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O papel das ONGs no desenvolvimento do Direito internacional do meio

3. DIREITO INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE

3.6. O papel das ONGs no desenvolvimento do Direito internacional do meio

As organizações não-governamentais têm contribuído de maneira significativa para o desenvolvimento do Direito ecológico internacional. Vários são os exemplos da atuação das ONGs em diversas frentes e de diferentes maneiras e que vêm tendo um papel decisivo no sentido de desenvolver e aperfeiçoar as normas de proteção ambiental. Muitas vezes, são essas organizações que provocam as discussões e mesmo lideram o processo de elaboração das convenções internacionais.

Diversos tipos de organizações podem ser definidos como ONGs. Neste trabalho, irá se considerar como sendo associações ou fundações – pessoas coletivas sem fim lucrativo – criadas por iniciativa privada ou mista, cujo objetivo é o de influenciar ou corrigir a atuação dos sujeitos de Direito internacional, especialmente os Estados soberanos e as organizações intergovernamentais. Assim senso, estas devem ser associações voluntárias e independentes, formadas por indivíduos que atuam juntos e continuamente, com objetivos comuns que não sejam a obtenção de lucro, a prática de atividades ilegais ou alcançar postos no governo.

Nos anos 60, vê-se um proliferação de associações para a defesa do meio ambiente, que unidas estabeleceram programas de ação conjuntos, tornando-se mais influentes nas oposições a políticas desastradas e atividades de poderosas empresas.

Atualmente, na prática, seja por iniciativa própria, seja por delegação dos Estados, as ONGs têm revolucionado as relações internacionais, podendo agir como opositores diretos

aos Estados ou ainda como executores de programas e de atividades específicas de organizações intergovernamentais ou instituídos em tratados e convenções multilaterais30.

É importante salientar que as ONGs têm uma liberdade de ação que é negada às organizações intergovernamentais, cuja liberdade de ação é cerceada pelas políticas dos Estados-membros. Por isso as ONGs podem propor posições mais avançadas do que as que podem resultar de uma conferência intergovernamental.

No Direito internacional do meio ambiente, as ONGs têm oferecido efetiva contribuição expressiva em direção à proteção ambiental. Algumas delas chegam mesmo a receber funções internacionais, como é o caso da União Internacional para a Conservação da Natureza e seus Recursos - IUCN , que exerce as funções de Secretariado da Convenção Ramsar de 1971m relativa a Zonas Úmidas de Importância Internacional.; e desde 1972, a IUCN tem assento no Comitê do Patrimônio Mundial da UNESCO.

Algumas outras ONGs também merecem destaque, visto que trazem grandes benefícios para o Direito internacional do meio ambiente. Como por exemplo World Wildlife

Foundation – WWF – que exerce atividades de suma importância em estreita cooperação com

a IUCN, e que se concentram no financiamento de operações de conservação do meio ambiente, em qualquer parte do mundo, com recursos advindos de doações de governos e entidades privadas. Outra ONG é a Wetlands International, que é uma das principais organizações globais sem fins lucrativos, dedicada exclusivamente ao trabalho de conservação e manejo sustentável das zonas úmidas.

O Greenpeace é uma ONG que tem atuação relevante, em especial pela oposição aberta e agressiva que tem contra as ações que prejudicam o meio ambiente, trazendo às questões ambientais a essencial exposição aos meios de informação e contribuindo, assim, de forma contundente, para a sensibilização das opinião pública internacional.

Uma ONG demasiadamente importante pelo seu trabalho inovador e que trabalha para implementar democraticamente a norma internacional, é o Enviromental Law Alliance

Worldwide – E-LAW – destaca-se por sua atuação, pois é uma ONG que utiliza correio

eletrônico para proporcionar pesquisas e apoio a advogados e outras ONGs através do mundo. Sendo assim, ela fornece informação a advogados estrangeiros que trabalham com o interesse público, e utilizando essa ferramenta eletrônica, advogados e ONGs podem também participar de encontros e discussões, trocando informações sem sair de seus países.

30SOARES, Guido Fernando Silva. As ONGs e o direito internacional do meio ambiente. Revista de Direito Ambiental, São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 5, n° 17, p. 21-64, jan./mar. 2000.

Friends of the Earth é uma rede internacional de ONGs, com ramificações em

70 países, que originalmente foi fundada por quatro organizações provenientes da França, Suécia, Inglaterra e EUA. Essa rede cresce anualmente e a partir de encontros anuais de ambientalistas de diferentes países, que concordam em trabalhar juntos, em torno de assuntos diversificados, como energia nuclear e caça às baleias, entre outros.

Entre as ONGs do mundo jurídico, há ainda as que atuam para o desenvolvimento científico do Direito internacional. Cabe mencionar aqui duas delas: Institut de Droit

International; e a International Law Association – ILA. Estas entidades possuem prestigiada

atuação em todas as áreas do Direito internacional, particularmente devido às suas decisões coletivas, adotadas por ocasião de congressos científicos internacionais, e que têm sido consideradas como fonte doutrinária de tal Direito e especificamente do Direito internacional do meio ambiente.

Como pode ser observado, a contribuição das ONGs em matéria ambiental se faz nos mais variados campos de atuação humana, de maneira extremamente variada e eficaz. De acordo com a doutrinadora Márcia Leão, as ONGs, junto com os movimentos sociais, são hoje os atores potencialmente mais capazes de romper com a lógica individualista e predatória, de modo a enfrentar e resistir à ação deletéria do mercado internacional e que compromete de modo tão ameaçador a possibilidade de sobrevivência do ser humano no Planeta31. E é através desses espaços abertos pelas ONGs que se tem a possibilidade de promover a articulação entre as forças da sociedade civil, as empresas e os governos.

4. OBRIGAÇÕES E RESPONSABILIDADES NO DIREITO INTERNACIONAL DO