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Os caminhos e os frutos da “virada”: apontamentos sobre o III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais

Yolanda Guerra*

Fátima Grave Ortiz**

ARTIGO

Introdução

O resgate da trajetória histórica do Serviço Social no Brasil nos indica que data de 1947 a realização do primeiro Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais. Promovido pelo CEAS – Centro de Estudos e Ação Social, este congres-so, na verdade, objetivava preparar a representa-ção brasileira que almejava participar do então II Congresso Pan-Americano de Serviço Social.

A análise dos materiais da época deixa clara a expressiva influência do Serviço Social norte-americano sobre nossa profissão na América La-tina (IAMAMOTO; CARVALHO, 1986), fruto da política imperialista exercida pelos Estados Unidos no segundo pós-guerra.

Mais de uma década depois, realizou-se o II Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, em 1961. Também orientado pela necessidade de preparação dos representantes brasileiros para um evento internacional (no caso, a XI Conferência Internacional de Serviço Social), o II Congresso ocorreu em uma conjuntura nacional marcada pelo desenvolvimentismo e teve como tema central – Desenvolvimento Nacional para o Bem-Estar Social (IAMAMO-TO; CARVALHO, 1986).

Em ambos os Congressos, há uma nítida in-terlocução do Serviço Social brasileiro com os processos de caráter macroscópico ocorridos no país e na América Latina e a franca necessidade de responder e se articular a estes.

Em 1979, a mesma necessidade de dialogar com a realidade se pôs, afirmando o entendimen-to anterior de que o Serviço Social tinha muientendimen-to a contribuir com essa realidade. No entanto, qual era a realidade de 1979? Que contribuição o Ser-viço Social brasileiro tinha a dar em 1979? Estas são, ao nosso ver, indagações absolutamente im-prescindíveis, se quisermos ultrapassar apenas a perspectiva de celebração que, reconhecidamen-te, o Congresso de 1979 nos invoca.

O III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais, realizado em 1979, justamente conhe-cido como “Congresso da Virada”, impôs-se desta forma como marco, pois, literalmente, destituiu a mesa de abertura de um congresso e ao fazê-lo rompeu com décadas de histórico conservadorismo (NETTO, 1999), substituindo

autoridades vinculadas às instituições burgue-sas por protagonistas do movimento da classe trabalhadora. Representava-se ali a opção pelo claro compromisso com as lutas dos trabalha-dores e o reconhecimento de sua missão histó-rica e revolucionária.

O “Congresso da Virada” constituiu-se, de fato, num marco e “marcos” são assim: depois deles, nada fica exatamente igual como era an-tes. E o Serviço Social brasileiro não foi mais o mesmo e a “Virada” de 1979 desdobrou-se em várias outras: no campo da formação, do exercício profissional e da organização políti-ca da políti-categoria.

Contudo, se é verdade que o “Congresso da Virada” foi um marco, ele também foi um pro-cesso, uma vez que esteve significativamente hi-potecado a determinações exógenas e endógenas à profissão, ou dito de outra forma: foi marcado pelo adensamento da conjuntura nacional e lati-no-americana da época, de um lado; e do próprio acúmulo da profissão proporcionado pelo Movi-mento de Reconceituação, de outro.

Neste sentido, este ensaio possui dois obje-tivos centrais: traçar os “caminhos” que origi-naram a “virada” no III Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais em 1979 e para isso é inconteste o reconhecimento de que este pro-cesso fundou-se em determinações próprias da profissão e outras afeitas à conjuntura política, em especial da América Latina. O segundo ob-jetivo é examinar os “frutos da virada” para o Serviço Social brasileiro na dimensão do exer-cício e da formação profissional, bem como da sua organização política.

Com efeito, celebrar a “virada” é importan-te, sobretudo nos tempos adversos e sombrios da contemporaneidade. Em tempos em que se discute a existência da “barbárie” entre nós, é fundamental o resgate da “virada” e do que ela representou e ainda representa aos assistentes sociais brasileiros.

Resgatar na memória os caminhos e os frutos da “virada” é imprescindível a todos, incluindo as novas gerações, tendo em vista a necessidade imperiosa de se afirmar o inegável papel da his-tória e o peso que as contradições exercem sobre ela e nos rumos dos processos sociais de uma forma geral.

Os “Caminhos da Virada” – caminhando contra o vento, sem lenço, sem documento...

Determinações internas e externas e o papel da Reconceituação latino-americana

A análise que tomamos aqui quanto à chama-da “virachama-da” dos anos 70, do ponto de vista chama-da totalidade, considera que sua possibilidade foi resultado de determinações internas e externas ao Serviço Social.

Em relação às determinações externas, a vira-da se inscreveu no processo histórico que vai do final da década de 50 e atravessa os anos 70, em especial nos acontecimentos que se realizaram no continente latino-americano. Recebeu influxos dos processos revolucionários que pulularam nes-te período em toda América Latina e que foram brutalmente reprimidos por ditaduras sangrentas.

Concebido como o “quintal” dos Estados Unidos da América, este continente, tão diverso entre si, constitui-se de uma unidade. Tal unidade de ele-mentos diversos (dentre eles, o idioma, a moeda, as lutas internas, os processos de colonização e trajetórias) se amalgama pela articulação de deter-minações como: existência de recursos humanos, naturais, energéticos, matérias-primas, mercado interno amplo, com potencial de ser ainda mais explorado e, especialmente, da existência de mão de obra relativamente qualificada e barata. Por estas potencialidades, a América Latina se cons-titui em uma “presa cobiçada e ao mesmo tempo temida pelo imperialismo” (CUEVAS, 1983, p.

16). Dadas às contradições sociais que se desen-volvem de maneira desigual e possuem maneiras também distintas de enfrentar o imperialismo, na década de 70, como nota Cuevas,“as massas vol-taram a ganhar as ruas e o movimento operário e popular em geral deu mostras de uma renovada vitalidade” (op. cit. p. 19).

Pelo dinamismo e expansão do capitalismo1, a classe operária se desenvolve e amadurece do pon-to de visa da sua consciência de classe e de sua organicidade. A revolução cubana (1959), as novas lutas de classe na Guatemala (1960), a influência dos movimentos desencadeados no maio francês de 1968, o Cordobazo2 argentino (1969), a unidade popular do Chile (1970-1973), a grande mobiliza-ção social que levou a vitória da Frente Sandinista

de Libertação Nacional (FSLN) em 1979; a recu-peração de parte da soberania do Canal do Pana-má (1977) pelos Tratados Torrijos-Carter, a guerra de libertação em El Salvador (1980 – 1992), são marcos que confirmam que “em contato com essa realidade, as classes vão forjando sua consciência política, que, portanto, não surge por geração es-pontânea” (idem, 193).

Com o enfraquecimento e a decomposição da ideologia do panamericanismo, a revolução cuba-na, expressão do perigo iminente do comunismo – faz nascer o pacto Aliança para o Progresso – vigente dentre os anos de 1961 a 1970, o qual visava garantir a dominação norte-americana no continente. Com a falência deste programa, os EUA passam a financiar as ditaduras militares por toda a América Latina.

Sem dúvida, a reconceituação, como um mo-vimento de denúncia, recusa, critica e tentativa de ruptura com o tradicionalismo da profissão, dina-mizada pelo contexto de efervescência dos anos de 1970, acaba sendo sufocada pelas ditaduras latino-americanas. Apesar de seus equívocos, re-centemente recuperados no contexto de comemo-ração dos seus 40 anos3, ela expressou-se como parte do caminho que leva à “virada” do Serviço Social brasileiro.

Ressaltamos também o papel da Teologia da Libertação, tendência progressista que nasce no interior da Igreja Católica. Nunca é demais in-sistir na condição de sustentáculo ideológico ao capitalismo ocupada pela Igreja católica tradicio-nal e ortodoxa. Porém, desde a década de 60 do século passado, a Teologia da Libertação, ao es-tabelecer seu compromisso com os pobres e com a sua libertação, passa a se constituir referência dos reconceitualizadores4. Estes, em sua maioria encontram-se inseridos em contextos universitá-rios ou vinculados a movimentos da Igreja.

Com efeito, observa-se uma clara adesão de um segmento da categoria profissional à Teologia da Libertação, operando uma mudança significativa nos vínculos sociais que estabelece com o “povo”

e com suas lutas sociais, seu protagonismo em mo-vimentos de resistência à ditadura e a militância política que exerce, aproximando-se de uma deter-minada vertente do marxismo.

Cabe, agora, indicarmos as determinações in-ternas à profissão que possibilitaram a virada.

Em primeiro lugar trata-se de uma mudança na concepção de Serviço Social e no perfil da cate-goria profissional, possibilitado tanto pela inserção do Serviço Social no circuito acadêmico e pela criação da pós-graduação (1972), aproximando-se das teorias sociais, dentre elas do marxismo (ainda que de maneira enviesada), quanto pelo processo de ampliação e laicização da categoria profissio-nal, dadas as novas demandas postas pela ditadura, alterando substancialmente o perfil profissional.

Como decorrência tem-se a ampliação e consoli-dação do mercado de trabalho para os assistentes sociais, especialmente no campo da execução das políticas sociais.

A experiência organizativa da categoria, desde a década de 40, e a existência de uma nova geração de assistentes sociais, cuja luta e experiência ad-vindas do movimento estudantil se propagam nas entidades da categoria, especialmente, no Sindica-to e nas Associações Profissionais de Assistentes Sociais – APAS5 constituem fatores dos mais im-portantes neste contexto.

Cabe agora o reconhecimento do trabalho desenvolvido pelas entidades latino-americanas subsidiando e preparando os quadros para a “vira-da”. Partimos da hipótese de que para o Serviço Social latino americano a década de 70 foi abso-lutamente rica no sentido de fortalecer sua arti-culação, buscando a unidade do diverso, o que permite construir as bases para a “Virada” do Serviço Social brasileiro.

A análise daquele contexto, apesar de uma in-suficiente bibliografia, mostra-nos que, na conflu-ência de elementos externos e internos, sob cla-ra pressão da sociedade e tensão da guercla-ra fria, como parte de um projeto das entidades organiza-tivas da profissão (ALAETS-CELATS), gestam-se os elementos que permitiram a constituição de uma massa critica a partir da pesquisa sobre as condições do exercício profissional, a trajetória histórica da profissão, a organização política e a dinâmica das classes sociais, possível tendo em vista o convênio de cooperação técnico-financeira assinados entre ALAETS6 e a Fundação Konrad Adenauer (democracia-cristã) que permite a cons-tituição do CELATS. Não foi casual que no ano da “virada” estavam na direção destas entidades os colegas brasileiros: Seno Cornely (ALAETS) e Leila Lima Santos (CELATS)7.

Como parte de um amplo projeto que pretendia o desenvolvimento de pesquisas, a organização da categoria e a capacitação de quadros8, o Centro de Estudos Latino-americano de Trabalho Social or-ganizou, em conjunto com o Sindicato, a APASSP e o CRAS-SP, um curso do qual participaram seg-mentos da categoria profissional que foram os in-dutores da “virada”.

O mais significativo neste contexto para uma mudança radical na profissão foi que, no movi-mento de confrontos e resistências, se explicita-ram os interesses antagônicos das classes sociais, revelando o papel do Estado na defesa intransi-gente dos interesses da classe dominante e crian-do as bases para que a profissão realizasse uma apreciação critica da direção hegemônica da ca-tegoria e da organização político-representativa vigente à época, questionando sua funcionalidade aos interesses do capital.

O momento definidor da influência das entida-des latino-americanas foi o Encontro Nacional de Capacitação Continuada promovido pelo CELATS.

Segundo Iamamoto (2003), este encontro “prepa-rou a ‘virada’ política na luta contra o conserva-dorismo profissional” (p.108). A autora enfatiza o apoio financeiro e político das referidas entidades latino-americanas na criação de uma base de orga-nização sindical nacional, resultando na Associa-ção Nacional de Assistentes Sociais e na renova-ção “critica do conjunto CFESS/CRESS” (idem), processo organizativo que “esteve por detrás da

‘virada’ do III Congresso Brasileiro de Assisten-tes Sociais” (idem, ibidem). Também é importante mencionar o investimento da ALAETS e do CE-LATS no I Congresso Latino-Americano de Estu-dantes de Serviço Social, em La Paz (Bolivia) no mesmo ano de 1979.

No Brasil, segundo Netto, a primeira tentati-va de se construir um projeto profissional ocor-reu na Pontifícia Universidade Católica de Belo Horizonte. O chamado método BH constitui-se em uma alternativa que procura romper com o tradicionalismo no plano teórico-metodológico, no plano da concepção e da intervenção profis-sionais e no plano da formação” (NETTO, 1990, p.263). Indica também outras alternativas que ai despontaram: a experiência dos assistentes so-ciais da Universidade Federal do Maranhão, na Comunidade de Boqueirão. O espírito critico da

formulação de BH, extensivo a outros rincões da sociedade brasileira e latino-americana9, passou a fomentar debates e a constituir grupos de pro-fissionais que, inseridos no debate das ciências sociais à época, vão se tornando seus interlocu-tores qualificados. Aqui, sem sombra de dúvida, podemos localizar o germe da “virada”.

A conjuntura brasileira nos tempos da “Virada”

– quem sabe faz a hora, não espera acontecer...

A apropriação de um conhecimento que permite a crítica da sociedade burguesa, de suas relações sociais e sistemas institucionais, reconhecendo a necessidade de transformação desta sociedade, são as características centrais da constituição de uma vertente que se qualifica para operar uma análise mais próxima da realidade, identificando o mo-mento mais oportuno para tal “virada”.

Ao mesmo tempo, a tradição de organização político-representativa da categoria, como le-gado da profissão e a vinculação de suas lutas àquelas mais gerais da sociedade, em sintonia com a reorganização dos movimentos operário e sindical e com os novos movimentos sociais (da carestia, da habitação, etc), permitiram a renova-ção do Serviço Social.

Alguns acontecimentos que precederam o

“Congresso da Virada” demonstram que a sua pre-paração esteve hipotecada à competência teórica e política da vanguarda da categoria, que enfrentava a institucionalidade e disputava os espaços por den-tro das entidades. Em data próxima ao III CBAS, também em São Paulo, ocorre o III Encontro de Associações e Sindicatos de Assistentes Sociais10. Nele, a vanguarda se prepara para o que mais tarde foi conhecido como “a virada”. Ali, mais do que nunca funcionou o refrão: “quem sabe faz a hora, não espera acontecer...”.

Com isso podemos afirmar que o Serviço Social renovado é resultado de um conjunto de alterações na sociedade brasileira: a classe trabalhadora passa a fazer pressão na sociedade, exigindo o reconhe-cimento de suas reivindicações, dando visibilidade a suas lutas e adquirindo o reconhecimento de suas demandas e necessidades. A profissão também fez parte destas mudanças, sendo uma referência legí-tima para os movimentos sociais e sindicais e para as novas gerações de assistentes sociais.

Em entrevista com a Luiza Erundina, na Revista Serviço Social e Sociedade número 1 (1979), constatamos que ela menciona dois acon-tecimentos que entendemos como emblemáticos.

O primeiro foi sua participação no Comando Ge-ral da Greve de funcionários públicos. Na condi-ção de presidente da APASSP, essa insercondi-ção não passa incólume; a segunda foi a participação da APASSP na discussão da “nova” Consolidação das Leis Trabalhistas e sua integração ao movi-mento de unificação sindical que apoiou a greve dos metalúrgicos do ABC. Ai inicia-se a luta pelo direito à sindicalização dos funcionários públicos, somente alcançada em 1988.

Na verdade, a conjuntura nacional que antece-deu e proceantece-deu a “Virada” foi marcada por fortes mobilizações tanto no setor urbano quanto no rural.

Merecem destaques os movimentos de base (nas fábricas, no campo, nas escolas, universidades, nos bairros, favelas e mesmo na Igreja)11, a revitaliza-ção dos movimentos campesinos, o surgimento da Comissão Pastoral da Terra (CPT, 1975) e o Movi-mento dos Trabalhadores sem Terra (MST, 1984), a constituição do “novo sindicalismo” e a fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT, 1983).

A profissão, recebendo estes influxos deu-lhes resposta.. Participou das lutas da classe trabalha-dora como um todo e das categorias profissionais por melhores salários. Entre nós, a luta por um piso salarial foi significativa. E foi revertida em conquistas para algumas categorias mais fortes e organizadas, especialmente, para trabalhado-res do setor público. Ampliaram-se os sindicatos e a categoria se aproximou de outras profissões, abrindo-lhes uma nova possibilidade de, com elas, estabelecer novos vínculos e alianças so-ciopolíticas. Também lhe foram exigidos aportes teóricos que a capacitassem para a interlocução com outras áreas de produção do conhecimento, marcando, o que Iamamoto (1996) chamou de

“travessia para a maioridade intelectual e profis-sional dos assistentes sociais, para a sua cidadania acadêmica” (1996, p. 90).

Na década de 80, a profissão investiu ativa-mente na sua própria organização político-sin-dical e na luta em prol de uma Constituição que incorporasse os interesses dos segmentos da clas-se trabalhadora, em especial, no que concerne à construção de uma concepção universal, pública e

gratuita de política social, nomeadamente da polí-tica de Seguridade Social, de sua formulação e de sua implementação.

Assim, falar do “Congresso da Virada” sem sucumbir à nostalgia do passado é, não apenas re-conhecer uma experiência peculiar, ocorrida em um espaço e um tempo muito singulares, mas é também refletir sobre um momento histórico que produziu experiências significativas que incidiram fortemente nos rumos da sociedade brasileira.

O Congresso da “Virada” – “é preciso estar atento e forte”

O II CBAS realizado em São Paulo, organiza-do pelo Conselho Federal de Assistentes Social (CFAS) e o Conselho Regional de Assistentes So-cial 9ª. Região (CRAS-SP) teve como tema cen-tral: Serviço Social e Política Social. Para além da relevância da escolha do tema, especialmente na conjuntura em que ele ocorria – fracasso reconhe-cido pela ditadura, do plano que previa o “milagre econômico” de fazer crescer o bolo para depois distribuí-lo – cabe mencionar a fala de abertura do evento dos presidentes da entidades organizadoras (CFAS e CRAS), posto que, como se sabe, ela deve retratar os compromissos assumidos pela catego-ria na defesa de princípios e estratégias, bem como dar o tom do Congresso12. Nos dias subseqüentes, começa a se explicitar e a se exercitar no interior da profissão (não sem enfrentamentos e disputas) o pluralismo. A decisão de substituir a visita técnica, como parte do Programa do Congresso, por uma Assembléia da qual participaram 600 delegados, expressa o trabalho de base realizado pela vanguar-da que conduziu a viravanguar-da. A análise do documento final do evento evidencia o descontentamento dos congressistas e estudantes presentes quanto à falta de construção democrática do evento e da postura antidemocrática adotada pelas entidades da catego-ria, o questionamento sobre a ausência de profis-sionais nas mesas em detrimento do quantitativo de representantes das entidades governamentais e sobre a limitação do número de estudantes partici-pantes do mesmo. Foi visível o descontentamento de um segmento significativo de participantes no Congresso no que se refere à proposta e à dinâmica adotada, que impedia os debates e a manifestação verbal dos participantes. A constituição de um

es-paço político significativo, tal como a Assembléia, permitiu dar outra direção política ao Congresso, atribuindo-lhe outro tom e conteúdo: de questio-namento, denuncia e critica à ditadura. Enfim, o que o III CBAS mostra é o amadurecimento da vanguarda da categoria, que militando em outros movimentos sociais e sindicais, vai acumulando forças e competência teóricopolítica para confor-mar uma nova direção estratégica para a profissão.

O III CBAS como marco histórico da trajetória do Serviço Social brasileiro culmina com a sessão de encerramento para a qual foram convidados a par-ticipar, Luis Inácio da Silva e José Pedro da Silva, dentre outros, à época, representantes da classe tra-balhadora e de suas entidades. Como bem marcou o discurso de Luisa Erundina: “ esse Congresso é uma prova de que os tempos mudaram (...) (III CBAS, 1980, p.454).

Os “Frutos da Virada” – “viver e não ter a vergonha de ser feliz...”

Afirmamos neste ensaio que a “virada” de 1979 gerou no Serviço Social brasileiro muitas outras em campos distintos, porém autoimplicados: no exercício e na formação profissional. A destituição da Mesa de Honra prevista para o III CBAS, bem como as deliberações tiradas a partir daí, expressa-ram a clara opção política do Serviço Social pelo compromisso com os interesses da classe trabalha-dora, e, por conseguinte, a decisão pela construção de um novo projeto para o Serviço Social brasilei-ro, e a adoção de um novo perfil profissional para os sujeitos profissionais, sejam eles individuais ou coletivos.

Assim, do ponto de vista da constituição de um novo projeto profissional, embora os embriões já tivessem sido colocados com o chamado “Método

Assim, do ponto de vista da constituição de um novo projeto profissional, embora os embriões já tivessem sido colocados com o chamado “Método