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CAMINHOS DA ADMINISTRAÇÃO/GESTÃO EDUCACIONAL NO BRASIL

A história da administração da educação na América Latina e no Brasil pode ser estudada sob o olhar de diferentes enfoques analíticos. Sander (1995) reconstruiu a história do pensamento administrativo da educação utilizando-se de cinco enfoques principais: o jurídico, o tecnocrático, o comportamental, o desenvolvimentista e o sociológico.

Conforme o autor, o enfoque jurídico era essencialmente normativo e estreitamente vinculado à tradição do direito administrativo romano. Os autores dessa época sofreram profunda influência europeia e manifestaram uma clara opção pelo pensamento dedutivo. O cristianismo reforçou o caráter normativo e o pensamento dedutivo. O positivismo também predominou na educação, deixando sua marca através da introdução do método científico empírico, do enciclopedismo curricular e dos modelos normativos de gestão da educação. Como argumenta Sander (1995), sob o enfoque jurídico, “as publicações pedagógicas do período colonial refletem a influência simultânea da filosofia escolástica, do racionalismo positivista e do formalismo legal na organização e administração da educação latino- americana". Essa abordagem teve impacto na educação brasileira até a década de 1930.

O enfoque tecnocrático assumiu características de um modelo preocupado com a economia, a produtividade e a eficiência. Como o anterior, também foi normativo e dedutivo. No campo da administração da educação, enfatizou a adoção de perspectivas e soluções organizacionais e administrativas enraizadas no pragmatismo instrumental do início do século XX. As teorias dessa época baseiam- se na escola clássica, predominantemente, nos princípios da administração científica, geral e burocrática de Taylor, Fayol e Weber, respectivamente. No contexto brasileiro, a influência pode ser percebida nas obras de Anísio Teixeira, que

interpretou o pragmatismo pedagógico na linha de James e Dewey; de Querino Ribeiro, que seguiu a orientação de Fayol; e de Carneiro Leão e Lourenço Filho, que adotaram uma orientação clássica mais abrangente. Os escritos de Anísio Teixeira tiveram “particular influência no campo das políticas públicas e da gestão do ensino, marcando profundamente o pensamento pedagógico desde os anos trinta até a década de setenta” (SANDER, 1995). Cabe ressaltar que houve construções teóricas, como as de Anísio e Lourenço, que, apesar da influência europeia, se preocuparam com a defesa da identidade cultural e com a promoção dos valores característicos da sociedade latino-americana.

A Taylor e a Fayol se devem, pois, as mais compreensivas e decisivas contribuições para os estudos de administração: a Taylor, especialmente, a idéia de uma estrutura administrativa nova, melhor ajustada à também nova linha técnica de produção – a administração funcional; a Fayol, a análise do processo administrativo, através das atividades de previsão, organização, comando, coordenação e controle. (RIBEIRO, 1978, p. 64)

O enfoque comportamental surgiu como reação aos princípios e práticas tradicionais da escola clássica de administração, em busca do resgate da dimensão humana da administração. Enfatizou os conceitos de eficiência e eficácia no desempenho das funções administrativas. Esse enfoque destacou a interação entre a dimensão humana e a dimensão institucional da administração e teve presença marcante na educação, principalmente através da utilização do enfoque sistêmico de natureza psicossociológica.

O enfoque desenvolvimentalista propôs a adoção de uma perspectiva de administração dedicada à gestão dos programas de desenvolvimento, sob o argumento de que os modelos tradicionais de administração são limitados e inadequados para o estudo e a prática da administração pública nos países pobres. Nessa etapa, a educação passou a se constituir no fator mais importante do desenvolvimento nacional, responsável pelo crescimento econômico. Assim, a educação era planejada para oferecer mão de obra para a industrialização que avançava rapidamente na América Latina. Desse modo, como enfatiza Sander (1995), na vida das pessoas, “[...] a educação se desenvolvia em função do mercado de trabalho, que requeria indivíduos eficientes e economicamente produtivos”. No entanto, na década de 1970, os fatos demonstraram que a educação não tinha dado conta do que se esperava em termos de crescimento econômico e progresso

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tecnológico. Percebe-se, assim, que o valor econômico não era suficiente para a gestão da educação.

Surgiu, então, o enfoque sociológico, concebido a partir da intersecção de contribuições conceituais e analíticas das ciências sociais aplicadas. Conforme Sander (1995), “[...] para os autores dessa etapa, o resultado da administração se deve, primordialmente, a fatores políticos, sociológicos e antropológicos e só secundariamente à influência de variáveis jurídicas e técnicas”. Esses autores concebiam a administração baseando-se em valores culturais e políticos da sociedade latino-americana.

No Brasil, nessa época, destacavam-se as contribuições de Lourenço Filho, o qual argumentava que a teoria administrativa deveria se desenvolver em um amplo "domínio interdisciplinar", e de Freire, o qual, “em certa medida, reconstrói na teoria pedagógica as relações de dominação e os ideais de libertação que a teoria da dependência postula no âmbito das relações econômicas e políticas internacionais” (SANDER, 1995). Além disso, três fatores foram de fundamental importância para a administração, segundo Sander (1995): “a ação das associações profissionais de educadores; o desenvolvimento dos estudos de pós-graduação em educação; e o apoio da cooperação internacional”. Destacam-se também o pioneirismo e o protagonismo da ANPAE, fundada em 1961, em São Paulo, a qual, com suas publicações e seus simpósios nacionais, desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento e na difusão do pensamento administrativo na educação brasileira.

Nas últimas décadas, escreveram-se novos capítulos sobre a construção do conhecimento no curso histórico da administração pública e da gestão da educação, que destacam a crescente importância dos fatores externos de caráter econômico, político e cultural no funcionamento dos sistemas educacionais e das instituições escolares e universitárias. Esses capítulos registram novas perspectivas teóricas de administração e novos critérios orientadores para avaliar o desempenho administrativo nas empresas, nas organizações públicas, e nas escolas e universidades. Junto à produtividade e à racionalidade medidas segundo os critérios técnicos de eficiência e eficácia, surgem os conceitos superadores de efetividade e relevância como critérios de desempenho político e cultural da administração. Finalmente, à luz dos ideais de liberdade subjetiva e democracia participativa, desenvolvem-se os conceitos de identidade e eqüidade como valores centrais da administração pública e da gestão da educação, tanto a nível nacional como no âmbito das relações internacionais. (SANDER, 1995)

Desse modo, após passar por esses diversos enfoques, a administração da educação brasileira, atualmente, vive um novo paradigma, o qual caminha em

direção a uma gestão democrática. Assim, construir uma gestão educacional e escolar democrática tem sido o novo desafio da sociedade contemporânea. Isso nos leva a apresentar e refletir sobre alguns princípios democráticos. No entanto, antes fazemos uma breve distinção entre gestão educacional e escolar.