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N. º DE CASOS DE CRIPTOSPORIDIOSE (% CASOS 0-4 ANOS) PAÍS

9.2 A C RIPTOSPORIDIOSE N OUTROS A NIMAIS

9.2.1 G ADO D OMÉSTICO

A criptosporidiose é uma doença com prevalência elevada em gado bovino, particularmente em vitelos. A infecção naturalmente adquirida é mais frequente cerca das duas semanas de idade, embora se encontre descrita, também, em vitelos a partir dos três dias de vida. A sintomatologia mais severa é observada em animais não desmamados e inclui diarreia, desidratação, febre, apatia e dor abdominal. A excreção de oocistos é elevada, podendo exceder os 107 oocistos por grama de fezes, continuando, mesmo, após a cessação dos sintomas. Embora em percentagens inferiores às encontradas em recém-nascidos, a eliminação de oocistos, por vitelos desmamados e animais adultos, tem sido observada, com alguma frequência, ainda que sem evidência de diarreia [Casemore et al., 1997; Fayer et al., 1997; Graaf et al., 1999].

Na Bélgica, de acordo com dados do “Veterinary and Agrochemical Research Centre”, entre 1992 e 1993, 39,6% dos vitelos com diarreia encontravam-se infectados por

Cryptosporidium spp. [Graaf et al., 1999]. Num estudo efectuado numa exploração pecuária, no Reino Unido, entre 1992 e 1997, foi observada uma prevalência de criptosporidiose de 3,5%

(26/736) em animais adultos e de 52% (191/367) em vitelos [Sturdee et al., 2003]. Numa exploração leiteira na Holanda, 39,1% (18/46) dos vitelos, entre a primeira e a quarta semanas de idade, evidenciavam infecção por C. parvum [Huetink et al., 2001]. Em Portugal, Pereira da Fonseca et al. (2001) observaram, em algumas explorações pecuárias no Alentejo e no Ribatejo, uma prevalência global da criptosporidiose, em gado bovino até aos quatro anos de idade, de 23,3% (129/553); nos vitelos entre uma e quatro semanas de vida, esse valor foi de 43% (70/163). Numa outra investigação, em diversas quintas na Província da Galiza, em Espanha, a percentagem de infecção por Cryptosporidium spp. em vitelos, com idade inferior a três semanas, foi de 47,9% (404/844) [Castro-Hermida et al., 2002]. No Canadá, Olson et al. (1997a) observaram, em vitelos, entre a segunda e a quarta semanas de vida, uma percentagem de criptosporidiose de 46,7% (21/45), baixando esse valor para 15,3% (59/386), ao ser considerada a totalidade dos animais estudados (0 aos 6 meses).

As possíveis fontes de infecção, para os vitelos, são oocistos excretados por outros vitelos ou por animais adultos. Sendo a altura do parto aquela em que as vacas excretam maior número de oocistos, este é o principal modo de infecção dos recém-nascidos. A infecção é facilmente transmitida entre os animais, principalmente, quando a densidade populacional nos estábulos é elevada [Casemore et al., 1997; Fayer et al., 1997; Graaf et al., 1999].

A criptosporidiose é considerada como uma das enteropatias mais frequentes em vitelos, durante as primeiras semanas de vida, sendo responsável por consideráveis perdas económicas, devido à diminuição da taxa de crescimento dos animais, à necessidade de administração de fármacos e soluções de electrólitos e à exigência de medidas de higiene especiais [Graaf et al., 1999].

Embora a sua prevalência não se encontre tão bem documentada como no gado bovino, os parasitas do género Cryptosporidium spp. são, do mesmo modo, considerados importantes agentes de diarreia neonatal, em ovinos e caprinos. Os aspectos clínicos da criptosporidiose ovina e caprina são semelhantes aos já descritos para os bovinos, sendo os animais adultos, maioritariamente, assintomáticos [Casemore et al., 1997; Fayer et al., 1997; Graaf et al., 1999]. Um estudo efectuado no Reino Unido mostrou que 12,9% (33/255) dos cordeiros e 6,4% (16/250) das ovelhas apresentavam infecção por Cryptosporidium spp. [Sturdee et al., 2003]. Em Espanha, numa investigação realizada em 89 quintas na Província de Saragoça, sobre a criptosporidiose em gado ovino, foi observada a prevalência de 59% (344/583), em cordeiros até aos três meses. O maior pico de infecção verificou-se entre o primeiro e o décimo quarto dias de vida,

altura em que 73,4% (204/278) dos animais se encontrava a eliminar oocistos [Causapé et al., 2002]. Outros autores identificaram, na mesma região, mas em gado caprino, oocistos de

Cryptosporidium spp. em 34,9% (58/166) dos cabritos entre os três e os 25 dias de vida,

enquanto que, somente, 8,7% (8/92) das cabras se encontravam parasitadas [Quilez et al., 2001]. Os animais adultos têm o papel de portadores assintomáticos, eliminando oocistos para o ambiente. Essa excreção aumenta no período periparto, contribuindo para a manutenção da infecção, durante as épocas do parto. As perdas económicas, associadas à criptosporidiose nestes animais, resultam, não só da mortalidade, que é superior à verificada em vitelos, como do atraso no crescimento e dos custos relacionados com a assistência veterinária [Fayer et al., 1997; Graaf et al., 1999].

A infecção por Cryptosporidium spp. em suínos tem sido descrita esporadicamente em várias regiões geográficas. Ao contrário do que acontece nos ruminantes, a infecção é, maioritariamente, assintomática, facto que contribui para que seja alvo de menos investigação [Casemore et al., 1997; Graaf et al., 1999]. Como a criptosporidiose não é considerada um problema grave de diarreia neonatal em suínos, o número de estudos epidemiológicos documentados é escasso, daí o desconhecimento existente, em muitos países, sobre a infecção nestes animais. Alguns trabalhos efectuados na Coreia do Sul e no Japão dão conta de prevalências de criptosporidiose suína de 10,5% (62/589) e de 33,2% (77/232), respectivamente [Izumiyama et

al., 2001; Yu e Seo, 2004]. Dada a pouca informação existente sobre a infecção nestes animais,

desconhece-se qual a sua contribuição para a contaminação ambiental e infecção humana [Ramirez et al., 2004].

Parasitas do género Cryptosporidium têm, também, sido associados a infecções em aves domésticas, nomeadamente galinhas, perus, patos, gansos, pavões, faisões e codornizes existindo, contudo, poucos estudos que dêem conta da prevalência desta infecção nestes animais. Dependendo das espécies, a criptosporidiose nas aves pode ser entérica ou respiratória e inicia-se após a ingestão ou a inalação de oocistos. A espécie C. meleagridis infecta o tracto intestinal causando diarreia, desidratação e perda de peso, enquanto que C.

baileyi infecta o aparelho respiratório, provocando tosse, espirros e falta de ar. De modo

semelhante ao que acontece nos mamíferos, também as aves mais jovens são mais susceptíveis à infecção do que as adultas. As perdas económicas associadas à doença nestes animais prendem-se com o seu fraco crescimento e a elevada mortalidade [Graaf et al., 1999; Ramirez et al., 2004].