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CAIXA: PERSPETIVAS DE ESPECIALISTAS, DE GRUPOS DE INTERESSE E DE DECISORES/AS POLÍTICOS/AS

Promover ações de formação aprofundadas junto das enti- dades responsáveis pela veiculação da informação e pela sua aplicação, assim como a fiscalização eficaz das situações de obstrução ao usufruto dos direitos de pais e mães. Tanto por

parte das entidades empregadoras, como por parte dos serviços de atendimento presencial da Segurança Social, existe algum desconhecimento, e mesmo alguma desinformação, em relação aos direitos que estão consagrados na atual política de licenças, e em particular aos direitos do pai. Este desconhecimento das en- tidades responsáveis, bem como a hostilidade e as represálias no local de trabalho face ao gozo das licenças por parte do pai, devem ser corrigidos, uma vez que podem inibir os homens a exercer o seu direito constitucional à conciliação. As entidades fiscalizado- ras têm um papel importante a desempenhar a nível da fiscaliza- ção do impedimento ao usufruto e incumprimento da legislação, tanto em relação às mães, como em relação aos pais.

Promover publicidade institucional para o grande público so- bre as licenças parentais, de modo a informar sobre os direitos

consagrados e a dar visibilidade social à utilização das licenças por parte dos pais. Envolver os empregadores nestas ações, no- meadamente aqueles que tenham perspetivas recetivas e proac- tivas, e as empresas com modelos de gestão igualitários e ‘boas práticas’ a nível da conciliação e da promoção do gozo dos direitos exclusivos facultativos e da partilha da licença parental inicial en- tre progenitores.

Colmatar a falta de informação existente sobre o efetivo gozo das licenças parentais por parte de trabalhadores e tra- balhadoras da função púbica e de regimes contributivos que não se integram no regime geral da Segurança Social. Os da-

dos disponíveis apenas dizem respeito aos indivíduos abrangidos pelo regime geral da Segurança Social, tratando-se, por isso, de um retrato incompleto da realidade, que não permite monitorizar a evolução geral do gozo das licenças e, eventualmente, o impacto diferenciado dos diversos setores de atividade nas práticas dos trabalhadores e das trabalhadoras.

Avaliar a eficácia e o impacto da política de licenças através da construção e implementação de instrumentos de gestão que permitam produzir e divulgar estatísticas sobre a utilização de licenças, no âmbito dos relatórios oficiais da Segurança So-

cial e respetivas estatísticas. Produzir elementos de recolha de informação (variáveis sociodemográficas, variáveis do sector de atividade e situação laboral), que permitam saber quem são os pais que gozam as licenças, nomeadamente a facultativa e a parti- lhada, e em que setores de atividade.

Desenvolver a política de licenças tendo em vista aprofundar os seus princípios fundamentais – o bem-estar da criança, a harmonização das responsabilidades profissionais e famili- ares entre progenitores e a igualdade de género -, eliminando ainda o entrave legal ao gozo da licença parental inicial por parte do pai. Na atual moldura das licenças, subsiste o princípio

de que a mãe é a principal destinatária da medida, ficando a possi- bilidade de gozo por parte do pai dependente da elegibilidade da mãe. É preciso eliminar este obstáculo ao gozo da licença paren- tal inicial por parte dos homens, sendo de igual modo necessário efetivar os princípios basilares desta política de licenças através da abolição, eventualmente de forma progressiva e sem prejuízo dos direitos adquiridos, do hiato entre o tempo da mãe e o tempo

do pai, quer em dias obrigatórios quer em dias facultativos. Esta política de licenças deve ainda ser inclusiva, reconhecendo a di- versidade de contextos familiares em que as crianças nascem e crescem, não discriminando os casais do mesmo sexo.

Continuar a promover a conciliação entre a vida profissional e a vida familiar através do apoio às famílias em serviços e equipamentos e, também, através da escola a tempo inteiro para as crianças abaixo dos 12 anos. Aumentar a taxa de cober-

tura das creches da rede solidária não lucrativa, tendo em vista o combate às desigualdades territoriais e sociais, apostando, em particular, nos distritos que registam uma reduzida taxa de cobertura de equipamentos para as crianças até aos 3 anos, em particular da rede solidária. Estando as famílias carenciadas mais dependentes destas soluções de guarda, a escassez de oferta pode acentuar os conflitos a nível da conciliação trabalho-família. Reequacionar, ainda, alguns aspetos do funcionamento dos servi- ços no âmbito das escolas de ensino básico público: estender ao 2º ciclo as atividades de enriquecimento curricular (AEC); ofere- cer serviços de apoio às famílias (CAF, ATL) em todas as escolas; reorganizar os horários do 2º ciclo; e reequacionar o calendário le- tivo, de modo a reduzir as férias de verão (o que permite também descondensar o programa).

Socializar e educar precocemente para a igualdade de género e para o valor do cuidar no masculino. A desigualdade está inscri-

ta, reproduz-se e legitima-se através de estereótipos de género em variadíssimas instâncias sociais, desde a família à escola, des- de o mercado de trabalho às políticas públicas e à moldura legal. É consequência da socialização de gerações sucessivas, natura- lizando-se e transmitindo-se através das atitudes e das práticas quotidianas de homens e mulheres. Um dos estereótipos mais po- derosos, porque legitima a desigualdade de género em diferentes dimensões da vida dos indivíduos e confere prerrogativas a quem é dominado - as mulheres -, prende-se com a conceção de que cuidar é uma atribuição das mulheres, porque está inscrita numa natureza feminina que se materializa com a maternidade. Esta as- sociação linear entre maternidade e competências parentais tem, desde há várias décadas, mantido as mulheres cativas do papel de cuidadoras (de filhos/as pequenos/as, mas também, por inerência de funções, de outros/as familiares doentes ou dependentes) e os homens afastados destas atribuições consideradas ‘femininas’. De geração em geração, filhos e filhas, alunos e alunas, rapazes e raparigas, são socializados para o desempenho de papéis sociais altamente diferenciados. Mas da mesma forma que a vida profis- sional e a escolarização passaram a estar ao alcance das mulheres – um processo que foi acompanhado por uma profunda reconfigu- ração da socialização das crianças e das jovens do sexo feminino para o exercício desses novos papéis -, também a entrada no uni- verso doméstico por via da paternidade cuidadora e da partilha do trabalho não pago passou a estar ao alcance dos homens, embora a socialização das crianças e dos jovens do sexo masculino para os cuidados e para o trabalho doméstico seja uma revolução que está por fazer na família, na escola e demais instâncias socializadoras.

Consagrar na Constituição da República Portuguesa o direito ao cuidado, associado ao dever de cuidar, à luz dos direitos fun-

damentais à conciliação família-trabalho e à não discriminação em função do sexo, à luz da tarefa do Estado de promover a igual- dade entre homens e mulheres, e tendo em conta os fundamentos identificados na recomendação anterior.

Aprofundar o estudo das atitudes e das práticas dos portugueses, homens e mulheres, no que respeita ao protagonismo dos primeiros na vida familiar, no sentido de averiguar a evolução dos valores e dos comportamentos, auscultando os indícios da persistên-

cia das estruturas do género e interpretando as transformações e o seu sentido. Com o aprofundamento da investigação procura-se, as- sim, contribuir para aperfeiçoar as estratégias que, a nível do Estado, têm vindo a ser delineadas tendo em vista uma conciliação - entre o trabalho pago e o trabalho pago - que, desvinculando-se dos mecanismos da desigualdade entre os sexos, alie positivamente os seus efeitos sobre o bem-estar da criança, a relação entre pais, mães e filhos/as, e, por fim, a própria dinâmica conjugal.