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Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros versus Lei de

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CAPÍTULO II – O SENSACIONALISMO HOJE

2.1 Conceito de um jornal sensacionalista

2.1.1 Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros versus Lei de

“A verdade é que os limites da liberdade não pertencem apenas à ordem jurídica; são também morais, filosóficos e religiosos” (BELTRÃO, 1960, p. 177).

O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros (2007) é o documento regulador junto aos profissionais de imprensa que expressa compromissos e anseios, assim como deveres e posturas da classe jornalística. Esse código, para cumprir sua função, acompanha as transformações sociais e a cada período é atualizado em sua linguagem e conteúdo. Em relação ao tema desta pesquisa, o Código de Ética enfatiza claramente que “não se pode fazer uso do sensacionalismo dentro da atividade jornalística” (documento online).

O Artigo 11, inciso II, ressalta que “o jornalista não pode divulgar informações de caráter mórbido, sensacionalista ou contrário aos valores humanos, especialmente, em cobertura de crimes e acidentes” (FENAJ, 200713). Ao fazê-lo, comprometem-se a ética do exercício da profissão e o próprio caráter informativo do jornalismo.

O atendimento à ética se choca com um fator apontado por Cremilda Medina (1978

apud MARQUES DE MELO, 2012, p. 221) sobre o fato de a notícia se tornar “mercadoria”,

assumindo o perfil de mais um “produto à venda”. Para Marques de Melo (2003, p. 22 apud MARQUES DE MELO, 2010, p. 47-48), “os processos regulares, contínuos e livres de informação e de opinião sobre a atualidade, como no jornalismo enquanto processo social, só se constituem com a ascensão da burguesia ao poder e a abolição da censura”. Lailton Alves da Costa (2010, p. 45) lembra que Marques de Melo considera ainda que, “devido à censura posterior, o jornalismo de informação é estimulado em detrimento [ao] da opinião”.

São duas vertentes teóricas que alimentam uma oposição. Para aqueles que prezam um jornalismo ético, opinativo, sem atrelamento ao capital, sem concessão aos patrões, o

jornalismo está com os dias contados: “A comunicação jornalística, como fenômeno social próprio das sociedades industriais, pode desaparecer totalmente nos próximos 20 ou 30 anos” (MARTINEZ ALBERTOS, 1988 apud MARQUES DE MELO, 2012, p. 223). Para os que buscam o lucro, o jornal é um bom negócio e a notícia, uma mercadoria a ser vendida diariamente. Marques de Melo pondera sobre tal posicionamento e afirma que “ao invés do declínio do jornalismo, contrariando a previsão negativista de alguns autores, presenciamos um ressurgimento, sob novas modalidades, determinadas pelos novíssimos suportes” (MARQUES DE MELO, 2012, p. 223). Ele enfatiza a necessidade de se retomar o estudo de gêneros jornalísticos:

Como observou apropriadamente Irene Machado (2001), “os meios se diversificaram e tornaram-se mais complexos; os modos de organização das mensagens se transformaram e, consequentemente, novos formatos surgiram”. Por isso mesmo, torna-se evidente a retomada do estudo dos gêneros. Sua pesquisa e sua aprendizagem atendem a uma “necessidade específica: explicitar os modos pelos quais as mensagens se organizam em meio à profusão de códigos, de linguagens e, consequentemente, de mídias” (MARQUES DE MELO, 2012, p. 223).

Diante dessa constatação fica mais fácil entender as mudanças operadas nos institutos que regulam e ordenam as particularidades inerentes ao jornalismo e seu Código de Ética. Para que acompanhem o ritmo da História, os institutos éticos e legais sempre serão atualizados para cumprir sua função social. Luiz Beltrão, em sua obra pioneira Iniciação à

filosofia do jornalismo, citando Rui Antunes, já apontava sérios questionamentos em relação à

Lei n.º2.083, de 12/11/195314 que, em seu exacerbado afã de defender o Estado, criava um absurdo: “Quem ousar denunciar pela imprensa um criminoso, correrá o risco de ser afinal condenado como caluniador; bastando para isso que o processo seja devidamente instaurado

14 FONTE: <http://www.jusbrasil.com.br/topicos/12140507/artigo-9-da-lei-n-2083-de-12-de-novembro-de-

pelo ofendido e que este, nos termos do Art. 12, letra b, não permita a prova da verdade...” (BELTRÃO, 1960, p. 188).

De acordo com Beltrão, desde 1888 os códigos que estabelecem princípios e normas “para os homens que fazem os jornais” vão sendo transformados e ajustados para que se eliminem ou se reduzam “os conflitos com o cidadão”. Mas os governos, de tempos em tempos, interferem nas disciplinas da profissão e geram leis que se tornam, na mais das vezes, empecilhos ou mesmo mordaças para a produção do bom jornalismo. E quando trata explicitamente do sensacionalismo, Beltrão afirma:

Visando, ainda, proteger a honra do indivíduo e a comunidade a que pertence, desde que se pensou em ética jornalística se equacionou o problema da não propaganda do vício e do crime. [...] “Os jornais devem abster-se de fomentar os vícios, estimular o crime e despertar a morbidez das pessoas através das suas informações” (BELTRÃO, 1960, p. 190).

Desde a época do império, o Brasil sempre manteve vigentes várias leis para regular a imprensa, para dificultar a função do jornalismo que quisesse expor verdades contrárias aos desejos dos senhores do poder. Beltrão não defende quem quer que seja. Ele, já naquele momento, denunciava a falta de orientação ética aos futuros jornalistas nos cursos existentes, as leis que apenas defendiam àqueles que estavam no poder, e ao jornalismo praticado em certas oficinas, demonstrando em seus escritos todo o seu desagrado em relação a tal. Suas palavras a seguir mostram claramente sua posição:

Um dos motivos do desapreço em que é tido o jornalismo no Brasil está, exatamente, na falta de conformação do seu exercício às normas da moral comum e da moral profissional. Quando tantos perigos e seduções ameaçam os agentes do jornalismo, desde o abuso do poder, com o cerceamento da liberdade, até a automatização dos espíritos, com o endeusamento da máquina – é para a velha ciência ética, a ciência dos valores morais, que [nós] devemo-nos voltar (BELTRÃO, 1960, p. 199).

Trazendo a discussão para os dias atuais, Márcia Coelho Flausino explica que as notícias, como produto de uma cultura, também passam por fases que identificam o estado de espírito do momento:

O jornalismo, que antes guardava uma aura romântica, hoje perde lugar para uma lógica que não é nem ideológica, política ou ética, mas mercadológica. A notícia é um produto de consumo. Os fatos, ao se tornarem notícia, são embelezados para atrair a atenção do público. [...] O que no passado era uma missão, com toda sua carga ideológica, atualmente é prestação de serviço, cujo principal objetivo é fornecer o que o leitor deseja. [...] A notícia é, assim, transformada numa mercadoria cuja identidade é feita de fórmulas e pesquisas de audiência (FLAUSINO, 2001, p. 105).

Para concluir este item, lembramos que as comunicações, de modo geral, e o jornalismo, em particular, sempre foram “regrados” pelas instituições que estão no poder. Na formação da sociedade brasileira, quando o governo era imperial, quem de fato regia procedimentos e posturas eram a Coroa e a Igreja Católica. De certo modo, ainda hoje a censura da igreja de vez em quando alcança certos segmentos sociais com relação à exibição de imagens, na TV e no cinema, de cenas que representam costumes fora do padrão. Depois, no início da República, por algum tempo ainda, continuou em vigor a lei portuguesa de imprensa de 1821. Somente em 1922 foi escrito um projeto que, depois, foi transformado na Lei n.º 4.743, de 31/12/1923.

Outras leis foram erigidas e revogadas desde então. Hoje, os jornais populares não são alvo dessa gestão de controle, e eles proliferam na medida mesma em que a sociedade se segmenta e se estratifica.

A partir de 1976, os jornais populares começaram a surgir, na esteira de uma ampliação nas conquistas de “liberdades democráticas” (PEDROSO, 2001). Para cada camada, serve um tipo de jornal e um dado nível de sensacionalismo, como veremos no item a seguir.

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