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Campo religioso interno da Igreja Católica Apostólica Romana

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ANEXO I – 1891: Carta de Dom Arcoverde para Dom Joaquim

1 CÍCERO ROMÃO BATISTA

1.2 ACONTECIMENTOS MARCANTES EM NÍVEL ECLESIÁSTICO E

1.2.4. Campo religioso interno da Igreja Católica Apostólica Romana

O campo religioso católico se torna um imbricado do catolicismo oficial com o catolicismo popular e ainda reúne, de uma forma ou de outra, o campo político e econômico. Neste imbricado, convivem as mais diversas tensões que se apresentam, ora de forma mais intensa, ora branda.

À época do Padre Cícero, a própria Igreja católica fomentou um campo adverso para si em relação à religiosidade popular, tanto quanto à romanização da Igreja, em especial, quanto aos fatos de Juazeiro e o padre Cícero. Enquanto a Igreja proibia, nada impedia o povo de apoiar o Padre Cícero. Houve campanhas em sua defesa.

Dom Quintino, Bispo de Crato, cria, em 1917, a Paróquia de Nossa Senhora das Dores de Juazeiro (em 2017, grande comemoração pelo seu centenário). No entanto, em 1916, ele proibiu as romarias e a Capela se manteve interditada, de 1893 a 1917.

O Censo do IBGE (2010) comprova que o Brasil já não é o país essencialmente de católicos. É fato de que há uma grande adesão de fiéis ao pentecostalismo e também as outras denominações religiosas.

Com o Concílio Ecumênico do Vaticano II17 (1962-1965), entre tantos documentos aprovados, a “Sacrosanctum Concilium” trata da questão do culto e afirma ser o povo o responsável pela celebração. E assim permitiu o aparecimento de liturgias de acordo com a diversidade cultural dos povos.18

Com a terceira Conferência do Episcopado da América Latina, em Puebla, iluminados pelo Vaticano II, abriu-se as portas para a “Evangelização no presente e no futuro da América Latina” (PUEBLA. 1986, p.47). São frutos produzidos entre tantos outros, dos quais destacamos as Comunidades Eclesiásticas de Bases - CEBs e a Teologia da Libertação. Nesse contexto, surge uma nova tensão: A teologia da libertação tomou novas dimensões que despertaram preocupações ao Vaticano e provocaram resoluções, como novas proibições, afastamentos de teólogos etc.

Muitos dos romeiros participam das CEBs em suas paróquias de origem. Juazeiro do Norte, através do Santuário São Francisco, foi sede do 13º Encontro Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Bases, entre os dias 7 e 11 de janeiro de 2014. Com o tema “Justiça e Profecia a Serviço da Vida” e o lema: “Romeiros do Reino no Campo e na Cidade”, as CEBs continuam a acentuar a missão da Igreja não somente por estar mais próxima dos pobres e excluídos, mas também porque se mantém firme em busca de um mundo melhor e mais justo.19

Cordeiro, (2011, pp.42-23), identificando os diversos tipos de tensões relacionadas às romarias, chama a atenção para a transformação desses movimentos em objeto de interesse governamental e empresarial, como por exemplo, a questão do turismo religioso, com atividades lúdicas. Isso poderá implicar “disputa” do tempo e dos gastos do romeiro, tirando-o das atividades pastorais e sacramentais, praticadas nos santuários, no curto período que ele dispõe para permanecer na cidade.

17 Concílio Pastoral e Ecumênico da Igreja Católica, idealizado pelo Papa João XXIII, iniciado no dia

11 de outubro de 1962, interrompido pela morte do seu idealizador, continuado pelo papa Paulo VI e concluído a 8 de dezembro de 1965.

18 Disponível em http://www.franciscanossantacruz.org.br, acessado em 14 de julho de 2017. 19

No tocante à romaria de Juazeiro, a situação econômica desfavorável do país tem acrescido outras dificuldades e, de forma mais direta, à vinda de romeiros para a cidade. Mesmo assim, a última romaria de finados (02 de novembro de 2016), conforme as palavras de Frei Barbosa, Pároco do Santuário de São Francisco, a cidade ficou repleta de romeiros e em nada a romaria deixou a desejar.

Compreendendo que o sonho que tivera significava a vontade de Deus, Padre Cícero fixou sua morada em Juazeiro por toda sua existência. Por dezesseis anos, o sacerdote se dedicou ao seu rebanho e ao povoado que elegera para viver. Construiu aos poucos a Igreja-templo e a igreja-viva, recebeu a visita do Bispo, como também o seu reconhecimento pelo trabalho eficaz que desenvolvia, mesmo em tempos de grandes crises, provocadas pelas repetidas e prolongadas secas, como também por epidemias e pestes. Contra esses infortúnios, lutou como pôde para aliviar o sofrimento do seu povo.

Numa determinada ocasião, enquanto exercia sua atividade sacerdotal na capela em que era o capelão, ocorreu e, por diversas vezes se repetiu, o “milagre da hóstia”, que na boca da beata se transformava em sangue. Essa notícia alastrou-se velozmente, atraindo milhares de pessoas ao Juazeiro, que em tempo recorde duplicou a população do povoado, superando a população da sede. A partir de então, a vida desse sacerdote passou por intempéries desconcertantes. A maior delas foi provocada pelo resultado do segundo inquérito sobre esses “fatos de Juazeiro”, envolvendo a Beata e o Padre. Padre Cícero é suspenso da ordem, seu precioso bem.

Em toda a sua vida, Padre Cícero se empenhou para conseguir reverter a sua suspensão. Consegue com sua visita à Roma, o perdão do Santo Ofício, mas do Bispo, seu superior imediato, não. Ele guardou o silêncio obsequioso. Não falou mais no assunto, mas também não o retratou. Decidiu permanecer no Juazeiro, uma vez que, nesse sentido, Roma não o obrigara a afastar-se da cidade. Contudo, para o Bispo de Fortaleza, sua permanência configurou desobediência imperdoável à sua ordem de afastar-se desse local e circunvizinhanças.

Diversas razões levaram Padre Cícero a assumir cargos políticos, porém a maior delas foi a “autonomia de Juazeiro, a sua independência da cidade do Crato” (PINHEIRO, 2011, p. 162). De Juazeiro, foi prefeito, do Ceará, por mais de uma vez, foi o terceiro vice-presidente. Juazeiro, considerado por autoridades, recanto de fanáticos e de cangaceiros, e o Padre seu fomentador. Foi atacado por militares que

tinham ordens do governo do estado para destruí-lo. Padre Cícero autorizou a cavação do “ Círculo da Mãe das Dores”, que foi um aliado essencial na defesa da cidade.

Hoje, aprofundados estudos sobre o Padre Cícero, a serviço da própria Diocese do Crato ou de outros locais: nacionais ou estrangeiros, que retomam sua causa. E tendo por base algumas obras desses renomados estudiosos, o próximo capítulo visa a desenvolver as prováveis “razões” que, no passado, levaram a ruptura da Igreja para com esse seu servo. Também quer discorrer sobre as “razões” de, no tempo presente, a Igreja passar a reconsiderá-lo, concedendo-lhe como o primeiro dos seus atos a favor do Padre, a reconciliação.

A Igreja Católica Apostólica Romana, nesses novos tempos se reaproxima do Padre Cícero, dos romeiros e das suas histórias.

2. SUSPENSÃO SACERDOTAL: FATOS ECLESIÁSTICOS E POLÍTICOS

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