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O IMPULSO PARA OS PRIMEIROS PASSOS RUMO À

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ANEXO I – 1891: Carta de Dom Arcoverde para Dom Joaquim

3 PADRE CÍCERO, SANTO POPULAR DO

4.2. O IMPULSO PARA OS PRIMEIROS PASSOS RUMO À

Concluído o Concílio Vaticano II, a Igreja começa a empreender seu cumprimento. E com isso, começou a entrar em sintonia com a modernidade, e aos poucos foi avançando, deixado para trás, os ranços da romanização. A Igreja começa a mudar sua mentalidade a respeito da religiosidade popular.

Situações pontuais contrárias a religiosidade popular ocorreram, não por causa do Concilio em si, mas por interpretações e ansiedades por parte de alguns que queriam aplicar com urgência as novidades do mesmo: A retirada das imagens de dentro da Igreja, as derrubadas de altares históricos, impregnados de arte e de beleza ímpares, as danças populares e procissões sendo substituídas, entre outros. Esses incidentes causaram abalos e constrangimentos na estrutura da religiosidade popular.

O Concílio Vat. II, foi e ainda é objeto de pesquisa para inúmeros tratados. Aqui, apenas evidenciamos seus efeitos sobre a Diocese do Crato e mais particularmente à Paróquia de Nossa Senhora das Dores, cujo pátio sempre foi palco para os reisados, as danças de São Gonçalo, o maneiro pau e bandas de pífaros, com cantos e benditos, de agentes locais ou trazidas pelos romeiros. A diocese de Crato e a paróquia Nossa Senhora das Dores são os vetores essenciais para a reaproximação do Padre Cícero com a Igreja. O caminho é longo, os passos são lentos, mas já começaram a ser dados.

Antes do Concílio, a Diocese de Crato manteve a ordem de não falar no Padre Cícero em toda sua jurisdição. Dom Vicente de Araújo Matos (o 3º Bispo na linha sucessória, desde a fundação da Diocese em 1914), seguindo as novas orientações do Vat. II, direcionou as ações pastorais, sobretudo para as áreas de educação e trabalho. No seu plano de ação de 1963, incluía “uma certa institucionalização das romarias, através, por exemplo, da oficialização de seu calendário” (PAZ, 2011, p.187).

O Padre Francisco Murilo de Sá Barreto assumiu a Paróquia Nossa Senhora das Dores, como pároco. Ele, “refletindo as orientações provenientes deste Concílio, colocou-se como intermediário entre a hierarquia eclesial e os romeiros. Contando inicialmente com a ajuda do Padre José Alves de Oliveira e alguns leigos” (PAZ, IN: OLINDA & SILVA, 2016, p. 248.).

O Brasil nos anos 70 vivia o regime da Ditadura Militar (1964-1985). Nesse período a Igreja Católica ganha destaque na organização de vários setores e pastorais para a defesa da vida, principalmente dos perseguidos. Dom Helder Câmara foi o homem que correu o mundo enfrentando a situação de injustiça. “Celebre por suas iniciativas em favor dos pobres”. É o Bispo dos pobres por excelência (ROCHA, 1999).

Com o Vaticano II, as Conferencias Episcopais para a América Latina de Medelin, e depois Puebla, a Igreja Católica, com base nesses documentos, manifestava suas esperanças no sentido de promover a vida, através dos movimentos: CEB’s, pastoral da Terra, pastoral em defesa dos índios etc. Nesse contexto, desejosas em conhecer o Nordeste Brasileiro, a Teologia da Libertação, e também a procura para estudos de líderes religiosos populares, em 1972-1973, duas irmãs, cônegas de Santo Agostinho, uma paulista, Ana Tereza Guimarães e a outra belga, Anne Dumoulin, deixaram Louvain, Bélgica, para se instalarem em Beberibe, Recife. Era a princípio onde iriam desenvolver suas pesquisas empíricas.

Quando ouviram falar no Padre Cícero pelos vizinhos que se movimentavam para irem ao Juazeiro, por ocasião da romaria, não tiveram dúvidas, foram também em romaria, conhecer o fenômeno.

Do contato que tiveram com tão forte manifestação popular, voltaram ao Recife só para desfazer a morada, pois tomaram duas atitudes definitivas: A primeira delas foi de fixar residência no Juazeiro. A segunda, foi a decisão de mudar o objeto de estudo para as suas pesquisas empíricas, do curso psicologia da religião. Concluíram as pesquisas próprias para os seus estudos. A Ir. Annette regressou a Bélgica, lá cumpriu com seu compromisso com a universidade. Terminado esse tempo, pediu demissão dos cargos que lá ocupava. Voltou ao Juazeiro onde buscaram desenvolver um trabalho pastoral junto a paróquia e aos romeiros. Desenvolveram um plano de trabalho pastoral mais sistematizado.

Não foi fácil, mas conquistaram o respeito, inicialmente do Pároco e vigários, e da equipe de leigos que assessoram os trabalhos, depois, de toda Diocese. Nos

anos que se passaram acumularam resultados positivos, sendo grande a contribuição delas nessa caminhada de reaproximação da paróquia com os romeiros, e da Diocese com o Padre Cícero.

O Padre José Alves de Oliveira, vigário cooperador da Matriz de Nossa Senhora, seguiu as mesmas orientações do Concílio. Ambos os padres trabalharam buscando, na medida do possível, uma abertura ao popular, respaldados pelo próprio Concílio. Numa entrevista concedida em 30 de janeiro de 2002, ele esclarece que:

[...] É claro que a nossa mentalidade sempre foi muito aberta e isso com o apoio das duas irmãs, eu e o padre Murilo já estávamos abertos para um trabalho que já estava sendo iniciado. E elas com uma mentalidade nova que vinha de cultura de outras raízes.[...]Então acharam no nosso apoio essa abertura e a gente não se envolveu com essa história negativa de religiosidade popular, essa história de purificação, mas a gente já estava num trabalho positivo de evangelização, o que na verdade é o que o concílio quer, é o respeito às situações do povo, face aos vários critérios de apresentação: a devoção do povo às almas, a devoção do povo ao santo padre, a devoção do povo à Igreja[...] (PAZ, 2011, p. 218).

“As manifestações da fé popular nas romarias a Juazeiro do Norte foram estigmatizadas e rejeitadas pela Igreja Católica até 1970, quando por iniciativas isoladas de padres, freiras e leigos, intensificaram um movimento de acolhimento e valorização da cultura romeira (SILVA. IN: OLINDA & SILVA, 2016, p. 219).

Dar “Vivas” ao santo é também costume popular. Ao dizer “Viva Padre Cícero”, por exemplo, a pessoa que exclama demonstra intensa alegria na expressão de felicitação. Ao chegar na cidade, os romeiros costumam dar vivas e soltar baterias de fogos, para anunciar a chegada da comitiva, que apesar da viagem difícil chegaram em paz e estão felizes por estar na “terra santa” do “padim”.

E os “vivas” que os Padres romeiros davam ao Padre Cícero no pátio da matriz de Nossa Senhora das Dores, junto a seus paroquianos, expressando seu contentamento por terem chegado à “cidade santa”, abriram precedentes para o padre Murilo também exclamar o: viva o Padre Cicero! E assim prosseguir com a missão.

Com esses trabalhos a relação da paróquia com os romeiros mudou completamente. Em 2013, a Equipe Diocesana de Romarias passa a ser coordenada por Ir. Annette Dumoulin. Os outros integrantes são: Padre Joaquim Claudio de Freitas, Pe. Aureliano de Sousa Gondim, Pe. José Pereira Lima Filho, Erivania da Silva Cruz, José Carlos dos Santos, Frei Barbosa Filho, Océlio Teixeira

de Souza, Maria Adelani Milfort, Pe. Francisco Edvaldo Marques, e o Diácono Lula Araújo. A Nação Romeira está sendo solidificada com apoio de estudos sistemáticos e com uma pastoral que lhe dá voz e vez: na reunião das três o romeiro é quem faz.

4.3. UM AVANÇO NO CAMINHO: PASSOS DADOS COM BASE NO RIGOR DA

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