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Bruno José da Cruz Oliveira*

RESENHA: Ecologia e Socialismo

LÖWY, Michael. Ecologia e Socialismo. São Paulo: Cortez, 2005. 96 p.

BOOK REVIEW: Ecology and Socialism

LÖWY, Michael. Ecology and Socialism. São Paulo: Cortez, 2005. 96 p.

Recebido em 02.07.2009. Aprovado em 14.08.2009.

riam para uma unidade entre a crítica socialista ao capitalismo e a crítica empreendida pelos eco-logistas. Em seguida, aponta a questão ecológi-ca como o principal fator impulsionador de uma renovação teórica na tradição marxista. Para tan-to, o questionamento e ruptura com a concepção tradicional relativa à categoria forças produtivas, com a “ideologia do progresso linear e com o pa-radigma tecnológico e econômico da civilização industrial moderna” (Löwy 2005:43) seria o tripé de sustentação dessa renovação.

Embora reconheça a debilidade desse processo, Löwy destaca dois autores que vem dando contri-buições importantes para a sua afirmação. O pri-meiro é o norte-americano James O’Connor que re-elabora à contradição forças produtivas x relações de produção adicionando uma nova contradição compreendida por forças produtivas x condições de produção. Esta última abrangeria os trabalha-dores, o espaço urbano e a natureza. O segundo é o italiano Bagarolo que problematiza a categoria forças produtivas. Tal autor propõe uma diferen-ciação entre “forças potencialmente produtivas” e

“forças efetivamente produtivas” em relação, prin-cipalmente, ao meio ambiente.

Continuando a sua análise, o texto apresenta um panorama das principais tendências do movi-mento ambientalista na atualidade. Aponta a forte presença das correntes eco-reformistas que, ao ig-norarem a relação entre capitalismo e produtivis-mo, propõem o estabelecimento de formas de con-trole dos excessos, cujo principal exemplo são as eco-taxas. Outra tendência reside na afirmação do ambientalismo como um novo paradigma de inter-venção sócio-política, estando o mesmo acima dos conflitos de classes. Por último, apresenta a deep ecology (ambientalistas fundamentalistas) que ao questionarem o antropocentrismo, nivelam todas as formas de vida.

Em seguida, Löwy define a categoria ecos-socialismo, apresentado-a como “uma corrente de pensamento e ação ecológica que faz suas as aquisições fundamentais do marxismo – ao mesmo tempo que o livra das suas escórias produtivistas”

(Löwy,2005: 47). Desse modo, o ecossocialis-mo empreenderia uma perspectiva crítica tanto à economia de mercado como ao “socialismo real”.

Continuando a sua formulação, o autor apresenta alguns dos principais intelectuais que tem

contribu-ído ao longo dos últimos 30 anos para o desenvol-vimento do ecossocialismo como James O’Connor, Jean-Marie Harribey e Frieder Otto Wolf. Ressalta que a corrente ecossocialista, apesar de não ser ho-mogênea, possui dois argumentos comuns aos seus partidários. São eles:

A expansão do modo-de-produção e con-y

sumo dos países centrais não pode ser ex-pandido para todo o planeta devido ao aprofundamento da crise e possível colapso sócio-ambiental que provocaria;

A manutenção da economia de mercado e do y

seu paradigma de progresso ameaça a sobre-vivência da espécie humana.

Com base nessa argumentação, a crítica ecos-socialista aponta as limitações do capitalismo, in-dependente das posturas esclarecidas ou não dos capitalistas. Portanto, a idéia de um capitalismo ecologicamente correto seria, no máximo, uma manobra publicitária. Conseqüentemente, as posi-ções ecossocialistas propõem uma mudança de ci-vilização baseada na reorientação para a produção de tecnologias não-poluentes e na adoção de novas práticas de consumo, perseguindo a proeminência do valor-de-uso sobre o valor-de-troca. Entretan-to, essa transformação seria possível somente se as próprias relações sociais de produção também se modificassem, dando lugar ao controle democráti-co e edemocráti-cossocialista da produção.

No terceiro item do segundo capítulo, o autor em questão é taxativo ao afirmar a necessidade de abandonar, a tradicional dicotomia Forças Produti-vas X Relações de Produção. Sobre essa questão, Löwy apresenta duas correntes que se confrontam no interior da esquerda ecológica. A primeira é a

“Escola Otimista” que afirma ser possível a ex-pansão das forças produtivas socialistas com o objetivo de atender às necessidades individuais da população. A segunda é a “Escola Pessimista” que defende a adoção de medidas controlistas que limi-tem o crescimento demográfico e o nível de vida das populações.

Criticando as duas correntes por se prenderem aos aspectos quantitativos do desenvolvimento das forças produtivas, Löwy apresenta uma terceira posição, da qual é partidário. Ela sustenta que é

ne-cessário direcionar a produção para o atendimen-to das necessidades elementares da humanidade, pondo fim ao desperdício de recursos típicos do capitalismo. Dessa forma, produtos como o carro individual e as armas, com os aspectos fetichistas que lhes acompanham, não encontrariam espaço nessa nova lógica de produção e de sociabilidade.

Os possíveis e prováveis conflitos entre o atendi-mento das necessidades humanas e a preservação do meio-ambiente encontrarão suas resoluções li-vres das necessidades de acumulação capitalista.

Objetivando colaborar com a elaboração de um programa político que unifique socialistas e am-bientalistas, Löwy se dedica à análise dos possíveis pontos de convergência entre os dois campos. Se-riam eles; a defesa do transporte público, a crítica aos ajustes fiscais impostos pelo FMI e o Banco Mundial, a defesa e ampliação da Saúde Pública e a redução da jornada de trabalho. Em seguida, apre-senta uma breve análise de um fenômeno mundial, ao qual se refere como ecologia social. A destruição de outros modos de vida não-capitalistas, poluindo o meio-ambiente e monopolizando recursos naturais, como a água, tem provocado reações de diferentes atores sociais, inclusive daqueles, aparentemente, sem maiores vinculações com o movimento ambien-tal. Haveria, portanto, segundo Löwy uma expansão da dimensão ecológica das lutas sociais.

No terceiro e último capítulo, o autor apresen-ta a necessidade da construção de uma ética ecos-socialista. Três seriam as dimensões fundantes dessa perspectiva:

A dimensão social, baseada na absorção co-y

tidiana de valores e na adoção de ações co-letivas, que possuam uma clara perspectiva anticapitalista e antiprodutivista, assentada na preservação do meio-ambiente como uma necessidade humana;

A dimensão igualitária, na qual há a defesa ra-y

dical da redistribuição planetária da riqueza;

A dimensão democrática, assentada na defe-y

sa da democratização das decisões políticas e econômicas

Finalizando a sua obra, Löwy aborda a refle-xão elaborada pelo filósofo Hans Jonas no seu

livro “O Princípio da Responsabilidade” (1979), sobre as ameaças que a destruição do meio am-biente traria para as gerações futuras. Afirma que o “Princípio da Responsabilidade” não pode abstrair da natureza a sua relação com o homem.

Nesse sentido, as idéias milenares que apontam para a construção de uma sociedade igualitária e livre, da qual fazem parte a obra “ Princípio Espe-rança” do marxista suíço, Ernst Bloch, não estão em contradição com a ética da responsabilidade, sendo , na verdade, complementares entre si. Em anexo, o texto apresenta o “Manifesto Ecossocia-lista Internacional” e a “Declaração de princípios da Rede Brasil de Ecossocialistas”.

Bruno José da Cruz Oliveira

*Assistente Social, Doutorando em Serviço Social pela UFRJ. Professor da Unigranrio.

Recebido em 30.07.2009. Aprovado em 04.08.2009.

Cidade, ambiente e política – problematizando a