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1. A Farmácia Nuno Barros

2.4.3. Cálculo do preço de venda ao público

O cálculo do PVP obedece ao disposto na Portaria n.º 769/2004, de 1 de Julho. Este valor é calculado com base no valor dos honorários, do material de embalagem e das matérias-primas. O PVP é calculado segundo a seguinte fórmula: PVP = (Valor de honorários + Valor de matérias primas + Valor da embalagem) x 1,3 (Anexo XXI). Este valor é acrescido de IVA à taxa em vigor. Para o cálculo do valor dos honorários utiliza-se o fator F, tratando-se de um valor fixo que atualmente é 4,88 [70]. Para obter o valor de honorários é multiplicado ao fator F um valor que varia consoante a forma farmacêutica e a quantidade preparada, segundo o disposto no anexo da Portaria n.º 769/2004, de 1 de Julho. O valor do material de embalagem é determinado por multiplicação do preço de aquisição pelo fator 1,2 e o valor das matérias-primas por multiplicação do preço de aquisição por um fator que varia consoante a maior das unidades em que estas forem dispensadas ou utilizadas. O valor final é multiplicado pelo fator 1,3 e deduzido o IVA respetivo [71].

Dispensa de medicamentos 2.5.

Assimiladas e compreendidas todas as valências da atividade farmacêutica apresentadas anteriormente, chegou a hora do primeiro contacto com o utente. Numa primeira fase e durante algumas semanas, acompanhei o DT ou o FA durante o seu atendimento, tendo- me sido explicadas todas as funcionalidades que o SI oferece, sendo um excelente auxiliar para uma melhor prestação no atendimento. Durante estas semanas, tive a oportunidade de aprender aspetos fundamentais no contacto com o utente, nomeadamente formas de comunicação, avaliação e prestação de informações e dispensa de MSRM.

2.5.1. Dispensa de medicamentos sujeitos a receita médica 2.5.1.1. Avaliação e prestação de informações ao utente

Após rececionar a receita é essencial a verificação dos parâmetros legais para que esta possa ser válida e para que possam ser dispensados os medicamentos. De seguida, deve o farmacêutico interpretar minuciosamente a terapia prescrita, isto é, verificar se a dose, a posologia e a duração do tratamento são adequados ao utente e à patologia em tratamento. É de igual forma importante avaliar interações medicamentosas relevantes, contraindicações e precauções a ter em conta. Caso se tratem de medicamentos que o utente já toma habitualmente, o farmacêutico deve verificar a existência de reações adversas, a adesão à terapêutica e questionar sobre dúvidas que eventualmente ainda possam existir. Se surgir alguma dúvida aquando da dispensa dos medicamentos, o farmacêutico deve contactar o médico para o seu esclarecimento, uma vez que a saúde do utente e a segurança do tratamento são prioritários. Com a instituição da prescrição

eletrónica de medicamentos por DCI surgiu o Código Nacional para a Prescrição Eletrónica de Medicamentos (CNPEM). O CNPEM, atribuído pelo INFARMED, permite a identificação dos medicamentos, nomeadamente os mais baratos, que cumprem a prescrição médica [72]. Perante estas informações e tendo em conta que o utente tem o direito de opção, deve questionar-se o utente se tem preferência por MG ou medicamento original (de marca). Caso seja medicação e um utente habitual na farmácia, pode consultar-se o histórico de vendas no SI, de forma a dispensar sempre o mesmo laboratório. Recolhidos os medicamentos, deve explicar-se de forma clara e objetiva como tomar os medicamentos prescritos. Podem ser utilizados meios de comunicação alternativos, tais como escrever nas caixas ou esquemas. No caso de dispositivos médicos, deve explicar-se como se utilizam. É de notar que o objetivo do atendimento farmacêutico em situações de MSRM é a dispensa de medicamentos, a prestação de todas as informações relevantes para o seu uso correto e para que o tratamento seja bem-sucedido.

2.5.1.2. Medicamentos genéricos e sistemas de preços de referência Segundo o Estatuto do Medicamento, é considerado medicamento genérico (MG) um medicamento cuja SA, FF, dosagem e indicação terapêutica é a mesma que um medicamento original que serviu de referência. Assim, apresentam a mesma segurança e a mesma eficácia que o medicamento original, justificada pela bioequivalência [56]. O preço, regra geral, marcadamente inferior ao medicamento original é um fator preponderante na opção do utente. Desta forma, o acesso aos medicamentos por parte da população fica facilitado, diminuindo a dispensa pública no setor da saúde. Em 2002, surgiu o Sistema de Preços de Referência (SPR), estabelecido pelo DL n.º 270/2002, de 2 de Dezembro. O SPR é aplicado em medicamentos comparticipados pelo SNS incluídos em grupos homogéneos (GH), conjunto de medicamentos com a mesma composição em substâncias ativas, forma farmacêutica, dosagem e via de administração, no qual se inclua pelo menos um MG existente no mercado [73]. Por sua vez, o preço de referência de cada GH corresponde à média dos cinco preços praticados mais baixos e inseridos no grupo, podendo não corresponder a cinco medicamentos [74]. O valor pago pelo utente corresponde à diferença entre o PVP e o valor pago pelo SNS, isto é, o valor resultante da aplicação da taxa de comparticipação (consoante o regime de comparticipação aplicável) ao preço de referência do GH. Existe a possibilidade de o medicamento ser gratuito para o utente, caso o PVP seja inferior ao valor pago pelo SNS. Estes preços são revistos trimestralmente, o que poderá alterar a comparticipação dos medicamentos. Pude observar a alteração do SPR a 1 de Abril, tendo-me apercebido da alteração do encargo dos medicamentos por parte do utente. Particularmente no caso

dos medicamentos gratuitos para o utente, é importante ressalvar que com a alteração do SPR estes poderão não ser sempre os mesmos dentro do mesmo GH.

2.5.1.3. Sistemas de comparticipação de medicamentos

Os sistemas de comparticipação de medicamentos são determinantes no aumento do acesso aos medicamentos, uma vez que permite uma redução dos encargos por parte do utente. Os escalões de comparticipação de medicamentos são estabelecidos consoante a sua classificação farmacoterapêutica. Desta forma, os medicamentos que se destinam a doenças crónicas ou incapacitantes têm uma maior comparticipação. Por sua vez, a comparticipação do Estado está dependente do pedido do titular da AIM ao Ministro da Saúde. O INFARMED avalia o valor terapêutico acrescentado e a vantagem económica em comparação com os medicamentos já comparticipados [75].

No âmbito do regime geral de comparticipação, o Estado paga uma percentagem do preço dos medicamentos de acordo com a sua classificação farmacoterapêutica. Assim, a comparticipação encontra-se dividida em quatro escalões: escalão A (90%), escalão B (69%), escalão C (37%) e escalão D (15%). Os beneficiários de regime especial de comparticipação são pensionistas cujo rendimento total anual não exceda 14 vezes a retribuição mínima mensal garantida em vigor no ano civil transacto ou 14 vezes o valor do indexante dos apoios sociais em vigor, quando este ultrapassar aquele montante. A comparticipação do Estado no preço dos medicamentos é acrescida de 5% para o escalão A e de 15% para os escalões B, C e D [76, 77]. Para medicamentos utilizados em patologias específicas e por grupos especiais de utentes existem valores de comparticipação especiais, regulamentados por legislação própria (Anexo XXII). É o caso de doenças como o Alzheimer, a psoríase, a paramiloidose, entre outras. A percentagem de comparticipação varia consoante a patologia, os medicamentos (todos ou apenas os comparticipados) e o médico prescritor. Nestes casos, para que possa ser aplicado o regime especial de comparticipação é indispensável que o médico prescritor mencione a legislação aplicável ao medicamento [77].

Durante o meu estágio verifiquei também a existência de utentes que beneficiam de complementaridade, isto é, a comparticipação dos medicamentos é dividida entre diferentes organismos. Estes regimes aplicam-se habitualmente a profissionais de entidades específicas, tais como o Sindicato dos Bancários (SAMS) e a Portugal Telecom – Associação de Cuidados de Saúde (PT-ACS).

2.5.1.4. Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Diabetes

O desenvolvimento de programas de gestão da doença nos diabéticos decorre desde 1998. Até à data, verificou-se uma restruturação do programa nacional de controlo desta

doença, sendo que, atualmente, estão estabelecidos preços máximos de venda ao público para tiras-teste de glicemia, cetonemia e cetonúria, seringas, lancetas e agulhas. Ainda, o SNS comparticipa em 85% as tiras-teste e em 100% as seringas, agulhas e lancetas [78]. Em 2013 foram redefinidos os PMA, fixos pela Portaria n.º 364/2010, de 23 de Junho, tendo-se verificado uma diminuição de 15% no PVP [79].

2.5.1.5. Medicamentos psicotrópicos e estupefacientes

A dispensa de medicamentos psicotrópicos e estupefacientes processa-se de forma peculiar, dada a preocupação crescente com o abuso do consumo destas substâncias e pela margem de segurança estreita que apresentam. O regime jurídico destes medicamentos é definido pelo DL n.º 15/93, de 22 de Janeiro. Estes medicamentos são sempre prescritos isoladamente numa receita médica. O SI, ao verificar que se trata de uma venda de um medicamento psicotrópico ou estupefaciente, obriga ao preenchimento de informações como o médico prescritor, o nome, morada e identificação do utente e do adquirente. Ao finalizar a venda, são impressas duas vias de um documento onde constam os dados preenchidos: uma é anexada à receita e a segunda a uma cópia da receita, que é arquivada na farmácia.

2.5.2. Dispensa de medicamentos não sujeitos a receita médica

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