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Uma vez que as infecções por Cryptosporidium spp. têm início após a ingestão de oocistos, o controlo da transmissão da criptosporidiose só poderá fazer-se através de medidas que limitem ou eliminem a presença de oocistos no ambiente e que impeçam a sua dispersão, a fim de evitar ou de reduzir o seu contacto com hospedeiros susceptíveis. Este é, no entanto, um objectivo difícil de atingir, dada a ubiquidade destes parasitas e a sua enorme resistência, não só a condições de “stress” ambiental, como à maioria dos desinfectantes e anti-sépticos normalmente utilizados [Fayer et al., 1997].

A água contaminada constitui uma das principais vias de transmissão deste protozoário. Os métodos físicos e químicos, geralmente utilizados no tratamento da água, como a coagulação, a floculação, a sedimentação, a filtração e o tratamento químico não são eficazes na remoção e na inactivação de oocistos de Cryptosporidium spp.. A remoção física dos oocistos presentes na água torna-se difícil, dado que as suas dimensões são cerca de um terço inferiores à do tamanho dos orifícios dos filtros convencionais, utilizados no tratamento da água (que são eficazes na remoção de quistos de amebas e de Giardia sp.). Os oocistos são, ainda, resistentes aos desinfectantes vulgarmente utilizados no tratamento da água de abastecimento e de recreio, como o cloro ou a monocloramina, mesmo em elevadas concentrações e após exposições prolongadas. Vários estudos têm sido efectuados no sentido de encontrar desinfectantes alternativos eficazes na eliminação destes parasitas da água. Entre os compostos que suscitaram resultados mais promissores, encontram-se o dióxido de cloro, a amónia e o óxido de etileno. No entanto, a toxicidade apresentada pelos dois últimos constitui um entrave à sua utilização. O ozono e a irradiação com luz ultra violeta têm sido alvo de extensa investigação nos últimos anos, sendo os resultados obtidos bastante promissoras [Rose

et al., 2002; Carey et al., 2004; Fayer, 2004; Rochelle et al., 2005].

A temperatura é um factor que influencia a sobrevivência dos oocistos. Estes possuem a capacidade de sobreviver na água, incluindo na do mar, a temperaturas entre 4ºC e 22ºC. O aumento da temperatura diminui a viabilidade e a capacidade infectante dos oocistos devido à desnaturação das proteínas da parede e à exposição dos esporozoítos a condições às quais não sobrevivem [Carey et al., 2004]. Estudos efectuados com oocistos, em solução aquosa desionizada, mostraram que estes mantêm a capacidade de produzir infecção em ratinhos

durante seis meses, quando conservados a 0ºC, 5ºC, 10ºC, 15ºC e 20ºC. Quando armazenados a 25ºC e 30ºC, o tempo durante o qual se mantêm infecciosos diminui para três meses [Fayer, 2004]. Tamburrini et al. (1999), observaram que oocistos mantidos em água salgada artificial, no escuro, sob oxigenação moderada e a uma temperatura de 6 a 8ºC mantêm a sua capacidade infectante durante 12 meses. Robertson et al. (1992), mostraram que a congelação rápida em solução aquosa a –70ºC é letal para todos os oocistos. No entanto, quando congelados a –22ºC, 10% dos oocistos permanece viável por um período de seis dias. Outros autores descreveram que oocistos armazenados a 5ºC e –10ºC mantêm a sua capacidade infectante até sete dias, diminuindo esse tempo para 24 e cinco horas, quando congelados, respectivamente, a –15ºC e a –20ºC [Fayer e Nerad, 1996]. Estes dados demonstram a resistência dos oocistos a baixas temperaturas e a possibilidade de permanecerem viáveis, por exemplo, em cubos de gelo.

Os oocistos são muito sensíveis à dessecação, perdendo a sua viabilidade após quatro horas de exposição ao ar, numa lâmina, à temperatura ambiente [Robertson et al., 1992].

Experiências realizadas em diferentes tipos de solo mostraram a perda significativa de viabilidade dos oocistos, após alguns ciclos de congelação-descongelação, sendo o tempo durante o qual os oocistos estão sujeitos à congelação um factor determinante para que tal aconteça. Em solos secos, a inactivação dos oocistos ocorre mais rapidamente do que em solos húmidos. Em condições de temperatura idênticas, a perda de viabilidade dos oocistos no solo acontece mais depressa do que na água, sugerindo que outros factores, para além da temperatura, possam estar envolvidos no processo [Kato et al., 2002].

A extraordinária robustez apresentada pelos oocistos de Cryptosporidium spp. acima descrita, torna difícil a concretização eficaz do controlo da transmissão da criptosporidiose. Perante tais dificuldades, a adopção de medidas de prevenção adequadas constitui o primeiro passo no sentido de evitar o contacto do Homem com estes parasitas. Como as consequências da infecção podem ser particularmente graves em imunodeficientes, esta população deverá ter cuidados especiais para prevenir uma eventual infecção.

Entre algumas das medidas recomendadas, com o objectivo de prevenir a criptosporidiose humana, destacam-se as seguintes [Carey et al., 2004; Centers for Disease Control and Prevention, 2004; Hlavsa et al., 2005]:

i) Adoptar boas práticas de higiene – lavar as mãos depois de ir à casa de banho, depois de mudar fraldas a crianças, antes de preparar alimentos e antes de comer. As pessoas com

diarreia devem, ainda, proteger os outros de uma possível infecção, inibindo-se de utilizar piscinas e locais públicos com água de recreio.

ii) Evitar o contacto com água que possa estar contaminada – não engolir água de recreio, não beber água de poços, de rios, de lagos e de fontes não tratada e não beber água ou gelo em países onde a qualidade da água de abastecimento seja duvidosa. Em caso de dúvida quanto à sua qualidade, a água deverá ser fervida antes de consumida.

iii) Evitar ingerir alimentos contaminados – lavar bem ou tirar a casca à fruta e aos legumes e evitar comer alimentos crus, em países onde o tratamento da água é deficiente.

iv) Evitar o contacto com ruminantes domésticos, especialmente vitelos e cordeiros. v) Evitar práticas sexuais que envolvam o contacto fecal-oral.

Nas instituições de saúde, infantários e centros de dia, para além da adopção de rigorosos hábitos de higiene, o modo mais eficaz de prevenir a transmissão da infecção consiste na criação de áreas restritas para os doentes infectados, evitando o seu contacto com outras pessoas susceptíveis [Keusch et al., 1995; Carey et al., 2004].

A diminuição da contaminação ambiental constitui, igualmente, uma importante medida de prevenção, podendo ser conseguida através da redução da transmissão da infecção entre animais. Nas explorações pecuárias é essencial um bom maneio higio-sanitário das instalações, separar os animais jovens dos adultos, reduzir a densidade de animais num mesmo espaço, isolar os animais doentes, impedir o acesso dos animais a zonas próximas de cursos de água e tratar o estrume dos animais (secagem pelo calor, compostagem), antes da sua utilização como fertilizante do solo [Duffy e Moriarty, 2003; Ramirez et al., 2004].