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2 ESTUDO BIBLIOGRÁFICO

2.3 CAROTENOIDES

2.3.2 Cantaxantina

A cantaxantina é o nome do 4,4'-diceto-β-caroteno (Figura 1), isolado pela primeira vez há mais de 50 anos a partir de cogumelos comestíveis Cantharellus cinnabarinus e, subsequentemente, tem sido encontrado numa variedade de organismos incluindo bactérias, aracnídeos, insetos, algas, plantas superiores, esponjas, moluscos, crustáceos, peixes e aves (BEARDSWORTH; HENÁNDEZ, 2003).

A cantaxantina é um potencial nutriente, reconhecido principalmente na indústria de aves para o seu uso como um pigmento vermelho natural na produção de ovos e aves, para dar a aparência visual que seja necessária e esperada por parte dos consumidores. No entanto, a pesquisa mostrou que há mais funções desempenhadas por carotenoides, do que apenas a pigmentação, mostrando serem moléculas biologicamente ativas, inclusive a cantaxantina (BEARDSWORTH; HENÁNDEZ , 2003).

Além da capacidade pigmentante, os carotenoides são conhecidos como precursores de vitamina A, atuando com imunomoduladores, e possuem propriedade antioxidante, pois removem radicais livres, absorvem e dissipam o excesso de energia destes e reciclam a vitamina E (BÖHM et al., 1997; WILLIAMS; BOILEAU; ERDMAN, 1998).

Figura 1 – Estrutura química da cantaxantina

Fonte: SURAI (2012).

Em relação ao papel dos carotenoides como substância provitamina A, Surai et al. (2001) afirmaram que menos de 10% desses podem ser convertidos em vitamina A. Meléndez-Martinez, Vicário, Heredia, (2004) relataram que os carotenoides α-caroteno, β-caroteno, e β-criptoxantina são carotenoides que possuem alta atividade provitamina A, pois apresentam ao menos um anel ionona no final de sua estrutura. Enquanto isso, a luteína, o

licopeno e a cantaxantina tem pouca ou nenhuma atividade como provitamina A, pois não apresentam o anel ionona nas suas estruturas químicas.

De acordo com European Comission (2002), a cantaxantina absorvida no intestino delgado é transportada pelo sangue ao fígado, onde parte é transformada em substâncias precursoras de vitamina A, e o restante permanece íntegra sendo transportada pelas lipoproteínas aos depósitos alvos. Embora Beardsworth e Henández (2003) tenham demonstrado que, nas aves, a cantaxantina pode ser transformada em vitamina A quando o nível desta última é limitado na dieta, Surai et al. (2003) afirmaram que as dietas das aves são normalmente suplementadas com retinol sintético e, portanto, a contribuição dos carotenoides derivados do alimento para a formação de vitamina A é mínima. Ao avaliarem o efeito da cantaxantina sobre a concentração de vitamina A e E em ovos, embriões e pintos, observaram que não houve alterações nas concentrações de vitamina A, porém aumentou as de vitamina E (SURAI et al., 2003).

A deposição de cantaxantina na gema de ovo é diretamente proporcional ao nível de proteína (BORNSTEIN; BARTOV, 1965; BRAUNLICH, 1974; GRASHORN; STEINBERG; BLANCH, 2000; TYCZKOWSKI; HAMILTON, 1986). Nas aves, há um efeito predominante na concentração de cantaxantina na gema de ovo, sendo que para uma concentração de 1mg de cantaxantina por kg de ração a sua concentração na gema do ovo atinge cerca de 2-3,1 mg de cantaxantina por kg de gema (BRAUNLICH, 1974; SCHIEDT, 1987; HENCKEN, 1992; GRASHORN; STEINBERG; BLANCH, 2000). Outros estudos realizados utilizando cantaxantina permitiram o isolamento de metabólitos a partir do fígado de poedeiras e frangos de corte (SCHIEDT, 1990), bem como a partir de gema de ovo, baço, rim e tecido adiposo perineal (SCHIEDT, 1987). Como resultado, a cantaxantina representava 40% do total de resíduos no fígado, sendo o 4-oxoretinol o metabólito principal (30%) (TYCZKOWSKI; YAGEN; HAMILTON, 1988).

A cantaxantina, além da função pigmentante, possui ação como carotenoide antioxidante (SURAI, 2012). É um dos mais potentes antioxidantes solúveis em lipídios na natureza, e tem sido identificada como um potente removedor de radicais livres (PALOZZA; KRINSKY, 1992; ZHAO et al., 1998; RENGEL et al., 2000). No ovo, a cantaxantina é transferida a partir da gema para o embrião em desenvolvimento e distribuído em muitos órgãos e tecidos (LLAURADO et al, 1997; SURAI et al., 2003; KARADAS et al., 2005), no qual ele pode ajudar proteger a ave em desenvolvimento contra danos oxidativos, particularmente durante os períodos sensíveis de incubação e da vida pós-nascimento precoce (ROBERT et al., 2008).

2.3.2.1 Utilização de cantaxantina na dieta de poedeiras

Pesquisas sobre a utilização de pigmentantes sintéticos nas dietas de galinhas poedeiras ainda são escassos, principalmente no Brasil. Muitas vezes, a utilização de pigmentantes naturais ao invés de carotenoides sintéticos pode ser menos efetiva e mais cara, por isso, esses estudos tendem a se intensificar com a exigência do mercado consumidor por produtos de qualidade diferenciada e a preços mais competitivos (GARCIA et al., 2002).

Em particular, vários carotenoides sintéticos, tais como etil éster beta apo-8-caroteno (pigmento amarelo) e cantaxantina (pigmento vermelho), são utilizados para coloração de gema de ovo. No entanto, a cantaxantina é considerada como uma substância perigosa. Para galinhas poedeiras, a suplementação de cantaxantina não deve exceder 8 mg/kg de dieta, já que a partir disso, cristais podem ser formados na retina por um reversível processo de deposição (BREITHAUPT, 2007).

Gawecki, Potkanmski e Lipinska (1977) suplementaram a dieta de galinha Leghorn com três tipos de corantes: carophyll amarelo (etil éster beta apo-8-caroteno) carophyll vermelho (Cantaxantina) e farinha de gramínea. Ao analisar as quantidades de carotenóides na gema do ovo, inicialmente estavam em torno de 16 a 17 mg de carotenoides/g de gema. Após duas semanas de suplementação de carophyll amarelo, os ovos apresentaram 35 mg de carotenoides/g de gema e, suplementados com carophyll vermelho, 22,02 mg de carotenoides/g. Neste mesmo estudo, a cor inicial da gema (escala Hoffmann La Roche) foi 4,3 a 5,8 e passou para 10,0 depois de duas semanas de suplementação com carophyll, permaneceu 5,8 com a suplementação de farinha de gramínea e 5,6 no controle. Schoner, Hoppe, Wiesche (1990) suplementaram a dieta de galinhas poedeiras com cantaxantina 10% e citraxantina 10%, concluindo que ambos os carotenoides tornaram a coloração da gema estável durante 12 semanas de armazenamento em temperatura ambiente. Baião et al. (1996) e Angeles e Scheideler (1998) suplementaram a dieta de poedeiras com fontes de pigmentos amarelos e vermelho e tiveram diferenças significativas na cor das gemas dos ovos e não influenciaram o desempenho. Garcia et al. (2002), concluiu que a inclusão 60ppm de cantaxantina na dieta de poedeiras influenciou a coloração das gemas atingindo-se a cor plateau de 14,3 do leque colorimétrico Roche, aos 5,43 dias de inclusão do pigmentante à dieta.

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