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O caminho para a sustentabilidade segundo a Medida Mínima Segura (MMS)

Os primeiros trabalhos dessa corrente são originalmente de Ciriacy-Wantrup (1952) e Bishop (1978). Esses autores, segundo Hussen (2000), iniciaram seus trabalhos com a construção de um guia prático de administração dos recursos naturais sob as condições de extrema incerteza, como por exemplo, a preservação de espécies em extinção. Os problemas dessa natureza colocam a questão da irreversibilidade como ponto chave a ser considerado. Isto é, depois de um determinado patamar (ou zona crítica), a exploração de recursos naturais pode levar a danos irreversíveis. Por exemplo, a ararinha azul pode ser declarada extinta se sua população cair abaixo de um dado nível, e este nível é maior do que zero. Assim, a administração de recursos naturais desta natureza é da mais alta importância, chamando-se a atenção para o fato de não se estender o uso de determinado recurso abaixo de uma medida mínima segura (MMS).

Por outro lado, o custo de oportunidade social de reverter o direcionamento pode tornar-se “inaceitavelmente grande”. Neste caso, é importante atentar para as incertezas que cerceiam as ações humanas e os custos, além da irreversibilidade do impacto humano, em particular, sobre o meio ambiente. Portanto, é prudente considerar a incerteza como o cerne para conceber a MMS. A administração de recursos de forma sustentável pela adoção do caminho da MMS tem relevâncias específicas, tanto para atender as implicações da irreversibilidade quanto os custos de oportunidade social associados a ele. A este respeito, M. Karshenas escreve:

Uma taxa de crescimento econômico socialmente desejável a longo prazo poderá ser definida de diferentes formas, em função do nível de desenvolvimento e das características sócio-históricas específicas do país em causa. (...) Todavia, mesmo nos casos em que um tal desenvolvimento desequilibrado ou assimétrico pode revelar-se capaz de satisfazer as condições indispensáveis ao estabelecimento de um modelo de desenvolvimento sustentável, ainda assim é possível descortinar nestes sistemas econômicos subeconomias insustentáveis compostas por sectores marginalizados. (...) [E nisto], poderá até o esgotamento da base de recursos naturais justificar-se na fase inicial do desenvolvimento, isto é, na transição de uma economia alicerçada nos recursos naturais para uma outra industrialmente diversificada e tecnologicamente amadurecida (CES, 1994:52-3).

As proporções e os impactos do homem sobre a natureza guardam relações incertas, mas estas podem ser grandes e irreversíveis. Assim, a MMS sugere que capital humano e natural não sejam simplesmente substitutos, pois as possibilidades de

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substituição entre eles são incertas. Mas, no longo prazo, a administração do uso e consumo dos recursos naturais para sustentabilidade deve garantir a manutenção constante do capital natural, ou seja, preservar um determinado nível, considerado seguro, da biodiversidade.

Entendida a proposta do caminho da MMS para o alcance da sustentabilidade, este não invalida totalmente os caminhos econômicos básicos de acesso aos recursos e de administração ou, ainda, o conceito de sustentabilidade. Ele simplesmente aperfeiçoa o texto e a aplicação dos conceitos econômicos básicos de sustentabilidade, restringindo sua relevância, face aos impactos humanos sobre o meio ambiente, onde as possíveis conseqüências estão resguardadas, desde que sejam pequenas e reversíveis. Numa situação desta natureza, os investimentos compensatórios de Hartwick podem ser aplicados e os custos de oportunidade sociais avaliados, usando-se a análise custo- benefício.

Do mesmo modo, a MMS e o caminho ecológico para sustentabilidade têm ideais em comum. Ambos os caminhos aderem à noção de limites nas possibilidades de substituição entre capital humano e natural. Mas cada um oferece diferentes explicações para os limites dos fatores substituíveis. A MMS usa a irreversibilidade e a economia ecológica utiliza-se das leis físicas (da termodinâmica - a entropia) onde a irreversibilidade ecológica é parte dela.

Em muitos aspectos, o caminho da MMS para o alcance da sustentabilidade pode ser percebido como um híbrido entre o caminho de Hartwick-Solow e o caminho econômico ecológico. Muitas vezes, é referido como caminho médio para sustentabilidade, por não haver rejeição aos pressupostos básicos dos caminhos econômicos para a sustentabilidade.

Finalmente, é importante destacar que a regra operacional da MMS é baseada no nível de incerteza em contraponto aos custos de oportunidades sociais das atividades correntes. Ou seja, a MMS evidencia o imperativo social de salvaguardar o capital natural contra a degradação irreversível e de longa escala.

Os três caminhos para o alcance da sustentabilidade, pode-se perceber que os conceitos básicos de cada um, no conjunto, mostram-se coerentes para promover um desenvolvimento sustentável quanto à administração dos recursos naturais. Porém, o conceito da Medida Mínima Segura mostra-se mais eficiente na condução dessa tarefa.

Por outro lado, se fossem incluídos ajustes no conceito da contabilidade nacional, particularmente no PIB, que viesse inserir a depreciação e os desgastes

ambientais, dar-se-ia maior clareza aos governantes e aos agentes tomadores de decisão quanto à realidade que cerceia o meio ambiente ante a atividade econômica.

Acredita-se que a conscientização dos tomadores de decisões sobre a importância da sustentabilidade nos programas de desenvolvimento econômico conduzirá à reversão dos processos predatórios sobre o meio ambiente. Assim, o caminho mais coerente para aprovisionamento desta sustentabilidade, como discutido anteriormente, é o da Medida Mínima Segura.

Por isso, apesar de não se advogar aqui a visão conservacionista em relação ao consumo e aos padrões de produção, a implementação de políticas fundadas no conceito de sustentabilidade da Medida Mínima Segura parece indicar o melhor caminho para a promoção de uma nova proposta de desenvolvimento, que agregue a um só tempo a promoção de melhorias nas dimensões social, econômica e ambiental, conforme será discutido no item seguinte.