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4.3 CONFLITOSONFLITOS SÃOSÃO RESOLVIDOSRESOLVIDOS

A ATITUDE APROPRIADA PODE RESOLVER CONFLITOS A ATITUDE APROPRIADA PODE RESOLVER CONFLITOS

Mais e mais os alunos começaram a gostar de experimentar diferentes possibilidades para a solução de conflitos.

Para resolver conflitos menores, sugeri que deveriam verificar quão efetivo seria curvar-se levemente e dizer: “Eu sinto muito”. Eles próprios reconheceram que apenas dizer: “Oh, me desculpe” não era suficiente, especialmente porque colocava o inocente na posição de ter que remover a culpa do culpado. Uma vez um aluno disse: “Isso é atribuir a culpa duplamente!”

A experiência de usar tais ações simbólicas no seu cotidiano “normal” foi tocante para as crianças. Inicialmente, pensaram que só se conseguia fazer isso na classe porque tínhamos experimentado isso e jogado o jogo jogo da da famílfamília.ia. Mas então perceberam que realmente só bastava uma reverência corporal e uma sentença curta para ser muito efetivo, especialmente se fosse acompanhado por um sincero: “Eu gostaria de compensar”. Economizavam com isso, perante os pais, professores e também amigos, longas justificativas, explicações e afirmações. Assim começaram a praticar e relatar o que tinham experimentado.

As crianças ficavam muito orgulhosas quando conseguiam restaurar o equilíbrio em suas relações com esse gesto calmo e respeitoso e essa frase curta. E notara que só funcionava quando a intenção é genuína.

Sempre que surgia uma situação assim na sala, clamavam: “Curve-se!” ou um se levantava por si mesmo, curvava-se e agradecia com essa postura.

Isso tinha dois efeitos: na postura do ritual atuava o agradecimento e era permitido mostrar os próprios sentimentos de vergonha e embaraço, assim como de qualquer resistência existente. Existia uma solução possível, um sentimento de alívio emocional e alegria quando o ato de curvar-se tinha êxito. As emoções pesadas desapareciam automaticamente.

A ATRASOSTRASOS

Também quando um aluno se atrasava muito, fazia uso da postura que todos tínhamos praticado.

O aluno vinha até minha mesa, curvava-se levemente e dizia “Eu sinto muito”. Algumas vezes ríamos porque não era verdade. Mas assim o gelo já tinha sido

quebrado e juntos tentávamos achar uma frase que fosse mais apropriada, tal como: “Chegar na hora hoje não foi importante para mim” ou “É melhor dar uma desculpa agora, pois realmente ainda não sinto muito”. As crianças amavam esse “ainda não” quando sentiam que tinham de mudar, mas sua atitude interna não estava de acordo. A frase continha ambas as coisas, a atitude que gostariam de alcançar e a sua verdade no momento. Do ABC da hipnoterapia, sabemos que quando dizemos “ainda não”, isso logo se torna sem efeito.

Um

UmCONFLITOCONFLITO ÉÉ REPRESENTADOREPRESENTADO COMCOM AA AJUDAAJUDA DEDE REPRESENTANTES REPRESENTANTES

Embora nas turmas treinadas sistemicamente os alunos lidassem mais cuidadosamente uns com os outros do que em outras classes, ainda tínhamos conflitos suficientes que nos arrasavam, atrapalhavam as aulas e requeria soluções rápidas.

As crianças por si mesmas descobriram que representantes que não soubesse nada do conflito poderiam ser escolhidos e constelados pelos dois adversários. Através desse procedimento, as outras crianças estavam muito mais focadas na solução possível, uma energia que de outro modo seria gasta em descrições pormenorizadas do incidente e no irritante partidarismo à procura de um culpado. Entretanto, todos agora olhavam para a solução e viam se os representantes estavam próximos ou distantes um do outro, em ângulo ou face a face. Nós todos estávamos acostumados a esperar até que essa grande tranquilidade chegasse. Em uma ocasião, um garoto chutou uma menina de outra classe e a irmã da menina, que era de nossa turma, bateu nele e ele saiu sangrando.

Normalmente, nesse ponto, aconteceria uma grande discussão, envolvendo a turma inteira, opiniões seriam formadas, mais informação de testemunhas oculares seria buscada, de tal forma que em pouco tempo o conflito seria expandido a uma questão de tais proporções que não dava nem para pensar no prosseguimento do trabalho.

Dessa vez, entretanto, os briguentos escolheram um menino e uma menina como representantes e colocaram-nos um frente ao outro. Os representantes

não nos deram a impressão de que tivessem muito um contra o outro. Então o garoto disse que não tinha nada contra a menina, exceto que sua irmã o tinha irritado frequentemente. Nesse ponto, coloquei na constelação uma representante para essa irmã, que era de outra turma. Subitamente a dinâmica se desenvolveu. A menina que foi posicionada, disse que achava o garoto estúpido e que adorava aborrecê-lo. O representante do garoto foi para cima dela, levantando a mão

como se quisesse bater nela. Eu me aproximei para garantir que isso não acontecesse. O garoto disse que agora realmente estava com raiva da outra menina. E foi assim que a briga começou. A representante da irmã caminhou para o meio dos dois e disse: “Eu defenderei minha irmã, quer ela esteja certa ou não”. Aqui a solidariedade familiar venceu a justiça geral.

Nós tínhamos encenado de novo o conflito, sem saber os detalhes exatos da situação srcinal.

Isso tudo ocorreu num clima de tanta atenção que um profundo silêncio desce sobre a sala-de-aula. Então perguntei a cada um o que deveríamos fazer. A representante da garota da outra sala disse ao garoto “Eu sinto muito”. Ela se inclinou levemente para ele. Então o garoto estendeu sua mão a ela, e reconciliação. Ela apertou a mão dele e ficou feliz. A menina que tinha batido no menino foi até ele e disse: “Eu sinto muito. Minha irmã me levou a fazer isso”. Eu sugeri à menina que o garoto deveria desejar algo dela, de tal forma que ele pudesse ver o quanto ela sentira pelo que aconteceu. O garoto assentiu. Ele ainda estava sentindo dores. Depois da próxima pausa estava um docinho em sua carteira. O conflito havia sido resolvido.

A pergunta que sempre vinha era se deveríamos trazer os alunos da outra turma e envolvê-los na resolução do conflito. Num caso simples assim, não era necessário. A menina foi capaz de expressar-se sem a ajuda de sua irmã. No dia seguinte, ela nos contou que sua irmã tinha admitido que tinha sido injusta com o menino.

Dos muitos conflitos que resolvemos dessa maneira, os alunos por si sós reconheceram que, além de uma atitude clara de querer reparar, em alguns poucos casos ainda algo tinha que ser feito. A reconstrução exata sem palavras acalma a turma. Cada um sabe que atitude a parte “culpada” precisa ter e que tipos de reparação são apropriados. Isso era como uma força efetiva secreta na consciência de todas as crianças, que acalmava as ondas emocionais em um curto espaço de tempo.

IINOCENTEMENTENOCENTEMENTE CULPADOCULPADO

Uma vez, um garoto da turma passou uma rasteira em outro menino de um modo infeliz. A vítima caiu sobre um grande balde, quebrando sua rótula e precisou ser levado ao hospital, operado e engessado. Esse caso foi muito claro. Nós falamos sobre o que fazer quando causamos algo a outra pessoa que vai muito além de nossas intenções srcinais. Era óbvio que o garoto que tinha passado a rasteira no

outro estava se sentindo miserável. Eu disse que talvez ocorresse a ele algo que demandasse tanto tempo e envolvimento que o garoto engessado ia sentir a sua necessidade de reparação e, com isso, a sua culpa involuntária seria compensada. Pedi à turma que não desse nenhuma sugestão, mas que deixasse que isso fosse coisa dele.

Todos os dias depois da escola, por 12 dias, esse garoto ia ao hospital e levava para o “azarado” o dever de casa. Ele mesmo tinha tido essa ideia, e seus pais permitiram as viagens, embora as famílias não se dessem muito bem; como as crianças contaram mais tarde. Mais tarde o conflito entre as duas famílias també terminou, e as duas mães começaram a falar uma com a outra novamente. "V

"VOCÊOCÊ ÉÉ UUMM DEDE NNÓSÓS!"!"

É natural que existam crianças que são muito inquietas e que sempre se comportam mal. Elas não se adaptam à turma ou escola somente com a orientação para a solução. Quando é demais para seus colegas de turma, todos os professores sabem, essas crianças são colocadas no pelourinho ou, como era o caso em nossa escola, na cadeira quentecadeira quente ou a classe exigia punição. E també acontece que professores até trazem suas preocupações com essas crianças difíceis nas reuniões do corpo docente.

Eu queria evitar ambas as soluções, na medida do possível, pois com isso o aluno fica de certa forma estigmatizado.

Uma vez, tinha um aluno que sabia perturbar as aulas de ética e de alemão. Ele chutava a canela de seus companheiros e exigia que as meninas lhe pagasse “taxa de proteção”, o que significava que recebia dinheiro para não incomodá-las em seu caminho de casa. Ele raramente fazia seu dever de casa, e apesar de se grande talento, não tinha um bom desempenho escolar. Logo foi ficando demais para todos nós. Tinha acabado de me decidir a chamar seu pai, quando os porta- vozes da turma vieram até mim e exigiram que o garoto deveria ser colocado na cadeira quente

cadeira quente para que pudessem dizer a ele como ele os tinha provocado e ofendido. Além disso, ele deveria devolver a grande soma de dinheiro. Eu pedi aos porta-vozes da turma que tivessem mais um dia de paciência e pensei: “O garoto não vai se permitir ser colocado na cadeira quente —cadeira quente — ou ele a atira pela

anela ou até foge”.

No dia seguinte, o garoto veio até minha mesa choramingando. Ele soube da intenção da turma e me pediu ajuda. Seu medo da “cadeira quente” era grande. Subitamente reconheci a dinâmica na qual o garoto expressava o seu sentimento

básico, que era de não pertencer, se colocando para fora do grupo através de se comportamento.

Disse espontaneamente a ele que tinha uma comunicação a fazer a ele, assi como a todas as outras crianças, a todos a mesma. As crianças não sabiam nada ainda sobre o conteúdo da comunicação.

Eu comecei a falar para ele, alto, e pronunciando bem determinadamente: “Rainer, você é um de nós”. Um por um, fileira por fileira, todos os 22 alunos repetiram esta sentença. A sala-de-aula ficou em absoluto silêncio. Nós já estávamos familiarizados com esse silêncio, que aparecia quando algo se tornava real. Rainer chorou e se sentou calmo em seu lugar, pela primeira vez, acho, voluntariamente e sem admoestação. Não falamos mais sobre isso e todas as crianças sabiam que o efeito teria de vir por si mesmo. O garoto aproveitou a oportunidade, mudou seu comportamento e pagou o dinheiro de volta. Após apenas umas poucas semanas, ele havia se integrado à turma.