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O termo filière, traduzido n a literatura econômica nacional como “cadeia de p rodução”, trouxe à tona a preocupação dos pesquisadores com as questões relacionadas aos sistemas agroindustriais nacionais que, dessa forma, passaram a utilizar a expressão “cadeia p rodutiva” como um conceito derivado do anterior.

Alguns autores, como Green e Santos (1992), entendem que o referido conceito está associado a uma matéria-prima de base, enquanto outros pesquisadores, como Batalha (1997), consideram que uma filière relaciona-se a um produto final perfeitamente identificado pelo consumidor.

Dessa forma, uma cadeia produtiva é definida a partir da identificação de determinado produto final e o encadeamento das várias operações técnicas, comerciais e logísticas, de jusante a montante, necessárias à sua obtenção (BATALHA, 1997).

Já Malheiros (1991, p. 11), utiliza um enfoque diferenciado, afirmando que a cadeia produtiva “[...] apóia-se em uma matéria-prima básica, a qual através de transformações sucessivas, origina produtos finais”.

Na concepção de Dantas, Kertsntzky e Prochnik (2002), do ponto de vista teórico observa-se uma progressão em várias correntes do pensamento econômico na direção de uma melhor formatação do conceito de cadeia produtiva. Para os autores, cadeia produtiva é um conjunto de etapas consecutivas pelas quais passam e vão sendo transformados e transferidos os diversos insumos.

Segundo Scramin e Batalha (1999), o conjunto de idéias ligadas à noção de cadeia produtiva, vem-se mostrando útil nos últimos anos, principalmente para pesquisadores e gestores públicos e privados interessados na elaboração de políticas setoriais. Porém, para os autores, essas mesmas idéias tendem a serem menos eficazes porque não aportam às empresas as ferramentas gerenciais adequadas e que permit em operacionalizar ações conjuntas que aumentam o nível de coordenação e de eficiência de uma cadeia agroindustrial.

De forma mais detalhada e aprofundada, é possível conceber que a cadeia de produção agroindustrial (CPA), pode ser definida como:

Primeiro identifica -se determinado produto final, em seguida identifica-se o encadeamento, de jusante a montante, das várias operações técnicas, comerciais e logísticas, necessárias à sua produção e pode ser segmentada em três macro - segmentos: i) Comercialização, que representa as empresas que estão em contato com o cliente final da cadeia de produção e que viabilizam o consumo e o comércio dos produtos finais (supermercados, mercearias, restaurantes, cantinas, etc.). Podem

ser incluídas neste macro- segmento as empresas responsáveis somente pela logística de distribuição; ii) Industrialização, que representa as firmas responsáveis pela transformação das matérias-primas em produtos finais destinados ao consumidor. O consumidor pode ser uma unidade familiar ou outra agroindústria; e iii) Produção de matérias-primas, que reúne as firmas que fornecem as matérias -primas iniciais para que outras empresas avancem no processo de produção do produto final (agricultura, pecuária, pesca, piscicultura, etc.) (BATALHA, 1999 , p. 28 e 29).

A Figura 2 ilustra uma típica cadeia de produção agroindustrial, com seus principais componentes e fluxos. Distinguem-se o mercado consumidor (composto pelos indivíduos que consomem o produto final e que pagam por ele), a rede de atacadistas e varejistas, a indústria de processamento e transformação do produto, as propriedades agrícolas (com seus diversos sistemas produtivos agropecuários) e os fornecedores de insumos (adubos, defensivos, imp lementos agrícolas, etc.). Toda cadeia de produção tem forte dependência de seus consumidores finais, pois são os atores que determinam e premiam o desempenho da cadeia, formando o seu mercado (CASTRO, 2000).

Fornecedores de insumos Fazendas SISTEMAS PRODUTIVOS 1,2,3,....N Agro-

Indústria Atacadistas Varejistas Consumidor Final

AMBIENTE ORGANIZACIONAL (Instituições de Governo, Bancos, etc...)

AMBIENTE INSTITUCIONAL (Leis, Normas, Instituições Normativas, etc...)

Figura 2: Representação da Cadeia de produção agroindustrial Fonte: Castro (2000).

Para Castro (2000), esses componentes estão relacionados a um ambiente institucional (leis, normas e instituições normativas) e a um ambiente organizacional (instituições de governo, de crédito, etc.), que em conjunto, exercem influência sobre os componentes da cadeia e sobre o seu desempenho como um todo.

Numa cadeia de produção agroindustrial, podem ser identificados, no mínimo, quatro mercados intermediários, com distintas características: i) mercado entre os fornecedores de insumos e produtores rurais; ii) mercado entre os produtores rurais e a agroindústria; iii) mercado entre a agroindústria e os distribuidores; e iv) mercado entre os distribuidores e consumidores finais.

Quando se refere à aplicação do conceito de cadeia de produção agroindustrial, Batalha (1997, p. 38), reportando-se a Morvan, aponta a existência de 6 principais utilizações estratégicas para a análise do conceito de cadeia produtiva, sendo elas,

a) Metodologia de divisão setorial do sistema produtivo;

b) Formulação e análise de políticas públicas e privadas – consistem na identificação dos elos fracos e seu incentivo através de uma política adequada, de modo a promover o desenvolvimento de todos os agentes da cadeia;

c) Ferramenta de descrição técnico-econômica – a descrição técnica consiste na identificação das operações de produção responsáveis pela transformação da matéria -prima em produto acabado ou semi -acabado. E a descrição econômica permite analisar as relações econômicas originadas pela estrutura técnica, identificando atores envolvidos e principais mercados;

d) Metodologia de análise da estratégia das firmas – estuda as relações diretas entre as empresas e o conjunto de articulações que constituem a cadeia, buscando evidenciar sinergias comerciais e tecnológicas entre as atividades que a constituem;

e) Ferramenta de análise das inovações tecnológicas e apoio à tomada de decisão; f) Tecnológica – com a representação de uma cadeia produtiva pode-se identificar, por exemplo, as perturbações criadas a montante e a jusante da inovação original, podendo avaliar também as conseqüências das inovações tanto no interior da cadeia como nas demais cadeias com as quais ela se interconecta.

Porém, para Dias (2000), as Cadeias Agronegociais ou Agroindustriais podem ser classificadas em dois tipos: Cadeia Genérica e Cadeia Específica. O conceito de Cadeia Genérica está relacionado com o agrupamento de todas as empresas envolvidas no processo produtivo de um produto qualquer, desde a fase de produção da matéria -prima até a colocação do produto acabado junto ao consumidor final. Tal cadeia é delimitada pela área geográfica de atuação. Neste caso, a preocupação dos estudos e ações es tá mais relacionada com os tipos de atores que participam da cadeia do que com suas identidades .

Nesse sentido, Batalha e Silva (2001) citam como exemplo de cadeia de suprimento as cadeias agroindustriais, que podem ser vistas como uma rede de empresas fo rmada com base

em alianças estratégicas. Segundo os autores, estas alianças podem ser de alta interdependência entre os agentes da cadeia, como ocorre nos processos de fusões e aquisições, que geram controle total de uma cadeia e integração vertical completa, até uma interdependência muito baixa, como nos empreendimentos cooperativos informais.

Já a Cadeia Específica, é um sistema configurado por uma empresa líder que coordena as principais atividades dos atores que a compõem, denominado integrado (DIAS, 2000). Essa cadeia constitui-se numa entidade que reúne a empresa líder (coordenadora) e as empresas ou outro atores (ex: produtores agrícolas) integradas. Segundo o autor, este conceito visa contribuir no sentido da busca de agregação de um maior valor ao produto ou ao serviço. Isto tenderá a permitir: i) maior satisfação dos clientes; ii) melhoria da renda dos diferentes atores que atuam na cadeia; e iii) redução do custo total ao longo de toda a cadeia de uma dada empresa.

Ainda, segundo Dias (2000), o conceito de Cadeia Específica é um termo escolhido por ter como base o conceito de Gestão da Cadeia de Suprimentos (Supply Chain

Management – SCM). Nos últimos anos, com a Cadeia de Suprimentos transformando -se em

vantagem competitiva para as empresas, vários pesquisadores despertaram interesse sobre o seu gerenciamento, surgindo, então, o conceito de Gestão da Cadeia de Suprimentos (GASPARETTO, 2003). Como foco deste trabalho, o assunto será abordado na seção seguinte.