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O caminho da economia ecológica para a sustentabilidade

Vale ressaltar que não é propósito deste capítulo exaurir a literatura acerca da teoria da economia do meio ambiente, mas sim resenhar sobre a corrente de pensamento neoclássica mostrando seus limites e impactos na promoção do desenvolvimento sustentável, em contraponto com as outras correntes de pensamento sobre a Sustentabilidade.

O caminho da economia ecológica para a sustentabilidade tem a visão geral de que o mundo natural não é apenas finito, mas também tem seu crescimento limitado e é materialmente fechado. Postula, ainda, que a capacidade geral deste mundo natural finito está a cada dia restrito pelo tamanho da economia, dado que a natureza tem uma capacidade limitada de absorção do material nela depositada, baixa entropia. Com base nesses argumentos, propõe-se que sejam revistas as relações do homem e das atividades econômicas com a natureza.

Assim, o que passa a ser cada vez mais evidente é a insustentabilidade do crescimento econômico, especialmente se ele for baseado no crescimento do uso dos recursos naturais. Acerca disto, escrevem McFetridge, Smith e Chant (1992:22):

A sociedade conservacionista tem sido apontada como uma alternativa para nossa atual sociedade consumista. (...) Eles defendem uma sociedade conservacionista primeiramente porque, em sua opinião, a drástica diminuição dos recursos naturais e os prejuízos ambientais associados à sociedade de consumo têm de ser eliminados. Em segundo lugar, porque, mesmo que fosse possível manter o atual sistema, os conservacionistas continuariam a considerá-lo indesejável, [pois] (...) nosso consumo [estaria] relacionado (...) a necessidades artificialmente criadas, e não a necessidades reais.

6 Seriam exemplos desse processo: a retirada de árvores para a produção de celulose, papelão, caixotes; petróleo bruto transformado em combustíveis, óleos, asfalto etc.

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Percebe-se que a visão dos conservacionistas é bastante rígida. Para eles os problemas relacionados ao ambiente têm sua fonte no consumismo leviano, induzido por propagandas, status, vaidade. Desse modo, alterações no comportamento dos agentes, por exemplo, reorientação quanto ao consumo, melhor educação, desacelerariam o atual processo produtivo, ao passo que provocariam alterações qualitativas também. Ainda segundo as concepções de McFetridge, Smith e Chant (1992:25):

O diagnóstico conservacionista dos problemas de uma sociedade de consumo pode ser resumido da seguinte maneira: a busca do aumento contínuo das quantidades de mercadoria produzidas não satisfaz as necessidades reais e ainda contribui para a poluição, a exaustão dos recursos naturais e outros problemas sociais. Já [foram produzidos] bens suficientes para o atendimento de nossas necessidades reais [...].

Segundo o caminho da economia ecológica da sustentabilidade, capital natural e capital humano não podem ser vistos como substitutos. O mais realístico é entender esses dois componentes como complementares. O que isto sugere é uma combinação de dois tipos de capital necessário para o processo produtivo. Ao contrário do que sustenta o caminho de Hartwick-Solow, uma economia não pode continuar a funcionar sem o capital natural, sendo encarado como fator limitador do futuro. Isto é, a pescaria não será limitada pela quantidade de barcos pesqueiros, mas pelo estoque de peixes existente; o petróleo será limitado não pela capacidade de refinamento, mas pelos depósitos geológicos e/ou pela capacidade atmosférica de absorver dióxido de carbono, lançado pelos automóveis.

Da mesma forma, o capital produzido pelo homem não pode ser substituído por energia terrestre escassa, sem limites, porque uma quantidade mínima de energia é requerida para qualquer transformação ou atividade. Por esse motivo, capital natural é o fator-chave para qualquer consideração de sustentabilidade. Assim, o capital natural é visto como fator limitador para o crescimento econômico futuro, por isso o caminho da economia ecológica é, algumas vezes, referido como o critério forte de sustentabilidade (BOISIER, 1999).

A economia ecológica vislumbra a alocação intertemporal eficiente dos recursos naturais de tal modo que as gerações futuras não sejam relegadas a um nível inferior de padrão de vida e de qualidade ambiental, do que as gerações correntes. A eqüidade intergeracional é considerada como um requisito específico.

Um segmento que representa os princípios da Economia Ecológica, por exemplo, é a sociedade conservacionista, que coloca a questão da alocação intergerações como fruto de uma mudança nos valores da sociedade:

[...] nossa sociedade é perdulária na utilização dos recursos por causa das inadequações de nossos sistemas de valores. (...) O oferecimento de soluções para o problema do desperdício é, sem dúvida, uma das funções mais importantes do governo, envolvendo, também, o estabelecimento de restrições à publicidade que refletisse valores não apropriados e a promoção da que veiculasse valores conservacionistas. No caso de o desperdício persistir, campanhas educativas, sobretaxas, regulamentação e restrições severas podem, posteriormente, vir a se tornar imperativas (McFETRIDGE; SMITH; CHANT, 1992:31).

Mas, essa postura fere os direitos do consumidor no que diz respeito ao direito de se fazer escolhas, além de ferir um pressuposto introduzido por Adam Smith desde os anos de 1776, que descreve o desempenho de um sistema econômico em função do grau de satisfação que oferece aos consumidores. Entretanto, como se sabe, o sistema econômico trabalha respondendo a três perguntas: o que produzir, como produzir e para quem produzir?

Ao privilegiarem as firmas cuja produção está adequada aos seus anseios, os consumidores geralmente determinam o que é produzido. (...) A composição do produto reflete a interação entre as preferências dos indivíduos e os custos de produção. Haja vista a existência da soberania do consumidor, as críticas conservacionistas ao que produzimos refletem um juízo de valor sobre os gostos e as preferências de outros indivíduos. (...) Rotular de supérfluos ou de indistinguíveis (em relação a seus similares) os bens e serviços que outros indivíduos preferem consumir significa questionar a validade desses gostos (McFETRIDGE; SMITH; CHANT, 1992:33-4).

O conceito ético acima referido é mais bem atribuído às questões de perspectiva humana ou antropocêntrica. É argumentado que a sustentabilidade ecológica precisa ir ao encontro dos interesses humanos, da democracia e não da ditadura; da possibilidade de escolha e não da escassez. O princípio da economia ecológica para sustentabilidade compreende tanto dimensões ecológicas como econômicas. O efeito final que se espera é determinar um padrão de consumo e uso dos recursos naturais que salvaguarde as gerações futuras contra a irreversibilidade e o dano ambiental de larga escala, como perda da biodiversidade, aquecimento global, dentre outros problemas ambientais.

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Conforme Hussen (2000:188), sob uma perspectiva de política pública, as regras de alcance da sustentabilidade que os proponentes do caminho da Economia Ecológica advogam são as seguintes:

1. The rate of exploitation of renewable resources should not exceed the regeneration rate. 2. Waste emission (pollution) should be kept at or below the waster-absorptive capacity of the environment. For flow or degradable wastes the rate of discharge should be less than the rate at which the ecosystem can absorb those wastes. For stock or persistent wastes (such as DDT, radioactive substances, etc.) the rates of discharges should be zero since the ecosystem has no capacity to absorb these wastes. 3. The extraction of nonrenewable resources (such as oil) should be consistent with the development of renewable substitutes. This is equivalent to the compensatory investment rule advocated by Hartwick.

Na verdade, as regras acima citadas podem ser consideradas muito vagas operacionalmente, por várias razões. Em primeiro lugar, não é dito especificamente nada sobre o nível regenerativo, ou crescimento natural, dos recursos renováveis. Nesse caso, a sociedade tem que tomar uma decisão quanto ao nível ótimo sustentável. As regras acima, em linhas gerais, não se referem a essa questão. Em segundo lugar, a regra que diz que “a emissão de resíduos deveria ser controlada ou deveria ser menor do que

a capacidade de absorção de resíduos pelo meio ambiente”7 ignora totalmente as considerações econômicas. Mas, este nível ótimo de poluição pode ser acima da capacidade de absorção do meio ambiente. E, em terceiro lugar, em geral as regras acima são apenas firmadas em termos biofísicos, sem muito contexto econômico ou institucional. E, neste caso, sua utilidade como guia para políticas públicas poderá ser um tanto limitada.

Em resumo, a economia ecológica absorve a idéia conservacionista da preservação do meio ambiente em detrimento do atual padrão de consumo e conseqüentemente de produção. Esta conceituação de alcance da sustentabilidade não impõe o capital natural sobre o capital produtivo, mas propõe que um complemente a função utilidade do outro.

O conceito de sustentabilidade, que sugere a utilização dos recursos ambientais e do meio ambiente, considera uma Medida Mínima Segura, aquela que visa atender os requerimentos do momento presente, preservando (mantendo uma reserva) o ‘bem ambiental’ para o atendimento das necessidades futuras.

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