pudesse ver a lua eu veria a lua igual a esse brinquedo, maior viagem, nada a ver.

Encaixar... empilhar também. Tinham esses... O lego eu gostava muito. Tinha uns de predinhos,que eu também imaginava era assim, era como se fosse um anel, e ele tinha como se fosse o pólo positivo e o pólo negativo eram 4, eu tinha com 3 e tinha com 4 eu gostava do de 4, tinha um quadrado maiorzão e um redondinho, menor acho que um era 3 e outro era 4 e eu adorava encaixar ai eu perguntava pra minha mãe e ela falava que era um predinho. A gente contava os andares, não contava? Eu contava os andares e a mãe soltava a bonequinha lá no meio para fingir de elevador e a boneca despencava

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exatamente o brinquedo se eu pegar nele hoje eu lembro do formato.... A bonequinha Russa, fofa, Pô, sabe que a T. me deu um broche com ela tão bonitinho eu adorava, era uma bonequinha que você tirava a cabeça dela ai, puxando, puxando uma dentro da outra e tirando de dentro e quando eu ia encaixar de volta. Ela abria sempre em dois, tinha duas partes então se desmontava tudo e fazia uma bagunça com o que era corpo e o que era pezinho às vezes eu ia encaixar uma na outra, ter a noção exata de qual bundinha era a cabecinha correspondente senão, não dava certo. Eu lembro que muitas vezes eu errava e minha mãe não, não é essa porque não dá certo assim, esse aqui é menor, esse é menor, esse é maior, tinha mais brinquedo legal...(TATI)

...Eu lembro que eu adorava mexer nas prateleiras que você tinha assim na sala inteira, eu lembro de um lugar que tinha a prateleira e embaixo da prateleira tinha uns negócios pendurados, castanhola, tinha uns negocinhos e tinha um colchão embaixo que a criançada se enfiava ali embaixo e ficava brincando ali. Chamava o quartinho. Eu lembro que você tinha uns frasquinhos que cada um tinha um aroma, eu lembro do aroma de baunilha...

(GIGI)

...O brinquedo que eu mais gostei, pra mim foi, não sei se é porque eu gostava de algum esporte que envolvia bola, mas até hoje eu não vou esquecer do dia que eu cheguei num brinquedo e que eu vi que tinha uma bola dentro, jogava as bolinhas na bacia, depois passava das bacias pros devidos lugares. E até uma coisa que me chamou atenção é que a bola possuía um barulho, uma das bolinhas tinha um barulhinho, então aquilo lá aumentava ainda mais a minha vontade de jogar futebol. Porque se tem barulho dentro da bola vai permitir eu correr atrás da bola, então uma coisa liga a outra. Brinquedo da infância a gente não esquece, né? (RAI)

Raí refere-se ao brinquedo ”Bola Rebola”, composto por uma caixa com 18 compartimentos; em cada um a criança deve colocar duas bolas iguais, escolhidas em uma bacia com 36 bolinhas. As bolas são diferentes entre si pelo tamanho, textura, peso, consistência, som que produzem, e pelo movimento feito quando são atiradas. É um brinquedo muito interessante para o desenvolvimento sensorial e orientação espacial e, desde o primeiro momento, Raí mostrou grande interesse por ele, manipulando-o e extraindo dele tudo o que podia.

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Os alunos entrevistados valorizam a brincadeira e dão importância ao brinquedo e material adaptado para sua aprendizagem, socialização e inclusão escolar. De certa forma indicam que no período que freqüentaram a Instituição Especializada tinham acesso a brinquedos e jogos pedagógicos especiais e recursos em Braille.

...Foi o quebra-cabeça. Aqueles quebra-cabeças que pra desmontar é fácil agora pra montar.. Tinha o quebra-cabeça de peixinho, de árvore, que eu brincava... o de árvore era mais fácil, o de peixinho pra montar era um sacrifício é o que eu mais brincava assim que eu me lembro... (KLAUS)

...Eu me lembro de um estojinho que a senhora sempre me emprestava, tinha uns pininhos, tipo uns eu não sei explicar, formando Braille, matemática, e aí ia colocando... colocar os pininhos para formar as letrinhas em Braille, não é isso? Eu lembro também de uns que ia montando e ai ficava bem grandão, e ai eu ia e colocava minha mão, esses coisas. Jogo adaptado eu tive muito, a batalha naval eu brinquei muito com o meu irmão, o dominó, a gente brincava muito e a dama eu aprendi mas não gostava muito... (ADRIANA)

Todos os alunos relataram ter tido quando pequenos grande apreço por ouvir, ler e contar estórias infantis, sendo as preferidas os contos clássicos: Chapeuzinho Vermelho, Três Porquinhos; Galinha Ruiva, Cinderela, entre outros. Apenas um aluno relatou que detestava estórias que falassem de bonecas. Já os adolescentes preferem histórias do gênero realista, suspense, aventura e policial.

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...Adoro ler, eu gosto de ler; eu não gosto de ouvir; agora tem livro pela Internet, tem livro falado, eu gosto de ler; pegar o livro em Braille e ler. Eu acho que isso... ah, eu não vejo graça de ouvir assim contando, eu gosto assim, às vezes quando muito, eu gosto que a minha avó leia as coisas pra mim, eu acho que ela tem um jeito legal de ler, mas só, fora isso prefiro eu ler. Eu gosto muito de suspense, eu gosto muito de Harry Potter eu gosto assim de coisas, sei lá eu li o Crime do Padre Amaro, gosto de livros realistas, eu fiquei com o pé atrás... foi real aquela história? é uma autobiografia? A história é muito forte. Eu gosto de livro assim realista, o primo Basílio...(GIGI)

...Na verdade eu tenho que treinar a leitura, mas como a gente tem mais livros falados do que em Braille eu tenho que escutar também. Os livros que eu tenho lido bastante são Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, essas literaturas assim. Livro que eu gosto mesmo é Harry Potter; o pessoal me chama de infantil, é aventura, eu gosto bastante de aventura... (KLAUS)

Alguns alunos relatam gostar de cinema, televisão, teatro, música e ouvir rádio.

...Adoro música, é a minha vida. Desde pequenininha eu fui muito estimulada a ouvir tudo quanto é..., poxa eu esqueci dos meus brinquedos sonoros eu tinha sei lá, caixinha de música aos milhares e bichinhos que falava, que tocava, bonequinha que dava risada e cantava parabéns, então sempre fui muito exposta à música de várias maneiras e minha irmã tinha piano em casa então eu comecei antes de fazer aula formal de piano eu comecei a tirar música. Tem uma flauta de êmbolo, é uma flauta que tem um pauzinho que estica e volta e ai eu descobri essa flautinha de êmbolo, de criança, e eu ia tirando a música na flautinha era super engraçado. Ganhei uma bateria mesmo de verdade, era bateria só que bem amadora. É, eu já tocava piano, isso foi no natal de 1989 eu tinha 11 anos, eu peguei a bateria e tirei um som de carnaval. Até aconteceu uma coisa engraçada porque eu sou canhota né só que muita coisa eu aprendi a fazer do jeito destro, porque os destros vinham me ensinar as coisas; ai a bateria, primeiro comecei a montar ela do jeito canhoto, todas as peças que seriam no pé direito eu botei no esquerdo e vice-versa e tal só que ai o meu irmão começou a tocar minha bateria começou a brincar e ele teve aula antes que eu. Ele começou a fazer aula e tal e ai eu me acostumei com o jeito destro e até hoje eu penso se isso não vai me emperrar de certa maneira, se não me atrapalhou, se não atrapalhou o meu desenvolvimento enquanto instrumentista mas agora eu já estou acostumada com o jeito destro assim.. Eu tirava samba. Eu estou na bateria faz uns 15 anos...

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aprender inglês, me estimulou a aprender inglês mais rápido, a correr atrás das coisas pra aprender rápido é que eu não entendia o que era dito nos filmes e as pessoas tinham que ficar lendo pra mim, a gente sabe que é chato o outro ficar lendo alto então isso era um fator meio excludente pra mim eu teria que ir ao cinema com pessoa muito próximo, com amigo; se eu saísse com um carinha a primeira vez e falasse pra ele só que você tem que ler pra mim o filme o cara saia fora não queria nem saber, então, eu fiquei esperta e tratei de aprender logo o que estavam dizendo no filme. O teatro é uma atividade pra pessoa cega super-interessante, é cultura, cada peça que você vai você aprende assim como no cinema que o teatro é mais elitizado. Acho uma obrigatoriedade... de que as cenas sejam descritas, por exemplo, as cenas sendo descritas a pessoa cega pôe no radinho e no ouvido e as pessoas deviam ser obrigadas a ter isso. Acho bem legal e acho que não traria grandes custos ao teatro. Sei que nos Estados Unidos eles vendem, eu até tenho a fita do Titanic narrado, é muito legal, narrado em inglês evidentemente, ou seja mas se fosse obrigado que os caras fizessem isso em português, é maravilhoso! No cinema o cara pega um foninho de ouvido e tá lá a narração e quem quer pega, quem não quer não pega. Por exemplo dos filmes clássicos como Titanic, como muitos outros seria super interessante existir e nas peças de teatro que permanecem muitas vezes em cartaz também. O DVD hoje em dia que também tem um monte de opção de menu dá para o cara fazer e dá pra ele botar com narração e sem narração se ele não quer ouvir a narração ele não põe...(TATI)

...Cinema, eu não gosto muito de filmes, teatro... Não sou muito chegado, não gosto muito de televisão. Novela, ah, uma boa novela faz bem, mas eu ainda prefiro rádio eu não troco o rádio por nada, entendeu? Sempre, onde eu posso estar levando o meu walk-man eu estou levando, estou ouvindo, às vezes eu não quero ouvir música e quero ouvir uma notícia eu quero saber o que está acontecendo na cidade, fora as notícias policiais. A gente consegue colocar numa CBN, em rádios onde tem um objetivo maior de informar. Cultura, informação né? Inclusive a gente acaba aprendendo sobre o nosso passado, é uma coisa muito legal... (RAÍ)

...Gosto de televisão, eu assisto bastante filme, novela eu assisto um pouquinho, eu assisto filme dublado, eu não assisto legendado, é porque ninguém tem saco de ficar lendo três filmes pra mim direto, então vamos pegar dublado. Eu não vou muito ao cinema ou teatro não, eu gosto até muito de ir, mas até pelo meu trabalho eu só vou pra cantar, eu nunca vou pra assistir nada, eu vou pra ser o espetáculo, para ser a platéia é meio difícil... (GIGI)

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e literatura devem fazer parte de sua vida. Os depoimentos dos jovens mostram seu apreço por essas atividades: quatro deles dedicam-se à música e pretendem seguir a carreira musical. Todos gostam de ler e compreendem a importância da leitura para sua formação e aprendizado da língua.

6.2.3. O papel da Instituição na formação dos jovens entrevistados

A Instituição é concebida pelos alunos como um espaço muito familiar, de amizade, muita brincadeira, alegria, festas, oportunidade de crescimento pessoal e social. Na opinião dos alunos é um espaço de convivência, aprendizagem, ampliação de experiências e socialização. Foi enfatizada a importância do trabalho de orientação à escola e apoio à inclusão escolar.

Góes (2002, p. 99), baseando-se nas idéias de Vygotsky, diz que:

O funcionamento humano vinculado a alguma deficiência depende das condições concretas oferecidas pelo grupo social, que podem ser adequadas ou empobrecidas. Não é o déficit em si que traça o destino da criança. Esse destino é construído pelo modo como a deficiência é significada, pelas formas de cuidado e educação recebidas pela criança, enfim, pelas experiências que lhe são propiciadas.

Os próximos depoimentos, principalmente os dois primeiros, ilustram muito bem a afirmativa anterior:

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mãe não sabe que tem que ensinar, quando a criança vai crescendo ela aprende atividades da vida diária como noções de higiene e tal, aí quando está indo na fase pré-escolar já vai aprendendo o Braille. A Laramara também dá esse respaldo para a escola e orienta a escola a receber a criança de maneira inclusiva, de forma inclusiva, é muito legal e depois quando vêm os adolescentes também é fantástico o trabalho de orientação e mobilidade, o incentivo ao esporte que tem aqui, tem aula de natação, enfim depois quando o cara está mais velho que ele quer trabalhar tem o programa de preparação para o trabalho que é fantástico. Às vezes as empresas querem contratar e não têm pessoas qualificadas então se o cara aprende, se ele tem noções de informática, de inglês, de cidadania e isso o prepara melhor depois pra enfrentar o ambiente de trabalho e até noções de adequação... (TATI)

...Eu nado Crowl, costas, borboleta e peito, eu aprendi aqui na Laramara. Aqui eu tive dois professores que significaram, dentro da natação eu digo, significaram bastante na minha vida assim, e até me estimularam no esporte dentro da natação eu aprendi muitas coisas com eles que é o J. F. e o S. Onde eu for eu terei um enorme carinho por esses professores porque foi realmente ali que começaram, às vezes eu fazia alguma coisa errada não no nado em si, eu tomava algumas atitudes inadequadas de acordo com o ambiente e tinham uma postura de cobrança em cima de mim que me fez crescer bastante entendeu? (RAÍ)

A fala seguinte, dos dois jovens Raí e Klaus, mostra a grande importância de dar à criança cega oportunidade de se locomover com independência, o mais cedo possível. Laramara sempre defendeu a introdução de programas de Orientação e Mobilidade na educação infantil, pois acredita ser ela um processo que se inicia a partir dos primeiros movimentos espontâneos e intencionais do indivíduo com o corpo no espaço.

É importante ainda a introdução precoce da bengala que pode previnir alterações posturais, diminuindo a tensão e insegurança, que, muitas vezes prejudicam o padrão de marcha das pessoas cegas.

Graças a Deus, eu não tenho nenhum problema com locomoção. A maior vitória que eu tive aqui dentro, dentre muitas, foi a área da Orientação e Mobilidade! Isso eu devo a quatro professoras: J. F., V.F., N. e a B. Eles não sabem o quanto significaram para mim... (RAÍ)

...Antes, minha avó tem problema na perna, então eu não podia sair muito. Agora eu posso sair bastante, antes era só quando alguém podia vir comigo. Terminei a mobilidade, estou andando sozinho, mas é como eu falei, a Laramara me ajudou bastante. (Klaus)

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