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OLHARES SOBRE A VELHICE

FOTO 1 Velho da tribo Chukchee

O comportamento e as atitudes dos esquimós em relação aos mais velhos revelam um paradoxo, pois ao mesmo tempo em que são carinhosos e afetuosos com os parentes mais velhos, os mais jovens são capazes de abandoná-los em uma estrada ou ajudá-los a cometer suicídio por afogamento ou estrangulamento. “Esta aparente crueldade enraíza-se em uma concepção particular da vida, de morte e da

111 BEAUVOIR, 1990. 112 UCHOA, 2003, p. 3.

113 CHUCKCHEE. Home. Artic. Disponível em: <http://www.mundurucu.com/arctic/chuckchee>. Acesso

própria essência do ser humano, podendo co-existir, sem contradição, com atitudes de interesse e suporte aos mais velhos na comunidade.”114

Entre os índios brasileiros115, os mais velhos – homens e mulheres –, são respeitados pelos mais novos por sua experiência e sabedoria. A experiência conseguida pelos anos de vida transforma-os em símbolos de tradições da tribo. Na maior parte das sociedades indígenas a transmissão dos elementos culturais como a mitologia, os rituais e os costumes é feita oralmente e são os idosos que desempenham essa função fundamental para a sobrevivência dos povos. A admiração pelos idosos é confirmada pela existência, em muitas nações de um Conselho dos Anciãos, responsável pela tomada de decisões importantes como o início de uma guerra116.

As mulheres “já de idade” eram as responsáveis por fazer a farinha e de transportarem a mandioca nas costas até suas casas. Aquelas consideradas muito velhas fabricavam vasilhas de barro, como os potes onde ferviam o vinho, ou as panelas onde cozinhavam a farinha que ajudam a fazer117.

Para os Baniwa, do Alto Rio Negro, os idosos são os responsáveis por contar as histórias da criação do mundo durante os rituais de passagem de idade. Há relatos de velhos sábios com conhecimentos e poderes sobrenaturais que reuniam uma legião de seguidores. A importância da figura desses sábios está também na organização e reorganização social fundamental para a sobrevivência do grupo118.

Já entre os Tupi, os velhos formavam o grupo dos conselheiros e dos pagés. Nas festas, os velhos eram servidos de CAIUM119 em primeiro lugar, mas preferiam ficar em suas redes conversando e fumando, enquanto os outros índios se excediam na bebida.

114 UCHOA, 2003, p. 3.

115 Sobre índios brasileiros, cf. FARAGE, Nadia. As muralhas dos sertões: os povos indígenas no Rio

Branco e a colonização. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1991; MELATTI, Julio Cezar. Índios do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2007; RAMINELLI, Ronald. Imagens da Colonização: a representação do índio de Caminha a Vieira. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996; RAMOS, Arthur. Introdução à antropologia brasileira: as culturas não-européias. Rio de Janeiro: Livraria Editora da Casa do Estudante no Brasil, 1961; RIBEIRO, Darci. Os índios e a civilização: a integração das populações indígenas no Brasil moderno. Petrópolis: Vozes, 1982.

116 FREYRE, 2004; INDIOS. Disponível em: <http://www.webciencia.com /09_indios.htm>. Acesso

em: 8 maio 2010; EE BISPO DOM GASTÃO. Atividade 13: Índio. Textos e desenhos. Alunos 3ª. série F. Professora Ednéia Garro Teixeira Marini. Disponível em: <http://educar.sc.usp.br/cordoba/ gob_bispo/indio_bispo.html>. Acesso em: 8 maio 2010.

117 FREYRE, op. cit. 118 FARAGE, 1991.

119 Bebida fermentada, de caráter religioso e mágico. Feito, normalmente, de caju ou milho fermentado

De acordo com Farage120, não é possível afirmar que todos os povos indígenas têm a mesma relação com os idosos, mas há uma tendência de valorização dos mais velhos que são os depositários da memória dos povos. Segundo essa autora, na etnia Wapixana de Roraima, os velhos são vistos como uma marca do passado no presente, como uma dobradiça do tempo.

FOTO 2 - Índio brasileiro121

Nas sociedades modernas não havia muitos estágios no ciclo de vida, e os que existiam não eram demarcados com exatidão. Nos Estados Unidos, por exemplo, os escravos velhos eram tratados como meninos, classificados como dependentes e tidos como inferiores122. De acordo com um artigo publicado no Diário da Bahia de 1836, “que definia os vários estágios do ciclo da vida, a velhice se localizava entre sessenta e quatro e setenta anos, e era caracterizada pela preparação para a morte por meio do Rosário à noite, testamento e missa diária.”123

O registro de nascimento, instituído por Francisco I, rei da França no período de 1494 a 1547, pode ser considerado como o marco inicial de datação das idades. Embora o registro do ano de nascimento nos registros paroquiais fosse uma

120 FARAGE, 1991.

121 PROGRAMA Educar. Universidade de São Paulo. Disponível em: <http://educar.sc.usp.br/cordoba.

html>. Acesso em: 8 maio 2010.

122 FEATHERSTONE, 1994. 123 NOVAIS, 1997, p. 101.

obrigação dos párocos da França, a obediência a essa exigência só foi cumprida com exatidão a partir do século XVIII124.

No século XVI a importância do registro das idades tem início nas camadas que tinham acesso aos colégios, chegando em alguns casos, a “tornar-se objeto de uma atenção especial”125. Foi também nesse século que teve início o registro das idades nos retratos, como uma forma de registro da história familiar. No século XVII, o hábito se generalizou e passou a ocupar, também, objetos, móveis e baús126.

O processo de institucionalização das idades ocorreu lentamente, a partir do final do século XVII e início do século XIX, com o registro dos nascimentos, mortes, casamentos, doença. Nesse momento, foram definidas as idades compulsórias em que os indivíduos são obrigados a exercer a cidadania, os direitos e os deveres na sociedade e na família: idade de ir ou deixar a escola, dar entrada no mundo do trabalho ou se aposentar, casar, votar, etc. O processo de cronologização geral do curso da vida, que resultou nas grades etárias como nos são apresentadas hoje, é uma construção do Estado com o objetivo de padronizar o curso da vida127.

Embora na história do Ocidente tenha prevalecido a idéia de que o homem, durante a sua existência, atravessa diferentes momentos - nasce, cresce e morre -, foi a ideologia cientificista do evolucionismo, que fundou o ciclo biológico da existência humana, quando ocorreu a transformação dessa seqüência inevitável, numa ordem necessária. Trata-se de um critério teórico, antes inexistente, que tem por base a delimitação de períodos vitais128.

A existência humana passou a ser representada pelo paradigma do desenvolvimento vital e o conceito de degeneração, associado à forma anormal e doentia do desenvolvimento biológico dos organismos vivos, passou a ter importância crucial para os saberes médicos e biológicos. Nesse contexto, o conceito de velhice passou a ser associado com a idéia de finitude e de um momento de decadência com características especificas de degradação do biológico.

Birman129 traz como mais uma indicação desse processo histórico, a constituição de uma nova representação do sujeito e da sociedade humana, no

124 ARIÈS, 1983. 125 Ibid., p. 31. 126 Ibid. 127 FEATHERSTONE, 1994. 128 BIRMAN, 1995. 129 Ibid.

registro filosófico, com a existência humana sendo representada nas dimensões do tempo e da história. A partir dessa idéia,

[...] o sujeito e a sociedade perdem a marca do absoluto e passam a ser concebidos essencialmente como históricos, isto é, como algo onde as dimensões do tempo e da temporalidade passam a ocupar um lugar teórico fundamental. Com isso, se constitui uma ontologia da finitude, na qual a filosofia de Kant se destaca e passa a ocupar a posição crucial de inauguradora da modernidade, na medida em que funcionou como crítico dos impasses da metafísica que lhe antecedeu (Foucault, 1966). Enfim, o sujeito humano passou a ser representado não apenas como um ser histórico, mas também como o agente crucial da sua história130.

Na medida em que a existência humana passou a pertencer ao registro da temporalização e da historicidade, “a categoria de vida” invadiu a mentalidade e os projetos políticos da sociedade moderna, com o Estado reconhecendo que sua maior riqueza estava na “qualidade da população”, pois quanto mais sadia a população maior a condição de produção de riqueza. Essa percepção levou à necessidade de melhoria das condições sanitárias das cidades e da população, o que foi possível e reforçado com o processo de medicalização e com a medicina ocupando uma posição estratégica no campo social, intervindo de maneira maciça na sociedade. Tem início, então, o que Foucault chamou de bio-história131.

O século XIX assinala para o Brasil o início de um processo de transformação política e econômica que atinge igualmente o âmbito da medicina, inaugurando duas características, que não só têm vigorado até o presente como têm-se intensificado cada vez mais: a penetração da medicina na sociedade, que incorpora o meio urbano como alvo de reflexão e da prática médica, e a situação da medicina como apoio científico indispensável ao exercício do poder132.

O que estava em pauta era “a possibilidade sócio-política de produção, reprodução e acumulação de riqueza, centrado no paradigma biológico da reprodução e de melhoria eugênica da espécie humana”133, onde cada etapa etária da história dos indivíduos passou a ter um valor específico, de acordo com suas possibilidades de produzir riquezas. Esse movimento produziu uma imagem negativa e desfavorável da velhice e do envelhecimento, na medida em que os

130 BIRMAN, 1995, p. 32. 131 Ibid.

132 MACHADO, Roberto et al. Danação da norma: a medicina social e constituição da psiquiatria no

Brasil. Rio de Janeiro: Graal, 1978. p. 155.

velhos já haviam percorrido todas as etapas evolutivas da espécie humana – estavam entre a vida e a morte, entre a experiência e a “inutilidade”, entre o biológico/natural da degeneração corpo –, e não apresentavam mais condições de reprodução, perderam o seu valor social e passaram a ocupar um lugar marginalizado na sociedade.

Assim como variam as definições atribuídas à velhice e ao processo de envelhecimento, também variaram o lugar atribuído aos sujeitos idosos no tempo e no espaço134. Cada sociedade tem um modo particular de tratar a velhice e de conviver com seus velhos. Existem, nas sociedades ocidentais, formas de organizações sociais e culturas em que essa fase da vida, além de ser reconhecida, é valorizada. Nessas sociedades,

[...] ainda que liberados da reprodução biológica e de grande parte das responsabilidades ligadas à produção, os velhos respondem pela importante função de garantir a reprodução simbólica, ou dos valores que respondem pela identidade do grupo. Transformam-se em ‘depositários vivos’, unindo o passado ao presente e auxiliando na projeção do futuro135.

Almeida136 aponta o momento de surgimento da associação entre os significantes velhice e segregação. Essa associação teve início na Idade Média, alcançando o seu apogeu na Idade Moderna. Até o século XVIII a velhice não era associada a degeneração e a decadência; não representava o afastamento das relações afetivas, familiares e sociais; não era discriminada. Aí, os idosos não representavam, socialmente, um encargo pesado e, para as famílias, não apareciam como um ônus ou como uma responsabilidade recusada ou transferida, ou que os membros da família não se dispusessem a assumir os seus velhos.

Nessas sociedades cuja economia se assentava na agricultura e nas atividades artesanais, sistema mantido pelo trabalho familiar e corporativo, aqueles que envelheciam e já não podiam contribuir com sua força para o trabalho eram absorvidos pela família e pela comunidade e respeitados como depositários vivos da história daquele grupo. Dessa forma, o fato de retirar-se do processo de produção não significava a perda do prestígio social e familiar, mas a inserção no lugar de transmissores da cultura de um povo.

134 ALMEIDA, Vera Lucia de. Imagens da velhice: o olhar antropológico. A terceira Idade, São Paulo,

Ano X, n. 15, p. 35-39, dez. 1998.

135 Ibid., p. 38. 136 Ibid.

Com o advento da revolução industrial aconteceram importantes mudanças nas relações de produção e na estrutura familiar que, até então, funcionava como unidade de produção e consumo. Nesse momento, assistimos ao desenvolvimento do individualismo que terminou por se refletir na estrutura familiar137 e na associação da velhice ao conceito de segregação.

[...] as diferentes etapas etárias da história do indivíduo passaram a adquirir valores diversos, de acordo com as suas possibilidades para a produção e para a reprodução de riquezas. Evidentemente, a velhice passou a ocupar um lugar marginalizado na existência humana, na medida em que a individualidade já teria realizado os seus potenciais evolutivos e perderia então o seu valor social138.

O critério de reconhecimento social passou a ser o potencial funcional dos membros da sociedade. Interessava a esse novo sistema os sujeitos capazes de alugar ou vender sua força de trabalho ao capital, ou seja, a chamada “população economicamente ativa”. Para os que, em função da idade, se retiravam do processo produtivo restavam os adjetivos de velhos, ultrapassados, imprestáveis, passando a ser excluídos, primeiro, do próprio mercado de trabalho e, depois, da sociedade que lhes negava as oportunidades de participação, de exercício pleno da cidadania e até “o direito de continuar a viver com dignidade após ser decretada sua falência funcional pelo sistema.”139

O afastamento da vida profissional configurava-se para um grande número de idosos, como um evento marcante, principalmente, nas sociedades industriais, nas quais a participação na vida econômica gera a satisfação de uma série de outras necessidades, especialmente, a necessidade de provimento material.

Cabral140 traduziu uma crítica feita por Beauvoir sobre o posicionamento da sociedade em relação aos trabalhadores pertencentes às classes populares, cujas possibilidades de venda da força de trabalho se esgotavam na velhice e que passavam a depender da família, sendo, na maioria das vezes abandonados em hospícios, expulsos de suas casas e até assassinados clandestinamente. A classe dominante, que assistia a tudo com indiferença, preferiu desvalorizar esses homens como forma de justificar sua omissão diante desses acontecimentos.

137 BASTOS, Ana. Cecília. Modos de partilhar: a criança e o cotidiano da família. Taubaté: Central

Editora Universitária, 2001.

138 BIRMAN, 1995, p. 33.

139 JORDÃO NETO, Antonio. Gerontologia básica. São Paulo: Lemos Editorial, 1997. p. 59. 140 CABRAL, 2002.

Nesse período, a qualidade de vida da população passou a ser considerada a riqueza maior do Estado, pois era o que assegurava a produção de riqueza, levando à necessidade que os governos investissem nas condições biológicas da população e nas condições sanitárias das cidades 141.

Acompanhando uma tendência mundial no século XIX, Salvador, cuja expectativa de vida da população girava em torno dos 40 anos de idade, deu início ao processo de higienização de suas ruas com a retirada de circulação dos sujeitos considerados inaptos para o trabalho e que ocupavam as escadarias das igrejas, vivendo de mendicância. Entre esse contingente 1427 idosos, brancos (7,9%), pardos (14,8%) e negros (61%), de ambos os sexos, com idade variando entre 60 e 120 anos, que, junto aos demais mendigos, eram levados para o único Asilo de Mendicidade da cidade, como veremos no Capítulo 4.

Dos 10.195 idosos identificados na pesquisa, 51% eram homens negros, que viviam em situação de pobreza, mendigando ou desempenhando ocupações consideradas de menor prestígio142, dados que serão detalhados no Capítulo 3.

Mannoni143 denuncia a política que as sociedades ocidentais reservam para a velhice, na medida em que os velhos foram reduzidos “a dejetos”, a partir do momento em que não são mais exploráveis, nem se constituem como trabalhadores produtivos, os faz sentirem-se como inúteis e indesejáveis.

No Dicionário da Língua Portuguesa do século XIX, podemos observar a definição da palavra velho relacionada ao homem com setenta ou oitenta anos “que está adiantado em annos, em idade, que chegou à idade da velhice, ancião [...] não serve já para cousas que fazem os moços”144, mas está relacionada, também, ao vestido que está gasto do uso ou ao edifício que tem muitos anos e que, talvez por esse motivo, ameaça ruínas145.

Parafraseando Bourdieu146, podemos dizer que a “velhice” é apenas uma palavra, pois “as divisões entre as idades são arbitrárias” e o que existe, na divisão entre velhice e juventude, é a disputa pelo poder, é manipulação, posição também

141 BIRMAN, 1995.

142 Serviços domésticos, trabalhos com a terra, trabalhos artesanais, vendedores. 143 MANNONI, 1995.

144 SILVA, 1858, p. 973, Tomo 2. 145 Ibid.

assumida por Lenoir147, segundo a qual as etapas da vida ou as idades são construções realizadas no desenvolvimento dessas relações de poder.

Trata-se, como assinala Britto da Motta148, de uma categorização “cuja delimitação resulta do estado (variável) das relações de força entre as classes e, em cada classe, das relações entre as gerações, isto é, da distribuição de poder e privilégios entre as classes e entre as gerações”. Trata-se do estabelecimento de uma ordem em que cada um deve se manter “em seu lugar”, do estabelecimento de limites que, ao não serem respeitados ou não bem estabelecidos, faz surgir os conflitos entre as gerações149.

É disso que Bosi150 nos fala quando descreve sua percepção sobre a representação do velho na sociedade e na família, permitindo-nos verificar, de um lado, a discriminação e a marginalização do velho; e, de outro, a total governabilidade da família.

Nos cuidados com a criança o adulto “investe” para o futuro, mas com relação ao velho age com duplicidade e má fé. A moral oficial prega o respeito ao velho mas quer convencê-lo a ceder seu lugar aos jovens, afastá-lo delicada mas firmemente do posto de direção. Que ele nos poupe dos seus conselhos e se resigne a um papel passivo. Veja-se no interior das famílias a cumplicidade dos adultos em manejar os velhos, em imobilizá-los com cuidados para ‘seu’ próprio bem. Em privá-los da liberdade de escolha, em torná-los cada vez mais dependentes, “administrando” sua aposentadoria, obrigando-s a sair do seu canto, a mudar de casa [...] e, [...] submetendo-os

147 LENOIR, 1998.

148 BRITTO DA MOTTA, Alda. A construção do poder dos idosos nas sociedades brasileiras no século

XXI. Conferência. I Congresso Brasileiro de Gerontologia e II Fórum de Política Nacional do Idoso. Porto Alegre, RS, outubro, 1998a.

149 De acordo com Britto da Motta (2003, p. 4), geração é uma categoria de grande complexidade

analítica, na medida em que além de referir-se a uma dimensão fundante da vida social, articulando-se às categorias de gênero, raça e classe, projeta-se na dimensão temporal – “tempo simultaneamente “natural” e “social”, segundo o qual faz e refaz seus sentidos”. A palavra geração traz uma polivalência e uma polissemia que terminam por contribuir para a sua imprecisão. Tomando como referência o sentido sociológico do termo, podemos afirmar que a palavra geração “designa um coletivo de indivíduos que vivem em determinada época ou tempo social e que têm aproximadamente a mesma idade”. Mannheim (1928, p. 134-137) enfatiza o sentido histórico do termo sem, contudo, desvinculá-lo do grupo de idade ao afirmar que “O fenômeno social ‘geração’ nada mais representa do que um tipo particular de identidade de posição de ‘grupos de idade’ incrustados num processo histórico-social”. Para esse autor, “[...] indivíduos que pertencem à mesma geração [...] estão ligados [...] a uma posição comum na dimensão histórica do processo social”. Para maior aprofundamento sobre a categoria geração, cf.: ATTIAS-DONFUT, Claudine.

Générations et âges de la Vie. Paris: PUF, 1991; ATTIAS-DONFUT, Claudine. Les solidarités entre génértations : vieillesse, familles, état. Paris: Nathan Univiersité, 1995. BALANDIER, Georges.

Homens e mulheres ou a metade perigosa. In: ______. Antropo-lógicas. São Paulo: Cultrix, 1977. p. 10-66; Britto da Motta, Alda. A categoria geração na pesquisa científica. Trabalho apresentado ao 22º. Seminário Nacional de Pesquisa em Enfermagem, Porto Seguro, 2003; EISENSTADT, Shmuel N. Grupos etários e estrutura social. In: ______. De geração a geração. São Paulo: Perspectiva, 1956. p. 1-35; MANNHEIM, 1928, p.115-176.

à internação hospitalar. Se o idoso não cede à persuasão, à mentira não se hesitará em usar a força. Quantos anciãos não pensam estar provisoriamente no asilo em que foram abandonados pelos seus!151

A juventude e a velhice152 não são concepções absolutas, mas interpretações sobre o percurso da existência. Como interpretações, se transformam historicamente. Juventude e velhice são conceitos construídos historicamente e que se inscrevem na dinâmica dos valores e das culturas que enunciam algo sobre o seu ser.

No percurso de história do Ocidente assistimos ao surgimento de diferentes representações da juventude e da velhice, o que nos adverte para uma aproximação desses conceitos, pois as suas transformações são historicamente datadas e nos indicam que a delimitação destas positividades é uma questão conceitual153.

A representação social do velho passou por uma série de transformações que exigiam a criação de novas categorias mais adaptadas a essa nova situação

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