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Caminho do Afeto ao Discurso: roteiros de aula de Filosofia para o ensino médio

CAPÍTULO IV- AS PUBLICAÇÕES DOS SUBPROJETOS PIBID FILOSOFIA: NOVAS POSSIBILIDADES PARA O SEU ENSINO

4.3 EXPERIÊNCIAS FILOSÓFICAS ENUNCIADAS NAS NARRATIVAS DOS SUBPROJETOS PIBID FILOSOFIA

4.3.5 Caminho do Afeto ao Discurso: roteiros de aula de Filosofia para o ensino médio

O subprojeto PIBID Filosofia da UFABC publicou o material didático “O caminho do afeto ao discurso” (PIZA et all, 2017). O título justifica-se porque os autores entendem que todo o pensar filosófico origina-se de um afeto, de algo que surpreende, inicialmente, aquele que está envolvido ou envolvendo-se com a Filosofia. Esse material foi elaborado tendo como fundamento as experiências realizadas pelo grupo de bolsistas PIBID Filosofia da UFABC, cuja proposta é dispor ao professor roteiros teórico-metodológicos sobre conteúdos vinculados à realidade do estudante, que podem ser trabalhados em Filosofia no ensino médio. O texto foi organizado a partir de quatro temas, distribuídos em três áreas de conhecimento filosófico - Ética, Filosofia Política e Estética -, tendo como foco principal a Filosofia do ensino de Filosofia, ou seja, o texto “foi produzido livremente a partir de diversas fontes e referências teóricas, mas especialmente das discussões realizadas sobre o que é Filosofia e como ensiná-la. ” (PIZA et all, 2017, p. 4).

Para elaborar os roteiros propõe a alguns passos que estão presentes em todos, que são afeto, necessidade, problema, pensamento/investigação e discurso, mas com a consideração de que são sugestões ou modelos, que o professor deve usar livremente, de acordo com as necessidades dos estudantes. Os temas problematizados nos roteiros sugeridos, pretendem ser pontos de partida para “pensar necessidades humanas oriundas dos afetos cotidianos”. (PIZA et all, 2017, p. 7).

Na etapa designada como afeto, são trazidas notícias e imagens sobre o tema. Para evidenciar a necessidade de discussão sobre o assunto, são utilizadas imagens e frases; na sequência, há a problematização, que é a construção das perguntas filosóficas. Na etapa de pensamento/investigação, ocorre a sugestão de filmes sobre o tema, assim como de letras de músicas e a investigação na história da Filosofia. Por fim, a produção textual ou o discurso.

O foco dessa atividade procura atender o desenvolvimento uma habilidade essencial ao estudante de ensino médio que é a escrita. Por ser uma disciplina

conceitual, a Filosofia não pode prescindir do cuidado com a leitura e a escrita, esse é o seu modo de atuar. Assim sendo, iniciativas que se ocupem com essas duas habilidades, devem ser valorizadas.

Guido, em seu livro A arte de aprender (2008), trata sobre as habilidades que devem ser desenvolvidas na escola e que são necessárias para o desenvolvimento do jovem, a saber, o raciocínio lógico (leitura/interpretação), o desenvolvimento da argumentação (exercício da escrita) e a elaboração textual (escrita).

Dos quatro roteiros pedagógicos56, foi escolhido para analisar o tema

“Pichação-arte-manifestação”, de interesse do jovem que frequenta a escola de ensino médio por fazer parte do seu cotidiano, tema que, muitas vezes, é causa de conflitos na vida do jovem. Todos os roteiros apresentam um viés cultural, sendo tratados a partir de uma ótica filosófica. A sensibilização quanto aos conteúdos é realizada a partir da utilização de ferramentas que sejam referentes ao mundo do próprio estudante, como imagens.

4.3.5.1 Pichação-arte-manifestação

A atividade inicia procurando afetar o estudante, sob o título “Afete seu aluno e se afete” (PIZA et all, 2017, p. 41), expondo algumas notícias de jornal, que expressam a forma como o Estado trata os pichadores e as pichações57. A questão colocada a

partir dessas notícias impactantes é o que se pode entender por pichação: arte, depredação ou crime. (PIZA et all, 2017). Também se questiona a diferença entre “pixo” e grafite, assim como o que leva a pessoa a ter necessidade de pixar. Portanto, os roteiros partem de um tema contemporâneo, de interesse dos estudantes e, dessa forma, chegam à problematização filosófica. Nesse ponto, acreditam que o estudante, ao ser afetado ou deixar-se afetar, já está envolvido com a discussão filosófica.

56 Os outros roteiros tratam sobre a violência contra a mulher, a liberdade em um viés político e o descaso, violência e insensibilidade diante da vida humana.

57 No início do roteiro, há uma explicação sobre a grafia do termo pichação, pois a palavra aparece escrita de duas formas: pichação e pixação. Os autores (2017) esclarecem que a primeira é escrita de acordo com a norma culta da língua portuguesa e a segunda é a forma como os artistas de rua escrevem.

Figura 14 - Definição de grafite.

Fonte: O Caminho do afeto ao discurso: roteiros de aula de filosofia para o ensino médio.

Na sequência, após discutirem o tema e as suas implicações, inicia a problematização ou a criação de problemas filosóficos retirados das notícias e definições sobre pichação e grafite. Nesse roteiro, o tema é a Arte. Posteriormente, ocorre o aprofundamento, através de consulta a teorias filosóficas. Assim, são trazidos textos filosóficos que abordam o assunto a partir de perspectivas diferentes.

Figura 15 - Problematizando o Tema

.

Para finalizar a atividade, depois do estudo do referencial teórico, é solicitada uma produção textual ou produção de “discurso filosófico”, como eles denominam. O texto deve ser elaborado partindo da pergunta que está no roteiro.

Embora os roteiros didáticos sejam flexíveis, entende-se que a problematização deveria ser elaborada pelos estudantes juntamente com o professor da classe, bem como a pergunta que, consequentemente, surgiria desses questionamentos para a elaboração da produção textual. Considera-se que faltou definir e esclarecer o termo grafite, escrito no texto de duas formas diferentes graffiti (p.42) e graffite (p. 43), como foi esclarecido sobre a grafia da palavra pichação. Historicamente, grafite é uma forma de arte desenvolvida desde a antiguidade, sendo encontrada na Grécia e no Império Romano.

Os quatro roteiros apresentam a mesma sequência dentro da temática abordada, todos com vários estímulos visuais e com textos de boa extensão, pois, para estudantes de ensino médio, não é prudente utilizar texto longos, para que não se tornem cansativos, provocando desinteresse dos estudantes.

As atividades propostas pelo PIBID Filosofia da UFABC valorizam duas habilidades importantes para o ensino de Filosofia: a leitura e a escrita sem descuidar de proporcionar uma Filosofia que tenha significado, que afete os alunos como sujeitos do conhecimento.

Nesse projeto, ensinar Filosofia significa, especialmente, desenvolver experiências de pensamento que tenham sentido para a vida do jovem, que tratem de problemas que fazem parte do seu cotidiano, de uma forma que o leve a desenvolver o gosto pelo pensamento reflexivo. Do mesmo modo, evidencia-se, nessa proposta, que o ensino de Filosofia precisa considerar mais a questão da metodologia de ensino, pois esta também faz a diferença na abordagem dos temas.

Todas as publicações analisadas neste estudo dirigem-se não só à formação do professor de Filosofia, mas, de modo especial, ao jovem que traz as suas angústias para o ambiente escolar, é para ele e partindo da sua realidade que a educação deve ser planejada.

As inquietações dos jovens pela busca de compreensão, de significado e valor da realidade são genuínas e precisam de respeito para serem de alguma forma apaziguadas pelas respostas complexas encontradas, por mais provisórias que sejam. Portanto, tudo deve partir das questões dos alunos. Não há razão para pensarmos ensino de filosofia se não for da filosofia viva e vivificante que pode ser construída a partir das aflições tão humanas, do estranhamento e incômodo com a ordem vigente da vida como

ela se nos aparece. A filosofia surge como tentativa de elaboração de saídas para problemas concretos [...]. As questões filosóficas são universais, são humanas. (ASPIS, 2004, p. 309-10)

O ensino de Filosofia deve acolher as preocupações legítimas dos estudantes, ter disposição para compreender o que pensam e o que querem os jovens, esse pode ser o código para aproximá-lo da Filosofia.

5 CONCLUSÃO: E AGORA, O QUE DIZER? RETOMANDO AS QUESTÕES