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Os gêneros jornalísticos

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CAPÍTULO I – JORNALISMO E SENSACIONALISMO: PERCURSO

1.1 Conceituando jornalismo e gêneros jornalísticos

1.1.1 Os gêneros jornalísticos

Numa sociedade como a nossa, que ainda exclui do jornalismo vastos contingentes da população, não podemos perder a esperança de construir gêneros e formatos jornalísticos consentâneos com os hábitos e as demandas do mosaico sociocultural que constitui o povo brasileiro (MARQUES DE MELO, 2010, p. 19).

O jornalismo pode ser visto como uma ferramenta da Comunicação Social imprescindível às sociedades, sobretudo nas democráticas, por ser um meio pelo qual todo o cidadão tem o direito de se expressar, de divulgar suas ideias e também de, sem impedimentos, informar-se das ideias alheias, de seus pares e até mesmo de temáticas plurais, tais como saúde, ecologia, tecnologia, arquitetura, política, economia e tantas outras. O jornalismo, portanto, permite ao cidadão participar de forma ativa e democrática na vida política e social de seu meio.

Devemos nos lembrar, contudo, de que os destinos dessa atividade sempre estiveram em conformidade ao seu tempo e sua realidade.

O modo pelo qual se processa a atividade jornalística, pode-se afirmar, será consequência direta dos modos de produção da sociedade onde ela é exercida; e ela se modifica de acordo com os regimes políticos, os modelos econômicos e até mesmo os

segmentos hegemônicos do lugar – país, estado, região, cidade – onde essa atividade é praticada.

Alceu Amoroso Lima, na Introdução de sua obra O jornalismo como gênero literário (1960, p. 11), lembra, já realizando uma reflexão da sua época, que “a imprensa já foi mais poderosa do que hoje. Os meios orais de publicidade – o cinema, o rádio, a televisão – vieram sem dúvida tirar-lhe um pouco de sua considerável importância, como o ‘quarto poder do Estado’”. Mesmo sem a repercussão imediata da palavra oral, a palavra imprensa tem “um poder de permanência e, com isso, de convicção mais profundo do que as palavras que as ondas levam, no mesmo instante em que são pronunciadas”.

Amoroso Lima defendia a posição de que, a partir da emergência dos eventos orais mecânicos, já apontados, com a “evolução dos meios modernos da publicidade”, o jornalismo se liberta de sua condição subalterna de apenas informar e, a cada dia, conquista “foros de verdadeiro gênero literário”. Ele parafraseia Jean Cocteau, afirmando: “Assim como a ‘fotografia libertou a pintura’, o rádio e a televisão libertaram o jornalismo” (1960, p. 12).

Essa discussão de Amoroso Lima, porém, deve ficar aqui apenas como ilustração, já que sua posição na obra citada toma um rumo que o distancia da posição teórico-histórica de Marques de Melo, dada a distância temporal que separa os dois estudos. Marques de Melo, mais recentemente, categoriza os gêneros jornalísticos sem a classificação do um gênero literário, já que ele se inclui em um dos gêneros postulados, como veremos adiante.

Ainda chamado de “quarto poder”, o jornalismo sempre andou de braços com os poderes constituídos que, de modo implícito ou explícito, procuram sempre manter o controle sobre sua produção. Pode-se dizer que, por isso, como num processo de mutação natural, mas necessário, vários modelos e gêneros de jornalismo surgiram, sendo cada um o reflexo do momento e do poder prevalecente na respectiva sociedade de sua produção. Explicando a luta de sobrevivência do jornalismo versus a da propaganda –já que os dois precisam andar juntos

–, segundo Marques de Melo (2010), do ponto de vista histórico, a invenção dos gêneros jornalísticos se deu na Inglaterra, já no início do século XVIII, pondo em ordem o espaço jornalístico, buscando de fato “caminhos de sobrevivência”. Nesse momento, então, emergiram dois gêneros clássicos: o “informativo” e o “opinativo”, promovendo a separação entre o que era notícia (informação) e o que era reportagem (opinião/interpretação).

Essa separação de gêneros continua evoluindo. Dentro do rol de estudos do jornalismo brasileiro, os gêneros jornalísticos já foram divididos em informativo e opinativo (MARQUES DE MELO, 1985); informativo, interpretativo e opinativo (BELTRÃO, 1978); informativo, opinativo, educativo, de entretenimento pelos pesquisadores da área de rádio e TV. Desdobrando suas próprias pesquisas, Marques de Melo (2010) faz uma nova classificação e institui os gêneros informativo, opinativo, interpretativo, diversional e utilitário.

Os gêneros podem servir para estabelecer um diálogo entre o jornal e o leitor. Os gêneros servem ainda para identificar uma determinada intenção, seja de informar, de opinar ou de divertir. Mas é pela exigência dos leitores e do contexto geral que os conteúdos se modificam. Sua organização provém do modo pelo qual as empresas de comunicação editam o conteúdo do jornal.

Marques Melo, a partir desta classificação, reforçada por pesquisa empírica feita por um grupo de alunos e ex-alunos, afirma que:

Os resultados confirmaram as evidências de estudos anteriores, reconhecendo a vigência de formatos que correspondem majoritariamente aos gêneros informativo (nota, notícia, reportagem, entrevista) e utilitário (serviços [classificados, necrológios e outros]), e secundariamente aos gêneros opinativo (editorial, artigo, resenha, coluna, caricatura, carta) e interpretativo (enquete). A tendência dominante nessa cobertura setorial reflete o “tratamento objetivo dado às informações sobre mídia”, referindo- se principalmente aos espetáculos de TV e cinema, “na maioria dos casos sem qualquer reflexão” (MARQUES DE MELO & BOTÃO, 1995 apud MARQUES DE MELO, 2010, p. 28, grifos nossos).

De acordo com Lia Seixas (2010)2, “todas as classificações brasileiras são, essencialmente, funcionalistas, ou seja, consideram a função ou a finalidade como o critério mais importante de separação entre os textos, matérias, enfim, composições discursivas, como sugerimos nomear”. Pode-se levar em conta esta posição de Seixas, já que, segundo Marques de Melo (2010), o gênero informativo continua como presença hegemônica na grande imprensa das capitais brasileiras, o que corrobora a definição de Beltrão (1960) de que o jornalismo é “uma atividade de informação”.

Então, para fechar o círculo virtuoso das posições dos pesquisadores mais atuantes no jornalismo brasileiro, vale trazer uma explicação de Francisco de Assis:3

Essa noção dos gêneros espelha questões históricas relacionadas ao jornalismo. Partindo de perspectiva funcionalista, como insinuado há pouco, a proposta prevê a vigência de cinco classes na imprensa brasileira, sendo duas hegemônicas – gêneros informativo e opinativo, que emergiram nos séculos XVII e XIX – e três complementares – gêneros interpretativo,

diversional e utilitário, característicos do século XX (MARQUES DE

MELO, 2006b). [...] Ademais, também é necessário deixar claro que essas categorias buscam tão-somente sinalizar a principal finalidade dos conteúdos jornalísticos, uma vez que as fronteiras entre informação, opinião, interpretação, diversão e serviço não são extremamente rígidas, a ponto de que um gênero possa ser considerado puro. O próprio Marques de Melo (2003,p. 25) questiona esses limites, concluindo que a distinção entre gêneros é um “artifício” profissional e político, que orienta o trabalho do jornalista e sua relação com o público (ASSIS, 2010, p. 17-18).

Nos fóruns permanentes que tem criado, no intuito de manter viva a discussão da evolução do jornalismo no Brasil, Marques de Melo tem estado atento ao debate dos gêneros e acolhe os jovens pesquisadores que, oriundos da área dos estudos da linguagem, buscam novas definições para classificações de gêneros, incluindo teorias e definições de autores como Amoroso Lima, Mikhail Bakhtin, Antonio Gramsci, Antônio Olinto e outros.

2 Trabalho apresentado no VIII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (Universidade Federal do

Maranhão, São Luís), novembro de 2010.

Para cumprir os objetivos deste estudo, adotaremos os conceitos de Marques de Melo, quando ele afirma que, no jornalismo, os dois gêneros que permanecem vigentes na divisão básica estão contemplados nas categorias de “opinião” e “informação” (MARQUES DE MELO, 2010, p. 35).

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