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4. MATERIAL E MÉTODOS 21

4.5. Cálculo da participação dos municípios na CFURH segundo a metodologia

Segundo a ANEEL (2005), no cálculo das cotas destinadas aos municípios, dois fatores são levados em consideração. Um deles corresponde aos percentuais de área inundada por águas dos reservatórios das usinas hidrelétricas. Essa informação é

de responsabilidade das empresas concessionárias e deve ser repassada à ANEEL para que a proporção a que cada município tem direito possa ser determinada. A ANEEL, em 2001, em função da cisão de alguns municípios, mapeou com precisão as regiões alagadas, usando imagens de satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e informações prestadas pelas concessionárias. Isso permitiu atualizar a base de dados para a distribuição da Compensação Financeira entre Estados e Municípios. O outro fator reflete o fato de que a quantidade total de energia gerada em uma usina hidrelétrica não se deve somente à água em seu próprio reservatório. Parte da energia que ela gera só é possível devido à água represada nos reservatórios de outras usinas. Essa influência ocorre tendo em vista que, ao ser construído, o reservatório de uma hidrelétrica passa a funcionar como se fosse uma caixa d’água para todas as demais usinas que estão localizadas no mesmo rio, ou em algum de seus afluentes, no mesmo sentido do fluxo de água. Isso faz que algumas usinas hidrelétricas possam gerar mais energia por serem beneficiadas por essas “caixas d’água”, aumentando o valor da Compensação Financeira que elas recolhem. Por essa razão, a parcela adicional da Compensação Financeira paga pelas usinas hidrelétricas beneficiadas é transferida aos respectivos municípios que são atingidos pelos reservatórios que proporcionam tais ganhos.

Em síntese, o valor que cada município recebe a título de Compensação Financeira é proporcional à área de seu território que participa diretamente na geração de energia elétrica no reservatório de uma usina hidrelétrica e ao ganho que esse mesmo reservatório propicia às demais usinas (Figura 26).

Figura 26 – Contribuição das usinas a montante para a geração de energia (usinas hidrelétricas em sequência).

Fonte: ANEEL, 2007.

O cálculo da parcela que cada município irá receber, levando em consideração a participação das usinas hidrelétricas em sequência, foi realizado por meio do seguinte procedimento:

a) Cada município tem sua área (m2) computada pelo programa ArcGIS 9.3.1 e armazenada na tabela de atributos de cada arquivo criado.

b) Cada usina hidrelétrica repassará o valor da CFURH tanto pela participação na altura da queda líquida d’água quanto pela vazão para a respectiva bacia de contribuição, levando em conta as áreas dos municípios que fazem parte dessa bacia e a vazão específica determinada e, assim, será calculada a devida parcela a ser recebida (R$) pela sua área (município).

c) Ao longo do manancial hídrico, no caso o Rio Grande em sua quase totalidade, encontram-se usinas hidrelétricas dispostas em sequência, e o reservatório a montante serve de caixa d’água para o reservatório a jusante, contribuindo também para o volume de água que a ela chega. Obtendo as bacias de contribuição de cada usina hidrelétrica e, assim, formando a bacia hidrográfica do Rio Grande, observa-se que uma bacia de contribuição pode ter parte de sua área dentro de outra bacia e contribuir, portanto, com o volume de água.

d) Computado o valor da CFURH que cada município irá receber proporcionalmente pela sua área em cada bacia hidrográfica, faz-se agora o repasse dos valores para os municípios que atuam em várias bacias de contribuição. Conforme demonstrado, esses valores são referentes à CFURH que cada usina hidrelétrica paga proporcionalmente pela área do município inserido na respectiva bacia de contribuição e também pela participação da queda líquida d’água quando esses municípios interceptarem os reservatórios.

e) Os municípios que não são comuns à nenhuma outra bacia de contribuição delimitada, exceto à sua bacia de origem, apenas recebem da usina hidrelétrica que está inserida em sua bacia de contribuição, recebendo o valor da CFURH. f) Por fim, depois de computados os valores individuais de cada município na

respectiva bacia de contribuição, faz-se o repasse (redistribuição), levando em consideração os municípios comuns à cada bacia de contribuição. Faz-se também o somatório desses valores, repassando-os aos municípios responsáveis pela

geração de energia elétrica pela participação na altura de queda líquida da água e da vazão.

A Figura 27 exemplifica, em uma parcela das bacias de contribuição dentro da bacia hidrográfica do Rio Grande, os passos anteriormente citados:

Figura 27 – Usinas hidrelétricas em sequência, mostrando uma parcela dos municípios que fazem parte de suas bacias de contribuição.

Verifica-se, na Figura 27, que cada bacia de contribuição das três usinas hidrelétricas demonstradas (UHE Caconde, UHE Euclides da Cunha e UHE Limoeiro) contempla municípios em comum. Por exemplo, Poços de Caldas (MG) e Caldas (MG) são municípios comuns, ou seja, pertencem às bacias de contribuição de cada usina hidrelétrica. Caconde, Euclides da Cunha e Limoeiro também o são.

Cada usina hidrelétrica teve os valores da CFURH calculados para 1 ano (abril de 2009 a março de 2010) e repassados aos municípios que fazem parte de sua bacia de contribuição, levando em consideração, no repasse, a área do município e a vazão específica das respectivas bacias de contribuição.

Os municípios que fazem parte da bacia de contribuição da UHE Caconde receberão, dessa forma, apenas a CFURH vinda da UHE Caconde, tendo sua área (município) como forma de equilibrar o justo repasse pela participação no cálculo da

energia elétrica. O Município de Poços de Caldas, que tem sua área banhada pelo reservatório da UHE Caconde, será responsável pela produção de energia elétrica, tanto pela altura de queda d’água quanto pela vazão, recebendo, portanto, pela metodologia proposta neste trabalho, a CFURH, pela participação na geração da energia elétrica tanto pela altura de queda quanto pela vazão d’água. O mesmo ocorre com o Município de Caldas, que, apesar de não ter sua área inundada pelo reservatório, terá sua participação na produção de energia elétrica devido à vazão d’água, contribuindo, assim, para o volume do reservatório da UHE Caconde.

Prosseguindo para a UHE Euclides da Cunha, verificou-se que a bacia de contribuição dessa usina hidrelétrica incorpora também a bacia de contribuição da UHE Caconde. Portanto, ao se calcular a CFURH para os municípios da bacia de contribuição da UHE Euclides da Cunha, os municípios em comum, como Poços de Caldas e Caldas, receberão também valores monetários (R$) referentes às suas áreas e, agora, no novo valor da vazão específica referente apenas à bacia de contribuição em análise, que é a da UHE Euclides da Cunha. Os Municípios de Tapiratiba (SP) e Divinolândia (SP) receberão apenas valores da CFURH referentes à UHE Euclides da Cunha, pois esses municípios estão inseridos apenas na bacia de contribuição dessa usina hidrelétrica.

Finalizando, com relação à UHE Limoeiro, verificou-se que a bacia de contribuição dessa usina hidrelétrica contempla os municípios citados. Portanto, a CFURH dessa usina hidrelétrica (UHE Limoeiro) deverá ser repassada para todos os municípios dentro de sua bacia de contribuição. O Município de Mococa (SP), pertencente apenas à bacia de contribuição da UHE Limoeiro, receberá, portanto, de sua usina hidrelétrica o montante devido à sua participação.

Após o cômputo de cada bacia de contribuição individual, tendo portanto os valores de área e da vazão específica de cada bacia de contribuição e efetuando o cálculo para cada município do novo valor da Compensação Financeira (tanto para os municípios que interceptam os reservatórios quanto para aqueles que não interceptam), faz-se o repasse, agora, para toda a bacia hidrográfica do Rio Grande, ou seja, considera-se a regularização de cada uma das usinas em sequência.

O ganho de energia acontece quando uma central geradora produz mais em razão da operação de outras usinas que regularizam o volume de água do rio. Essas usinas são situadas a montante (acima) das centrais geradoras e funcionam como caixa d’água, e a água armazenada na época de cheia é utilizada em períodos de seca.

Por essa razão, as usinas “caixa d’água” são capazes de regularizar a vazão do rio e diminuir a oscilação natural entre os períodos de cheia e de seca. Com isso, as usinas hidrelétricas a jusante (abaixo) podem gerar energia de modo mais constante, obtendo, assim, ganho de produção, que deve ser distribuído aos municípios onde as usinas caixa d’água estão localizadas. Esse ganho de energia, ou seja, o valor financeiro obtido é dividido com as usinas geradoras rio.

Seguindo essa linha de raciocínio, os Municípios de Poços de Caldas e Caldas, nesse exemplo, recebem valores da CFURH (R$) vindos das usinas hidrelétricas de Caconde, Euclides da Cunha e Limoeiro, sendo o valor final da CFURH estabelecido tanto pela participação na geração da energia elétrica vindo da altura de queda d’água quanto da vazão.

Os municípios paulistas de Tapiratiba e Divinolândia receberão valores da CFURH vindo das usinas hidrelétricas de Euclides da Cunha e de Limoeiro, e o Município de Mococa (SP) receberá apenas a CFURH vinda da própria usina hidrelétrica de Limoeiro.

Essa metodologia foi aplicada para as demais usinas hidrelétricas em sequência, que se encontram ao longo da bacia hidrográfica do Rio Grande. Cada município recebeu sua CFURH. À medida que esse município se fez presente e atuante nas demais bacias de contribuição em análise, os valores da CFURH de cada usina hidrelétrica foi repassado a ele, sendo no final de toda a análise somado seu montante.

Sabe-se que é importante, mas, devido à falta de dados, não foram discutidas e nem computadas as perdas ao longo do caminho do escoamento da água, no que se refere à evapotranspiração, evaporação e infiltração, interferindo no montante da vazão que chega ao reservatório. Essas variáveis e a vazão são passíveis de análise em trabalhos futuros.

Ao se efetuarem todos os cálculos da nova metodologia proposta para a CFURH, para cada município da bacia hidrográfica do Rio Grande, foram computados os repasses para cada Estado (Minas Gerais e São Paulo, respectivamente), demonstrando os valores (R$) dos repasses da CFURH aplicados atualmente pela lei vigente e os propostos por este trabalho.