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No contexto deste relatório, foram utilizadas experiências anteriores da pesquisadora em termos de história de vida, tanto como aluna do curso de matemática da UFES de 1999 a 2003, quanto de professora de matemática dentro desta mesma instituição, a partir de 2003.

Preliminarmente procedeu-se a um levantamento dos cursos para as quais o DMAT oferece disciplinas. Em seguida, foram escolhidos o curso mais concorrido e o menos concorrido de cada centro que tivessem disciplinas de matemática como pré-requisito para outras, resultando nos cursos: matemática, física, administração, economia, ciência de computação, engenharia civil.

É importante registrar aqui que no período em que a pesquisadora interessou-se pelo objeto de estudo havia uma facilidade de trânsito na instituição pesquisada, sobretudo no DMAT do qual foi aluna e professora, e no Departamento de Administração, no qual lecionou. Por essa facilidade, foi realizada uma incursão entre os alunos e professores com o intuito de compreender melhor o ambiente e os elementos mais presentes em termos de fala e comportamento (informal) para subsidiar a escolha dos instrumentos de pesquisa, o que durou cerca de quatro meses.

Foram então selecionadas para aplicação de questionários, as turmas de períodos que, pela grade curricular, já cursaram todas as disciplinas de matemática, ou turmas

de finalistas quando isso não fosse possível por haver disciplinas de matemática até o último período. Nas turmas foram aplicados questionários com escala tipo Likert com cinco graus de liberdade, com afirmativas relativas às características em estudo descritas nos objetivos desse relatório.

Durante a aplicação desses questionários, foi realizada uma seleção dos casos dos incidentes críticos representativos nessas turmas, através de relatos informais de estudantes sobre experiências próprias e de colegas. Os estudantes foram contatados pelos dados pessoais (telefone e e-mail) que forneceram no próprio questionário para aprofundar os assuntos abordados. Isso foi necessário devido à inviabilidade de se marcar entrevistas com os alunos, devido à coincidência do período de pesquisa de campo com o das últimas provas do período 2005/2 até as férias de verão, janeiro e fevereiro de 2006.

Depois de identificados os professores citados pelos alunos no ato do preenchimento dos questionários, procurou-se entrevistar esses docentes de forma a captar suas opiniões acerca das características a serem estudadas nas situações criadas pelas disciplinas.

As entrevistas mencionadas anteriormente foram realizadas de acordo com a perspectiva de incidentes críticos teorizada por Flanagan (1954) e história de vida, de acordo com o referencial teórico. O método dos incidentes críticos se caracteriza por identificar fatos incomuns (incidentes) que se sobressaíram positiva ou negativamente.

Assim, foram explorados aspectos indicativos dos valores dos docentes e das relações professor-aluno na perspectiva dos Incidentes Críticos (IC), que pudessem ser descritos e compreendidos.

Em Flanagan (1954, p. 166) define-se incidente como toda atividade humana observável, através da qual se possam fazer induções ou previsões sobre o indivíduo que realiza a ação. Esse incidente para ser crítico deve ocorrer numa situação tal que a intenção da ação apareça suficientemente clara para a pessoa que a testemunhou e que as conseqüências da ação sejam evidentes.

A técnica de coleta de dados utilizada normalmente para este método é a entrevista semi-estruturada orientada por um questionário. Estrela e Estrela (1994) recomendam que, antes de se iniciar a entrevista, se explique ao entrevistado o que é incidente crítico, dando exemplos de incidentes não relacionados ao objeto de pesquisa e explicitando critérios que fazem um incidente ser considerado crítico ou não.

É importante conduzir a entrevista de forma que o entrevistado ao fazer juízos de valor descreva comportamentos observados por ele que expliquem as razões para isso, de forma que pessoas externas também tenham condições de compreender aquela situação.

No momento seguinte, foi feita uma seleção de entrevistas a fim de se eliminar depoimentos confusos, imprecisos ou vagos. Na análise de dados propriamente dita, foram catalogados os incidentes críticos em fichas individuais para cada incidente, como em JENSEN (1951, p. 83).

Depois de identificados os valores na análise do conteúdo das entrevistas, observando entonações, pausas e outras modificações vocais nas gravações, executou-se a categorização dos incidentes em termos dos valores predominantes identificados nesta análise. Estrela e Estrela (1994, p. 32) recomendam que as categorias sejam mutuamente exclusivas, coerentes, homogêneas e exaustivas.

Observando os procedimentos deste método, nota-se que a corrente teórica que deu origem à técnica de incidentes críticos tem nítida influência behaviorista, muito em voga na época de sua criação. No entanto, pode-se fazer uma análise dos discursos verbais e não-verbais dos observados e dos observadores de forma a captar valores que transparecem nestas práticas. Na opinião de Estrela e Estrela (1994, p. 59), esta técnica se mostra mais interessante para analisar as representações dos valores dos observadores do que para analisar o comportamento dos observados.

Foram utilizadas também entrevistas eletrônicas baseadas na técnica de e-interview (MANN; STEWART, 2000). Poderia-se argumentar que a técnica Delphi já é mais conhecida na área de administração, desde a década de 1970 (TUROFF; LINSTONE, 1975; WRIGHT; SANTOS; JOHNSON, 1979). No entanto, ela não se presta aos fins desse trabalho pelas razões enumeradas a seguir.

Na técnica Delphi, procura-se chegar a um consenso de opiniões entre especialistas através de um feedback do pesquisador ao longo de diversas rodadas (ESTES e KUESPERT, 1976, p. 32). Nesse método são utilizados questionários enviados via e-mail, carta ou entregues em mãos. Eles são compostos de aproximadamente 25 perguntas curtas e objetivas, utilizando recursos como completar frases, enumerar fatores, etc. (WRIGHT; GIOVINAZZO, 2000, p. 6). Em seguida, o pesquisador compila as respostas obtidas em termos quantitativos, e as devolve para os respondentes, para uma segunda rodada de perguntas. Esse procedimento se repete até que haja uma convergência satisfatória para o pesquisador, ou grupo de pesquisadores.

Em termos da e-interview, efetivamente utilizada nesse trabalho, os objetivos podem ser os mesmos das entrevistas ao vivo, com vantagens e desvantagens próprias do meio virtual (BAMPTON; COWTON, 2002, p. 2). Algumas das vantagens:

a) os respondentes podem se sentir menos julgados ou censurados pelos entrevistadores do que numa entrevista ao vivo, especialmente em perguntas mais íntimas ou reveladoras;

b) não é preciso que haja um espaço nas agendas dos participantes das e-interviews, o que é uma vantagem expressiva quando se trata de entrevistados atarefados ou geograficamente distantes.

Não há, no entanto, um consenso se a possível falta de espontaneidade das respostas é ou não uma desvantagem efetivamente, pois por questões éticas, é interessante dar ao entrevistado tempo para reformular e pesquisar sobre suas respostas (LEE, 1993, p. 118). Esse processo pode levar inclusive à auto-reflexão e a um maior auto-conhecimento por parte dos entrevistados.

Devido ao crescente número de usuários da internet, principalmente no meio acadêmico, essa reformulação nas respostas nem sempre ocorre, podendo ser observada pelos erros de digitação e pelos emoticons (expressões como :) ou :( utilizadas para indicar estados emocionais), características de linguagem de internet utilizada em chats em meio às mensagens eletrônicas.

Em contrapartida, a demora e a abstenção nas respostas dos participantes podem ser consideradas desvantagens nesse método, compensadas pela diminuição de custos

com transporte, transcrição e aquisição de materiais para gravação de áudio ou vídeo utilizados mais tradicionalmente nas entrevistas ao vivo.