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4 CAMINHOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

4.4 Caminhos Metodológicos: o percurso da análise

A escolha por uma postura de correntes feministas para análise do corpus, com recortes importantes sobre gênero e sexualidade e as relações assimétricas que compõem esses eixos pareceu óbvia. Nada mais justo ao analisar questões sobre gênero e sexualidade do que recorrer a teóricas que construíram um campo da produção do conhecimento em que é possibilitado problematizar assimetrias que perpassam as relações que envolvem essas duas categorias: gênero e sexualidade. Então, recorremos, dentre outras autoras, à utilização dos ensinamentos de Butler (2003), Scott (1989), Rubin(1982, 1993), Lakoff (2010), Cameron (2010), Ostermann (2010), Vieira e Resende (2016), Resende e Ramalho (2016), autoras que partem de uma perspectiva de defesa dos estudos do gênero e/ou da sexualidade como meio de combater desigualdades sociais.

Vale ressaltar que a linguagem constitui uma maneira de compreensão de como as desigualdades de gênero e da sexualidade se materializam na organização da vida social e em seus processos de inteligibilidades. Reforço, então, que me sinto inserido na ADC feminista com uma postura analítica que enxerga as relações sociais desiguais em relação ao gênero e à sexualidade. Entendo que é preciso

desvelar quadros graves, mas também sutis de relações desiguais de poder que desequilibram o acesso ao social em virtude dessas categorias no ciberespaço.

Nesse percurso, visando alcançar o objetivo geral dessa pesquisa:

 Compreender a interdiscursividade, as ideologias e relações de poder materializadas nas formações discursivas que compõem os sentidos dos discursos sobre gênero e sexualidade, na página do Humaniza Redes no

Facebook.

Realizamos a análise a partir de 3 objetivos específicos.

 O primeiro busca identificar as postagens que apresentam campanhas de promoção da cidadania LGBT, estimulam o combate à LGBTfobia e/ou violência em virtude de gênero na página do humaniza redes no

Facebook;

Para poder cumprir esse objetivo foi necessário lançar mão da pesquisa documental, considerando documentos tanto aqueles produzidos pelo governo federal na página do Humaniza Redes no Facebook como aqueles dados gerados voluntariamente pelos usuários da página. Há suporte teórico para isso. Para além de concepções formais e engessadas sobre documentos, já se entende que conteúdos informais, sem forma especializada, também podem ser considerados dados documentais, ainda que complementares (VIEIRA & RESENDE, 2016).

Vieira e Resende (2016) já diziam que nem sempre nas pesquisas documentais um corpus principal consegue dar conta de todos os questionamentos da pesquisa, motivo pelo qual é necessário, muitas vezes recorrer a elementos informais suplementares que dão uma sensação de completude para a geração dos dados. Nesta pesquisa, houve a necessidade de coletar as imagens que representavam a questão tema e demonstravam o posicionamento do governo federal sobre gênero e sexualidade, os textos que acompanhavam essas imagens, os comentários dos usuários referentes a essas imagens e os comentários realizados pelo Humaniza redes (perfil) em resposta aos comentários dos usuários

 o segundo objetivou analisar as formações discursivas que são produzidas a partir das postagens do Humaniza redes no Facebook e

que são utilizadas pelos usuários para justificar discursos sobre gênero e sexualidade;

Do material coletado no Humaniza Redes durante o segundo semestre de 2015 foram selecionadas 3 postagens juntamente com comentários feitos a partir dessa postagem. Além disso, também foi analisada uma postagem feita em 2016, após a reativação da página no Facebook, juntamente com os comentários feitos a partir dessa postagem. A primeira postagem é sobre estimular a denúncia da prática de Homofobia; a segunda é sobre uma exposição de fotos com ofensas sofridas por LGBT; a terceira é sobre a Semana Nacional da visibilidade lésbica. A quarta e última postagens, coletada após a reativação, versa sobre o empoderamento das pessoas trans.

A análise dessas postagens ocorreu a partir dos conceitos teórico- metodológicos da ADC construídos no capítulo I, considerando o discurso como prática social (FAIRCLOUGH, 2001), se posicionando criticamente sobre a temática, se engajando na utilização dessa pesquisa como forma de transformação social e entendendo o sujeito como elemento de relativa autonomia, que influencia e é influenciado pelo discurso. Cinco passos foram utilizados, conforme quadro esquemático, para alcançar essa análise:

Quadro 1 - Arcabouço teórico-metodológico da ADC

Percepção de um problema social discursivo

Identificação de obstáculos para que o problema seja superado

Análise de conjuntura Análise da prática particular Análise de discurso

Investigação da função do problema na prática

Investigação de possíveis modos de ultrapassar os obstáculos

Reflexão sobre a análise

1 – Percepção de um problema social discursivo em algum campo da vida social: Essa primeira parte da análise foi realizada a partir da contextualização do problema social sob o qual está inserida a problemática discursiva que se deseja enfrentar. Ou seja, no primeiro ponto do capítulo de análise foi construído o cenário macro no qual está inserido o problema social que se deseja enfrentar. Foram desenvolvidos delineamentos sobre redes sociais, sobre o Facebook e foi destacada a vitimação sofrida por LGBT nesse ambiente;

2 – A identificação dos obstáculos para a superação do problema: esse passo exigiu a análise da conjuntura e também do discurso. Essa segunda etapa contempla três tipos de análises, conforme quadro esquemático. As duas primeiras preocupam-se com as redes de práticas e os contextos em que está localizado o problema de sentidos, ou seja, nessa etapa foram destacadas como obstáculos o conflito entre liberdade de expressão e discursos de ódio sobre LGBT dentro do contexto do Humaniza Redes no Facebook. Além disso, também foi realizada nessa etapa a análise de discurso crítica das postagens coletadas;

3 – a investigação da função do problema na prática foi realizada a partir das categorias analíticas de gênero, sexualidade, relações de poder e das categorias de análise ideológica de Van Dijk. Todas essas categorias serviram para lançar luz sobre os elementos que (re) produzem as desigualdades sociais sofridas por LGBT através do discurso;

4 – Investigação de possíveis modos de ultrapassar os obstáculos: nesse passo foram pensados modos de evitar ou pelo menos resistir via discurso às desigualdades sociais sofridas pelos LGBT diferenciando a liberdade de expressão e o discurso de ódio de modo a não permitir a legitimação da desigualdade por meio de uma suposta liberdade de expressão que exclui, segrega e hierarquiza as pessoas LGBT por meio do discurso;

5 – Reflexão sobre a análise – O último passo consistiu em refletir sobre a análise realizada de modo a contribuir para uma emancipação social das pessoas vitimadas a partir dos discursos opressores e geradores de desigualdade social. Ou seja, é o passo de contribuição para a transformação da realidade social do LGBT via discurso.

A ADC tem como uma das características primordiais a interdisciplinaridade, que exige que se busque conhecimentos em outros campos do saber para preencher possíveis lacunas na pesquisa. No caso dessa pesquisa, foram elencadas as categorias de gênero e sexualidade, desenvolvidas no capitulo II. O gênero servindo de categoria analítica para visualizar os desníveis sociais baseados nas convenções sociais sobre sexo e gênero e a sexualidade, também como categoria de análise, para compreender como as desigualdades sociais em virtude das sexualidades atravessam o discurso e são construídas a partir dele.

Nessa composição, houve auxílio também das categorias analíticas propostas por Teun A. Van Dijk (2012a) no estudo da ideologia – Descrição de Atores, Autoridade, Carga, Classificação, Comparação, Vitimização, Generalização, Evidencialidade. Somou-se essas categorias às teorias sobre relações de poder e discurso, explicitadas anteriormente nessa dissertação.

Todos esses delineamentos teórico-metodológicos permitiram que a pesquisa identificasse relações de poder que lastrearam os comentários nas postagens sobre a população LGBT; e sentidos ideológicos que compuseram os mesmos discursos que materializam dominações e resistências na página do Humaniza Redes no Facebook.

Assim sendo, a partir da identificação e análises dos discursos sobre gênero e sexualidade na página do Humaniza redes no Facebook, foi possível cumprir o último objetivo:

 Mapear os sentidos dos discursos sobre gênero e sexualidade em relação à população LGBT, na página do Humaniza Redes no

Facebook.

Por tudo o que foi exposto, foi possível, então, cumprir o objetivo geral dessa pesquisa:

 Compreender a interdiscursividade, as ideologias e relações de poder materializadas nas formações discursivas que compõem os sentidos dos discursos sobre gênero e sexualidade, na página do Humaniza Redes no

Nessa composição, diante de tudo o que foi desenvolvido nesse capítulo é que se passa para o capítulo de análise.