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Os passeios e pra¸cas em cal¸cada portuguesa ou mosaico portuguˆes s˜ao um dos aspetos mais caracter´ısticos do patrim´onio de muitas cidades portuguesas. Pisamo- -los diariamente, mas, na maioria das vezes, n˜ao lhes damos a devida importˆancia face `a sua riqueza hist´orica, art´ıstica e geom´etrica.

Os padr˜oes utilizados pelos calceteiros que se destacam nas cal¸cadas de diversas cidades podem ser estudados tanto no seu conte´udo art´ıstico como no matem´atico. ´E `a luz da Matem´atica que pretendemos analisar os padr˜oes e as suas simetrias presentes nos passeios e pra¸cas existentes um pouco por toda a ilha de S˜ao Miguel, nosso objeto de estudo.

Segundo Rego e Sousa [22], “o mosaico ´e t˜ao antigo como a mais remota civi- liza¸c˜ao hist´orica”. No entanto, foi com a civiliza¸c˜ao romana que este se expandiu na pavimenta¸c˜ao das “domus” e das “villae”.

Em Portugal, a sua utiliza¸c˜ao, com fins decorativos, ´e uma deriva¸c˜ao oitocentista da via romana. Foi em Lisboa que, pela primeira vez, em 1848, surge a sua aplica¸c˜ao a espa¸cos urbanos, com o projeto “Mar Largo”, composi¸c˜ao em forma de ondas, constru´ıdo na Pra¸ca D. Pedro IV, hoje Rossio. Mas, seis anos antes deste projeto,

Figura 6.1: Calceteiros executando um pavimento.

numa iniciativa do tenente-general Eus´ebio Cˆandido Cordeiro Pinheiro Furtado, foram mandadas calcetar com pedras brancas (calc´ario) e escuras (basalto) as vielas de acesso ao Castelo de S. Jorge.

A cal¸cada portuguesa rapidamente se espalhou por todo o pa´ıs, chegando um pouco mais tarde aos Arquip´elagos da Madeira e dos A¸cores. Tamb´em ultrapassou as fronteiras nacionais, sendo solicitados mestres calceteiros portugueses para executar e ensinar a sua arte no estrangeiro. A sua aplica¸c˜ao pode ser apreciada em projetos como o do Largo de S. Sebasti˜ao, constru´ıdo em Manaus (Brasil), e o famoso cal¸cad˜ao da Praia de Copacabana no Rio de Janeiro; em Macau; na Cidade do Cabo ( ´Africa do Sul); e em muitas outras paragens.

Nos A¸cores, o empedrado art´ıstico surge entre o final do s´eculo XIX e o in´ıcio do s´eculo XX, tendo vindo substituir lajeamentos bas´alticos que compunham os passeios dos antigos e principais arruamentos das cidades. Alastrou-se tamb´em a pra¸cas e lar- gos e, nos nossos dias, a ´atrios e jardins particulares, com motivos art´ısticos diversos, contrastando o negro do basalto com o branco do calc´ario. Segundo Rego e Sousa [22], por raz˜oes econ´omicas, predominam os fundos escuros da pedra bas´altica de extra¸c˜ao local, reservando-se o calc´ario branco (importado de Lisboa) para as partes menos amplas.

Na figura 6.1, apresenta-se uma foto de mestres calceteiros executando um pavi- mento em Ponta Delgada, com a t´ecnica de desenho a duas cores. Utiliza-se um molde

em madeira com a configura¸c˜ao a implementar. Depois de colocada a pedra bas´altica no exterior do molde, retira-se o molde e coloca-se o calc´ario branco no interior.

Nos Apˆendices E a M apresentam-se os roteiros de simetria da cidade de Ponta Delgada (roteiro de ros´aceas, roteiro de frisos e roteiro de padr˜oes bidimensionais), bem como roteiros gerais dos 6 concelhos da Ilha de S˜ao Miguel. Utiliza-se preferen- cialmente a nota¸c˜ao de Fejes T´oth [28].

Foi poss´ıvel encontrar os 7 tipos de frisos em cal¸cada na Ilha de S˜ao Miguel. Numa an´alise por concelhos, o concelho de Ponta Delgada ´e o ´unico que apresenta todos os 7 tipos de frisos: 5 podem ser observados na cidade de Ponta Delgada (exceto F1

1 e

F2

2) e os outros 2, nos Mosteiros. Tamb´em existem frisos do tipo F11 nos Ginetes,

nos Arrifes e nas Capelas. Em rela¸c˜ao `as restantes sedes de concelho, foi poss´ıvel encontrar:

• Lagoa: 3 tipos de frisos (exceto F1, F13, F2 e F22);

• Nordeste: 4 tipos de frisos (exceto F1, F11 e F13);

• Povoac¸˜ao: 3 tipos de frisos (exceto F11, F13, F2 e F22);

• Ribeira Grande: 4 tipos de frisos (exceto F1

1, F13 e F2);

• Vila Franca do Campo: 4 tipos de frisos (exceto F2

1, F13 e F22).

Tamb´em foram identificados diversos exemplares fora das sedes de concelho, em muitas freguesias junto a igrejas, coretos e triatos4.

Por curiosidade, refira-se que o ´unico exemplar de um friso do tipo F3

1 na ilha de

S˜ao Miguel foi identificado na Rua Lu´ıs Soares de Sousa, na cidade de Ponta Delgada. Em rela¸c˜ao aos frisos mais comuns, estes s˜ao essencialmente dos tipos F2 e F21.

Em geral, os frisos em cal¸cada na ilha de S˜ao Miguel s˜ao feitos em calc´ario, apre- sentando o fundo em basalto, precisamente ao contr´ario do que sucede com os frisos em cal¸cada que normalmente encontramos no continente portuguˆes, em particular,

4

Os triatos do Esp´ırito Santo est˜ao associados `as festividades em honra do Divino Esp´ırito Santo nos A¸cores. Destinam-se `a exposi¸c˜ao dos s´ımbolos do Esp´ırito Santo, nomeadamente a coroa real encimada por uma pomba, a bandeira, o ceptro, o estandarte e as varas. S˜ao constru´ıdos em planta retangular com um s´o piso.

em Lisboa. Como j´a foi referido, supomos que a diferen¸ca se deve ao facto de o ba- salto ser muito abundante nos A¸cores. Esta tendˆencia para a escolha da cor da pedra apenas ´e contrariada na Vila da Povoa¸c˜ao, sede de concelho, onde muitos dos padr˜oes encontrados em cal¸cada apresentam o fundo branco. O mesmo se passa com alguns exemplares da Vila do Nordeste.

Por fim, refira-se a quase inexistˆencia de padr˜oes bidimensionais na cal¸cada pes- quisada. Por exemplo, na cidade de Ponta Delgada apenas foi poss´ıvel identificar dois tipos: W1

4 e W12. Exemplos destes dois tipos foram analisados nas Figuras 2.11 e 2.12