• Nenhum resultado encontrado

Os direitos à cidadania no governo de Djalma Maranhão (1956-1964)

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Os direitos à cidadania no governo de Djalma Maranhão (1956-1964)"

Copied!
184
0
0

Texto

(1)

Centro de Educação

Programa de Pós-Graduação em Educação

Natal − Rio Grande do Norte

2019

Os direitos à

cidadania

no governo de Djalma

Maranhão (1956-1964)

(2)

Berenice Pinto Marques

Os direitos à cidadania no governo de Djalma

Maranhão (1956-1964)

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Doutor em Educação.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Marta Maria de Araújo

Natal – Rio Grande do Norte 2019

(3)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Moacyr de Góes - CE

Marques, Berenice Pinto.

Os direitos à cidadania no governo de Djalma Maranhão (1956-1964) / Berenice Pinto Marques. - Natal, 2019.

185 f.: il.

Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Marta Maria de Araújo.

1. Instituições educacionais e educativas - Tese. 2. Plano de Erradicação do Analfabetismo - Tese. 3. Campanha de

Democratização da Cultura - Tese. 4. Governo Popular e nacionalista do prefeito Djalma Maranhão - Tese. I. Araújo, Marta Maria de. II. Título.

RN/UF/BS - Centro de Educação CDU 342.71"1956-1964"

(4)

Berenice Pinto Marques

Os direitos à cidadania no governo de Djalma Maranhão (1956-1964)

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Doutor em Educação.

Banca Examinadora

_____________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Marta Maria de Araújo (Orientadora)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_____________________________________________________________ Prof. Dr. Valentín Martinez-Otero Pérez (Titular)

Universidad Camplutense de Madri

_____________________________________________________________ Prof. Dr. José Gerardo Vasconcelos (Titular)

Universidade Federal do Ceará

______________________________________________________________________ Prof. Dr. José Willington Germano (Titular)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

______________________________________________________________________ Prof. Dr. Walter Pinheiro Barbosa Júnior (Titular)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_____________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Raylane Andreza Dias Navarro Barreto (Suplente)

Universidade Federal de Pernambuco

_____________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Marlúcia Menezes de Paiva (Suplente)

(5)

Djalma Maranhão e Moacyr de Góes,

escrevi esta tese de doutorado para vocês.

(6)

À prof.ª Dr.ª Marta Maria de Araújo.

Dedico.

(7)

Resumo

A reflexão histórica acerca do Plano de Erradicação do Analfabetismo, que derivou a criação das instituições educacionais e educativas, nos governos sucessivos do prefeito Djalma Maranhão (1956-1959 e 1960-1964), dá visibilidade à pretensão suprema desse governo de democratizar a educação e a cultura como direito universal do povo do município pedagógico de Natal, bem como à luta anti-imperialista, que se implicam nessas ações governamentais. O rigor da escrita desta tese conduziu ao corpus documental da investigação (mensagens governamentais, legislação educacional nacional, estadual e municipal, boletins da Secretaria de Educação e Cultura, censo demográfico, anuários estatísticos, artigos em jornais, livros, entre outros) e ao referencial teórico-metodológico, ancorado, essencialmente, na concepção sobre instituições educacionais e educativas oriunda de Magalhães, de Gatti Júnior e de Saviani. A investigação concernente à temática (interseções entre instituições educacionais e educativas, município pedagógico e direitos de cidadania) elegeu como objeto de estudo o universo simbólico de direitos sociais e de igualdades políticas do Plano de Erradicação do Analfabetismo e da Campanha de Democratização da Cultura, e se orientou pelo objetivo precípuo de analisar o alcance desse universo simbólico de direitos sociais e de igualdades políticas nos projetos e nas práticas escolares e culturais das

Escolinhas, do Ginásio Municipal de Natal, dos Galpões-Escolas dos Acampamentos Escolares e do Centro de Formação de Professores da Campanha De Pé no Chão Também se Aprende a Ler, no período de

1956 (início do primeiro governo municipal de Djalma Maranhão) a 1964 (término do segundo governo municipal de Djalma Maranhão, devido ao Golpe de Estado de 1º de abril de 1964). A tese defendida é a de que a história do Plano de Erradicação do Analfabetismo e da Campanha de Democratização da Cultura e de suas respectivas instituições educacionais e culturais representa a história de um projeto político, intrínseco à esfera pública, levado às suas últimas radicalidades durante os governos do prefeito Djalma Maranhão no município de Natal. A constatação final é a de que a história das instituições educacionais e educativas do município pedagógico de Natal é não somente a história do justo meio para democratizar-se a educação e a cultura popular e erudita mas também a história inconclusa (devido ao Golpe de Estado de 1964) do direito universal à educação e à cultura, como essência pura da democracia.

Palavras-chave: Instituições educacionais e educativas. Plano de Erradicação do Analfabetismo. Campanha de Democratização da Cultura. Governo popular e nacionalista do prefeito Djalma Maranhão.

(8)

Abstract

The historical reflection on the Plan for the Eradication of Illiteracy, which led to the creation of educational and educative institutions, in the successive governments of Mayor Djalma Maranhão (1956-1959 and 1960-1964), gives visibility to the supreme pretension of this government to democratize education and culture as a universal right of the people of the pedagogical municipality of Natal, as well as to the anti-imperialist struggle, that are implicated in these governmental actions. The rigorous writing of this thesis has led to the documentary corpus of research (government messages, national, state and municipal educational legislation, bulletins of the Department of Education and Culture, demographic census, statistical yearbooks, newspaper articles, books, among others) and to the theoretical-methodological referential, anchored, essentially, in the conception of educational and educative institutions from Magalhães, Gatti Júnior and Saviani. The research that concerns to the subject (intersections between educational and educative institutions, pedagogical municipality and citizenship rights) has chosen as object of study the symbolic universe of social rights and political equality of the Plan for the Eradication of Illiteracy and the Campaign for Democratization of Culture, and was guided by the primary objective of analyzing the range of this symbolic universe of social rights and political equality in the projects and school and cultural practices of Schools, the Municipal Gymnasium of Natal, Barn Schools of the Scholar Camps and Center for Teacher Training of the Foot-in-the-Ground We Can Also Learn to Read Campaign, in the period from 1956 (beginning of the first municipal government of Djalma Maranhão) to 1964 (the end of the second municipal government of Djalma Maranhão, due to the coup d’état of April 1, 1964). The supported thesis is that the history of the Plan for the Eradication of Illiteracy and the Campaign for Democratization of Culture and its respective educational and cultural institutions represents the history of a political project, intrinsic to the public sphere, took to its final and radical conclusions during the governments of Djalma Maranhão in the municipality of Natal. The final observation is that the history of the educational and educative institutions of the pedagogical municipality of Natal is not only the history of the right way to democratize education and popular and erudite culture but also the unfinished history (due to the 1964 coup d'état) of the universal right to education and culture, as the pure essence of democracy.

Keywords: Educational and educative institutions. Plan for the Eradication of Illiteracy. Campaign for Democratization of Culture. Popular and nationalist government of Mayor Djalma Maranhão.

(9)

Sumário

Capítulo Um

A história da história das instituições educacionais e educativas 33

Capítulo Dois

As Escolinhas de crianças pobres do Município de Natal (1956-1964) 48

Capítulo Três

A educação secundária como direito da juventude do município de Natal (1958-1964) 87

Capítulo Quatro

As instituições de educação e de cultura para o povo (1960-1964) 115

Capítulo Cinco

A escola de aprender a ensinar o povo (1961-1964) 141

Conclusões 165

(10)

Foto: Djalma Maranhão (1960?).

(11)

Foto: Moacyr de Góes (1960).

(12)

.

Foto: Sala de Aula de uma Escolinha (1957?). Fonte: Acervo particular de Roberto Monte.

(13)

Foto: Livro de Ponto dos Professores do Ginásio Municipal de Natal (1959). Fonte: Acervo do Arquivo Público Municipal.

(14)

Foto: Livro de Ponto dos Professores do Ginásio Municipal de Natal (1959). Fonte: Acervo do Arquivo Público Municipal.

(15)

Foto: Termo de compromisso do Secretário de Educação e Cultura Ascendino Henriques de Almeida Júnior (1960).

(16)

Foto: Termo de Posse e Compromisso do Secretário de Educação e Cultura Moacyr de Góes (1960).

(17)

Foto: Galpão-Escola do Acampamento do Bairro das Rocas (1961?). Fonte: Acervo particular de Roberto Monte.

(18)

Foto: Sala de Aula do Galpão-Escola do Acampamento do Bairro das Rocas (1961?).

(19)

Foto: Aluna da Galpão-Escola do Acampamento do Bairro das Rocas (1961?).

(20)

Foto: Recreação Infantil no Galpão-Escola do Acampamento do Bairro das Rocas (1961?).

(21)

Foto: Bandeira da Campanha de Pé no Chão Também se Aprende a Ler (1961?).

(22)

Foto: Capa do Livro de Leitura De Pé no Chão Também se Aprende a Ler (1963).

(23)

Foto: Rua do Bairro das Rocas da Cidade de Natal (1962?). Fonte: Acervo particular de Roberto Monte.

(24)

Foto: Cartaz da Campanha De Pé no Chão Também se Aprende a Ler (1961).

(25)

Foto: Cartaz da Campanha De Pé no Chão Também se Aprende a Ler e da Campanha De Pé no Chão Também se Aprende uma Profissão (1962).

Fonte: Acervo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte.

(26)

Foto: Livro de Ponto dos Professores do Galpão-Escola do Acampamento do Bairro das Rocas (1961-1962).

(27)

Foto: Termo de Abertura do Livro de Ponto dos Professores do Galpão-Escola do Acampamento do Bairro Nordeste (1963).

(28)

Foto: Livro de Ponto dos Professores do Centro de Formação de Professores da Campanha De Pé no Chão Também se Aprende a Ler (1963).

(29)

Foto: Biblioteca Popular Monteiro Lobato (1963?). Fonte: Acervo particular de Roberto Monte.

(30)

Foto: Instituição Escolar da Campanha Escola Brasileira Construída com

Dinheiro Brasileiro (1963).

(31)

Foto: Decreto de Exoneração do Secretário de Educação, Cultura e Saúde Moacyr de Góes (1964).

(32)

Foto: Galpão-Escola do Acampamento do Bairro das Rocas destruído e queimado (1964).

(33)

Capítulo Um

A história da história das instituições educacionais e educativas

Na vida social, muito comumente, a educação, o ensino e as instituições escolares e culturais articulam-se e se complementam. Desde a minha infância, na cidade de Mossoró (Rio Grande do Norte), e ainda na minha adolescência e na fase adulta, na cidade de Natal, fui educada para assim perceber e compreender essa realidade.

No ano de 1984, em que concluí o Curso de Pedagogia – com habilitação em Orientação Educacional −, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, esse entendimento, agora já bem mais claro, levou-me a sublevou-meter-levou-me, no ano de 1989, ao concurso público para o cargo de professor primário do município de Natal (Rio Grande do Norte), certame em que obtive aprovação.

Nesse mesmo ano, fui admitida para exercer a docência na 3ª série do 1° grau da Escola Municipal Prof. Erivan França, localizada na Vila Paraíso, bairro periférico da Zona Norte de Natal. Não obstante, vale ressalvar o fato de que, nos anos de 1992 a 1994, estive à disposição da Câmara Municipal de Natal (em função de um contrato com a Secretaria Municipal de Educação), com a incumbência de desenvolver um trabalho assistencial, relacionado com a educação e a cultura, em bairros pobres da cidade.

Encerrado esse contrato (1995), atendendo a um convite da Coordenadora do Serviço de Orientação Pedagógica da Secretaria Municipal de Educação de Natal, Ana Lúcia Ferreira, passei a integrar a equipe de Serviço de Orientação Pedagógica, com a finalidade de realizar um trabalho de formação continuada junto aos Coordenadores Pedagógicos das Escolas Municipais de Natal.

No desempenho dessa função, reunia-me, mensalmente, com um grupo de 20 Coordenadores Pedagógicos de, mais ou menos, 10 Escolas Municipais para estudar e refletir acerca do pensamento

(34)

34

educacional e educativo de Paulo Freire. Além dessa atividade, visitávamos, uma vez por mês, as Escolas Municipais que se encontravam sob nossa responsabilidade, para acompanhar os procedimentos da gestão escolar, parte do trabalho de ensino e, principalmente, de aprendizado de professores e alunos.

Posteriormente, assumi, por três anos (1999-2002), a gestão do

Programa Tributo à Criança (com seiscentas crianças matriculadas) da

Secretaria Municipal de Educação, desenvolvendo as atividades educativas no bairro do Guarapes, situado na Zona Oeste de Natal. Esse

Programa destinava-se a proporcionar aulas de reforço escolar às

crianças numa faixa etária de seis a quinze anos de idade, matriculadas na Rede Municipal de Ensino. Aos pais dessas crianças, o governo municipal (gestão da prefeita Wilma Maria de Faria) destinava uma “bolsa benefício” mensal, de acordo com a quantidade de filhos matriculados. Sob tal condição, o valor do benefício variava de R$ 60,00 (para um filho matriculado) a R$ 90,00 (para dois filhos matriculados) e R$ 120,00 (para três filhos matriculados).

Para as aulas de reforço escolar, o Programa Tributo à Criança definiu uma metodologia de ensino em que o monitor (estudante da Universidade Federal do Rio Grande do Norte) se encarregava de ensinar as tarefas escolares diárias. Às crianças, era oferecida uma refeição com o seguinte cardápio: arroz, carne de charque, feijão, carne de frango, linguiça, ovos, além de frutas e iogurte. A título de registro, vale sublinhar o fato de que o “Tributo à Criança” permanece como um dos programas prioritários da Prefeitura Municipal de Natal.

No ano de 2002, retornei à Secretaria Municipal de Educação como Assessora Pedagógica do Departamento de Ensino Fundamental. Nesse Departamento, privilegiavam-se sempre os encontros com os Coordenadores Pedagógicos das Escolas Municipais, com o intuito de estudar e refletir sobre os textos pedagógicos de Jussara Hoffmann, José Carlos Libâneo, Sonia Kramer e Rubem Alves. Também se reservava um momento particular para discutir/refletir sobre as ideias do educador

(35)

Paulo Freire. Em 2011, representando a Secretaria Municipal de Educação, integrei a equipe do Curso de Extensão a Distância “Formação Continuada em Conselho Escolar”, cujo funcionamento se dava em associação com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Em 2012, submeti-me à seleção de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, na qual fui aprovada com o projeto de título A educação popular

para todos de uma cidade educadora (Natal, Rio Grande do Norte, 1957-1964). Na dissertação de Mestrado, circunscrevi a análise às

políticas de educação popular, elaboradas e praticadas pela Secretaria de Educação e Cultura de Natal, sob a regência do governo municipal de Djalma Maranhão, dirigidas pelo professor de História do Atheneu, Moacyr de Góes (MARQUES, 2015).

Nesse trabalho de dissertação, chamou-me a atenção a rede de instituições educacionais e educativas, criadas no primeiro e no segundo governo de Djalma Maranhão (1956-1959 e 1960-1964), destinadas à educação escolar primária, secundária e normal de crianças, jovens e adultos. Mais precisamente, vale registrar o fato de que, no primeiro governo de Djalma Maranhão (1956-1959), foram criadas as Escolinhas (1957) e o Ginásio Municipal de Natal (1958). Já em seu segundo mandato (1960-1964), criaram-se os Galpões-Escolas dos Acampamentos Escolares (1961) e o Centro de Formação de Professores da Campanha De Pé no Chão Também se Aprende a Ler (1962). Para além disso, ainda consta dessa ação de governo, em benefício da educação, o feito memorável da ampliação das Escolinhas.

Retomando o curso dos acontecimentos, situo o ano de 2015, quando fui aprovada na seleção do doutorado do Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, apresentando o projeto intitulado “A educação escolar primária

nas instituições educativas do município de Natal (Rio Grande do Norte, 1956-1964)”.

(36)

36

Já no curso de doutorado, iniciei a pesquisa dedicando-me a uma literatura sobre as instituições educacionais e educativas do município de Natal, criadas no primeiro e no segundo governo de Djalma Maranhão (as Escolinhas, o Ginásio Municipal de Natal, os

Galpões-Escolas dos Acampamentos Escolares e o Centro de Formação de Professores da Campanha De Pé no Chão Também se Aprende a Ler),

justamente em observância à temática que me propunha estudar − as interseções entre instituições educacionais e educativas, o município pedagógico de Natal e os direitos de cidadania. Nesse sentido, fez-se necessário proceder a uma análise mais acurada das produções acadêmicas de Góes (1980; 1999; 2009), de Germano (1989), de Cortez (2005) e de Silva (1999).

Neste percurso investigativo, vale observar, muitas foram as descobertas/constatações. Constatamos, por exemplo, que ao assumir o governo municipal de Natal (1956-1959), o prefeito Djalma Maranhão instituiu o Plano de Erradicação do Analfabetismo com a implantação do Programa das Escolinhas (1957) e do Ginásio Municipal de Natal (1958). O Programa das Escolinhas, conforme Góes (1980, p. 69), pretendia fazer “[...] da escola o centro de desenvolvimento da vida da comunidade [...]”. Para tanto, mais de uma centena de Escolinhas foram implantadas nos bairros periféricos e nos bairros centrais da cidade de Natal. Visando atender ao apelo popular do prefeito Djalma Maranhão, segundo Góes (1980, p.100), “[...] as portas da comunidade foram abertas para a instalação de Escolinhas”.

Quebrou-se o círculo de ferro do pauperismo-analfabetismo-pauperismo. Agora, no pauperismo, emergia a escola. Abriam-se as Escolinhas em sindicatos, templos, clubes, cinemas, residências. Escolas pobres, sim, mas escolas para um povo sem escolas (GÓES, 1980, p. 100).

A educação escolar era uma reivindicação das famílias pobres. Assim, o governo municipal, popular e nacionalista, de Djalma Maranhão, pleiteando a erradicação do analfabetismo, planejou

(37)

escolas para crianças, jovens e adultos. As Escolinhas, segundo teoriza Góes (1999, p. 93), foram projetadas como “[...] instituição organizada que tinha por fim transmitir a cultura das gerações mais velhas às gerações mais moças [...]. Isto ainda deve contribuir para [a] afirmação do homem como ser humano”.

Como prefeito da cidade de Natal, no período de oito anos (1956-1959 e 1960-1964), Djalma Maranhão mobilizou a população pobre, envolvendo-a no Plano de Erradicação do Analfabetismo e na Campanha da Democratização da Cultura. À Secretaria de Educação e Cultura, à época Diretoria de Ensino, dirigida pelo prof. Moacyr de Góes, foi atribuída, pelas palavras de Germano (1989, p. 100), “[...] a missão de coordenar e desenvolver um amplo movimento educacional e cultural [fazendo surgir] não somente uma nova rede escolar, mas também uma completa organização cultural da cidade de Natal”. O Plano de Erradicação do Analfabetismo bem como a Campanha de Democratização da Cultura derivaram

[...] além das Escolinhas e dos Acampamentos Escolares, a criação de bibliotecas populares, de praças de cultura, do Centro de Formação de Professores, do Teatrinho do Povo, da Galeria de Arte. [Além disso], significou a formação de círculos de leitura, a realização de encontros culturais, a reativação de grupos de danças folclóricas, a promoção de exposições de arte, a apresentação de peças teatrais, isto é, redundou numa organização cultural da cidade, onde o povo participava efetivamente e não apenas assistia como mero expectador (GERMANO, 1989, p. 102-103).

Para criar uma cidade socialmente justa, e, em consequência, o amanhã de uma sociedade renovada, urgia educar as novas gerações nas instituições de educação pré-primária, primária, ginasial e normal, em consonância com as instituições culturais acima descritas por Germano. Por isso, no governo de Djalma Maranhão, a educação ginasial (competência do governo estadual, por exemplo) foi assumida pelo município de Natal, em 1958, nas palavras de Góes (1999, p. 47), “[...] com

(38)

38

coragem e ânimo de vencer um desafio”, que consistia em oportunizar a educação ginasial à população pobre de Natal.

No primeiro e no segundo governo de Djalma Maranhão (1956-1959 e 1960-1964), o Plano de Erradicação do Analfabetismo levou a efeito a institucionalização das Escolinhas (1957), do Ginásio Municipal de Natal (1958), dos Galpões-Escolas dos Acampamentos Escolares (1961) e do Centro de Formação dos Professores da Campanha De Pé no Chão Também se Aprende a Ler (1962).

Os Galpões-Escolas dos Acampamentos Escolares foram construídos em áreas não habitadas e/ou em terrenos baldios, mas sempre ouvindo a população organizada nos Comitês Nacionalistas. Essa população reivindicava não somente escolas para todos mas também a preservação de sua cultura popular (danças, folclores, músicas, teatros etc.), além de esporte, lazer e cursos preparatórios de iniciação ao trabalho.

E por que a criança pobre ganhou o direito de frequentar a escola? Góes (1999, p. 103) tem a resposta: “A escola ia ao encontro do aluno, [era] localizada nas áreas suburbanas mais densamente povoadas [...]. A criança pobre não tinha necessidade de deslocar-se para uma região distante de sua residência”. Nesse desenho, as instituições educacionais, como os Galpões-Escolas dos Acampamentos Escolares, integravam-se completamente ao meio ambiente de cada bairro.

De forma notória, o direito à educação e o direito à cultura, que se concedia ao povo pobre de Natal, fazia parte do plano de governabilidade: quanto à educação, conforme Silva (1999, p. 72), o propósito era o de enfrentamento do analfabetismo pela “[...] ampliação das escolas destinadas ao atendimento da população pobre [...]”; quanto à cultura, o propósito estava associado à valorização das manifestações populares e literárias à integração de alguns intelectuais que atuavam no âmbito da produção literária, folclórica, e das artes

(39)

plásticas. Para essa autora, a universalização da educação estava ancorada na crença política de Djalma Maranhão “[...] de que somente com a educação do povo seria possível vencer as dificuldades e enfrentar as soluções dos problemas socioeconômicos” (SILVA, 1999, p. 73).

Para analisar as interseções entre instituições educacionais e educativas no município pedagógico de Natal, a escrita deste trabalho de doutorado ancora-se nas orientações teórico-metodológicas de historiadores da educação que tratam sobre a história das instituições educacionais e educativas, como Magalhães (2004; 2005; 2007), Gatti Júnior (2007) e Saviani (2007).

Caso se queira pensar uma história das instituições educacionais e educativas, à luz das concepções do historiador português da educação, Magalhães (2004), faz-se necessário proceder a uma reflexão sobre o quadro empírico e conceitual de sua materialidade (o instituído), de sua representação (a institucionalização), de sua apropriação (a instituição) e de sua normatividade (as legislações, os planos, as pedagogias).

Num quadro institucional (educação-instituição), a história das instituições educacionais e educativas, para Magalhães (2004, p. 112), “[...] diz respeito à cultura material e simbólica, às condições materiais e de funcionamento, à gramática escolar e à escolarização, e refere-se à representação, à apropriação das aprendizagens e à qualificação [...]”. Por conseguinte, cada uma dessas instituições integra o todo mais amplo que é o sistema social.

Assim, historiar as instituições educacionais e educativas significa compreender “[...] uma diversificação de oportunidades sociocultural nos planos da interação e da integração individual e grupal, da experiência, da emoção, da simulação e do desempenho de papéis diversos [...]” (MAGALHÃES, 2004, p. 116). Numa acepção mais ampla, entende-se que a história das instituições educacionais e educativas

(40)

40

corresponde a uma perfeita interação entre “[...] culturas gerais e locais, sua simbolização, institucionalização, normatização, transmissão; quadros, normas e atitudes nos planos social, grupal, individual, institucional, organizacional; ação/práticas didáticas pedagógicas [...]” (MAGALHÃES, 2004, p. 119).

Na verdade, não se tem o domínio do conhecimento da história da educação a não ser que se considere a instituição de uma convergência entre educação e sociedade, conciliando e integrando, no domínio do global, o plano nacional e estadual, o território municipal e a comunidade envolvente. “É uma história, ou melhor, são histórias que se constroem numa convergência” (MAGALHÃES, 2005, p. 98).

Escrever a história de instituições educacionais e da educação-instituição, de conformidade com as teorizações de Magalhães (2007, p. 3), exige “[...] integrá-la de forma interativa no quadro mais amplo do sistema educativo e nos contextos e circunstâncias históricas, implicando-a na evolução de uma comunidade e de uma região, seu território, seus públicos e zonas de influência”.

Sob essa perspectiva, entendemos, como Magalhães (2007, p. 4), que a construção historiográfica das instituições educacionais e educativas deve articular “[...] os quadros demográfico, curricular, pedagógico e de agenciamento, estruturados sob a forma de modelo educativo, iluminados e aferidos pelas memórias e pelas biografias individuais e comunitárias”. Essa compreensão, decerto, é desenvolvida mediante a transversalidade dos constructos de natureza teórica e operacional: o instituído (que diz respeito à materialidade), a institucionalização (que diz respeito à representação), a instituição (que diz respeito à apropriação) e o instrumental oficial e pedagógico (que diz respeito à normatividade).

Segundo o historiador da educação Décio Gatti (2002, p. 20), a história das instituições educacionais e educativas deve pôr em relevo “[...] os vários autores envolvidos no processo educativo [...], aquilo que

(41)

se passa no interior das escolas [a fim de] gerar um conhecimento mais aprofundado destes espaços sociais destinados aos processos de ensino e de aprendizagem [...]”. Na visão desse autor, para explicar a existência histórica de uma e outra instituição, faz-se necessário destacar as iniciativas de criação e desenvolvimento (ciclo da vida), a arquitetura dos prédios escolares, os saberes transmitidos e os projetos culturais.

De acordo com Saviani (2007), uma instituição guarda a ideia comum de algo que é criado, organizado e instituído para atender à determinada necessidade humana. Assim, “[...] o processo de criação de instituições coincide com o processo de institucionalização de atividades que antes eram exercidas de forma não institucionalizada, assistemática, informal, espontânea” (SAVIANI, 2007, p. 5). Para esse autor, as instituições educativas, de modo geral, e as instituições educacionais, de modo específico, para efeito de reconstrução histórica, definem-se pelos já mencionados elementos básicos: a materialidade, a representação e a apropriação.

Em termos bem mais esclarecedores, Saviani (2007, p. 24-25) traduz a materialidade como “[...] a escola instalada (o instituído) e sua viabilidade mais imediata, envolvendo as condições físicas no seu aspecto arquitetônico (o prédio) com seus equipamentos, incluindo o material didático e sua estrutura organizacional”; a representação como as finalidades desempenhadas pela instituição educacional, envolvendo “[...] a prefiguração (o planejamento) das ações, os modelos pedagógicos, os estatutos, o currículo e a disposição dos agentes encarregados do funcionamento institucional”; e a apropriação como sendo uma “[...] materialidade-conteúdo em ato, compreendendo as práticas pedagógicas propriamente ditas mediante as quais se realizam as aprendizagens entendidas como incorporação do ideário pedagógico”.

Sem dúvida, escrever a história das instituições educacionais e educativas do município de Natal, no âmbito do Plano de Erradicação

(42)

42

do Analfabetismo (as Escolinhas, o Ginásio Municipal de Natal, os Galpões-Escolas dos Acampamentos Escolares e o Centro de Formação de Professores da Campanha De Pé no Chão Também se Aprende a Ler) e no âmbito da Campanha de Democratização da Cultura (as Praças de Cultura, por exemplo) requer, para fins deste trabalho, que se assuma a concepção de município pedagógico, conforme orientação de Gonçalves Neto e de Magalhães (2009), que definem o município pedagógico como sendo uma instância educativa, política e organizacional da cidadania.

Sob a ótica de Magalhães (2008, p. 5), especialmente, a singularidade do município pedagógico como instância local educativa, em síntese, “[...] está condicionada por um ideal; processos de coletivização/mobilização e de transformação; uma materialidade; uma orgânica (organicidade)”.

A história das instituições educacionais e educativas, criadas nos governos de Djalma Maranhão (as Escolinhas, o Ginásio Municipal de

Natal, os Galpões-Escolas dos Acampamentos Escolares e o Centro de Formação de Professores da Campanha De Pé no Chão Também se Aprende a Ler), pode bem configurar a cidade de Natal como um município pedagógico. A condição de município pedagógico, as

interseções entre as instituições educacionais e educativas, e os direitos de cidadania, desvelados no referido governo municipal, foram elementos determinantes para definir, como objeto deste estudo, o universo simbólico de direitos sociais e de igualdades políticas do Plano de Erradicação do Analfabetismo e de Democratização da Cultura. O período delimitado para esta investigação corresponde ao ano de 1956 (início do primeiro governo municipal de Djalma Maranhão) e ao ano 1964 (término do segundo governo municipal de Djalma Maranhão, devido ao Golpe de Estado de 1º de abril de 1964).

Colocando em perspectiva esse estudo, e levando em consideração o fato de os dois governos de Djalma Maranhão (1956-1959

(43)

e 1960-1964) haverem levado a efeito o Plano de Erradicação do Analfabetismo e de Democratização da Cultura, mediante a criação de uma rede de escolas públicas municipais para crianças, jovens e adultos, propusemo-nos analisar o alcance desse universo simbólico de direitos sociais e de igualdades políticas nos projetos e nas práticas escolares e culturais das Escolinhas, do Ginásio Municipal de Natal, dos

Galpões-Escolas dos Acampamentos Escolares e do Centro de Formação de Professores da Campanha De Pé no Chão Também se Aprende a Ler −

instituições do município pedagógico de Natal.

A tese defendida é a de que a história do Plano de Erradicação do Analfabetismo e da Campanha de Democratização da Cultura e de suas respectivas instituições educacionais e culturais representa a história de um projeto político intrínseco à esfera pública levado às suas últimas radicalidades durante os governos do prefeito Djalma Maranhão no município de Natal. A partir daí, o reconhecimento dos direitos fundamentais do povo pobre instaura-se na história da educação e na história da cultura, implicando-se, em deriva, na história de uma sociedade local cidadã, por meio de suas próprias instituições democráticas e democratizantes, e favorecendo a construção da verdadeira cidadania para os menos favorecidos.

Conforme o trabalho de Silva (1999), no exercício de prefeito do município de Natal (1956-1959), Djalma Maranhão, por várias vezes, reassumiu o mandato de Deputado Estadual, além de haver concorrido a uma vaga para a Câmara Federal (sendo eleito como primeiro suplente).

No dia 4 de dezembro de 1958, foi aprovada pela Assembleia Legislativa a Lei Constitucional nº 3, de 4 de dezembro de 1958, de autoria de Djalma Maranhão, reformando a Constituição do Estado. Nos termos dessa Lei Constitucional de 1958, preconizava-se:

A Mesa da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Norte promulga a reforma à Constituição do Estado, nos termos dos Arts. 21 − nº V e 137 do mesmo

(44)

44

diploma legal e manda a todas as autoridades as quais couber o conhecimento e a execução desta lei, que a executem e façam executar e observar fiel e inteiramente como nela se contém.

Art. 1º − Ficam alterados os seguintes dispositivos da Constituição Estadual: Arts. 96 e seu parágrafo único e o item III do art. 45.

Art. 2º − O art. 96 e seu parágrafo único passam a ter a seguinte redação:

Art. 96 − Os Prefeitos e Vice-Prefeitos, inclusive os da Capital, serão eleitos pelo prazo de cinco anos, pelo voto secreto, na forma da lei, ressalvados os casos previstos na Constituição Federal.

Parágrafo único − As eleições de Prefeito e Vice-Prefeito da Capital, de que trata o presente artigo coincidirão com as de Governador e Vice-Governador.

[...]

Art. 4º − Esta Reforma Constitucional, promulgada pela Mesa da Assembleia Legislativa, entra em vigor na data de sua publicação (RIO GRANDE DO NORTE, 1958, p. 7).

Nesse ano 1958, conforme matéria do Jornal Folha da Tarde (de propriedade do próprio prefeito), Djalma Maranhão renuncia ao cargo (25 de julho de 1959) para assumir o mandato de Deputado Federal (substituindo o Deputado Djalma Marinho). Como Deputado Federal, permaneceu de julho de 1959 a novembro de 1960, quando o Partido Trabalhista Nacional requereu seu registro para candidatá-lo ao cargo de prefeito municipal de Natal nas eleições de 3 de outubro de 1960.

Nesse ínterim, o governador Dinarte de Medeiros Mariz nomeou o prof. Moacyr de Góes, Chefe de Gabinete, para cumprir o restante do mandato do prefeito Djalma Maranhão até a posse do primeiro prefeito eleito do município de Natal. Entretanto, segundo Machado (1998), a Câmara Municipal de Natal, por consulta ao Supremo Tribunal Federal, procedeu a uma eleição indireta para preencher a vacância até a posse do eleito em 3 de outubro de 1960. Por unanimidade, foi eleito, como prefeito interino, o Presidente da Câmara Municipal, José Pinto Freire.

Com o término da interinidade do cargo de prefeito, de José Pinto Freire, conforme Silva (1999), Djalma Maranhão e Luiz Gonzaga dos

(45)

Santos tomaram posse (no dia 5 de novembro de 1960, na sala Rui Barbosa, localizada no segundo pavimento do Edifício Campullo, local de funcionamento do Poder Legislativo Municipal, na Avenida Duque de Caxias). Pela primeira vez, o município de Natal teria o primeiro prefeito e vice-prefeito constitucionais, eleitos pelo voto popular.

O prefeito Djalma Maranhão nasceu na cidade de Natal (Rio Grande do Norte) em 27 de novembro de 1915. Era filho de Luiz Ignácio Maranhão (funcionário público) e de Maria Salomé Maranhão (parteira). Mais ou menos com cinco anos de idade, foi iniciado, por seus pais, no ler, no escrever e no contar, sendo, posteriormente, matriculado no Colégio Rio Branco, da cidade de Ceará-Mirim, para fazer os estudos primários. Os estudos em nível secundário foram cumpridos no Colégio Pedro II, em Natal.

Nos seus 56 anos de vida (1915-1971), Djalma Maranhão foi funcionário público municipal (diretor da Diretoria de Documentação e Cultura da Secretaria de Educação e Cultura) e estadual (professor de Educação Física do Ateneu Norte Rio-Grandense). Ademais, foi um dos fundadores da Federação de Basquetebol e Voleibol e da Liga Suburbana de Voleibol, o que o levou a criar o Semanário “Atleta”. Na atividade jornalística, foi diretor da Folha da Tarde e do Jornal de Natal. Como militante político de esquerda, foi Deputado Estadual (1954), Deputado Federal (1959-1960) e Prefeito do município de Natal (1956-1959 e 1960-1964). Faleceu no dia 30 de julho de 1971, na cidade de Montevidéu (Uruguai), onde se encontrava exilado.

Certamente, todos esses registros cabem na história que ora se conta. Não obstante, vale lembrar que o corpus documental para a escrita desta tese de doutorado compreende, mais especificamente, as recomendações da Conferência de Ministros e Diretores da Educação das Repúblicas das Américas (1943), da Conferência Educacional e Cultural das Nações Unidas (1945), da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), do Seminário Interamericano de Educação Primária

(46)

46

(1950), da Conferência Internacional de Instrução Pública (1951), do Seminário Inter-Americano de Educação Secundária (1955), da Conferência Regional Latino-Americana sobre Educação Primária Gratuita e Obrigatória (1956), da Conferência Sobre Educação e Desenvolvimento Econômico e Social na América Latina (1962) e da Terceira Reunião Interamericana de Ministros da Educação (1963).

Para além desse corpus documental, outras fontes também foram materiais de consulta: as mensagens governamentais, as Constituições do Brasil e do Rio Grande do Norte, a legislação educacional nacional, estadual e municipal, os livros de ponto, o livro de atas, os quadros de matrículas, os boletins-edição extra da Secretaria de Educação e Cultura, o censo demográfico, o anuário estatístico, os editais de concorrência, os termos de nomeação e de compromisso, os artigos publicados em jornais, os relatos de entrevistas, as fotografias etc.

Esse corpus documental foi pesquisado no Arquivo Público Municipal de Natal, na Câmara Municipal de Natal, na Secretaria Municipal de Educação de Natal, no Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Norte, no Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística − com sede em Natal, no Memorial do Legislativo Potiguar e no Centro de Direitos Humanos e Memória Popular. Além disso, vale mencionar o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, a que se deve uma preciosa fonte de pesquisa: a Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos.

Para o alcance dos objetivos a que se propõe, esta tese tem sua abordagem contemplada em cinco capítulos, que seguem assim organizados: o primeiro capítulo − A história da história das instituições

educacionais e educativas −, que assume também a feição de uma

introdução, compreende a revisão bibliográfica, as orientações teórico-metodológicas, a definição do objetivo pretendido e do objeto de estudo, a apresentação do corpus documental e a proposição da tese

(47)

a ser defendida. O segundo capítulo − As Escolinhas de crianças pobres

do Município de Natal (1956-1964) − trata da institucionalização do Programa das Escolinhas no governo de Djalma Maranhão. O terceiro

capítulo − A educação secundária como direito para a juventude do

Município de Natal (1958-1964) − reflete acerca das interseções entre

educação secundária, preceitos democráticos da legislação nacional e municipal, das Recomendações e das Resoluções das Conferências Internacionais de Educação. O quarto capítulo − As instituições de

educação e de cultura para o povo (1960-1964) − tece considerações

sobre as instituições educacionais e as suas correlatas instituições culturais, em seus fins humano, social, político e existencial, destinadas ao povo pobre do município Natal. O quinto capítulo − A escola de

aprender a ensinar o povo (1961-1964) − apresenta a discussão sobre o

caráter pedagógico do Centro de Formação de Professores da Campanha De Pé no Chão Também se Aprende a Ler.

(48)

Capítulo Dois

As Escolinhas de crianças pobres do Município de Natal (1956-1964)

A Constituição de 1946, promulgada em 18 de setembro desse mesmo ano no governo do Presidente Eurico Gaspar Dutra (1946-1951), delegava à União a incumbência de manter relações com outras nações e com elas celebrar tratados e convenções, como as recomendações da Conferência Educacional e Cultural das Nações Unidas (1945). E também proclamava: “A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola. Deve inspirar-se nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana” (BRASIL, 1946, p. 108).

No Rio Grande do Norte, em 25 de novembro de 1947, foi promulgada a Constituição do Estado, no primeiro ano do governo de José Augusto Varela (1947-1951). Nos termos dessa Carta Magna, ao Estado, competia organizar um sistema educativo próprio, visando promover a gratuidade do ensino público em todos os seus graus, sendo este extensivo também aos adultos. Ao município, por sua vez, caberia a organização dos serviços públicos locais, como a educação escolar.

Na linha de importância desses aparatos legais, situa-se o fato de que, antecedendo o término da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), foi realizada, na cidade de Londres, a Conferência Educacional e Cultural das Nações Unidas (1º a 16 de novembro de 1945). A relevância atribuída a esse registro justifica-se em razão de se haver aprovado, nessa Conferência, a criação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como agência especializada da Organização das Nações Unidas.

Pelas recomendações dessa Conferência Educacional e Cultural das Nações Unidas (1946, p. 85), aos países membros da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a exemplo do Brasil, caberia imprimir um “[...] vigoroso impulso à educação popular, à expansão da cultura [...]” e ao desenvolvimento

(49)

de atividades educativas “[...] a fim de elevar o ideal de igualdade de oportunidades educativas sem distinção de raça, de sexo ou de outras diferenças econômicas ou sociais”.

Dois anos depois, a Assembleia Geral das Nações Unidas, reunida em Paris (10 de dezembro de 1948), proclamou a Declaração Universal

dos Direitos Humanos. Os países membros da Organização das Nações

Unidas, como o Brasil, comprometeram-se a promover, por meio da educação escolar, o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais, observando, em especial, o preceito básico da referida Declaração, assim concebido: “Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória” (DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, 1948, p. 14).

Passados sete anos da criação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), foi promovido, por essa Entidade e pela Organização dos Estados Americanos, o Seminário Interamericano de Educação Primária na cidade de Montevidéu (26 de setembro e 30 de outubro de 1950). Entre as recomendações aprovadas por esse Seminário (1952, p. 127 e 129), registrou-se um importante alerta quanto ao fato de que “[...] o direito à educação e ao ensino primário [deve ser] gratuito e obrigatório”. Além disso, em caráter particular, recomendou-se que as Organizações das Nações Unidas, a Unesco (e as demais Agências especializadas) e a Organização dos Estados Americanos (bem como os Institutos a eles filiados) continuassem dispensando sua especial atenção aos múltiplos aspectos da Escola Primária Fundamental.

Também no ano de 1950, o Censo Demográfico do Rio Grande do Norte, processado nos moldes propostos pelo Comitê do Censo das Américas (por recomendação da 1ª Conferência de Ministros e Diretores da Educação das Repúblicas das Américas, realizada na cidade do Panamá, no período de 25 de setembro a 4 de outubro de 1943),

(50)

50

divulgou a população de 5 anos (e para além dessa idade) por sexo, cor, idade e grau de educação escolar nos seus 48 municípios. No Estado, a população circunscrita na referida faixa etária, e dessa forma caracterizada, correspondia a 800.538 pessoas: 390.234 homens e 410.304 mulheres. Nos 48 municípios do Rio Grande do Norte, 222.923 pessoas (104.492 homens e 118.431 mulheres) sabiam ler e escrever. Os que se declararam analfabetos totalizavam 575.997 (284.989 homens e 291.008 mulheres).

Ainda de conformidade com o referido Censo (1950), no município de Natal, a população assim referenciada totalizava 87.600 (39.912 homens e 47.688 mulheres). Os que declararam saber ler e escrever atingiam um total de 49.337 (23.457 homens e 25.880 mulheres), enquanto os que se declararam analfabetos representavam uma soma de 38.153 (16.411 homens e 21.742 mulheres). Os dados derivados desse Censo Demográfico revelaram que o município de Natal apresentava um desacerto, em se comparando a educação como um direito legítimo de todos e o dever (não cumprido) dos poderes públicos, principalmente, como preconizava a Constituição Brasileira de 1946.

O Programa das Escolinhas, instaurado no governo de Djalma Maranhão, espelhava não só a vontade política do prefeito mas também o compromisso dos intelectuais da pedagogia de instituir uma educação pública municipal como direito igualitário para todos; ao mesmo tempo, evidenciava uma sensibilidade social em relação às crianças e ao seu futuro de adulto cidadão.

O presente capítulo trata da institucionalização do Programa das Escolinhas no governo de Djalma Maranhão, discorrendo, por um lado, sobre as recomendações internacionais e nacionais em seus fundamentos universalizáveis e, por outro lado, sobre a sistematização e a efetivação da educação primária como direito para o povo pobre do município pedagógico de Natal.

(51)

O primeiro governo municipal de Djalma Maranhão e a institucionalização do Programa das Escolinhas (1956-1959)

Iniciemos esta abordagem com o seguinte questionamento: as instituições são criadas para satisfazer determinadas necessidades humanas? Para Saviani (2007), o processo de criação de uma instituição coincide com a institucionalização de atividades que, antes, podiam ser exercidas de forma assistemática, informal, espontânea. “Mas, para satisfazer as necessidades humanas, as instituições são criadas como unidade de ação [...]. As instituições são, portanto, necessariamente sociais [...]” (SAVIANI, 2007, p. 5).

Em nosso Estado, alguns acontecimentos precedem a história das instituições. Mas eles não só marcam sua anterioridade; assinalam, além disso, sua importância por serem determinantes para esse desfecho. No dia 1º de fevereiro de 1956, em solenidade no Palácio Potengi, presidida pelo governador Dinarte de Medeiros Mariz (1956-1961), deu-se a transmissão do cargo de prefeito do Município de Natal para o Deputado Estadual Djalma Maranhão, substituindo o prefeito, em exercício, Senhor Luiz de Barros.

Em sua primeira Mensagem para a Câmara Municipal de Natal (1956), o prefeito Djalma Maranhão anunciou sua decisão de enviar um projeto de lei regulamentando o ensino municipal, a ser posto em prática em um curto espaço de tempo. Posteriormente, em 5 de janeiro de 1957, criou a primeira instituição do seu governo municipal: o Conselho Municipal de Cultura (Lei nº 615, de 5 de janeiro de 1957), que obteve a aprovação da Câmara Municipal de Natal, de acordo com o seguinte registro:

O Prefeito Municipal de Natal,

Faço saber que a Câmara Municipal aprovou e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1° − Fica pela presente lei, criado o Conselho Municipal de Cultura (C.M.C), com a incumbência de estudar medidas tendentes à execução de um Programa Municipal que constará de cursos, conferências, concursos literários e de oratória, visitas a lugares históricos

(52)

52

e tudo mais que se possa considerar objeto de cultura e desenvolvimento intelectual.

Art. 2° − O Conselho se comporá de 15 (quinze) membros sem percepção de vencimentos ou gratificação, constituindo-se cargos honoríficos, cabendo a escolha dos mesmos ao Prefeito.

Art. 3° − O Presidente do C.M.C. será de livre escolha do Prefeito dentre as pessoas que o integrarem.

Art. 4°− Fica o Prefeito autorizado a designar para servir junto ao Conselho e sem ônus para o Município os funcionários do quadro já existente e que se fizerem necessários ao seu bom funcionamento.

Art. 5°− O Prefeito deverá dentro de 60 (sessenta) dias a contar da data da publicação da presente lei, regulamentar os serviços do Conselho para que este possa atingir os seus objetivos.

Art. 6° − A presente lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário (LEI Nº 615, DE 5 DE JANEIRO DE 1957, p.103-104).

A essa instituição cultural (o Conselho Municipal de Cultura), caberia pensar e desenvolver um Programa Municipal de Cultura constando de cursos, conferências, concursos literários e de oratória, visitas a lugares históricos do município de Natal e tudo o mais que se pudesse considerar objeto de cultura e de desenvolvimento intelectual. Vê-se, nesse Programa Municipal de Cultura, um reflexo possível da recomendação da Conferência Educacional e Cultural das Nações Unidas (1945), relativa ao fato de os países membros da Unesco promoverem um vigoroso impulso à expansão da cultura, da educação popular para todos, bem como de atividades educativas.

Em 9 de janeiro de 1957, o prefeito Djalma Maranhão criou a segunda instituição do seu governo municipal: a Diretoria de Ensino Municipal (Lei nº 648, de 9 de janeiro de 1957), aprovada pela Câmara Municipal de Natal, tal como se enuncia:

O Prefeito Municipal de Natal,

Faço saber que a Câmara Municipal aprovou e eu sanciono a seguinte Lei:

(53)

Art. 1° − Fica criada a Diretoria de Ensino Municipal, diretamente subordinada à Secretaria de Negócios Internos e Jurídicos, e consequentemente o cargo de Diretor de Ensino Municipal, de provimento em comissão, incluindo a tabela II do Quadro Único da Prefeitura Municipal, criada pela Lei n. 197, de 31 de janeiro de 1953 e com vencimento mensal de Cr$ 6.000,00 (seis mil cruzeiros).1

Parágrafo Único – A primeira nomeação, a critério do Prefeito, poderá ser feita em caráter efetivo, ficando seu titular dispensado de concurso.

Art. 2°− O Ensino Municipal é leigo e será ministrado a ambos os sexos, nele proibidas quaisquer discriminações tendentes a lhe impedir ou dificultar o acesso.

Art. 3°− O ensino será registrado preferencialmente na periferia suburbana da cidade, e terá em vista promover a sua difusão nas camadas populares. Art. 4°− Para objetivar os seus fins, o Executivo Municipal criará e manterá, nos bairros e subúrbios da cidade e nas zonas rurais, grupos escolares e Escolas Municipais (Escolinhas).

Art. 5°− O ensino Municipal será inteiramente gratuito, nele proibida a cobrança de quaisquer taxas ou contribuições de qualquer natureza e sob qualquer pretexto.

Parágrafo Único – O disposto no presente artigo não exclui, porém, a criação de caixas escolares, ou cooperativas.

Art. 6° − Fica ainda criado, para fiel cumprimento da presente lei, o cargo de Assessor Técnico da Diretoria de Ensino, incluído na Tabela II do Quadro Único da Prefeitura Municipal de Natal, de provimento em

1 O valor em cruzeiro, referente ao salário do Diretor de Ensino Municipal, foi

corrigido para reais pelo IGP-DI (FGV) de conformidade com os seguintes dados informados: data inicial (9 de janeiro de 1957), data final (junho de 2019), valor nominal em cruzeiro (Cr$ 6.000,00), índice de correção no período (1.229.047.199.641.301,19073590), valor percentual correspondente (122.904.719.964.130.019,073590%) e o valor corrigido na data final em real (R$ 2.681,56). O cálculo desse valor, como os demais cálculos, foram generosamente realizados pelo prof. Dr. Anaílson Gomes do Departamento de Contabilidade da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

(54)

54

Comissão, com o vencimento mensal de Cr$ 4.300,00 (quatro mil e trezentos cruzeiros).2

§ Único – A primeira nomeação, a critério do Prefeito, poderá ser feita em caráter efetivo, ficando seu titular dispensado de concurso.

Art. 7° − Fica o prefeito autorizado a conceder a gratificação mensal de Cr$ 2.000,00 (dois mil cruzeiros)3, a três técnicos em Educação que pelo Estado, sejam postos à disposição da Prefeitura e que serão encarregados da Inspeção do Ensino Municipal.

Art. 8°− Fica o Prefeito autorizado a contratar mediante indicação do Diretor, os progressos que se fizerem necessários para o fiel cumprimento da presente lei.

Art. 9° − As despesas com o funcionamento da Diretoria ora criada deverá correr pela verba destinada ao Ensino Municipal e prevista no orçamento para o próximo exercício.

Art. 10°− Fica o Prefeito autorizado a regulamentar os serviços da Diretoria bem como os cargos ora criados. Art. 11° − A presente lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário (LEI Nº 648, DE 9 DE JANEIRO DE 1957, p. 104-106).

Visando organizar um sistema municipal de educação (escola primária e escola secundária), igualmente para todos, sem qualquer

2 O valor em cruzeiro, referente ao cargo de Assessor Técnico da Diretoria de

Ensino, foi corrigido para reais pelo IGP-DI (FGV) de conformidade com os seguintes dados informados: data inicial (9 de janeiro de 1957), data final (junho de 2019), valor nominal em cruzeiro (Cr$ 4.300,00), índice de correção no período (1.229.047.199.641.301,19073590), valor percentual correspondente (122.904.719.964.130.019,073590%) e o valor corrigido na data final em real (R$ 1.921,78).

3 O valor em cruzeiro, referente à gratificação de Técnicos em Educação do

Estado para a inspeção do ensino municipal, foi corrigido para reais pelo IGP-DI (FGV) de conformidade com os seguintes dados informados: data inicial (9 de janeiro de 1957), data final (junho de 2019), valor nominal em cruzeiro (Cr$ 2.000,00), índice de correção no período (1.229.047.199.641.301,19073590), valor percentual correspondente (122.904.719.964.130.019,073590%) e o valor corrigido na data final em real (R$ 893,85).

(55)

discriminação que pudesse impedir de promover a igualdade de oportunidades educativas, o prefeito Djalma Maranhão, pela Lei Municipal (Lei nº 648, de 9 de janeiro de 1957), implantou uma rede de escolas primárias municipais nos bairros suburbanos e nas zonas rurais do município de Natal. Da mesma forma, por meio dessa legislação municipal, iria implantar as chamadas Escolinhas; afinal, pela Constituição do Estado do Rio Grande do Norte (1947), caberia ao município a organização dos serviços públicos locais, como a educação escolar.

De acordo com as recomendações da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), quando da promoção do Seminário Interamericano de Educação Primária (1950), consoante a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) e a Constituição de 1946, a educação, como direito de todos, seria, necessariamente, gratuita, pública, leiga, obrigatória, e para meninos e meninas.

Para assessorar essa primeira instituição educacional − Diretoria de Ensino Municipal –, responsável pela implantação de uma rede de escolas municipais, principalmente o Programa das Escolinhas, o prefeito Djalma Maranhão nomeou (Lei nº 648, de 9 de janeiro de 1957) o Bacharel Omar Fernandes Pimenta. Como Diretor, foi nomeado (Lei nº 648, de 9 de janeiro de 1957) o Bacharel Roberto Brandão Furtado, que, no ato de sua nomeação (14 de janeiro de 1957), proferiu o compromisso solene de posse nos seguintes termos:

Prometo por minha honra cívica, desempenhar-me honestamente das funções inerentes ao meu cargo, respeitar os meus superiores hierárquicos e acatar as ordens deles emanadas, conservando-me fiel à causa da República, enquanto exercer o referido cargo (TERMO DE COMPROMISSO QUE ASSINA ROBERTO BRANDÃO FURTADO, 1957, p. 40).

Configurada como uma instituição educacional, educativa e normativa, a Diretoria de Ensino Municipal deveria, no uso de suas

(56)

56

atribuições, implantar uma rede de escolas municipais, mediante o Programa das Escolinhas, além de orientar o trabalho pedagógico do ensino municipal em Natal. O Programa das Escolinhas, já implantado, sob a direção de Omar Fernandes Pimenta e Ticiano Duarte, era destinado ao ensino pré-primário, especialmente às crianças e aos jovens sem escolarização, com o intuito de erradicar o analfabetismo no município de Natal.

Em 16 de março de 1957, a Diretoria de Ensino Municipal mediante o trabalho pedagógico do assessor técnico Omar Fernandes Pimenta e do então diretor interino, o Bacharel Ticiano Duarte, já havia implantado 8 Escolinhas, pleiteando a erradicação do analfabetismo de crianças na idade escolar, conforme registra a matéria do Jornal “A República”:

Já se encontram em pleno funcionamento as [Escolinhas] de Djalma Maranhão:

A Escolinha da Rua Jundiáis (localidade Carrasco).

A Escolinha das Rocas (Sede do Rio Grande Futebol Clube).

A Escolinha das Quintas (Sede dos Imperadores do Samba).

A Escolinha das Quintas (Amplificadora São José).

A Escolinha do Bairro da Conceição (Amplificadora Cruzeiro do Sul).

A Escolinha do Bairro da Conceição (Sede do Irapuan Futebol Clube).

A Escolinha do bairro de Nova Descoberta.

A Escolinha do bairro do Alecrim (Sede da União dos Servidores Públicos do Rio Grande do Norte) (AS ESCOLINHAS DE DJALMA MARANHÃO,1957, p. 1).

Essas primeiras Escolinhas (um total de oito), implantadas em seis bairros suburbanos da cidade de Natal (Alecrim, Carrasco, Conceição, Nova Descoberta, Quintas e Rocas) estavam situados, como se pode constatar, em cinco instituições diversas: amplificadora de rádio, associação de servidores públicos, clubes de futebol, sede de escola de samba e residências familiares.

(57)

Em 23 de junho de 1957, a Diretoria de Ensino Municipal, em função do trabalho pedagógico de Omar Fernandes Pimenta e de Ticiano Duarte − sempre pleiteando a erradicação do analfabetismo de crianças e jovens –, ampliou o número de Escolinhas, criando, com esse feito, mais oportunidades educacionais, como anunciado na matéria do Jornal “A República”:

A Escolinha da Rua São Jorge, s/n (Sede do Rio Grande Futebol Clube − Rocas).

A Escolinha da Rua São José, nº 266 (Sede do Amplificador São Jose – Quintas).

A Escolinha da Rua Lucas Bicalho, nº 98 (Rocas). A Escolinha da Rua dos Canindés, nº 1318 (Alecrim). A Escolinha da Rua Coronel Estevam, nº 1722 (Alecrim). A Escolinha da Rua da Lua, nº 33 (Sede dos Arrumadores das Docas do Porto (Rocas).

A Escolinha da Rua Presidente Mascarenhas, nº 668 (Alecrim).

A Escolinha da Rua 25 de Março, nº 65 (Quintas).

A Escolinha da Rua Coronel Estevam, nº 1637 (Alecrim). A Escolinha da localidade rural de Pium (AS ESCOLINHAS DE DJALMA MARANHÃO, 1957, p.1).

Num quadro assim delineado, é impossível não perceber que as instituições escolares, como a rede de Escolinhas (8 + 10 = 18) implantadas pela Diretoria de Ensino Municipal, inclusive em uma área rural da cidade de Natal (Pium), revelam-se, como pondera Araújo (2007, p. 96), “[...] copartícipes de projetos históricos, particularmente os vinculados às visões de mundo que se confrontam em uma dada conjuntura, fazendo valer uma dada concepção [...] sinalizam e revelam projetos de ordem ideativa”. Melhor dizendo, são projetos de instituições escolares que concedem às crianças o direito de frequentar a escola pública e o direito de aprender conhecimentos e valores humanos, ainda que essa escola não funcione em prédios escolares apropriados.

Esse complexo social nominado instituição escolar – para usar a expressão de González (2007) –, a rede de Escolinhas em ampliação, carrega consigo a institucionalização de cargos e funções inerentes ao

(58)

58

trabalho pedagógico da Diretoria de Ensino Municipal no âmbito do cotidiano escolar. Por isso mesmo, no dia17 de julho de 1957, a Câmara Municipal de Natal aprovou o cargo isolado de Inspetor do Ensino Municipal (Lei nº 729, de 17 de julho de 1957) como sendo mais um projeto de ordem ideativa do prefeito Djalma Maranhão.

O Prefeito Municipal de Natal,

Faço saber que a Câmara Municipal aprovou e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º − Fica criado na Diretoria de Ensino Municipal e incorporado a Tabela II do Quadro Único da Prefeitura Municipal, o cargo isolado, padrão “S”, de Inspetor do Ensino Municipal.

§ Único − A primeira nomeação, recaída em servidor da Municipalidade, será feita em caráter efetivo, ficando seu titular dispensado de concurso.

Art. 2º − Dentro de 60 (sessenta) dias, a contar da publicação desta Lei, o Prefeito baixará o regulamento da função ora criada.

Art. 3º − Fica o prefeito autorizado a abrir, no corrente exercício financeiro, à verba competente, o crédito especial de Cr$ 20.000,00 (vinte mil cruzeiros)4, para

atender às despesas decorrentes da presente Lei.

At. 4º −A presente Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário (LEI Nº 729, DE 17 DE JULHO DE 1957, p. 113).

Para legitimar a inspeção, sobretudo na rede de Escolinhas, e o trabalho pedagógico da instituição que projetava e promovia a educação para todos (a Diretoria de Ensino Municipal), o Prefeito Djalma Maranhão regulamentou o cargo de Inspetor do Ensino Municipal (Lei nº 729, de 17 de julho de 1957), cujo titular era um servidor do município, contratado em caráter efetivo.

4 O valor em cruzeiro, referente ao crédito especial, foi corrigido para reais pelo

IGP-DI (FGV) de conformidade com os seguintes dados informados: data inicial (9 de janeiro de 1957), data final (junho de 2019), valor nominal em cruzeiro (Cr$ 20.000,00), índice de correção no período (1.187.761.649.675.387,00963620), valor percentual correspondente (118.776.164.967.538.600,963620%) e o valor corrigido na data final em real (R$ 8.638,27).

(59)

Evidentemente, o Programa das Escolinhas, copartícipe do projeto político do direito à educação para todos e do direito à cultura, demandava diversos cargos e funções com suas práticas formativas específicas, como o de Orientador Educacional, por exemplo. Em razão disso, em 9 de setembro de 1958, o prefeito Djalma Maranhão criou o referido cargo (Lei nº 847, de 9 de setembro de 1958), diretamente subordinado à Diretoria de Ensino Municipal, tendo sido este aprovado pela Câmara Municipal de Natal, conforme se registra:

O Prefeito Municipal de Natal,

Faço saber que a Câmara Municipal aprovou e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º − Fica criado e incluído na Tabela III, do Quadro único da Prefeitura Municipal de Natal, criado pela lei nº 197 de 31 de janeiro de 1953, 1 (um) cargo de Orientador Educacional, padrão P, diretamente subordinado à Diretoria de Ensino Municipal.

Art. 2º − Fica criado e incorporado à Tabela III, do Quadro Único da Prefeitura Municipal de Natal, criado pela lei nº 197 de 31 de janeiro de 1953, 1 (um) cargo de Assessor Técnico, padrão Z, da Secretaria de Negócios Internos e Jurídicos.

§1° − O cargo criado por este artigo, será preenchido por funcionário municipal que conte mais de 2 (dois) anos de serviços prestados à Prefeitura.

§ 2º − A primeira nomeação para o cargo ora criado será feita em caráter efetivo, ficando o ocupante isento de concurso em se tratando de funcionário municipal.

Art. 3º − Fica o prefeito autorizado a regulamentar os cargos ora criados, bem como abrir o crédito especial necessário a atender as despesas decorrentes da presente lei.

Art. 4º − A presente lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário (LEI Nº 847, DE 9 DE SETEMBRO DE 1958, p.122-124).

Nesse ano de 1958 (ano da institucionalização, pelo Ministério da Educação e Cultura, da Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo), a instituição Diretoria de Ensino Municipal, como produtora e mediadora de um trabalho normativo pedagógico de práticas formativas e, sobremodo, potencializadora da erradicação do

Referências

Documentos relacionados

O capítulo I apresenta a política implantada pelo Choque de Gestão em Minas Gerais para a gestão do desempenho na Administração Pública estadual, descreve os tipos de

De acordo com o Consed (2011), o cursista deve ter em mente os pressupostos básicos que sustentam a formulação do Progestão, tanto do ponto de vista do gerenciamento

Inicialmente, até que as ações estejam bem delineadas, a proposta é de que seja realizada apenas uma reunião geral (Ensino Fundamental e Educação Infantil)

Com a mudança de gestão da SRE Ubá em 2015, o presidente do CME de 2012 e também Analista Educacional foi nomeado Diretor Educacional da SRE Ubá e o projeto começou a ganhar

A versão reduzida do Questionário de Conhecimentos da Diabetes (Sousa, McIntyre, Martins & Silva. 2015), foi desenvolvido com o objectivo de avaliar o

Afinal de contas, tanto uma quanto a outra são ferramentas essenciais para a compreensão da realidade, além de ser o principal motivo da re- pulsa pela matemática, uma vez que é

29 Table 3 – Ability of the Berg Balance Scale (BBS), Balance Evaluation Systems Test (BESTest), Mini-BESTest and Brief-BESTest 586. to identify fall

Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não governamental legalmente reconhecida em um ou mais Estados membros da Organização pode apresentar à