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FONTE: NUNES, S.I. Pesquisa de Campo/2016

A pesca de alto-mar requer barcos maiores e mais bem equipados, assim como uma estrutura para receber o pescado, que se dá em maior quantidade, mas ainda assim é caracterizada como artesanal. O que se confirma, de acordo com as informações da SEAGRI, que em todo o estado são contabilizados em torno de 70 barcos de alto mar os quais caracterizam-se como atividade pesqueira artesanal:

Os barcos de Sergipe é tudo compatível, é tudo artesanal, não tem empresa com barco grande, barcos maiores não, é tudo barco compatível da região mesmo, daqui de Pirambu, de Aracaju, do Castro, o maior é doze metros. (J. -53 anos-

pescador artesanal Pirambu/2016)

Pescador e dono de barco, nasci e me criei aqui, a pesca do camarão há mais de 30 anos, é uma pesca artesanal, assim uns barcos pequenos, né aqueles barcos industrial, que passa um mês, dois meses, seis meses. Aqui trabalha com gelo, abastecendo os barcos de gelo, óleo diesel, tem a ponte, tem água, tem energia, tem balança, tem estacionamento, um galpão de beneficiamento, funciona assim em prol da comunidade. O pessoal não paga nada, mantém como? Do gelo, nós vendemos o gelo e do dinheiro do gelo, nós pagamos energia, água, os encargos sociais, reforma do prédio, reforma das máquinas. Aqui há mais de 30 anos, iniciativa dos donos de barco, do pescado do camarão, do peixe que vem do alto mar. Porque aqui, é pesca, prefeitura, Estado, comércio e o turismo,

176 agricultura, mas eu acho que é 60% a pesca, porque graças a Deus nós temos esse mar aí grandão, é só a gente saber lhe dar com ele (A.-54 anos-pescador artesanal Pirambu/2016)

Pirambu só tem duas fábricas, a pesca e a prefeitura. Tem o royalty da Petrobrás que deveria ser destinado uma verba para a pesca e não é, porque o petróleo é tirado de dentro do mar, ocupou um espaço que o pescador pesca e esse espaço ele não tem retorno nenhum, ele não tem uma cesta básica do governo, ele não tem nada, só um seguro defeso e mesmo assim complicado para o pescador adquirir. O Pescador ele tem que se virar nos 30 para conseguir botar o peixe e o camarão na mesa ou para vender para sobreviver (M. -47 anos-pescador

artesanal Pirambu/2016)

A dificuldade do viver da pesca materializa-se de diferentes maneiras, na terra e nas águas. Para Cardoso (2009), a modernização do setor pesqueiro enquanto projeto de Estado leva à crise do setor, ao mesmo tempo em que os pescadores se organizam. A crise se dá justamente pela diminuição dos recursos pesqueiros diante de atividades predatórias, pela expropriação do pescador, que é obrigado proletarizar-se.

No estado de Sergipe não há registro da pesca-industrial, entretanto há um conjunto de atividades predatórias à natureza, que atinge os recursos pesqueiros, conforme relatos dos pescadores, entre estas, a destruição dos manguezais, o despejo de produtos químicos oriundos de indústrias e de atividades agrícolas, como também a construção de barragens. A consciência dos problemas enfrentados pela atividade pesqueira é relatada, no vivenciar da pesca enquanto atividade que lhes dá a identidade, e ao organizar-se, apresenta demandas à sociedade que se institucionaliza e da qual constroem a partir da atividade pesqueira.

Entre as dificuldades encontradas em Sergipe, em várias comunidades, estão desde a exploração, no valor do repasse dos pescados - que é determinado pelos cambistas -, como também o interesse sobre as áreas onde as comunidades pesqueiras estão localizadas, de alto nível de especulação imobiliária e turística, além dos diferentes níveis de poder de captura dentro das águas, embora sem haver a identificação da pesca industrial no estado:

Tá mais difícil, porque tem esses arrastões, os arrastões acaba também, porque pega pequeno um peixe que cresce de cinco, seis quilos. Empresa grande, para fazer um serviço daquele tem

177 que ter muito dinheiro. Tem muito, agora que tá acabando mais, de primeiro era muito, e ai eles esbagaçam a rede da gente, a gente não tem direito a falar nada. A gente vai lá eles dizem você tem que pescar beradeiro, mas quando é a noite e tem camarão eles vêm para beirada, aí pegas as da gente. A gente se livra deles mas, não tem jeito. Nesses tempos eu não tenho nem pescando, a gente pesca mais pela noite quando eles param. (W. -53 anos-pescador artesanal Porto do Mato/2015)

Cambista quando você pega hoje 50 quilos de peixe, ele te paga, se for de seis ele paga de seis, se for de oito ele paga de oito, mas se você for amanhã pegar 80, 100 quilos ele já quer outro preço, porque diz que tá ruim. (W. -53 anos-pescador artesanal

Porto do Mato/2015)

A especulação imobiliária está expulsando os pescadores, breve vamos ser um Mosqueiro da vida, porque no passado o Mosqueiro era uma área de pescadores, hoje não é mais. Estância se não tomar cuidado breve não tem mais pesca em Estância, é especulação imobiliária que tá mandando todo mundo embora. Porque o rico chega lá, compra a terra do pescador, faz uma mansão, expulsa a família dele e contrata um como caseiro. O pessoal está migrando para o extrativismo da mangaba, hoje em dia todo pescador coleta mangaba também porque é uma alternativa de renda. É por isso que eu sou favor de uma formação diferente, porque você pode extrair do mangue o sururu, tem a moréia, tem o bagre, tem uma série de coisas que você tem como fazer, mas que normalmente, a nova geração, minha vó fazia de um jeito, eu aprendi com a minha vó e teve umas modificações, a nova geração já faz diferente. Mas por exemplo, o jovem sai para pescar não lembra de botar uma rede para pegar um bagre, é uma fonte de renda, no mínimo para botar comida em casa. (D. pescador artesanal e Presidente

do Conselho de Meio Ambiente de Estância/2015)

Na nossa região não dá para viver só da pesca, porque aqui é como se fosse mais do que uma cidade, é para turista, eles esquecem das pessoas daqui, aqui tudo é caro, as vezes até mais caro do que na própria cidade. É por isso que o pessoal as vezes sai daqui para fazer compras lá, porque lá sai mais em conta, porque aqui tudo é no gogó, então elas têm que se virarem, o que é que elas fazem, são 30 dias, a maré boa é mais ou menos 15, 12 dias, aqueles dias de maré ruim, aqueles dias que elas não podem porque a maré está cheia, ai elas vão dar faxina na casa de vizinho, dar faxina na casa dos ricos, lavar roupa. Os homens arrumam como servente, limpar terreno do povo, mas, de todo jeito eles se viram, ficar com fome é que não pode né? (A. 43 anos- pescadora artesanal, Povoado Porto do

Mato-Estância/2016)

Há, em Sergipe, um modelo de desenvolvimento em curso para fomentar o turismo em todo estado, e o aumento do valor do uso do solo a partir da natureza enquanto atração turística nas áreas litorâneas. Nos últimos anos, esta

178 condição tem sido marcada pela construção de resorts e condomínios de luxo. Gesteira e Cavalcante (2016), ao analisar o processo de especulação imobiliária na grande Aracaju, apontam para a expansão da urbanização como forma de acelerar o tempo de rotação do capital em sua necessidade de acumulação.

Nesse caminho, o Estado, ao fomentar a estrutura necessária para a especulação da terra como mercadoria ao interesse de grandes construtoras, tem investido em Conjuntos Residenciais de luxo no formato de Condomínios fechados e de complexos turísticos, quem têm se espalhado pelo estado com grandes consequências para as comunidades ali presentes:

[...] o que se observa é que a lógica na qual esses condomínios são construídos, os autossegrega, excluindo por completo o entorno. Como mercadoria, a paisagem costeira é comercializada, alheia às comunidades tradicionais. Vários imóveis são de segunda residência, e certos empreendimentos tentam mesclar perfil de hotelaria com o residencial, com alguns espaços destinados exclusivamente à locação (Ibidem, p.9).

O papel do Estado tem sido o de viabilizar a infraestrutura e garantir as devidas licenças ambientais para a construção desses empreendimentos, entretanto, este não apresenta na mesma velocidade a obrigação de atender as necessidades das comunidades que vivem nessas áreas nas atividades relacionadas diretamente com a natureza:

Sob a intervenção do Estado e de empresários, os espaços de vida e de trabalho de muitas comunidades tornaram-se objeto de acirradas disputas. Apesar da determinação na legislação brasileira sobre o gerenciamento costeiro, não existe a demarcação de terrenos da marinha e nem ordenamento territorial que assegure aos moradores a permanência em seus territórios e a proteção dos patrimônios locais. A situação de insegurança em relação à inexistência de titularidade da terra pelas comunidades que não se diferencia, da realidade brasileira, agrava-se diante do poder dos grileiros, dos especuladores e empreendedores turísticos ( interessados em enseadas, falésias, campos de dunas e praias para abrigar a laurear resorts e hotéis) que agem para garantir a posse de terras, mediante o registro de falsas escrituras, de indevida cessão de usucapião, de avanços de marcos e cercamentos de áreas de uso em comum e de compro de posses por valores irrisórios. (LIMA, 2008, p.205).

179 Na região do Baixo São Francisco/SE, as comunidades tradicionais que vivem da pesca vivem o conflito/disputa pelo acesso à terra e água, quanto na degradação do rio e de suas espécies devido à presença das barragens ao longo do seu curso. A comunidade Quilombola de Resina tem resistido na luta pelo acesso à terra e água e no viver da pesca, na foz do Rio São Francisco. (Foto 12 e 13)

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