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CAPÍTULO 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES

6.1 C ONSIDERAÇÕES F INAIS

No que concerne aos objetivos desta pesquisa, que tratou da questão da acreditação hospitalar e de sua relação com as operadoras privadas de planos de assistência à saúde, pôde- se chegar a alguns resultados, que serão apresentados a seguir.

Em relação à forma de utilização do certificado de acreditação pelas operadoras de planos de saúde, no momento de credenciamento de um hospital, pôde-se constatar que além de não utilizarem o certificado de acreditação no momento do credenciamento, 40% dos entrevistados sequer conhecem a palavra ‘acreditação’. Acresce dizer que, em todas as operadoras pesquisadas, assim como o certificado de acreditação, nenhum outro certificado de qualidade é requisito fundamental para o credenciamento de instituições de saúde.

Apesar da curta existência do Programa, considerando que a acreditação do primeiro hospital brasileiro ocorreu em 2001, era esperado que os profissionais responsáveis pelo credenciamento de hospitais tivessem conhecimento a respeito do assunto, tendo em vista ser esse um programa de qualidade que visa, dentre outras coisas, suprir as operadoras de planos

de saúde com informações fidedignas a respeito da qualidade dos hospitais. Como é do conhecimento de todos, é mister para a sociedade a existência de hospitais com qualidade, credenciados pelas operadoras de planos de saúde.

No que se refere às principais razões que levam as operadoras de planos de saúde à não utilização do certificado de acreditação no momento do credenciamento de um hospital, pôde-se notar que não existe um grande interesse com a qualidade dos hospitais a serem credenciados, mas sim com os aspectos burocráticos e aqueles relacionados aos custos.

É relevante ressaltar, como um fato preocupante, a falta de conhecimento dos profissionais responsáveis pelo credenciamento de hospitais nos planos de saúde em relação ao Programa Brasileiro de Acreditação Hospitalar, e até mesmo em relação ao termo ‘acreditação’. Isso pode advir do fato da qualidade não ser quesito fundamental no credenciamento de um hospital. Vale mencionar que, no site de cada uma dessas operadoras, é destacada a quantidade de hospitais, clínicas e laboratórios credenciados, mas poucas menções são feitas em relação à qualidade dessas instituições.

A pesquisa objetivava, também, colher sugestões e críticas por parte das operadoras de planos de saúde a respeito do PBAH, para possibilitar um aprimoramento deste. No entanto, como foi constatado que as operadoras não utilizam e sequer conhecem o Programa, tal objetivo não pôde ser atingido.

Certamente, é anseio de toda a sociedade que os hospitais ofereçam bons padrões de atendimento. E o PBAH tem como objetivo melhorar a qualidade das instituições prestadoras

de serviços de saúde, de forma continuada, oferecendo evidências para a sociedade de que as instituições acreditadas prestam serviços de qualidade.

Como comentado em uma das entrevistas, o certificado de acreditação não era observado por haver poucos hospitais acreditados. A generalização de tal pensamento poderia levar a um círculo vicioso, uma vez que as operadoras não solicitam por haver poucos hospitais acreditados, e os hospitais não aderem ao PBAH por ninguém requisitar o certificado de acreditação.

Segundo Camargo (2000), o Brasil não tem tradição em avaliação, porém, a avaliação é fundamental tanto para os hospitais públicos, quanto para os privados, e esse processo deve ser suficientemente divulgado para que os cidadãos saibam onde podem receber um bom atendimento.

Ao comparar brevemente o programa de acreditação norte-americano com o brasileiro, percebe-se que nos Estados Unidos, além de o conceito estar amplamente disseminado, a acreditação hospitalar é exigida pelas agências governamentais e por empresas de seguro saúde para o credenciamento de hospitais (Barbosa, 1995). Já no Brasil, apesar dos esforços da ONA e do Ministério da Saúde para a divulgação do Programa de Acreditação Brasileiro, este conceito ainda não é bem conhecido (Cordeiro, 2000). Dessa forma, se não houver uma divulgação em massa a respeito do PBAH, a sociedade em geral não tomará conhecimento dessa poderosa ferramenta que é o certificado de acreditação, largamente utilizado em vários outros países.

No que tange ao papel da ANS, pôde-se notar que a Agência exerce um controle basicamente quantitativo e superficial em relação ao credenciamento dos hospitais nas operadoras. Como especificado na legislação, a ANS deveria fixar procedimentos de credenciamento e descredenciamento a fim de controlar, dentre outras coisas, a qualidade dos hospitais credenciados pelas operadoras. Porém, o observado é que ela apenas controla o número de hospitais, e não a sua qualidade. Dessa forma, as operadoras ficam livres para credenciar e descredenciar usando os critérios que julgarem mais pertinentes, enquanto que a ANS não cumpre um dos seus papéis primordiais.

Considerando o PBAH um Programa criado pelo Governo e sendo a ANS uma Agência reguladora vinculada ao Ministério da Saúde, o PBAH seria melhor aproveitado se a ANS começasse a persuadir as operadoras a cobrar o certificado de acreditação dos hospitais credenciados.

Mesmo sendo o caráter voluntário uma das características principais da acreditação, se não existir uma pressão suficiente da sociedade, provavelmente, poucos hospitais irão aderir ao Programa.

Duas conclusões podem ser retiradas a partir do estudo realizado. A primeira delas é relacionada à falta de conhecimento a respeito do PBAH, o que demonstra que não houve uma divulgação ampla a respeito do mesmo. A outra está ligada à questão da qualidade dos hospitais credenciados pelas operadoras, uma vez que não é um dos critérios de credenciamento a posse de certificados de qualidade. Sendo assim, cabe questionar os critérios de credenciamento utilizados, uma vez que estes não levam em consideração os programas de qualidade existentes. O público estaria melhor respaldado frente a existência de

um instrumento do porte do certificado de acreditação como um pré-requisito para o credenciamento de hospitais pelas operadoras de planos de saúde.

Apesar de ser evidente a necessidade de se primar pela qualidade, os responsáveis pelo credenciamento de hospitais nas operadoras de planos de saúde ainda não despertaram para essa necessidade.

Segundo Malik (1992:40), “[...] a administração da qualidade em saúde implica em mudança na cultura do setor. Como qualquer mudança de cultura, seu horizonte de tempo é o longo prazo”.

Dessa forma, resta saber quanto tempo levará para que a qualidade em serviços de saúde venha a se tornar aspecto fundamental da administração e da sociedade.

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