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Cúpula Mundial para o desenvolvimento sustentável Johanesburgo

5. CONFERÊNCIAS DA ONU SOBRE O MEIO AMBIENTE

5.3. Cúpula Mundial para o desenvolvimento sustentável Johanesburgo

Na Conferência do Rio de Janeiro, foi acordada a criação da Comissão de Desenvolvimento Sustentável, que teria como função, o monitoramento da implementação da Agenda 21. Essa Comissão acabou por promover um avanço no sistema de parcerias entre as ONGs e as Nações Unidas, e estimulou a criação de comissões de desenvolvimento sustentável e definição de estratégias nacionais para esse desenvolvimento em vários países.

Em 2000, a Comissão de Desenvolvimento Sustentável sugeriu a realização de uma nova cúpula mundial, desta vez para tratar especificamente do assunto 'desenvolvimento sustentável'. E neste mesmo ano, a ONU resolveu realizá-la, e seria em Johanesburgo, na África do Sul, no ano de 2002. Ficou decido também que teria, essa Comissão, a incumbência de organizar a Cúpula e coordenar uma ampla revisão dos progressos alcançados na implementação da Agenda 21 desde a sua aprovação.

É preciso fazer uma pequena observação de que, em 1997, em Nova York, aconteceu a então denominada Rio + 5, que pretendeu fazer uma primeira avaliação sobre a efetiva implementação das decisões tomadas no Rio de Janeiro. Descobriu-se, na época, que os resultados foram modestos, já que havia decorrido pouco tempo da implementação até aquele ano para que tivessem ocorrido mudanças do comportamento.

Encerradas as reuniões preparatória oficiais para a Rio + 10 – denominação popular dada à Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Sustentável – o principal documento oriundo das rodadas de negociação diplomática foi o texto preparado pelo Presidente da Conferência, que foi um esboço do Plano de Ação, o qual busca consolidar as propostas e interesses desse diversificado grupo de atores que compõem a ONU. Contudo, esse documento possuía inúmeros pontos de divergência na linguagem diplomática, e alguns deles deveriam ser objeto de exaustiva negociações durante a realização da Cúpula. Ao fim do processo, esperava-se que a Conferência de Joahanesburgo produzisse três documentos: uma declaração política que expresse novos compromissos e os rumos para a implementação do desenvolvimento sustentável; um plano de ação que venha a guiar a implementação dos compromissos pelos governos; e uma compilação não-negociada de novos compromissos e iniciativas em parceria para ações específicas e de âmbito regional ou nacional.

A Rio + 10 deveria, ainda, incluir uma avaliação de como os países haviam desenvolvido apropriadamente suas estratégias nacionais de sustentabilidade, se eles haviam ratificado os acordos e convenções relativos ao desenvolvimento sustentável e os obstáculos enfrentados nesse processo. Além disso, a Conferência teria que identificar os novos fatores que haviam modificado a situação do planeta naqueles dez anos, e as correções de curso que

deveriam ser feitas em direção ao desenvolvimento sustentável. Desta forma, a Cúpula deveria fortalecer o compromisso de todas as partes com acordos já aprovados e identificar as novas prioridades que emergiram desde 1992.

Cabe ressaltar que a Cúpula foi realizada em um momento pouco favorável para reuniões de cunho ambiental. Dessa forma, o encontro não correspondeu ao que era necessário para encarar de verdade as imensos desafios de sustentabilidade e assumir as responsabilidades do presente com relação ao futuro.

Ficou claro a sobreposição do comércio, deixando-se em segundo plano questões sociais e ambientais durante a Cúpula, como pode ser visto em uma tentativa de submeter qualquer acordo ambiental multilateral às regras da OMC, mas que foi vetada posteriormente. Ficou possível acordos entre empresas, autoridades públicas e setores da sociedade civil, que acaba sendo um risco de que os governos abdiquem de suas responsabilidades e deixem às empresas o maior controle dos processos de desenvolvimento.

Neste cenário, a Declaração política passou por fases delicadas, pois seu esboço era muito geral e vago, e não satisfazia nenhum dos lados – países industrializados e transnacionais, de um lado; e países em desenvolvimento e ONGs, de outro. O bloqueio foi tão grande, que chegou a ser cogitado a possibilidade de não fazê-la. O texto aprovado no último momento confirmou o sentimento de muitos, de que existia uma desproporção total entre as declarações e as práticas. A Declaração proclama o grande otimismo e a determinação irrestrita dos chefes de Estado de encarar os problemas ambientais, sociais e econômicos da sustentabilidade e de alcançar os objetivos sociais do milênio. Contudo, não se estabeleceu o plano de ação, com os objetivos concretos e as metas quantitativas, com prazos e meios definidos, com procedimentos de implementação e de controle.

Contudo, a Declaração teve alguns pontos positivos, como um apelo à responsabilidade das empresas, confirmando o papel da ONU e os benefícios do multilateralismo como método do futuro.

Além da Declaração, alguns pontos merecem destaque, por serem compromissos específicos assumidos e por não cederem às tentativas de reverter os avanços do passado, sendo pontos positivos da Cúpula: reduzir até a metade o número de pessoas no mundo sem acesso a saneamento básico, até 2015; estabelecimento de áreas de proteção dos recursos marinhos; a maioria doa países ainda mostrou disposição para estabelecer normas internacionais vinculando as grandes empresas a respeitar alguns padrões mínimos globais na área ambiental; e criou condições para que a Rússia e o Canadá anunciassem a ratificação do Protocolo de Quioto sobre as mudança climática.

Pelo exposto, a Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Sustentável confirmou o crescente papel da OMC na definição das políticas internacionais e ficou perceptível que dali em diante que o livre comércio seria considerado como a cura para todos os males, não só para os problemas da pobreza, mas também às ameaças de destruição ambiental. O que houve foi mais uma imposição das regras pelos mais fortes – aqui, pode-se enumerar os EUA e a Comunidade Européia – ao invés de negociações. Além disso, o vago conceito de desenvolvimento sustentável não foi superado, ou seja, a Cúpula não conseguiu concretizar o seu principal objetivo.

Sendo assim, fica claro que, metodologicamente, as grandes celebrações com assuntos abrangentes possuem limites, e encontros menores focalizados em uma determinada matéria podem suscitar maior interesse e participação responsável dos seus componentes. E já é tempo de distinguir melhor os múltiplos desafios, buscar e encontrar soluções concretas para cada um deles, e da conscientização da responsabilidade comum de todos os países e de todos os atores internacionais.