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OLHARES SOBRE A VELHICE

36 BRITTO DA MOTTA, 1997.

37 Sobre o movimento dos aposentados, cf.: SIMÕES, Julio. O Movimento de aposentados e

pensionistas e a solidariedade pública entre as gerações. Bahia Análise ε Dados, Salvador, SEI, v. 6, n. 1, p. 149-151, jun. 1996; ______. “A maior categoria do país”: o aposentado como ator político. In: LINS DE BARROS. Myriam (Org.). Velhice ou terceira idade? Rio de Janeiro: Editora FGV, 1998.

38 Sobre sociabilidade dos idosos, cf.: BRITTO DA MOTTA, Alda. Sociabilidades possíveis: idosos e

tempo geracional. In: PEIXOTO, Clarice Ehlers. Família e envelhecimento. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004.

participação social através de grupos e programas servem de base para o questionamento da teoria do desengajamento.

Apesar das limitações apresentadas pela Teoria do Desengajamento, seus conceitos influenciaram a Gerontologia, particularmente a idéia de desengajamento diferencial, e têm sido revisitados e utilizados no desenvolvimento de novas pesquisas e práticas relacionadas ao processo de envelhecimento Humano39.

A teoria da atividade, surgida também nos Estados Unidos, em 1988, buscava responder a questões não respondidas pela teoria do desengajamento, e apontava as causas sociais que contribuem para a dificuldade de adaptação das pessoas idosas, apoiando-se em três premissas:

[...] a maioria das pessoas que envelhecem, seguem mantendo níveis bastante constantes de atividade; a quantidade de ocupação está influenciada por anteriores estilos de vida e por fatores sócio-econômicos; para atingir um envelhecimento com êxito é necessário conservar determinados níveis de atividade nas distintas esferas: física, mental e social.40

De acordo com essa teoria, a manutenção da atividade, produtividade e do sentir-se útil é a responsável pela garantia do sentimento de felicidade e bem estar dos sujeitos idosos, na medida em que as atividades exercidas pelos idosos resultam em reconhecimento social que gera, conseqüentemente, aumento da imagem positiva de si mesmo e de satisfação em relação à vida. Existe, portanto, uma relação direta entre atividade social e a satisfação na velhice.

Partindo-se do pressuposto de que é necessária a manutenção da atividade e da produtividade do idoso, é imprescindível a substituição de papéis sociais perdidos por novos papéis sociais, garantindo, assim, o autoconceito positivo.

Como garantir atividade social e produtividade dos idosos em uma sociedade que, em princípio, apresenta-se como excludente quando se trata desse segmento populacional? De acordo com essa teoria embora ocorram perdas no campo físico, psíquico e de saúde característicos dessa etapa da vida, o idoso permanece com as mesmas necessidades sociais e psíquicas, porém a sociedade dificulta a satisfação dessas necessidades.

Entre as limitações da teoria da atividade está o fato de não ter levado em consideração a heterogeneidade e a multiplicidade de experiências daqueles que

39 SIQUEIRA, Maria Eliane Catunda de. Teorias sociológicas do envelhecimento. In: NERI, 2001a, p.

73-112.

envelhecem; não considerar que a inserção do idoso em atividades sociais, bem como o desempenho de novos papéis sociais, não é de responsabilidade exclusiva desse segmento social, mas depende de varáveis como classe social, condições de saúde física e mental; ignora as diferenças nas trajetórias de vida desse grupo heterogêneo ao realçar a relação direta entre atividade e satisfação.

As duas teorias apresentadas oferecem uma explicação global sem considerar que os idosos não devem ser vistos como grupos homogêneos. As diferenças subjetivas, históricas, sociais e econômicas dão significados distintos à experiência de envelhecimento, obrigando-se o reconhecimento da individualidade da experiência humana.

A teoria da atividade teve um papel importante na fundamentação de atividades voltadas para pessoas idosas, influenciando movimentos sociais de idosos e orientando na construção de atividades de lazer e na educação não-formal e “apesar das [...] suas limitações, continua sendo considerada como uma das mais adequadas perspectivas no campo da gerontologia social.”41

Para Beauvoir42,

Como todas as situações humanas, a velhice tem uma dimensão existencial; modifica a relação do indivíduo com o tempo e, portanto, sua relação com o mundo e com a própria história. Por outro lado, o homem não vive em estado natural. Na sua velhice, como em qualquer idade, seu estatuto é imposto pela sociedade à qual pertence. A sociedade destina ao velho seu lugar e papel, levando em conta sua idiossincrasia individual, sua impotência, sua experiência. Reciprocamente, o indivíduo é condicionado pela atitude prática e ideológica da sociedade em relação a ele. Não basta portanto descrever, de maneira analítica, os diversos aspectos da velhice. Cada um desses aspectos vai reagir sobre todos os outros. É nesse movimento indefinido dessa circularidade que é preciso apreender a velhice.

Outras teorias sobre o envelhecimento humano43 foram propostas numa tentativa de compreender essa etapa da vida, porém, para Beauvoir44 a velhice só pode ser compreendida em sua totalidade na medida em que constitui um fato cultural e biológico e, portanto, manifesta-se diferentemente em cada indivíduo.

41 SIQUEIRA, 2001, p. 77. 42 BEAUVOIR, 1990, p. 99.

43 Teoria da continuidade, Teoria do colapso e de competência, Teoria da troca, Teoria do

construcionismo social, Teoria da modernização, Teoria da sub-cultura do envelhecimento, entre outras.

1.2 BREVE REVISÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE VELHICE

Mesmo que de forma pouco expressiva, os estudos em torno das questões do envelhecimento sempre se fizeram presentes na vida da humanidade. Ariès45 faz referência ao último livro da enciclopédia Le Grand Propriétaire de toutes chose46, escrita na Idade Média, que trata das idades em correspondência aos planetas. São descritas sete idades que vão da infância à velhice.

De acordo com a Le Grand Propriétaire de toutes chose, a sexta idade corresponde à velhice que, para alguns vai até os 70 anos e para outros termina com a morte. Nessa fase, de acordo com Isidoro47, as pessoas não têm mais os sentidos tão bons como antes e começam a caducar. A velhice, segundo a enciclopédia teria uma última parte chamada senies48. “O velho está sempre tossindo, escarrando e sujando [ainda estamos longe do nobre ancião de Greuze e do Romantismo], até voltar a ser cinza da qual foi tirado.”49

Os primeiros trabalhos sobre o processo de envelhecimento humano surgiram no século XVI, e seus autores acreditavam que o único instrumento capaz de vencer as transformações provocadas pelo processo de envelhecimento era a intervenção médica50.

Em 1748, a Marquesa de Lambert escreveu o Traité de la veillesse, uma espécie de guia para as mulheres envelhecidas, onde afirmava que a paz e a piedade eram elementos indispensáveis a uma velhice tranqüila em família. Quase um século depois, em 1822, no livro Quatre lettres sur la veillesse des femmes, a Baronesa de Maussion apontou a sociabilidade permanente com jovens como um elemento que, ao lado da piedade e da paz, garantiria uma boa velhice51.

45 ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.

46 De acordo com Ariès (1981, p. 34) trata-se de uma “[...] enciclopédia de todos os conhecimentos

profanos e sacros, uma espécie de Grand-Larousse, mas que teria uma concepção não-analítica e traduziria a unidade essencial da natureza e de Deus [...] Vinte livros tratam de Deus, dos anjos, dos elementos e de seu corpo, das doenças, do céu, do tempo, da matéria, do ar, do fogo, dos pássaros etc. O último livro é consagrado aos números e às medidas”.

47 Santo Isidoro (c.560-636), nascido em Sevilha na época visigoda, foi bispo nesta cidade de 600 a

636. É um dos grandes elos de transmissão da cultura clássica para a Idade Média.

48 Em latim. Em francês, a única tradução é veillesse. 49 ARIÈS, op. cit., p. 37.

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