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CAPÍTULO 3 A Pesquisa Empírica

3.2 Corpus

3.2.2 Campo da pesquisa

Esta pesquisa empírica tem como cenário a polis de Brasília, moderna capital do Brasil, no mundo conectado. Nela convivem pessoas de diferentes níveis socioeconômicos, diversas culturas das regiões brasileiras e de países do ocidente e do oriente, bem como estão instalados e presentes aqui os três poderes do Estado Brasileiro_ Legislativo, Executivo e Judiciário_ as representações confessionais e sindicais, as confederações, os organismos internacionais, as organizações não governamentais, além da iniciativa privada local e das representações de empresas multinacionais, de agentes da mídia estatal e privada de redes nacionais e internacionais, representantes da mídia independente, revelando os conflitos políticos, as desigualdades, a violência urbana, a ostentação da vigilância em área demarcadas e/ou situações conflituosas de difícil compreensão pelas autoridades dos poderes existentes.

BRASÍLIA está localizada no centro geográfico do território brasileiro e no Distrito Federal. Essa unidade da federação agrega funções administrativas de estado e de município, convivendo no mesmo espaço político do governo federal. Possui governo e representação legislativa próprios, vivendo relações conflituosas, desde as questões arquitetônicas e urbanísticas à política de jurisdição administrativa e partidária. Brasília é patrimônio histórico cultural da humanidade, concorrendo neste terreno a iniciativa privada, em busca de maiores e melhores áreas, afetando o plano original, ao mesmo tempo fazendo viver a urbis na expressão das suas necessidades reais e/ ou condicionadas pelo capitalismo mercantilista. Situação esta que precisa ser contida no processo de crescimento, pois, tem acarretado problemas de destruição ao meio ambiente, gerando situações que põem em risco a vida da grande metrópole do centro- oeste do Brasil. O Plano Piloto de Brasília tem o Índice de Desenvolvimento Humano - IDH mais alto do País, o custo de vida mais elevado, um parque tecnológico, em especial na área informática, superior aos das demais localidades, possuindo o maior número de internautas do país, em proporção à população, conforme a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílio – PDAD14. A capital do Brasil é diferente das demais capitais brasileiras.

A pesquisa é, pois, realizada no cenário desta Capital, nos primeiros anos do terceiro Milênio, à época da sociedade da informação e da comunicação no contexto da

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Governo do Distrito Federal, Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão – SEPLAG (2000). A PDAD comparou os dados do DF com os dados das demais capitais contidos na PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios elaborada pela IBGE.

globalização mercantilista do capitalismo unipolar. Caracterizado pela concentração de rendas, circulação virtual de moedas, controle do mercado e dos países considerados periféricos, trabalho internacionalizado, desigualdades sociais e violência nas regiões de alto índice populacional, crescimento urbano e deteriorização do meio ambiente, da utilização dos recursos tecnológicos da comunicação e informação, da educação, dentre outros na manutenção do sistema capitalista. A educação é pauta das agendas de desenvolvimento econômico, estando sob a égide da teoria do capital humano, reinventada na metáfora pós-moderna. Essa educação mercantilista tem dado ênfase à formação do homem para a competição, desenvolvendo as competências requeridas pelo mercado de trabalho e/ou para o não trabalho na sociedade global.

Ao mesmo tempo, a presente pesquisa é realizada à época da ampliação e intensificação das interações entre as pessoas, do estreitamento das relações sociais, das comunicações instantâneas, das redes sociais virtuais, dos movimentos sociais planetários _ do reconhecimento das diversidades, da necessidade de melhores condições e conservação da vida no planeta _ da disseminação das informações, visualização e participação nos acontecimentos, em tempo real, no mundo conectado, do ilimitado desenvolvimento tecnológico, focando as áreas da comunicação e informação, tendo como exponencial a rede mundial de computadores: Internet.

Essa rede, conectada a outras redes do mundo midiático, constitui-se em poderoso artefato ou ferramenta na mão do homem_ uma vez que é ele quem está nas pontas das redes, tecendo suas malhas, bem como na gerência dos processos e na administração dos sistemas de informação e comunicação_ podendo, pois, colocá-la a serviço da educação do ser humano, em qualquer idade, condição social e localização geográfica, com o objetivo de uma educação solidária. Isso a partir dos processos interativos éticos e morais, em comunidades sociais e educativas virtuais, que funcionem de forma sincrônica e assincrônica. Nesse contexto, existe a possibilidade do estreitamento das relações sociais entre os povos, a convivência entre os pares, o respeito às diferenças, o reconhecimento das diversidades e das várias formas de vida, de maneira que os homens, em redes socioeducativas interativas, tenham possibilidades éticas e morais de, ao superar as situações conflituosas, os constrangimentos, a alienação, a pobreza material e moral, construam uma sociedade solidária. Sociedade onde a paz se faça presente na igualdade entre os homens e na realização de alternativas comuns de manutenção da vida, podendo assim, criar condições para sobrevivência da espécie humana, dos demais seres vivos e do planeta Terra.

Em Brasília, está sediada a Universidade de Brasília, criada com vocação de vanguarda na construção do conhecimento científico e tecnológico, desenvolvimento cultural e centro de saberes do Planalto Central do país. De acordo com o Professor Darcy Ribeiro (1986), um dos idealizadores e seu primeiro Reitor, a Universidade de Brasília teria que cumprir, pois, uma função ímpar como “Casa de saberes”, “ Centro de cultura”, Centro científico e tecnológico independente”

Para Dirce da Fonseca, pesquisadora e professora da FE/UnB:

A criação da Universidade de Brasília - UnB representou no contexto da sociedade brasileira uma proposta de modernizar o sistema de ensino superior do país, como reflexo de um dado momento histórico, em que o “desenvolvimento” e a modernização eram vistos como alternativas de crescimento econômico. A exaltação da mudança estava presente nos projetos do governo brasileiro, na era desenvolvimentalista. Essas ideias permearam e fundamentaram o projeto modernizante da UnB, instituição que foi pensada de forma estruturalmente diferente das universidades tradicionais e com o propósito de atender as novas exigências do desenvolvimento tecnológico (FONSECA, 1997, p. 15).

Essa pesquisadora conclui, assim, seu estudo: “Um ponto importante a considerar nesta análise é o caráter mediador que possa ter representado a Universidade de Brasília no contexto histórico em que fora criada” (FONSECA, 1997, p.. 28).

No que se refere, especificamente, à história da Faculdade de Educação, destaca- se a contribuição de Brzezinski (1997), no artigo intitulado Faculdade de Educação da UnB: da utopia ao projeto real, revisita o projeto original da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (isso a partir da sua pesquisa: Os Movimentos Sociais de Educadores e o Curso de Pedagogia no Brasil (1996) e da análise da dissertação de mestrado de Tereza Maria Cysneiros Cavalcante Menezes, defendida na FE, em 1989). No mesmo artigo Brzezinski contempla aspectos históricos, analisa-os e apresenta conclusões, tais como:

O projeto proclamado que, na realidade, não existiu, porque foi golpeado pela sociedade política, que, com um governo militar e autoritário, com duração de quase três décadas reprimiu as manifestações da sociedade civil (p. 10). [...] Nada restou do projeto utópico da Faculdade de Educação da UnB. [...] Nos dias atuais, após um prolongado processo de reconstrução da democracia brasileira pela sociedade civil, constantemente golpeada pela tendência neoliberal da sociedade política, a Faculdade de Educação da UnB, ainda busca seu caminho, quer seja inserindo-se no projeto real, quer seja enveredando- se pelo projeto utópico, mas sempre, em defesa da liberdade e da soberania do homem (1997, ps. 44 e 45).

Assim, apesar das situações vividas na ditadura militar, a Faculdade de Educação realiza, acontecendo no fazer pedagógico e nos projetos pesquisa de seus professores, alunos e funcionários, o projeto proclamado de inovação e vanguarda na pedagogia, na sua área de domínio: a educação. Tendo dentro do seu escopo o compromisso social com o sistema de ensino do Distrito Federal, fazendo-se presente às discussões das questões educacionais, prestando colaborações e incentivando a evolução da área educacional em movimento nos diversos contextos da sociedade brasileira e, em especial à sociedade brasiliense.

Ressalta-se que a Faculdade de Educação da UnB, pioneira em algumas áreas temáticas de pesquisa educacional e ações programáticas, dentre outras ocorrências, promove a oferta de cursos de tecnologia educacional, posteriormente de educação continuada e a distância; realização de pesquisas da oferta de disciplinas on-line, bem como está ofertando cursos e disciplinas utilizando as redes eletrônicas em plataformas específicas. Integram seu corpo docentes pesquisadores que ultrapassam os limites de condições da universidade pública, sendo que alguns estão investindo potencial na vivificação das redes de aprendizagem virtuais numa relação direta com as escolas e as comunidades. O curso doutorado, que começou a funcionar em 2005, ampliou as possibilidades dos professores na realização de pesquisas, uma vez que receberam novos colaboradores. Ao mesmo tempo, o pesquisador doutorando agrega valor ao inédito, podendo fazer com seu orientador novos percursos metodológicos, desenvolvendo temas para evolução das áreas educacionais e afins no terceiro milênio, tais como, na área de educação e comunicação. São desenvolvidas pesquisas, dentre elas as que utilizam as ferramentas tecnológicas das redes eletrônicas e digitais no contexto da multimídia a serviço da aprendizagem e/ou de atividades educativas e socioeducativas nas escolas e comunidades de Brasília.

“Crianças pequenas _ dois anos _ no ciberespaço: Interatividade possível?” é o título da pesquisa ora descrita, que integra às atividades acadêmicas do curso de doutorado. Esta pesquisa foi realizada no segundo semestre de 2006, tendo como campo de pesquisa a educação infantil do Colégio Santa Dorotéia, que acolheu a pesquisadora para realizar experimentações na área de informática educativa. O referido Colégio, fundado em 1966, vem trabalhando, há algum tempo, com as crianças pequenas, inclusive do maternal, no laboratório de informática educativa. A utilização das ferramentas da área de informática integra as atividades educativas e socioeducativas no

processo de desenvolvimento das crianças pequenas, nativos digitais, no contexto da sociedade contemporânea.

As crianças do maternal I com idade em torno de dois anos são os sujeitos desta pesquisa, juntamente com os adultos: professores-mediadores, que no laboratório de informática educativa, utilizando softwares específicos, desenvolvem atividades socioeducativas, durante quarenta minutos por semana no contexto do plano pedagógico. Esses professores-mediadores são licenciados em educação, formação básica em informática e experiência docente na educação infantil.

No laboratório de informática a criança entra em contato com o computador. Coloca suas mãos no teclado e no mouse, aprendendo a fazer o uso dos mesmos durante as atividades educativas, visualiza o monitor, percebe as imagens e os sons dos softwares utilizados, interagindo em duplas de crianças durante a realização das atividades, coordenadas e estimuladas pelas professoras mediadoras. As atividades integram o plano pedagógico do maternal no sentido de contribuir no atendimento às necessidades psicomotoras e de socialização da criança pequena.

Foram observadas as crianças em atividade na sala de aula convencional e no laboratório de informática. O registro foi feito pelas próprias professoras mediadoras, em vídeo na primeira vez e em fotografia na segunda no sentido de confirmar se as atividades faziam parte de um todo na realização do plano pedagógico da educação infantil, tanto para as professoras quanto para as crianças do maternal I, ou seja, se as atividades faziam parte de um mesmo contexto educativo e/ ou socioeducativo nessa faixa etária de dois anos nessa escola. Durante esse período, a pesquisadora manteve contatos informais com as crianças na sala de aula convencional e em espaços livres da escola, em momentos próximos aos horários de entrada e saída das crianças da escola. Foto 1 – Crianças e Professoras na sala de aula convencional do maternal I

O planejamento da experiência foi feito após essas ações preliminares de conhecimento das atividades pedagógicas, mencionadas anteriormente, em realização com as crianças do maternal no ano de 2006, bem como dos contatos iniciais entre as crianças e a pesquisadora, durante o primeiro mês da pesquisa na escola. Passada a fase preliminar do estudo da situação existente e dos interesses da escola e da pesquisadora, em especial dos contados feitos com as crianças e consideradas suas possibilidades, foi elaborado um plano de ação, em parceria: professoras das crianças, coordenadora da educação infantil, pesquisadora, com a ciência e o apoio da diretora da escola.

O plano contemplava a observação das crianças no laboratório de informática educativa, filmagem das atividades em realização e avaliação conjunta, professoras, coordenadora e pesquisadora.

Foto 2-Aula Laboratório de Informática1 Foto3-Crianças Laboratório Informática

As crianças, juntamente com as professoras mediadoras, então, foram observadas, principalmente em atividades no laboratório de informática educativa. Os registros das observações foram gravados em vídeos pelas próprias professoras que utilizaram câmaras fotográficas, com dispositivo para pequenas filmagens, não alterando o ambiente de aprendizagem da sala de informática educativa.

O plano de ação foi avaliado por etapa e concluiu-se que havia possibilidade dessas crianças com suas professoras realizarem um encontro virtual com a

pesquisadora, utilizando a rede internacional de computadores, Internet. Nesse encontro, as crianças ficariam fisicamente na escola e a pesquisadora na Faculdade de Educação da UnB. Seria ativada a sala de bate-papo, ferramenta do Messenger, utilizando som, imagem, winks, emoticons e comunicação escrita, esta última seria usada somente pelas professoras e a pesquisadora.

No dia vinte de novembro de dois mil e seis, no período matutino, as crianças do maternal I, de dois anos de idade, em atividade escolar, com seu computador conectado à rede eletrônica de computadores, entraram no ciberespaço pela Internet, usando o Menssenger, na sala de bate-papo virtual. Nessa sala virtual, elas encontraram com a pesquisadora que estava em outro local, mas também conetada à Internet. As crianças naqueles momentos interagiram entre si e com as professoras mediadoras, que as estimularam durante as atividades on-line no encontro com a pesquisadora. Nesse contexto, as crianças e suas professoras mantiveram relações socioeducativas, interativas, com a pesquisadora e esta com as mesmas, durante quinze minutos.

Foto 4 - Crianças na base física do Foto 5- Professoras e Crianças na base encontro virtual na escola física do encontro virtual na escola

O planejamento da experiência foi

Foto 6 - Pesquisadora na base Foto 7- Imagem da pesquisadora na física do encontro virtual na FE base física da escola no encontro virtual

A experiência foi avaliada pelas professoras mediadoras, coordenadora da educação infantil e pesquisadora (registro em vídeo), tendo a interlocução com a diretora da escola. Na FE/UnB três professores especialistas fizeram a apreciação crítica da experiência, registrada em Vídeo documento, juntamente com depoimento da professora mediadora de informática educativa do Colégio Santa Dorotéia de Brasília.