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A história da história das instituições educacionais e educativas

Na vida social, muito comumente, a educação, o ensino e as instituições escolares e culturais articulam-se e se complementam. Desde a minha infância, na cidade de Mossoró (Rio Grande do Norte), e ainda na minha adolescência e na fase adulta, na cidade de Natal, fui educada para assim perceber e compreender essa realidade.

No ano de 1984, em que concluí o Curso de Pedagogia – com habilitação em Orientação Educacional −, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, esse entendimento, agora já bem mais claro, levou- me a submeter-me, no ano de 1989, ao concurso público para o cargo de professor primário do município de Natal (Rio Grande do Norte), certame em que obtive aprovação.

Nesse mesmo ano, fui admitida para exercer a docência na 3ª série do 1° grau da Escola Municipal Prof. Erivan França, localizada na Vila Paraíso, bairro periférico da Zona Norte de Natal. Não obstante, vale ressalvar o fato de que, nos anos de 1992 a 1994, estive à disposição da Câmara Municipal de Natal (em função de um contrato com a Secretaria Municipal de Educação), com a incumbência de desenvolver um trabalho assistencial, relacionado com a educação e a cultura, em bairros pobres da cidade.

Encerrado esse contrato (1995), atendendo a um convite da Coordenadora do Serviço de Orientação Pedagógica da Secretaria Municipal de Educação de Natal, Ana Lúcia Ferreira, passei a integrar a equipe de Serviço de Orientação Pedagógica, com a finalidade de realizar um trabalho de formação continuada junto aos Coordenadores Pedagógicos das Escolas Municipais de Natal.

No desempenho dessa função, reunia-me, mensalmente, com um grupo de 20 Coordenadores Pedagógicos de, mais ou menos, 10 Escolas Municipais para estudar e refletir acerca do pensamento

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educacional e educativo de Paulo Freire. Além dessa atividade, visitávamos, uma vez por mês, as Escolas Municipais que se encontravam sob nossa responsabilidade, para acompanhar os procedimentos da gestão escolar, parte do trabalho de ensino e, principalmente, de aprendizado de professores e alunos.

Posteriormente, assumi, por três anos (1999-2002), a gestão do

Programa Tributo à Criança (com seiscentas crianças matriculadas) da

Secretaria Municipal de Educação, desenvolvendo as atividades educativas no bairro do Guarapes, situado na Zona Oeste de Natal. Esse

Programa destinava-se a proporcionar aulas de reforço escolar às

crianças numa faixa etária de seis a quinze anos de idade, matriculadas na Rede Municipal de Ensino. Aos pais dessas crianças, o governo municipal (gestão da prefeita Wilma Maria de Faria) destinava uma “bolsa benefício” mensal, de acordo com a quantidade de filhos matriculados. Sob tal condição, o valor do benefício variava de R$ 60,00 (para um filho matriculado) a R$ 90,00 (para dois filhos matriculados) e R$ 120,00 (para três filhos matriculados).

Para as aulas de reforço escolar, o Programa Tributo à Criança definiu uma metodologia de ensino em que o monitor (estudante da Universidade Federal do Rio Grande do Norte) se encarregava de ensinar as tarefas escolares diárias. Às crianças, era oferecida uma refeição com o seguinte cardápio: arroz, carne de charque, feijão, carne de frango, linguiça, ovos, além de frutas e iogurte. A título de registro, vale sublinhar o fato de que o “Tributo à Criança” permanece como um dos programas prioritários da Prefeitura Municipal de Natal.

No ano de 2002, retornei à Secretaria Municipal de Educação como Assessora Pedagógica do Departamento de Ensino Fundamental. Nesse Departamento, privilegiavam-se sempre os encontros com os Coordenadores Pedagógicos das Escolas Municipais, com o intuito de estudar e refletir sobre os textos pedagógicos de Jussara Hoffmann, José Carlos Libâneo, Sonia Kramer e Rubem Alves. Também se reservava um momento particular para discutir/refletir sobre as ideias do educador

Paulo Freire. Em 2011, representando a Secretaria Municipal de Educação, integrei a equipe do Curso de Extensão a Distância “Formação Continuada em Conselho Escolar”, cujo funcionamento se dava em associação com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Em 2012, submeti-me à seleção de Mestrado do Programa de Pós- Graduação em Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, na qual fui aprovada com o projeto de título A educação popular

para todos de uma cidade educadora (Natal, Rio Grande do Norte, 1957-1964). Na dissertação de Mestrado, circunscrevi a análise às

políticas de educação popular, elaboradas e praticadas pela Secretaria de Educação e Cultura de Natal, sob a regência do governo municipal de Djalma Maranhão, dirigidas pelo professor de História do Atheneu, Moacyr de Góes (MARQUES, 2015).

Nesse trabalho de dissertação, chamou-me a atenção a rede de instituições educacionais e educativas, criadas no primeiro e no segundo governo de Djalma Maranhão (1956-1959 e 1960-1964), destinadas à educação escolar primária, secundária e normal de crianças, jovens e adultos. Mais precisamente, vale registrar o fato de que, no primeiro governo de Djalma Maranhão (1956-1959), foram criadas as Escolinhas (1957) e o Ginásio Municipal de Natal (1958). Já em seu segundo mandato (1960-1964), criaram-se os Galpões-Escolas dos Acampamentos Escolares (1961) e o Centro de Formação de Professores da Campanha De Pé no Chão Também se Aprende a Ler (1962). Para além disso, ainda consta dessa ação de governo, em benefício da educação, o feito memorável da ampliação das Escolinhas.

Retomando o curso dos acontecimentos, situo o ano de 2015, quando fui aprovada na seleção do doutorado do Programa de Pós- Graduação em Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, apresentando o projeto intitulado “A educação escolar primária

nas instituições educativas do município de Natal (Rio Grande do Norte, 1956-1964)”.

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Já no curso de doutorado, iniciei a pesquisa dedicando-me a uma literatura sobre as instituições educacionais e educativas do município de Natal, criadas no primeiro e no segundo governo de Djalma Maranhão (as Escolinhas, o Ginásio Municipal de Natal, os Galpões-

Escolas dos Acampamentos Escolares e o Centro de Formação de Professores da Campanha De Pé no Chão Também se Aprende a Ler),

justamente em observância à temática que me propunha estudar − as interseções entre instituições educacionais e educativas, o município pedagógico de Natal e os direitos de cidadania. Nesse sentido, fez-se necessário proceder a uma análise mais acurada das produções acadêmicas de Góes (1980; 1999; 2009), de Germano (1989), de Cortez (2005) e de Silva (1999).

Neste percurso investigativo, vale observar, muitas foram as descobertas/constatações. Constatamos, por exemplo, que ao assumir o governo municipal de Natal (1956-1959), o prefeito Djalma Maranhão instituiu o Plano de Erradicação do Analfabetismo com a implantação do Programa das Escolinhas (1957) e do Ginásio Municipal de Natal (1958). O Programa das Escolinhas, conforme Góes (1980, p. 69), pretendia fazer “[...] da escola o centro de desenvolvimento da vida da comunidade [...]”. Para tanto, mais de uma centena de Escolinhas foram implantadas nos bairros periféricos e nos bairros centrais da cidade de Natal. Visando atender ao apelo popular do prefeito Djalma Maranhão, segundo Góes (1980, p.100), “[...] as portas da comunidade foram abertas para a instalação de Escolinhas”.

Quebrou-se o círculo de ferro do pauperismo- analfabetismo-pauperismo. Agora, no pauperismo, emergia a escola. Abriam-se as Escolinhas em sindicatos, templos, clubes, cinemas, residências. Escolas pobres, sim, mas escolas para um povo sem escolas (GÓES, 1980, p. 100).

A educação escolar era uma reivindicação das famílias pobres. Assim, o governo municipal, popular e nacionalista, de Djalma Maranhão, pleiteando a erradicação do analfabetismo, planejou

escolas para crianças, jovens e adultos. As Escolinhas, segundo teoriza Góes (1999, p. 93), foram projetadas como “[...] instituição organizada que tinha por fim transmitir a cultura das gerações mais velhas às gerações mais moças [...]. Isto ainda deve contribuir para [a] afirmação do homem como ser humano”.

Como prefeito da cidade de Natal, no período de oito anos (1956- 1959 e 1960-1964), Djalma Maranhão mobilizou a população pobre, envolvendo-a no Plano de Erradicação do Analfabetismo e na Campanha da Democratização da Cultura. À Secretaria de Educação e Cultura, à época Diretoria de Ensino, dirigida pelo prof. Moacyr de Góes, foi atribuída, pelas palavras de Germano (1989, p. 100), “[...] a missão de coordenar e desenvolver um amplo movimento educacional e cultural [fazendo surgir] não somente uma nova rede escolar, mas também uma completa organização cultural da cidade de Natal”. O Plano de Erradicação do Analfabetismo bem como a Campanha de Democratização da Cultura derivaram

[...] além das Escolinhas e dos Acampamentos Escolares, a criação de bibliotecas populares, de praças de cultura, do Centro de Formação de Professores, do Teatrinho do Povo, da Galeria de Arte. [Além disso], significou a formação de círculos de leitura, a realização de encontros culturais, a reativação de grupos de danças folclóricas, a promoção de exposições de arte, a apresentação de peças teatrais, isto é, redundou numa organização cultural da cidade, onde o povo participava efetivamente e não apenas assistia como mero expectador (GERMANO, 1989, p. 102- 103).

Para criar uma cidade socialmente justa, e, em consequência, o amanhã de uma sociedade renovada, urgia educar as novas gerações nas instituições de educação pré-primária, primária, ginasial e normal, em consonância com as instituições culturais acima descritas por Germano. Por isso, no governo de Djalma Maranhão, a educação ginasial (competência do governo estadual, por exemplo) foi assumida pelo município de Natal, em 1958, nas palavras de Góes (1999, p. 47), “[...] com

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coragem e ânimo de vencer um desafio”, que consistia em oportunizar a educação ginasial à população pobre de Natal.

No primeiro e no segundo governo de Djalma Maranhão (1956- 1959 e 1960-1964), o Plano de Erradicação do Analfabetismo levou a efeito a institucionalização das Escolinhas (1957), do Ginásio Municipal de Natal (1958), dos Galpões-Escolas dos Acampamentos Escolares (1961) e do Centro de Formação dos Professores da Campanha De Pé no Chão Também se Aprende a Ler (1962).

Os Galpões-Escolas dos Acampamentos Escolares foram construídos em áreas não habitadas e/ou em terrenos baldios, mas sempre ouvindo a população organizada nos Comitês Nacionalistas. Essa população reivindicava não somente escolas para todos mas também a preservação de sua cultura popular (danças, folclores, músicas, teatros etc.), além de esporte, lazer e cursos preparatórios de iniciação ao trabalho.

E por que a criança pobre ganhou o direito de frequentar a escola? Góes (1999, p. 103) tem a resposta: “A escola ia ao encontro do aluno, [era] localizada nas áreas suburbanas mais densamente povoadas [...]. A criança pobre não tinha necessidade de deslocar-se para uma região distante de sua residência”. Nesse desenho, as instituições educacionais, como os Galpões-Escolas dos Acampamentos Escolares, integravam-se completamente ao meio ambiente de cada bairro.

De forma notória, o direito à educação e o direito à cultura, que se concedia ao povo pobre de Natal, fazia parte do plano de governabilidade: quanto à educação, conforme Silva (1999, p. 72), o propósito era o de enfrentamento do analfabetismo pela “[...] ampliação das escolas destinadas ao atendimento da população pobre [...]”; quanto à cultura, o propósito estava associado à valorização das manifestações populares e literárias à integração de alguns intelectuais que atuavam no âmbito da produção literária, folclórica, e das artes

plásticas. Para essa autora, a universalização da educação estava ancorada na crença política de Djalma Maranhão “[...] de que somente com a educação do povo seria possível vencer as dificuldades e enfrentar as soluções dos problemas socioeconômicos” (SILVA, 1999, p. 73).

Para analisar as interseções entre instituições educacionais e educativas no município pedagógico de Natal, a escrita deste trabalho de doutorado ancora-se nas orientações teórico-metodológicas de historiadores da educação que tratam sobre a história das instituições educacionais e educativas, como Magalhães (2004; 2005; 2007), Gatti Júnior (2007) e Saviani (2007).

Caso se queira pensar uma história das instituições educacionais e educativas, à luz das concepções do historiador português da educação, Magalhães (2004), faz-se necessário proceder a uma reflexão sobre o quadro empírico e conceitual de sua materialidade (o instituído), de sua representação (a institucionalização), de sua apropriação (a instituição) e de sua normatividade (as legislações, os planos, as pedagogias).

Num quadro institucional (educação-instituição), a história das instituições educacionais e educativas, para Magalhães (2004, p. 112), “[...] diz respeito à cultura material e simbólica, às condições materiais e de funcionamento, à gramática escolar e à escolarização, e refere-se à representação, à apropriação das aprendizagens e à qualificação [...]”. Por conseguinte, cada uma dessas instituições integra o todo mais amplo que é o sistema social.

Assim, historiar as instituições educacionais e educativas significa compreender “[...] uma diversificação de oportunidades sociocultural nos planos da interação e da integração individual e grupal, da experiência, da emoção, da simulação e do desempenho de papéis diversos [...]” (MAGALHÃES, 2004, p. 116). Numa acepção mais ampla, entende-se que a história das instituições educacionais e educativas

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corresponde a uma perfeita interação entre “[...] culturas gerais e locais, sua simbolização, institucionalização, normatização, transmissão; quadros, normas e atitudes nos planos social, grupal, individual, institucional, organizacional; ação/práticas didáticas pedagógicas [...]” (MAGALHÃES, 2004, p. 119).

Na verdade, não se tem o domínio do conhecimento da história da educação a não ser que se considere a instituição de uma convergência entre educação e sociedade, conciliando e integrando, no domínio do global, o plano nacional e estadual, o território municipal e a comunidade envolvente. “É uma história, ou melhor, são histórias que se constroem numa convergência” (MAGALHÃES, 2005, p. 98).

Escrever a história de instituições educacionais e da educação- instituição, de conformidade com as teorizações de Magalhães (2007, p. 3), exige “[...] integrá-la de forma interativa no quadro mais amplo do sistema educativo e nos contextos e circunstâncias históricas, implicando-a na evolução de uma comunidade e de uma região, seu território, seus públicos e zonas de influência”.

Sob essa perspectiva, entendemos, como Magalhães (2007, p. 4), que a construção historiográfica das instituições educacionais e educativas deve articular “[...] os quadros demográfico, curricular, pedagógico e de agenciamento, estruturados sob a forma de modelo educativo, iluminados e aferidos pelas memórias e pelas biografias individuais e comunitárias”. Essa compreensão, decerto, é desenvolvida mediante a transversalidade dos constructos de natureza teórica e operacional: o instituído (que diz respeito à materialidade), a institucionalização (que diz respeito à representação), a instituição (que diz respeito à apropriação) e o instrumental oficial e pedagógico (que diz respeito à normatividade).

Segundo o historiador da educação Décio Gatti (2002, p. 20), a história das instituições educacionais e educativas deve pôr em relevo “[...] os vários autores envolvidos no processo educativo [...], aquilo que

se passa no interior das escolas [a fim de] gerar um conhecimento mais aprofundado destes espaços sociais destinados aos processos de ensino e de aprendizagem [...]”. Na visão desse autor, para explicar a existência histórica de uma e outra instituição, faz-se necessário destacar as iniciativas de criação e desenvolvimento (ciclo da vida), a arquitetura dos prédios escolares, os saberes transmitidos e os projetos culturais.

De acordo com Saviani (2007), uma instituição guarda a ideia comum de algo que é criado, organizado e instituído para atender à determinada necessidade humana. Assim, “[...] o processo de criação de instituições coincide com o processo de institucionalização de atividades que antes eram exercidas de forma não institucionalizada, assistemática, informal, espontânea” (SAVIANI, 2007, p. 5). Para esse autor, as instituições educativas, de modo geral, e as instituições educacionais, de modo específico, para efeito de reconstrução histórica, definem-se pelos já mencionados elementos básicos: a materialidade, a representação e a apropriação.

Em termos bem mais esclarecedores, Saviani (2007, p. 24-25) traduz a materialidade como “[...] a escola instalada (o instituído) e sua viabilidade mais imediata, envolvendo as condições físicas no seu aspecto arquitetônico (o prédio) com seus equipamentos, incluindo o material didático e sua estrutura organizacional”; a representação como as finalidades desempenhadas pela instituição educacional, envolvendo “[...] a prefiguração (o planejamento) das ações, os modelos pedagógicos, os estatutos, o currículo e a disposição dos agentes encarregados do funcionamento institucional”; e a apropriação como sendo uma “[...] materialidade-conteúdo em ato, compreendendo as práticas pedagógicas propriamente ditas mediante as quais se realizam as aprendizagens entendidas como incorporação do ideário pedagógico”.

Sem dúvida, escrever a história das instituições educacionais e educativas do município de Natal, no âmbito do Plano de Erradicação

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do Analfabetismo (as Escolinhas, o Ginásio Municipal de Natal, os Galpões-Escolas dos Acampamentos Escolares e o Centro de Formação de Professores da Campanha De Pé no Chão Também se Aprende a Ler) e no âmbito da Campanha de Democratização da Cultura (as Praças de Cultura, por exemplo) requer, para fins deste trabalho, que se assuma a concepção de município pedagógico, conforme orientação de Gonçalves Neto e de Magalhães (2009), que definem o município pedagógico como sendo uma instância educativa, política e organizacional da cidadania.

Sob a ótica de Magalhães (2008, p. 5), especialmente, a singularidade do município pedagógico como instância local educativa, em síntese, “[...] está condicionada por um ideal; processos de coletivização/mobilização e de transformação; uma materialidade; uma orgânica (organicidade)”.

A história das instituições educacionais e educativas, criadas nos governos de Djalma Maranhão (as Escolinhas, o Ginásio Municipal de

Natal, os Galpões-Escolas dos Acampamentos Escolares e o Centro de Formação de Professores da Campanha De Pé no Chão Também se Aprende a Ler), pode bem configurar a cidade de Natal como um município pedagógico. A condição de município pedagógico, as

interseções entre as instituições educacionais e educativas, e os direitos de cidadania, desvelados no referido governo municipal, foram elementos determinantes para definir, como objeto deste estudo, o universo simbólico de direitos sociais e de igualdades políticas do Plano de Erradicação do Analfabetismo e de Democratização da Cultura. O período delimitado para esta investigação corresponde ao ano de 1956 (início do primeiro governo municipal de Djalma Maranhão) e ao ano 1964 (término do segundo governo municipal de Djalma Maranhão, devido ao Golpe de Estado de 1º de abril de 1964).

Colocando em perspectiva esse estudo, e levando em consideração o fato de os dois governos de Djalma Maranhão (1956-1959

e 1960-1964) haverem levado a efeito o Plano de Erradicação do Analfabetismo e de Democratização da Cultura, mediante a criação de uma rede de escolas públicas municipais para crianças, jovens e adultos, propusemo-nos analisar o alcance desse universo simbólico de direitos sociais e de igualdades políticas nos projetos e nas práticas escolares e culturais das Escolinhas, do Ginásio Municipal de Natal, dos Galpões-

Escolas dos Acampamentos Escolares e do Centro de Formação de Professores da Campanha De Pé no Chão Também se Aprende a Ler −

instituições do município pedagógico de Natal.

A tese defendida é a de que a história do Plano de Erradicação do Analfabetismo e da Campanha de Democratização da Cultura e de suas respectivas instituições educacionais e culturais representa a história de um projeto político intrínseco à esfera pública levado às suas últimas radicalidades durante os governos do prefeito Djalma Maranhão no município de Natal. A partir daí, o reconhecimento dos direitos fundamentais do povo pobre instaura-se na história da educação e na história da cultura, implicando-se, em deriva, na história de uma sociedade local cidadã, por meio de suas próprias instituições democráticas e democratizantes, e favorecendo a construção da verdadeira cidadania para os menos favorecidos.

Conforme o trabalho de Silva (1999), no exercício de prefeito do município de Natal (1956-1959), Djalma Maranhão, por várias vezes, reassumiu o mandato de Deputado Estadual, além de haver concorrido a uma vaga para a Câmara Federal (sendo eleito como primeiro suplente).

No dia 4 de dezembro de 1958, foi aprovada pela Assembleia Legislativa a Lei Constitucional nº 3, de 4 de dezembro de 1958, de autoria de Djalma Maranhão, reformando a Constituição do Estado. Nos termos dessa Lei Constitucional de 1958, preconizava-se:

A Mesa da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Norte promulga a reforma à Constituição do Estado, nos termos dos Arts. 21 − nº V e 137 do mesmo

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diploma legal e manda a todas as autoridades as quais couber o conhecimento e a execução desta lei, que a executem e façam executar e observar fiel e inteiramente como nela se contém.

Art. 1º − Ficam alterados os seguintes dispositivos da Constituição Estadual: Arts. 96 e seu parágrafo único e o item III do art. 45.

Art. 2º − O art. 96 e seu parágrafo único passam a ter a seguinte redação:

Art. 96 − Os Prefeitos e Vice-Prefeitos, inclusive os da Capital, serão eleitos pelo prazo de cinco anos, pelo voto secreto, na forma da lei, ressalvados os casos previstos na Constituição Federal.

Parágrafo único − As eleições de Prefeito e Vice-Prefeito da Capital, de que trata o presente artigo coincidirão com as de Governador e Vice-Governador.

[...]

Art. 4º − Esta Reforma Constitucional, promulgada pela Mesa da Assembleia Legislativa, entra em vigor na data de sua publicação (RIO GRANDE DO NORTE, 1958, p. 7).

Nesse ano 1958, conforme matéria do Jornal Folha da Tarde (de propriedade do próprio prefeito), Djalma Maranhão renuncia ao cargo (25 de julho de 1959) para assumir o mandato de Deputado Federal (substituindo o Deputado Djalma Marinho). Como Deputado Federal, permaneceu de julho de 1959 a novembro de 1960, quando o Partido Trabalhista Nacional requereu seu registro para candidatá-lo ao cargo de prefeito municipal de Natal nas eleições de 3 de outubro de 1960.

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