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4. MATERIAL E MÉTODOS 21

4.3. Base de dados 32

4.3.4. Compensação financeira 40

Segundo Silva (2007), em 28 de dezembro de 1989, visando regulamentar o artigo 20 da Constituição Federal, foi publicada a Lei n° 7.990, que estabeleceu o valor da Compensação Financeira a ser pago pelas usinas hidrelétricas. Assim, de acordo com os termos dessa Lei, a compensação pela utilização de recursos hídricos para geração de energia elétrica era de 6% sobre o valor da energia produzida, a ser paga pelos concessionários de serviço de energia elétrica aos Estados, ao Distrito Federal e aos municípios, em cujos territórios se localizassem instalações destinadas à produção de energia elétrica, ou que tenham áreas invadidas por águas dos respectivos reservatórios. Essa Lei foi alterada posteriormente, e hoje vigoram as modificações dadas pela Lei nº 9.984, de 14 de julho de 2000, lei de criação da Agência Nacional de Águas. Essa lei trouxe importante alteração para a Compensação Financeira, que foi a inserção de uma parcela de 0,75%, correspondente à cobrança pelo uso da água. Essa parcela é destinada ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) para aplicação na implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (OLIVEIRA, 2009) (Tabela 2).

Tabela 2 – Beneficiários da Compensação Financeira e percentuais conforme a legislação.

Fonte: ANEEL, 2005.

De acordo com a Lei nº 9.648/98, com redação dada pela Lei nº 9.984/2000, a Compensação Financeira será de 6,75% (seis inteiros e setenta e cinco centésimos percentuais) sobre o valor da energia elétrica produzida pelas concessionárias e autorizadas a explorar os recursos hídricos para geração de energia elétrica, sendo o total a ser pago calculado segundo a fórmula-padrão (ANEEL, 2010):

[2] em que:

CF = valor total a ser pago pela geradora de energia elétrica [R$]; EG = energia produzida no mês [MWh];

TAR = tarifa atualizada de referência, fixada pela ANEEL [R$/MWh]; e 0,0675 = percentual estabelecido em lei.

O Decreto nº 3.739/01definiu o cálculo do valor da energia produzida para a Compensação Financeira e estabeleceu o critério para o cálculo da Tarifa Atualizada de Referência (TAR) para o sistema da compensação financeira. A Tarifa Atualizada de Referência (TAR) é fixada anualmente pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), com base nos preços de venda de energia destinada ao suprimento das concessionárias de serviço público de distribuição de energia elétrica. Para o cálculo do valor da TAR, foram excluídos, ainda, os encargos setoriais vinculados à

atividade de geração, os tributos e empréstimos compulsórios, bem como os custos incorridos na transmissão de energia elétrica. O art. 1º desse Decreto dispõe que o valor total da energia produzida para Compensação Financeira de que trata o art. 1º da Lei nº 8.001/1990 será obtido pelo produto da energia de origem hidráulica efetivamente verificada, medida em megawatt-hora, multiplicada pela Tarifa Atualizada de Referência (TAR), fixada anualmente pela ANEEL e revisada a cada quatro anos. Para 2010, seu valor foi fixado em R$64,69/MWh (ANEEL, 2010).

A Tabela 3 mostra a variação do valor da TAR cobrado desde 2001 até 2010, segundo a ANEEL (2010).

Tabela 3 – Valores da Tarifa Atualizada de Referência (TAR) no período de 2001 a 2010 TAR 2001 Resolução ANEEL nº 583, de 8.12.2000 R$29,40 TAR 2002 Resolução ANEEL nº 583, de 21.12.2001 R$32,58 TAR 2003 Resolução ANEEL nº 797, de 26.12.2002 R$39,43 TAR 2004 Resolução ANEEL nº 647, de 08.12.2003 R$44,20 TAR 2005 Resolução ANEEL nº 285, de 23.12.2004 R$52,67 TAR 2006 Resolução ANEEL nº 192, de 19.12.2005 R$55,94 TAR 2007 Resolução Homologatória ANEEL nº 404, de 12.12.2006 R$57,63 TAR 2008 Resolução Homologatória ANEEL nº 586, de 11.12.2007 R$60,04 TAR 2009 Resolução Homologatória ANEEL nº 753, de 16.12.2008 R$62,33 TAR 2010 Resolução Homologatória ANEEL nº 917, de 08.12.2009 R$64,69

Segundo Silva (2007), atualmente os recursos da Compensação Financeira são distribuídos para 626 municípios, 21 Estados e para o Distrito Federal. Do total de mais de R$ 1,1 bilhão arrecadados, cerca de R$ 880 milhões foram distribuídos para os Estados e municípios. Entre os 21 Estados beneficiários, destacam-se: Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Goiás e Bahia, com os maiores montantes de Compensação Financeira recebidos ao longo dos últimos três anos, sendo essa informação obtida para o ano de 2007. Conforme previsto na Lei n° 7.990/89, quando o reservatório de usina hidrelétrica atingir mais de um Estado ou município, a distribuição dos recursos deverá ser feita na proporção das áreas inundadas. Municípios que não têm suas áreas inundadas por reservatórios, mas abrigam as casas de máquinas das usinas hidrelétricas, recebem também o recurso (ANEEL, 2007). A homologação da parcela a que cada um faz jus, considerando esse preceito, é de competência da ANEEL. Também é competência daquela agência o

gerenciamento dos procedimentos de arrecadação e distribuição dos recursos da Compensação Financeira, conforme estabelecido no Anexo I, artigo 4º, inciso XL, do Decreto no 2.335, de 6 de outubro de 1997.

A bacia hidrográfica do Rio Grande direciona suas águas em seu fluxo normal para o rio Paraná, onde se localiza a Usina Hidrelétrica de Itaipu. Segundo a ANEEL (2005), ocorre assim uma distribuição de royalties de Itaipu.

Na atualidade, royaltie é o termo utilizado para designar a importância paga ao detentor ou proprietário ou um território, recurso natural, produto, marca, patente de produto, processo de produção, ou obra original pelos direitos de exploração, uso, distribuição ou comercialização do referido produto ou tecnologia. Os detentores ou proprietários recebem porcentagens geralmente pré-fixadas das vendas finais ou dos lucros obtidos por aquele que extrai o recurso natural, ou fabrica e comercializa um produto ou tecnologia, assim como o concurso de suas marcas ou dos lucros obtidos com essas operações. O proprietário em questão pode ser uma pessoa física, uma empresa ou o próprio Estado. No Brasil, há diferentes tipos de royalties, pagos ao governo ou à iniciativa privada. Os royalties pagos ao governo, por exemplo, são relativos à extração de recursos naturais minerais, como minérios metálicos ou fósseis, como carvão mineral, petróleo e gás natural, ou pelo uso de recursos naturais como a água, em casos como represamento da água em barragens hidrelétricas. Cada tipo de royaltie oriundo da exploração ou extração de determinados recursos obedece a uma legislação específica, que cobra porcentagens distintas do valor final do produto extraído ou utilizado e distribui essa renda de formas diferentes entre o Governo Federal, os Estados e os Municípios, (WIKIPÉDIA, 2011).

Os governos brasileiro e paraguaio recebem uma compensação financeira, denominada royalties, pela utilização do potencial hidráulico do rio Paraná para a produção de energia elétrica em Itaipu. Os chamados royalties são devidos mensalmente desde que a Itaipu começou a comercializar energia, em março de 1985, conforme o Anexo C do Tratado de Itaipu, assinado em 26 de abril de 1973. No Paraguai, os recursos dos royalties são repassados integralmente ao Ministerio de Hacienda, que já recebeu mais de US$ 3,59 bilhões. No Brasil, o Tesouro Nacional recebeu integralmente os royalties devidos desde o início da comercialização de energia da Itaipu. O repasse de royalties é proporcional à extensão de áreas submersas pelo lago. Desde 1985, a Itaipu pagou ao Brasil mais de US$ 3,88 bilhões em royalties (ITAIPU BINACIONAL, 2011).

Os royalties recolhidos pela Itaipu Binacional, da mesma forma que a Compensação Financeira, são calculados em função da energia mensal gerada pela usina. Esse total, no entanto, não é multiplicado pela TAR e sim por um valor em dólar definido e atualizado, conforme disposto no Tratado de Itaipu. Atualmente, esse valor corresponde a US$ 650/GWh, sendo destinada metade ao Brasil e a outra metade ao Paraguai (ANEEL, 2005).

No Brasil, de acordo com a Lei dos Royalties, a distribuição da compensação financeira é feita da seguinte forma: 45% aos Estados, 45% aos municípios e 10% para órgãos federais (Ministério do Meio Ambiente, Ministério de Minas e Energia, e Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Do percentual de 45% destinado a atender aos municípios, 85% do valor repassado é distribuído proporcionalmente aos municípios lindeiros, ou seja, os diretamente atingidos pelo reservatório da usina. Os 15% restantes são distribuídos entre municípios indiretamente atingidos por reservatórios a montante da usina (ITAIPU BINACIONAL, 2011).

A metodologia proposta também pode ser aplicada para a Usina Hidrelétrica de Itaipu, e os novos valores calculados tanto pela Compensação Financeira pela Utilização dos Recursos Hídricos quanto pelos royalties da Itaipu seriam repassados aos municípios de forma mais justa. Verificou-se que Itaipu reserva, como citado na “Lei dos Royalties”, 15% do valor arrecadado para os municípios, indiretamente atingidos por reservatórios a montante da usina, tendendo já a um repasse aos municípios que contribuem com a vazão que chega até os reservatórios. Este trabalho não teve como objetivo estudar os novos repasses da CFURH, adicionando os royalties vindos da Itaipu para essa bacia específica (Itaipu).