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“Os tempos mudavam, no devagar

depressa dos tempos”. (João Guimarães

Rosa 1962).

Para nós, sobre o Piauí oitocentista reinava um horizonte, o do rio Parnaíba. Até então ele existia em estado latente. Nele pulsava a dicotomia de um rio repousado no seu canal. Era linha divisória entre os limites dos dois estados, Piauí e Maranhão. A separação se fazia/faz em curvas e ondas que marcavam/marcam e demarcavam/demarcam as duas margens. Mas não vão além, pois se esbarravam na frieza do espaço. O vento, sim, este percorria e revolvia a face das duas margens e devassava o espaço. Mas no ré da linha d’água não havia intimidade. Particularmente, uma linha d’água que dividia mundos. E, na linha d’água assistia-se impassível ao espetáculo da luta comandada apenas pelo sol e pelo vento. Visto assim, guarda harmonia com a paisagem. Queria rasgar-lhe água e fazer os meus próprios caminhos. Ouvir de longe seus rumores, seus murmúrios. Mas, sinto quebrar essa imagem, de invadir esse quadro, cuja moldura se confunde com o próprio horizonte. Aqui precisamos sentir a paisagem. Por que ele assim é tão somente uma apresentação geral. Esta perspectiva demanda esclarecer o que fez do rio Parnaíba uma estrada líquida fluída. Sabemos que a maior parte de suas características gerais se fundamentam num contexto, do qual a navegação a vapor e a transferência da capital são reflexos. As relações comerciais estão a formular e a determinar este horizonte. O rio Parnaíba tomou ar comercial. Em seu fluxo atiraram os navios a vapor que faziam o tráfego local entre as comunidades beiradeiras englobando as trocas entre portos vizinhos e setores do vale. Ultrapassavam seu curso e se obrigavam sobre o exterior, integrando as relações comerciais do rio com o mundo. Neste vai e vem, marcou uma especialização, o das cidades-beira. Pareceu ligar tudo no tempo e no espaço. Tudo impregnado do rio que corre, do rio que passa. É um lento escoar que marca e remarca ainda o seu tempo. Nesta perspectiva, faz-se necessário analisar os mecanismos do tráfego e do processo que o legitimou como rio de integração comercial com vocação internacional.

2.1 - EM BUSCA DO PRÓSPERO: transferir a capital e/ou implantar navegação a vapor?

Em fins do período colonial, os presidentes da Província volveram o olhar para a região beira-rio Parnaíba, ora demonstrando profundo desejo em implantar navegação a vapor no rio Parnaíba ora desejosos em transferir a capital para um local que melhor

servisse à Província no escoamento de suas riquezas e nos contatos com as colônias vizinhas. Tratava-se de um movimento eminentemente político havendo grupos que pleiteavam o melhoramento das estradas e a implantação da navegação a vapor no rio Parnaíba e outros que defendiam a mudança da capital como meio para levar aquela Província à prosperidade. Estes acreditavam que só a transferência da capital viabilizaria a prosperidade da Província, inclusive produziria, por sua conseqüência, a navegação a vapor no rio Parnaíba, enquanto que aqueles, muitas vezes, alegavam inexeqüibilidade e/ou dispêndios em relação à mudança da capital.

De uma forma ou de outra, a idéia de mudança da capital, prevalecia e dominava as opiniões que apresentavam as inconveniências de sua permanência em Oeiras e as vantagens que colheria a Província com a sede do governo à beira-rio Parnaíba. Argumentavam sobre os inconvenientes de uma Província marcada por distâncias consideráveis somado às dificuldades de transportes para escoamento das riquezas e a localização da capital Oeiras situada distante dos grandes rios. Instalada num local de difícil acesso, situada fora da zona ativa de comunicação não podia ser integrada como zona de exploração agrícola, nem servir de mercado ou de centro comercial de redistribuição. Não apresentava, então, condições de desempenhar um papel ativo como pólo de desenvolvimento do estado. Seu “isolamento” físico trazia dúvidas até mesmo quanto sua eficácia puramente administrativa. Para alcançá-la era preciso enfrentar péssimos caminhos percorridos a cavalo e/ou a pé, conseqüentemente a cidade sentia os efeitos. Situada em ponto eqüidistante do território piauiense e embora fosse o centro das decisões político- administrativas não apresentava condições sociais necessárias de um centro urbano. Conseqüências sociais pela ausência de interligação do imenso território também eram evidentes. Alegações91 das mais diversas eram manifestadas tanto pelos governos

91 Na Fala do primeiro governador, João Pereira Caldas, lê-se, “Campo Maior é mais capaz de ser cidade, que

esta de Oeiras, que fica numa cafurna”... E na Fala do ouvidor Antônio Maria de Morais Durão, “A cidade de Mocha, com 157 fogos e 692 almas, não tem relógio, casa de câmara, cadeia, açougue, ferreiro ou outra oficina pública. Serve de Câmara uma casa de barro e sobre o que corre litígio. A cadeia é coisa indigníssima, sendo necessário estarem os presos em troncos e ferros, para segurança. As casas da cidade, todas são térreas até o próprio palácio do governo. Tem uma rua inteira, outra de uma só face, e metade de outra. Tudo mais são nomes supostos; o de cidade, verdadeiramente, só goza o nome”. (Mott, 1985, p.48). Já João da Maia Gama registra no seu Diário da Viagem: “falta de tudo, ainda que hoje se acham todas as drogas e cousas comestíveis do Reino, mas com preços caros por virem do Maranhão em cargas já delas carregados com duzentos e trezentos por cento de abono pelo dinheiro do Maranhão”. Francisco Xavier Machado em “Memória Relativa à Capitania do Piauí e Maranhão”, escrita em 1810, diz: “é esta cidade verdadeiramente uma pequena aldeia, sem forma, sem ordem...”. Já Franco enfatiza, “os primeiros governos coloniais pouco se demoravam na capital, e muito menos se faziam como delegados de El-Rei respeitados ou ouvidos pelos colonizadores donos de fazendas e currais, tudo era distância”. (FRANCO, s/d, p.38). E os viajantes Spix e Martius disseram, “Oeiras, em civilização e riqueza, é inferior à Vila de Parnaíba que, por sua situação na costa e pelo

provinciais como por viajantes e mesmo pela própria sociedade piauiense desde que a capitania do Piauí, ainda, vivia sob a jurisdição do Maranhão. No entanto, sabemos que quando se fez a primeira organização política da Capitania de São José do Piauhy preferiu- se o lugar denominado Mocha para abrigar a capital por ser ali o centro da Província. Vale lembrar, as povoações que hoje se vêem ao norte da Província e, particularmente as da beira-rio Parnaíba não existiam, para que se aventasse a idéia de um centro administrativo em distância igual para os diversos pontos administrados. Segundo José Patrício Franco,

A providência mais perseguida pelos governos provinciais foi a mudança da capital (Oeiras) para a margem do rio Parnaíba, embora a primeira mudança de 1797 (João de Amorim Caldas) tenha sido para a cidade de Parnaíba, pela antevisão do seu progresso e de seu desenvolvimento, por ser litorânea. (FRANCO, 1961, p.40)

Do que pudemos verificar nos documentos oficiais a idéia de mudança da capital foi cogitada, talvez, pela primeira vez, em 1793, quando propôs ao rei sua mudança para as margens do rio Parnaíba.92 Dom João de Amorim Pereira em 1798, também propôs a mudança da capital, que por sua vez, sugeria sua transferência para a vila de Parnaíba ou para uma recente povoação situada na embocadura do rio Poti.93 Sobre tal possibilidade D. Rodrigo de Sousa Coutinho94, fez longas ponderações e enfatizou a importância da instalação da capital à beira do rio Parnaíba lamentando a localidade da capital Oeiras e sugerindo sua mudança para vila de São João da Parnaíba. Enfatizou a possibilidade da efetivação do comércio e dos transportes em seu leito comparando-o com o rio Itapecuru no Maranhão. Mais tarde, no inicio do século XIX, no governo da Junta Provisória (1812), reaparece a idéia de mudança para a cidade de Parnaíba e, em 1816, na administração do governador Baltazar de Sousa Botelho de Vasconcelos sendo a mesma cidade o local escolhido. Nos anos seguintes quer nas câmaras constituintes, quer na assembléia geral do Rio de Janeiro, ainda se tratou do assunto, preferindo a cidade de Parnaíba para assento da

considerável comércio de algodão, fumo, couros, sebo e carne salgada, de todas as povoações da província floresce mais e mais.” (SPIX E MARTIUS: 1976, p.218)

92 Proposta feita pelo Governador e Capitão-Mor das Capitanias do Maranhão e Piauí, Dom Fernando Antônio

de Noronha

93 Assumiu em 12.12.1797 o Governo da Capitania do Piauí. A povoação Poti mencionada, no oficio de

08.04.1798, surgira em meados do século XVIII. Em 1797 seus moradores deram inicio à construção de uma capela sob a invocação de Nossa Senhora do Amparo, a qual passou a servir de Igreja Matriz, em virtude a criação de sua paróquia pela Lei provincial nº15 de 15.09.1827. O Conselho Geral da Província, em reunião do dia 30.01.1830, solicitou à Regência do Império a criação da Vila Poti. Atendendo ao requerimento a Regência baixou o Decreto de 06.07.1833 criando a vila e município do Poti. As constantes inundações do local ocasionaram a insalubridade da vila impondo sua transferência para um local de maior habitabilidade. O Conselho Geral da Província reconhecendo a conveniência aprovou a Lei nº. 140 de 29.10.1842 autorizando sua transferência para um local mais próprio à saúde e segurança de seus habitantes. Contudo ali permaneceu por nove anos consecutivos, até 20.10.1851 quando o Presidente da Província José Antônio Saraiva realizou a sua mudança.

nova capital do Piauí. A idéia de mudança da capital foi novamente ventilada e abertamente prestigiada pelas influências políticas do norte da Província com o declínio político do Visconde de Parnaíba, residente em Oeiras. O presidente que o substituiu, José Idelfonso de Sousa Ramos, proclamando a impraticabilidade de continuar a capital da Província, em Oeiras, fez votar e sancionar a Lei nº. 174 de 27.08.1844 que autorizava a mudança da capital para a margem do rio Parnaíba, escolhendo o local da confluência do riacho Mulato para recebê-la, ficando a nova cidade com o nome de Regeneração.

Zacarias de Góes e Vasconcelos (1845-1847) manifestou-se contra a execução das leis do seu antecessor, embora concordasse com a transferência e reconhecesse justas as razões tantas vezes apontadas, discordava do lugar escolhido. Para ele a capital devia estar em local salubre, aprazível, fértil, abundante de água e que oferecesse vantagens nas comunicações com toda a Província, principalmente com os pontos de seu maior comércio, assim como, das Províncias vizinhas. No relatório de 01.08.1845 enumerou os elementos próprios de uma capital e concluiu negando que Oeiras os possuísse, ao menos em parte. Contudo impugnou a mudança para a foz do riacho Mulato, alegando a incompatibilidade do lugar escolhido e os dispêndios em relação à mudança da capital.95 Enfatizou que “só estrada de ferro ou navegação a vapor pelo rio Parnaíba seria meio eficaz de trazer a todo o Piauí imensas vantagens”.96 Preconizou indicando à Câmara alguns passos para promover a navegação do rio Parnaíba e substancializou a importância da mudança capital.

1º - A mudança da Capital da Província para a maior proximidade possível do dito rio em local mais adequado e vantajoso para que a sua população, as relações, o comércio e luxo necessariamente darão grande empenho a navegação e a facilidade desta promoverá o aumento da cidade e assim reciprocamente... ( Relatório de 01.08.1845. Arquivo Público do Piauí) grifos nosso

Destarte a lei nº. 191 de 30.08.1845 autorizou-o a empregar os meios adequados para a mudança imediata da capital, passando as repartições públicas para São Gonçalo,

95 ...este lugar é completamente deserto e foi escolhido somente pelas supostas vantagens da situação. [...]

tenho dado a razão porque não foi aquela lei executada por meu antecessor, não há de ser por mim, nem também, segundo todas as probabilidades pelos meus sucessores. Construir todos os edifícios necessários ao serviço, erguer de repente uma cidade inteira, é empresa possível a um homem de gênio, que disponha de inumeráveis braços e de uma riqueza imensa, mas é perfeita quimera para o governo constitucional de uma província pobre. (Relatório de 01.08.1845. Zacarias de Góes e Vasconcelos Arquivo Público do Piauí) grifos nossos

96 Ibid, nota 95. Na parte dirigida à Assembléia Legislativa fala à Câmara de Campo Maior pedindo

melhoramentos para a estrada de Caxias, aconselha a construção de pontes e profetiza sobre a navegação... não chegamos ainda ao ponto de empregar o vapor nos transportes terrestres; portanto guardemos silencioso desejo acerca desse tão importante melhoramento que deve ser com bastante antecedência precedido dos outros. O único rio que há neste município navegável em toda estação é o Parnaíba, esperança de engrandecimento futuro do Piauí. Houve já na Província um pequeno principio de navegação, mas essa desapareceu com a revolta extinta, a Balaiada, e ainda não reviveu.

hoje Regeneração, às margens do rio Parnaíba onde deviam permanecer até a edificação da nova capital. Mas, esta lei também não foi executada. Conforme Franco,

... o governador da Província sentiu que o vale do Parnaíba oferecia melhores perspectivas para que se mudasse a capital para o centro ou norte do Piauí. Algumas cidades, como Amarante, Poti e Parnaíba foram cogitadas chegando as idéias a se converter em leis que não teve execução. (FRANCO, 1961, p.78)

Seu sucessor, o Presidente Marcos Antonio de Macedo (1847-1848), em documento dirigido ao primeiro ministro do Gabinete, defendia a implantação da navegação alegando inexequibilidade e/ou dispêndios em relação à transferência da capital.

...não havendo outro meio mais adequado para tirar esta Província do atraso em que se acha, e fazê-la chegar ao estado de prosperidade e adiantamento de que é suscetível pela riqueza que encerra, do que dando-se impulso à navegação do imenso rio Parnaíba... [...] Muito se tem falado em um plano de mudança da Capital, mas pelo que vou observando, parece-me inexeqüível, ou pelo menos muito dispendioso do que a navegação que traz além de tudo outras vantagens mais imediatas. (Ofício de 02.11.1847).

Já Anselmo Francisco Perete (1848-1849) ao assumir o governo da Província relatou ao Ministério do Império “que era do mais alto interesse a navegação do Parnaíba não só para o Piauí como ainda para as províncias limítrofes, o Maranhão e o Ceará...” (Ofício nº. 209 de 09.03.1849). No entanto, uma terceira Lei, datada de 23.08.1849, foi sancionada por este Presidente autorizando que se fizesse a mudança da capital não mais para a foz do riacho Mulato, mas para o local destinado à nova sede do município do Poti. E a Resolução Provincial nº. 255 de 05.08.1850 sancionada pelo Presidente Inácio Francisco Saraiva da Mata, anulou todas as leis votadas até aquela data sobre a transferência da capital.

O Presidente José Antônio Saraiva97 deixou entrever, a princípio, ser mais rentável despender com a navegação em vez de se fazerem gastos improdutivos em melhoramentos nas estradas da Bahia e do Maranhão98, mas logo em seguida fez opção pela mudança da capital, afirmando que a mesma haveria de produzir a navegação.

97 SARAIVA op.cit 1850, nota 45

98 Ibid. [...] ... a navegação do rio importa a confecção de todas as estradas da Província... até gora tenho

ouvido em toda parte falar-se da necessidade do melhoramento da estrada de Caxias e da Bahia, como a condução única de fazer progredir o Piauí. No corpo legislativo esse pensamento se tem apresentado com a expressão da maior necessidade da Província, e eu mesmo assim o pensava pelas mesmas razões... Hoje cedendo a essa opinião, quisesse gastar centenas de contos de réis naquelas estradas... era isso um dispêndio sem proveito real para a Província. [...] A opinião que deixei de acompanhar tinha por base a impossibilidade na navegação, em grande escala, do Parnaíba, e o benefício da Capital. Esse benefício se traduzia no dos habitantes de Oeiras que com boas estradas pode, viver comodamente. E para que V. Excia se convença disso basta que lhe pondere... o Piauí não exportaria por tais estradas senão gado e, em boa fé... para trânsito de bois, uma estrada de carro, a única que poderia trazer algum proveito. Ora, o gasto excessivo com pontes imensas e o mais para uma estrada de carro não poderia ser jamais justificado pela pequena importação... Objeto de luxo para o serviço dos habitantes da Capital, e o de uma outra vila deste lado da Província. Vê, portanto V. Excia que tais estradas só poderão fazer... quando o País tivesse dinheiro que lhe chegasse para melhorar a sorte de todos os seus habitantes sem atender ao proveito industrial e comercial do emprego de tais dinheiros. E isso

Quanto a mim, a mudança da capital para o Poti há de produzir a navegação em grande escala no rio Parnaíba; há de dar a Província um importante porto comercial; e há de possuir uma civilização grande, porque há de ter riqueza e há de ficar ligada por aquela navegação a todos os municípios da Província e a todos os grandes centros de civilização do Império. (Relatório de 01.07.1850)

Contudo este governante considerava de incalculável vantagem a exploração do rio Parnaíba, e dedicou uma boa parte deste relatório à navegabilidade do rio Parnaíba alegando “porque foi ele que mais me moveu a ir ao Poti e profetizou “... este rio que parece destinado a mudar a face da Província”. Explicou que “só a cidade de Parnaíba e a Vila do Poti dele se servem com a navegação pequena que existe, por se acharem colocadas em suas margens”. Relacionou os municípios que se aproveitariam e os que não aproveitariam dessa navegação e preconizou o surgimento de novas povoações à beira do rio. Enfatizou que, “indiretamente, porém, toda a Província ganharia”. Por fim formulou as prioridades da sua administração de acordo com as idéias que havia emitido. “Proteger, sobretudo as povoações da margem do Parnaíba, mudar para si as que puderem ser mudadas e preparar o terreno para que meus sucessores possam realizar um dia a mudança da capital, tão fértil em bons resultados para a Província e o Império”.99

Como se vê, desde a colônia surgia propostas capazes de resolver as aflições e os inconvenientes da província do Piauí, fosse por meio da implantação da navegação a vapor, fosse pela transferência da capital. Sabemos que, posteriormente, um e outro se efetivaram num espaço dado a organizar e à coexistência de interesses diferentes, divergentes, talvez. Podemos, inclusive, associar sua existência aos planos do império sob a ordem do rei100. Mas, seja como for, a implantação da navegação a vapor no rio Parnaíba exigia mudanças históricas no contexto sócio-espacial do estado. Isso representou ato decisivo nas decisões políticas feita pelo presidente Jose Antônio Saraiva que optou em promover a mudança da capital, afirmando que a mesma haveria de produzir a navegação do rio Parnaíba. Neste sentido, espaço e tempo se juntariam para traçar as grandes linhas de

supondo o Parnaíba inavegável. Se pensarmos, porém, diversamente, ninguém haverá então que devesse deixar de censurar justamente aquela administração que fosse gastar contos de réis com tais estradas, em vez de as despender com o melhoramento da navegação.

99 Relatório de 20.12.1850. De José Antônio Saraiva ao Conselheiro do estado Visconde de Monte Alegre,

Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império.

100 Na medida em que se consolida o ‘poder pessoal’ do Imperador, depois de 1840, sobretudo a partir do

Conselho de Estado, revigorados os laços de dependência das províncias extremas com o centro, principalmente graças ao deslocamento do poder decisório para o novo eixo de gravidade econômica do país, começa a tarefa centralizadora, cai o Visconde da Parnaíba, vindo o representante do centro no instante mesmo em que o Governo tende a valer-se do comércio externo. Daí porque a navegação fluvial e marítima, o problema do porto tornar-se-iam temas centrais, e se pensa decisivamente na mudança da capital. SANTANA, Monteiro R.N. Perspectiva Histórica do Piauí. Teresina: Ed. Cultura, 1965, p. 30)

uma nova configuração espacial. Antecedemo-nos em dizer que a transferência da capital foi significativa para a história sóciopolítico e econômica da província do Piauí. Provocou transformações socio-espaciais no estado como um todo, uma vez que mudou o eixo das relações sociais e econômicas situadas no interior e no sul do estado para o norte à beira-rio Parnaíba. Em uma palavra, o Piauí sob os auspícios do Presidente José Antonio Saraiva,101

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