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5 PERCURSO METODOLÓGICO

5.2 CAMPO EMPÍRICO: A ESCOLHA DOS PARTICIPANTES

Para a realização da seleção dos professores da Escola Regular, foi preciso estabelecer critérios que viabilizassem a operacionalização da pesquisa, em consonância com o MEDS. Este método, embora não adote uma única forma de organização da amostra, adota critérios pré-estabelecidos, elegendo a homogeneidade da amostra como preocupação (NICOLACI-

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-DA-COSTA, 2007, p. 68).A primeira investida na localização dos possíveis participantes se deu a partir da localização dos alunos com Anemia Falciforme. Embora a SMED dispusesse de um item na ficha de matrícula referente à notificação da doença, como já discutimos, alguns equívocos acerca do diagnóstico foram constatados, como, por exemplo, o registro de aluno com Anemia Ferropriva tomada como Falciforme, além de casos não informados no ato da matrícula.

Para identificar os alunos que apresentassem o diagnóstico da Anemia Falciforme, foi feito o uso das informações sistematizadas através da pesquisa de Barros e colaboradores (2009), na qual um dos objetivos específicos correspondeu a estimar o número de crianças e adolescentes em idade escolar acometidos pela doença, a partir dos prontuários de unidades de referência da afecção, bem como através dos registros da ABADFAL. A identificação dessas informações representou parte da primeira etapa de coleta.Após a identificação das crianças e adolescentes, verificamos quais destas estudavam em escolas municipais de Salvador. Foi encontrado um total de 18 crianças em 15 escolas, compreendendo suas matrículas ao intervalo entre os anos de 2010 e 2012, conforme dados disponibilizados pela SMED. Desse número, 5 matriculados não estudavam mais nas escolas de Ensino Fundamental I, fosse por ter concluído esta etapa de escolarização, fosse por ter saído da Rede Pública Municipal de Salvador.

Na segunda etapa, através dos dados disponibilizados pela SMED, buscamos identificar, entre esses alunos, aqueles que atendessem outros critérios considerados importantes ao desenvolvimento da pesquisa, a saber, que cursassem o Ensino Fundamental I (2º ao 5º ano) e, preferencialmente, que tivessem maior tempo de vínculo com a escola, isto é, mínimo de dois anos matriculados na mesma instituição. Sobre este aspecto, encontramos a seguinte situação:

Tabela 3 – Número de alunos e tempo de vínculo com a Unidade Escolar Total de alunos Tempo de vínculo com a Unidade Escolar

(anos) 1 4 4 3 8 2 5 1

Após identificarmos 13 alunos potenciais, seguimos a composição da amostra, considerando os outros critérios estabelecidos previamente: selecionar os alunos que tivessem vivenciado o processo de internação por mais tempo, nos últimos dois anos, e que, quando da internação hospitalar, tivessem sido, ou fossem, atendidos em Unidades Hospitalares que dispusessem de atendimento em Classe Hospitalar pertencentes à SMED. Entretanto, a desinformação das escolas quanto ao aspecto da internação, a dificuldade de contato com as famílias e a escassez de dados sistematizados no Sistema de Saúde não permitiram afunilar a amostra antecipadamente à entrevista, com base neste critério. Dos 18 sujeitos localizados inicialmente na base do Sistema de Saúde, 5 deles tinham registro em Hospitais que oferecem o atendimento em Classe Hospitalar. Portanto, devido a esses complicadores, esse critério precisou ser desconsiderado.

Após a identificação dos 13 estudantes, partimos para última etapa da composição da amostra: a identificação dos professores desses alunos que, preferencialmente, também atuassem pelo menos há dois anos na mesma instituição escolar. A definição por este critério de tempo, tanto para localizar os alunos, quanto para selecionar os professores, se justificou no primeiro caso ainda pelo fato da doença crônica (Anemia Falciforme) provocar intercorrências que podem levar os alunos a processos de hospitalização por curtos ou longos períodos, além da perspectiva da reincidência desses episódios. Na prática, isso significa que eles podem vivenciar o afastamento da sua rotina diária uma média de 4 a 6 internações no ano (ASSIS, 2004, p. 19). Logo, a possibilidade de o aluno ter um maior número de afastamentos da Escola Regular coloca o professor frente à necessidade de saber os motivos pelos quais este aluno se ausenta com certa frequência das aulas e como procederá em seu retorno. Consequentemente, a escola, ao buscar responder às exigências burocráticas e pedagógicas de validação do ano letivo do aluno – frequência e desempenho, por exemplo – possivelmente tomaria conhecimento do processo de adoecimento deste e das possíveis vivências do aluno durante o período de afastamento provocado pela hospitalização.

Quanto ao tempo de atuação dos professores na mesma escola, esta condição poderia significar maior tempo de convívio com os alunos com Anemia Falciforme, pois, no Ensino Fundamental I do Município de Salvador, cada professor é responsável por desenvolver o trabalho junto a uma única turma, distribuído numa carga horária de 20h semanais. Assim, os educadores realizam o trabalho pedagógico junto a um grupo de alunos durante todo o ano, o que possibilita a percepção de aspectos que interferem no processo de escolarização deles, dentre os quais as condições de saúde.

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Embora as Regionais do Subúrbio Ferroviário e Cabula, segundo dados dos distritos sanitários, concentrem o maior número de casos de Anemia Falciforme, ao atendermos os critérios eleitos para a composição da amostra, bem como a disponibilidade e viabilidade para a participação da pesquisa, foram contempladas um total de quatro, das onze regionais, cujas escolas aceitaram fazer parte da pesquisa, quais sejam: Subúrbio I, Cabula, Liberdade e São Caetano, distribuídos da seguinte forma:

Tabela 4 – Composição final da amostra

CRE Unidade Escolar Total de professores Total de alunos

Total 8 11 9

Subúrbio 1 5 8 6

Cabula 1 1 1

Liberdade 1 1 1

São Caetano 1 1 1

Fonte: Autoria nossa.

Salientamos que algumas escolas tiveram mais de um aluno com Anemia Falciforme e, portanto, nelas mais de um professor foi entrevistado; outra tinha um caso de aluno com a doença, mas este teve, na sua trajetória escolar, professores distintos, e ambos foram escutados. Outro aspecto interessante a ser mencionado é o fato de professores que, embora tivessem aluno com Anemia Falciforme em 2012, recordavam experiências anteriores de aluno com a patologia, da mesma ou de outra unidade escolar, estabelecendo relações de comparação e complementaridade ao longo da entrevista.

Das 15 escolas identificadas na primeira etapa de coleta de dados, 6 delas não preenchiam os critérios utilizados para composição da amostra, e em outra, em virtude das dificuldades de agendamento, de mobilidade urbana e da própria rotina de final de ano da escola, ficou inviável a entrevista. Aqui é importante frisar a disponibilidade de todas as unidades escolares contatadas e das equipes gestoras que, além de mobilizarem os colegas para participarem da pesquisa, disponibilizaram as condições necessárias à realização das entrevistas. Do mesmo modo, pontuamos o interesse, a curiosidade, a disposição dos professores em contribuírem para esta construção, demonstrando preocupação e compromisso com a trajetória escolar desses alunos. Ao todo, foram entrevistados 11 professores de 9

alunos com Anemia Falciforme, lotados em 8 unidades escolares distintas, pertencentes a 4 Regionais de Educação da Secretaria Municipal de Educação de Salvador.