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Cabimento de pedido genérico de indenização

CAPÍTULO 4 QUESTÕES PROCESSUAIS RELEVANTES

4.1 Cabimento de pedido genérico de indenização

4.5 Sucumbência parcial do autor. 4.6 Fixação do “quantum” indenizatório em salários mínimos.

4.1 Cabimento de pedido genérico de indenização

Dadas as dificuldades já evidenciadas para a quantificação dos danos morais, muitos ofendidos ao ingressarem com demandas destinadas à compensação respectiva deixam de atribuir um valor específico para a sua pretensão e conferem ao juízo a tarefa do arbitramento correspondente.

Essa questão tem ensejado conflito entre os doutrinadores, pois alguns entendem não ter cabimento a formulação de pedido genérico em ações de ressarcimento de dano moral, enquanto que outros apóiam a viabilidade dessa conduta.

Assim, Antônio Jeová SANTOS209 afirma que a quantificação do dano moral pelo

próprio autor na peça vestibular da contenda é elemento imprescindível para a prevenção da superveniência de prejuízos diversos.

Segundo seu ensinamento, a indicação do “quantum” pretendido pelo autor permite a conservação do direito pleno de defesa do integrante do pólo passivo da demanda, porque então o mesmo terá pleno conhecimento da real extensão econômica do pedido e poderá questionar ocasionais exageros, bem como apresentar provas acerca do abuso identificado.

Além disso, o mestre em questão também dá conta de que a falta de apontamento do valor pretendido pela vítima dificulta sobremaneira a realização de acordo entre as partes.

209 SANTOS, Antônio Jeová da Silva. Dano moral indenizável. 4. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Ed.

Ainda consoante o doutrinador em referência, o pedido ilíquido inviabilizaria o oferecimento de apelação por parte do autor se acaso não restar satisfeito com o montante ressarcitório a final estipulado pelo julgador na sentença, pois, então, segundo seu ponto de vista, não haveria sucumbência propriamente dita e, portanto, lhe faltaria interesse para interpor recurso.

Por sua vez, Yussef Said CAHALI 210 garante que a apresentação de pedido genérico de dano moral não pode ser admitida, porque seria imprescindível o apontamento no libelo inaugural de elementos justificadores da indenização perseguida, sendo encargo do autor o oferecimento de critérios e valores para estreitar e nortear o arbítrio judicial, bem como para permitir ao réu o exercício irrestrito do seu direito de defesa.

De seu lado, após confirmar as assertivas anteriores Cássio Scarpinella BUENO211 denota que a falta de indicação precisa na peça vestibular do valor dos danos morais, ressalvadas as exceções do artigo 286 do Código de Processo Civil, é motivo que inevitavelmente deverá conduzir o magistrado a determinar a sua emenda, com base no disposto no artigo 284 daquele mesmo “codex”, sob pena de extinção com lastro no artigo 295, “caput”, VI do diploma adjetivo civil.

A jurisprudência outrora também já se inclinou nesse sentido, sendo que algumas Câmaras do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo impunham a necessidade de especificação na peça inicial do valor ressarcitório, com o escopo de salvaguardar o contraditório e o devido processo legal212.

Inobstante isso, não se pode perder de vista a realidade de que o artigo 286, II do Código de Processo Civil autoriza expressamente a possibilidade de formulação de pedido genérico sempre que não seja possível determinar, de modo definitivo, as conseqüências do ato ou do fato ilícito.

210 CAHALI, Yussef Said. Dano moral. 3. ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2005. p. 796-797, 809. 211 BUENO, Cássio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: procedimento comum:

ordinário e sumário. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 2. p. 80.

212 A esse respeito, confira-se julgado inserto na RT 761/242: “é de rigor que o pedido de indenização por danos

morais seja certo e determinado, para que não fique somente ao arbítrio do juiz a fixação do ‘quantum’, como também para que seja dada ao réu possibilidade de contrariar a pretensão do autor de forma pontual, com objetividade e eficácia, de modo a garantir-lhe o direito à ampla defesa e ao contraditório”. No mesmo sentido: RT 767/239 e JTJ 208/203.

Segundo ensinança de Ernani Fidélis dos SANTOS213, o pedido genérico é certo quanto à sua existência e indeterminado apenas no tocante ao seu conteúdo mediato, o qual deverá se apresentar, de qualquer modo, em condições de determinabilidade. E explica que de toda forma se fará mister a determinação da generalidade, o que implica necessariamente na indicação das conseqüências e alcance do ato ou do fato lesivo, de modo a viabilizar a perfeita compreensão do pedido. Em outras palavras, no tocante à hipótese legal referida no parágrafo anterior será possível o pedido genérico quando a indeterminação vem a recair unicamente sobre o “quantum debeatur”, o qual ainda estará sujeito a apuração, incumbindo ao autor o apontamento de elementos capazes de viabilizar a futura mensuração do dano moral pelo juiz.

Em reforço desse posicionamento sobrevém escólio de Humberto THEODORO JÚNIOR214, segundo o qual muito embora o fim imediato do pedido – assim entendido como o pleito condenatório, constitutivo, declaratório, executivo ou cautelar – sempre deva ser determinado, o pedido mediato, que correspondente à utilidade prática objetivada pelo autor da contenda, pode ser genérico, notadamente nas hipóteses do artigo 286 do Código de Processo Civil. Isso porque, segundo alega, a indeterminação nunca poderá ser total ou absoluta, sendo de rigor o apontamento de requisitos mínimos para a sua identificação.

Portanto, resta evidenciado que absolutamente nada impede a formulação de pedido genérico – assim denominado pelo nosso Código de Processo Civil, mas que na essência nada mais é do que um pedido relativamente indeterminado – também no tocante aos danos morais, sendo de rigor apenas que o ofendido formule o pleito correspondente na exordial e indique quais teriam sido as conseqüências danosas suportadas e a extensão da ofensa, relegando ao magistrado apenas a quantificação correspondente a partir dos elementos fáticos fornecidos.

Hoje a jurisprudência é praticamente pacífica em admitir o apontamento genérico do dano moral, reconhecendo que as dificuldades existentes para a aferição do montante ressarcitório é justificativa bastante para viabilizar a elaboração de um libelo inaugural sem a indicação do valor objetivado como ressarcimento. E mesmo que o

213 SANTOS, Ernane Fidélis dos. Manual de direito processual civil. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 1.

p. 434-435.

214 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: teoria geral do direito processual civil e

“quantum” indenitário seja apontado pelo autor, o mesmo será sempre reputado como meramente estimativo e sempre poderá ser alterado pelo juiz sem que isso implique em prejuízo ao pleito ou aos interesses do ofendido215.