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3. A ÁREA DE ESTUDO

3.4 Caça, pesca e coleta

Como já se fez referência anteriormente, boa parte da população do Planalto de Angónia é de camponeses do setor familiar que praticam a agricultura de subsistência. Porém, uma parte significativa continua a dedicar boa parte do seu tempo, principalmente no tempo seco e fresco, à caça, pesca e à coleta de frutos, tubérculos e folhas silvestres no ambiente natural das áreas próximas de onde vive.

No sudoeste da Bacia Hidrográfica do Rio Lifidzi, ainda é possível encontrar comunidades inteiras isoladas umas das outras que possuem arcos, flechas, mocas

(chibonga), armadinhas, cães tratados para a caça, etc. As flechas são tratadas com venenos extraídas de diferentes plantas tais como: Boophane disticha, Strychnos pungens, Prunus

africanus, Myrianthus holstii etc. As seguintes espécies de animais são muito apreciadas: perdiz, pássaro secretário, lebre, porco do mato, porco-espinho, ratazana, rato de cana-de- açúcar etc. As intensas caçadas e as queimadas sucessivas do mato reduziram drasticamente o número de espécies selvagens (STEFANESCO et al.,1982).

A pesca é uma prática comum e determinadas famílias são especializadas neste tipo de atividade. Existem muito métodos de pesca: i) armadilhas de folhas de palmeira ou galhos de salgueiro que são colocados dentro do curso d’água para capturar os peixes; ii) uso de rede de pesca, feitas de folhas de diferentes espécies de árvores como, por exemplo:

Borassus aethiopum, Phoenix reclinata, Rafia farinifera, Sansevieria longiflora, Aloê spp. etc ou a partir de ramos de diferentes espécies de árvores, como por exemplo, Brachystegia

spp, Julbernardia globiflora, Crotalaria juncea, Dichrostachys cinérea, Bauhinia thonningii etc. As fibras ou cordas, primeiramente são fervidas em água com pedaços de madeira de Acacia spp, Terminalia stenostachya, Bridelia micranta, Bauhinia petersiana,

Brachystegia boehmii, Pterocarpus angolensis, Lennea discolor, Euclea spp, Ficus spp., para depois construir a rede. Este exercício é para fortificar as cordas e evitar que outros tipos de animais possam violentar e danificar a rede. A madeira de Erythrina abyssinica é utilizada para fazer flutuar a rede, enquanto que a madeira de Albizia antunesiana é para matar o peixe. As frutas de Antidesma venosum servem como iscas para pescar. As lanças também são utilizadas para pescar. As lanças são feitas de colmo de bambu local, como por exemplo, Oxythenanthera abyssinica (STEFANESCO et al.,1982; MOURIK et al., 1982).

O envenenamento da água é muito frequente e é responsável pela eliminação de peixes em muitos cursos d’água no Planalto de Angónia. O veneno provém principalmente, de troncos, tubérculos, raízes, sementes, mesmo de folhas de árvores e arbustos como

Strychnos spinosa (frutos e raízes), Mundulea sericea (raízes, galhos e sementes),

Neorautanenimites (tubérculo), Burkea africana (galhos e frutas), Albizia versicolor (raízes), Guidea kranssiana, Tephrosia vogelii, Sphenostylis marginata (tubérculo), Cassia

didymobotria (folhas, frutas e tronco) etc. (STEFANESCO et al.,1982; MOURIK et al., 1982).

Angónia, mesmo em períodos de fartura, em termos de cereais, tubérculos e outros tipos de alimentos. A atividade é praticada, principalmente, por mulheres e crianças. Os frutos de seguintes árvores e arbustos locais são normalmente coletados em quase todo o planalto:

Annona, Parinari, Lannea, Rhus, Cussonia, Pappea, Vitex, Diospyros, Antidesma, Bridelia, Psoudelachnostylis, Ricinodendron, Uapaca, Allophilus, Carissa, Flacourtia, Garcinia, Bauhinia, Ekebergia, Ozoroa, Turraea, Fucus, Syzygium, Ximena, Borassus, Ziziphus, Solanum, Rubus, Grewia etc.

As mulheres e crianças também coletam folhas para cozinha, como caril, para acompanhar a massa do cereal de milho de diferentes tipos de herbáceas e arbusto tais como: Acacia, Afzelia, Albizia, Cassia, Aerva, Amaranthus, Bidens, Cleome, Commelina,

Crassocephalum, Crotalaria, Dolichos, Dalbergia, Glycine, Hibiscus, Polygonum, Pseudarthria, Rummex, Sesamum, Sphenostylis, Tacca, Triumfetta, Vigna, Zornia

(STEFANESCO et al.,1982; MOURIK et al., 1982).

Também são coletadas e consumidas raízes de diferentes tipos de arbustos e herbáceas, como Dioscorea, Xysmolobium, Nymphaea, Cyphostemma, Eriosema, Tacca,

Vigna, Typha (a parte de cima), Coccinia, Ranunculus, Cussonia, entre outros.

Os grãos coletados no capim silvestre local incluem: Panicum maximum, Urochloa

massambicensis, Eleusine indica, Echinochloa spp, Setaria spp, Oxythenanthera abyssinica, Pannisetum spp, Sorghum verticilliflorum, Dactyloctenium aegyptium etc.

Diferentes tipos de cogumelos também são coletados para consumo, no ambiente natural próximo das povoações/aldeias como, por exemplo: Termitomyces, Agaricus,

Amanita, Cantarellus, Lepiota, Rusula, Lactarius etc. Alguns tipos de cogumelos são secos e conservados em folhas de árvores na cozinha.

Insetos comestíveis são coletados nos bosques pelas mulheres e crianças nas primeiras horas do dia. Estas larvas alimentam-se de folhas de árvores ou de arbustos e gramíneas. Por exemplo, Nyamakhobo alimenta-se das folhas da Commiphera africana,

Mbwabwa alimenta-se das folhas de Cussonia kirkii e “Mphalabungu” ou “Imphé” alimenta-se das folhas de Dolochos kilimandscharicus e gramíneas. A captura dos termitas (Insua) no Planalto de Angónia favorece o desenvolvimento de um grande negócio que, às vezes, pode implicar a travessia de linha de fronteira para a República do Malawi. Os termitas são capturados no início da época chuvosa, no seu morro de muchem, quanto estão

gordos e se preparando para voar. Normalmente, todo menino de cada casa tem o seu morro de muchem para cuidar. Depois de assados e secos, muitas vezes, são vendidos nos mercados e ao longo das estradas que ligam com o vizinho Malawi (MAE, 2005).

O sal é coletado em alguns morros de muchem, nas planícies de inundação de alguns rios, durante a época seca. Normalmente, é vendido nas feiras semanais, que acontecem regularmente nos diferentes povoados do planalto. Atualmente, este sal está sendo substituído, gradualmente, pelo sal comercial, oriundo das grandes cidades do litoral de Moçambique.

A coleta de mel é também uma atividade praticada por certas famílias. A colmeia é, normalmente, feita dos ramos das árvores da espécie Brachystegia ou Erytrina. A colmeia, de forma cilíndrica é colocada no alto das grandes árvores decíduas, para proteger das queimadas descontroladas e malfeitores. O mel é extraído entre novembro a dezembro e, juntamente com a cera, é vendido ao longo da linha de fronteira com Malawi e em algumas lojas. As melhores árvores de mel são: Acacia spp, Pterocarpus angolensis, Peltophorum

africanum, Lonchocarpus capassa, Erythrina spp, Syzygium spp, Faurea saligna, Maytenus senegalensis, Dombeya rotundifolia, Parinari curatellifolia, Vangueriopsis lancifolia, Macaranga capensis, Brachystegia boehmii, Julbernardia globiflora, Lannea discolor etc. Todas estas espécies são a base para a produção do mel de boa qualidade. Outras árvores como, por exemplo, Combretum molle, Combretum zeyheri, Terminalia stenostachya também podem produzir mel, mas, que para alguns é considerado desagradável ou irritante para a garganta, enquanto o mel produzido a partir da espécie Euphorbia ingens é considerado toxico ou provoca a irritação (STEFANESCO et al.,1982; MOURIK et al., 1982).