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3.1 .1 Aspectos Gerais

Segundo Lakatos e Marconi (1991), método de pesquisa é um conjunto de atividades sistemáticas e racionais que orientam a geração de conhecimentos válidos, na medida em que indicam um caminhoa ser seguido.

De forma geral, é possível afirmar que as pesquisas podem ser classificadas de diversas maneiras, diretamente relacionadas com as questões teóricas, epistemológicas e filosóficas, que fundamentam os vários métodos. Nesse sentido, a prática da pesquisa implica em definir com clareza as questões teóricas a serem investigadas e, a partir disso, verificar o(s) método(s) a ser(em) utilizado(s).

Nesta dissertação foi adotada a abordagem do Estudo de Caso. De acordo com Yin (2005), o Estudo de Caso é uma das muitas estratégias a serem escolhidas para a realização de pesquisas em Ciências Sociais. Um Estudo de Caso é um “estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira a permitir conhecimento amplo e detalhado sobre o mesmo” (GIL, 1999, p. 72). Chizotti (2005), caminham no mesmo sentido, ao afirmar que tais estudos correspondem a pesquisas que coletam e registram dados de um caso particular ou de vários casos, com a finalidade de organizar um relatório ordenado e crítico , de uma determinada

experiência. Para Yin (2005), um caso pode ser uma organização, pessoas, processos ou um projeto específico.

Segundo Roesch (1999), existem duas perspectivas que são centrais para caracterizar os Estudos de Caso como uma estratégia de pesquisa legítima, a de

a) Estudar os fenômenos em profundidade levando-se em conta o contexto, ou seja, a adequação do método para a realização de estudo dos processos; ou,

b) Permitir o estudo dos fenômenos contemporâneos a partir de vários ângulos de observação e análise.

O aspecto do estudo em profundidade de um fenômeno social complexo, como é o objetivo dos Estudos de Caso, permite ao pesquisador estabelecer uma análise “generalizante” e não “particularizante” de um determinado fenômeno social (YIN, 2005).

Gil (1999) aponta que, de acordo com o nível, são identificadas três categorias básicas para a pesquisa: i) exploratória; ii) descritiva; e iii) explicativa. As pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, com vistas à formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. As pesquisas descritivas têm como principal objetivo descrever as características de determinada população ou fenômeno ou estabelecimento de relações entre variáveis. Finalmente, as explicativas têm como preocupação central identificar os fatores que d eterminam ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos.

Segundo Yin (2005), a principal condição para diferenciar as diversas estratégias de pesquisa consiste em identificar o tipo de questão de pesquisa que está sendo apresentado. Para o autor, questões do tipo “qual” podem implicar na necessidade de utilizar pesquisas do tipo exploratórias. De outro lado, é provável que questões do tipo “como” e “por que” incentivem o uso de estudos de caso, experimentos ou pesquisas históricas.

No caso desta dissertação, propõe-se realizar um Estudo de Caso do tipo descritivo , porque se trata de uma experiência inovadora com razoável conhecimento acumulado ou sistematizado no que tange ao modelo de negócio adotado pela COOPERCANA. Na verdade, a cadeia do álcool combustível gaúcha ainda é muito incipiente e esse modelo pode ser considerado como uma alternativa para o seu desenvolvimento, já que parece estar adequada à realidade do RS, que tem sua base fortemente relacionada com a agricultura familiar. Nesse sentido, o Estudo de Caso proposto pretende avançar na compreensão desse modelo e de suas inter-relaçõespara que a consolidação competitiva da cadeia produtiva do álcool combustível possa ocorrer no Estado do Rio Grande do Sul.

De acordo com Yin (2005), o Estudo de Caso pode ser analisado sob duas perspectivas a) Estudo de Caso Único – é apropriado quando for análogo a um experimento único e muitas das condições que servem para justificar o experimento forem embasadas em um conjunto claro de proposições teóricas, ou seja, poderá ser utilizado para determinar se as proposições de uma teoria são corretas ou se algum outro conjunto de explanações possa ser mais relevante. Outro fator do caso único, é aquele em que o caso representa um caso raro ou extremo. O caso único tamb ém poderá ser o caso revelador, ou seja, quando o pesquisador tem a oportunidade de observar e analisar um fenômeno previamente inacessível à investigação científica;

b) Estudo de Casos Múltiplos – ocorre quando o mesmo estudo contém mais de um caso, em que cada área pode ser o objeto de um Estudo de Caso individual. Para a utilização do estudo de casos múltiplos cada caso deverá ser selecionado de forma a prever resultados similares ou produzir resultados contrastantes apenas por razões previsíveis.

O Estudo de Caso único pode ser dividido em projetos do tipo incorporado e holísticos. Conforme Yin (2005), os projetos incorporados são aqueles que consideram unidades múltiplas de análise, enquanto os projetos holísticos consideram apenas uma unidade de análise.

Segundo Yin (2005), tanto os projetos de Estudos de Caso Único holísticos, como os incorporados, possuem pontos fortes e pontos fracos. Como exemplo, pode ser mencionado que os projetos holísticos são indicados quando não é possível identificar nenhuma subunidade lógica e quando a teoria em questão subjacente ao Estudo de Caso é própria de natureza holística.

Entretanto, quando surgem problemas relacionados à dificuldade em se analisar fenômenos específicos com maiores detalhes e toda a análise que for conduzida tendo como ponto central a unidade global, os projetos incorporados são os mais apropriados (YIN, 2005). Por outro lado, para o referido autor, um projeto incorporado pode apresentar algumas “armadilhas”, principalmente quando o Estudo de Caso está concentrado apenas nas subunidades de análise, dificultando desta maneira, o retorno para uma visão da unidade maior.

Nesse contexto, a unidade de análise da pesquisa foi o modelo de negócios da COOPERCANA e o método da pesquisa adotado foi o Estudo de Caso Único. A escolha do caso único pode ser justificada em função da especificidade/singularidade do caso. A COOPERCANA é uma experiência única de produção de álcool no RS, na medida em que

a) Vem tendo continuidade histórica em termos operacionais em um considerável período de tempo;

b) É uma experiência única no país em termos da produção de álcool, tendo como base a agricultura familiar; e

c) É uma experiência singular na produção de álcool na medida em que seu modelo de negócio está embasado em uma lógica de Cooperativa.

Ainda, o Estudo de Caso único foi implementado utilizando objetos incorporados.

Dessa forma, o nível de análise ocorreu sob a perspectiva dos seguintes elementos:

a) Caracterização dos elos do planejamento das operações agrícolas, produção e distribuição na cadeia produtiva do álcool;

b) Identificação dos fluxos internos da COOPERCANA e a relação com os associados; e

c) A análise da operacionalização das etapas agrícola, industrial e da distribuição do álcool.

3.1.2 Limitações do Método de Estudo de Caso

O método de Estudo de Caso, embora possa ser considerado limitado por não oferecer bases para generalizações, propicia oportunidades para se conhecer, em profundidade maior, um contexto real e complexo, o qual pode fornecer informações suficien tes para outras pesquisas futuras.

No presente trabalho, devido à utilização do método do Estudo de Caso, qualquer generalização para outras empresas de contextos similares ou distintos não poderá ser aplicada. No limite, pode-se propor a viabilidade de uma generalização de cunho analítico dos resultados obtidos.

3.1.3 Formas de Coleta de Dados

Segundo Bergamini (1988) apud SILVA (1995, p. 62), a literatura afirma que o sucesso de um sistema está intrinsecamente ligado à escolha adequada do tipo ou dos tipos de instrumentos a utilizar. Portanto, esta escolha é dependente dos objetivos pretendidos.

Fundamentalmente, existem seis fontes à obtenção de dados para qualquer tipo de pesquisa: documentos, arquivos, entrevistas, observação direta do pesquisador, observação

participante do pesquisador e artefatos físicos (YIN, 2005). O tipo de pesquisa a ser realizada é que deve definir o caminho a ser seguido pelo pesquisador no processo de obtenção das informações necessárias para realizar seu trabalho.

No caso da cooperativa estudada, as informações foram coletadas mediante quatro fontes de informações: entrevistas, análise documental, arquivos e observação direta do pesquisador. Também foram feitas observações diretas na cooperativa, que, invariavelmente, terminavam acarretando na necessidade de acrescentar alguns elementos para melhor analisar o caso em cena.

Para a maximização dos benefícios dessas fontes de evidências relatadas, Yin (2005), destaca três princípios que auxiliam o pesquisador a fazer frente ao problema de estabelecer a validade do constructo e a confiabilidade de um estudo de caso :

a) O primeiro princípio refere -se à utilização de várias fontes de evidências ajudando o investigador a abordar o caso de forma mais ampla e completa, além de possibilitar a realização do cruzamento de informações e evidências, ou seja, a triangulação;

b) O segundo princípio centra-se em criar um banco de dados para o estudo de caso para se registrar todas as evidências, dados e documentos sobre o caso em estudo e para torná- los disponíveis para consultas;

c) O terceiro princípio consiste em manter o encadeamento de evidências que deve ser seguido para melhorar a fidedignidade do estudo do caso e tem como objetivo explicitar as evidências obtidas para as questões iniciais e como elas foram relacionadas às conclusões do estudo, servindo de orientação para observadores externos ou para aqueles que farão uso dos resultados do estudo.

Ainda com relação ao método de pesquisa e às fontes de evidências, cabe ressaltar um conceito fundamental envolvendo a utilização de múltiplas fontes de evidências (Princípio 1 ): a triangulação. Conforme Yin (2005), a triangulação é o fundamento lógico para se utilizar fontes de evidências. Ainda, a utilização de várias fontes de evidências permite ao pesquisador elencar a uma ampla diversidade de questões históricas, comportamentais e de atitudes , ou seja, o processo de triangulação compreende o desenvolvimento de linhas convergentes de investigação. Patton apud YIN (2005) sugere quatro tipos de triangulação: i) de dados; ii) de pesquisadores; iii) da teoria; e iv) metodológica. Por fim, uma contribuição peculiar do processo de triangulação, consiste no processo de validação da pesquisa , de forma que diversas fontes de evidências forneçam várias avaliações sobre o mesmo fenômeno. No presente caso a triangulação dos dados foi eleita.

O Princípio 2 (um banco de dados para o estudo de caso), consiste na maneira como se organiza a documentação dos dados coletados para o estudo de caso. Uma desorganização ou falta de um banco de dados, contribui negativamente para o desenvolvimento de pesquisa baseada no método do estudo de caso. O Princípio 3 (encadeamento de evidências), objetivou precipuamente aumentar a confiabilidade das informações, ou seja, consiste na preservação dos dados coletados (idéias e evidências originais) de forma a representar o fato ocorrido.