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Capacidade discursiva Infraestrutura geral dos textos, sequências textuais e tipos de

2 CONSTRUINDO O CONTEXTO DO ENSINO DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA

3.4 As capacidades de linguagem

3.4.2 Capacidade discursiva Infraestrutura geral dos textos, sequências textuais e tipos de

A capacidade discursiva possibilita que se escolha um tipo de discurso para realizar uma determinada ação de linguagem, como ele interfere/organiza o conteúdo de seu texto e o formato que ele dá a este. O ISD propõe um modelo de análise, a partir da interpretação de que todo texto deve ser organizado em três níveis interativos, o que Bronckart (1999) chamou de folhado textual. A organização deste folhado em três níveis é a seguinte: a infraestrutura geral do texto, os mecanismos de textualização e os mecanismos enunciativos. A infraestrutura geral trata do plano geral do texto, onde se verificam os tipos de discurso e as sequências textuais e suas articulações, a organização do conteúdo temático, através da qual, pode-se caracterizar o gênero textual ao qual pertence. Os mecanismos de textualização possibilitam a progressão do conteúdo temático, eles marcam as organizações hierárquicas, lógicas ou temporais de um texto, dentro de três conjuntos: conexão, coesão nominal e coesão

verbal. Por fim, os mecanismos enunciativos possibilitam a coerência pragmática do texto, apontando posicionamentos enunciativos, articulação das vozes presentes e das modalizações presentes no texto. Para o entendimento de como funciona a capacidade discursiva, iremos nos ater aos elementos vinculados a ela: Infraestrutura geral dos textos, as sequências textuais e os tipos de texto.

A infraestrutura geral dos textos

A infraestrutura geral do texto é composta do plano geral do texto, pelos tipos de discurso e suas articulações e pelas sequências textuais presentes no texto. O plano geral está relacionado à organização do conjunto do conteúdo temático, o que conhecemos como estrutura organizacional dos elementos de cada gênero, que pode ser mais canônico (como acontece com o plano geral de uma carta ou de uma receita) ou menos canônico (como

acontece com gêneros como a “cantada” ou a piada).

O tipo de discurso indica os diferentes segmentos que o texto comporta. Bronckart postula que os tipos de discurso correspondem a mundos discursivos construídos na produção textual. Eles estão divididos em quatro grandes tipos, com os quais se podem construir diferentes e infinitos tipos de texto: Interativo e teórico – que estão no eixo do EXPOR; e Relato interativo e Narração – que estão no eixo do NARRAR.

Os tipos de discurso podem ser entendidos como pertencentes a dois eixos principais: narrar e expor. O eixo do narrar (disjunção), pode ser implicado ou autônomo, ou seja, pode apresentar ou não implicação em relação ao ato de produção (através de dêiticos espaciais, temporais e de pessoa). O eixo do expor (conjunção) pode também ser implicado ou autônomo. Sendo assim, dentro desses dois eixos, há uma outra divisão que da origem aos tipos de discurso: narrar – disjunto e autônomo (tipo de discurso narração); narrar – disjunto e implicado (tipo de discurso relato interativo) e expor – conjunto e implicado (tipo de discurso interativo) e expor – conjunto e autônomo (tipo de discurso teórico). (LOUSADA, 2009, p. 163).

Desta forma, estes discursos podem ser caracterizados como:

 Discurso interativo – caracteriza-se pela constituição de um mundo discursivo

conjunto ao da interação social em curso, com referências explícitas aos parâmetros da situação material de produção;

 Discurso teórico – caracteriza-se pela constituição de um mundo conjunto ao

 Relato interativo - caracteriza pela constituição de um mundo discursivo

disjunto ao da interação, integrando referências aos parâmetros da situação material de produção;

 Narração – caracteriza-se também pela constituição de um mundo disjunto, não

integrando as referências aos parâmetros da situação material de produção. Estes discursos podem articular-se entre si, formando outros tipos de discurso. Os processos de articulação dos tipos de discurso podem ocorrer de duas formas distintas:

Encaixamento - conjunto de procedimentos que explicitam a relação de dependência de um segmento em relação ao outro (BRONCKART, 1999, p. 121) e

Fusão – Articulação de dois tipos de discurso diferentes em um mesmo segmento. Além dos tipos de discursos formadores de textos, as sequências (ADAM, 1992) representam modos de planificações mais convencionais ou modos de planificação da linguagem que também são formadoras dos gêneros, elas são relativamente autônomas, podendo ser desligadas umas às outras. Estas sequências são unidades textuais mais complexas, estabelecidas e tipificadas, compostas de um número limitado de conjuntos de proposições-enunciados chamadas de macroproposições. Para Adam (2008, p. 204):

A macroproposição é uma espécie de período cuja propriedade principal é a de ser uma unidade ligada a outras macroproposições, ocupando posições precisas dentro do todo ordenado da sequência. Cada macroproposição adquire seu sentido em relação às outras, na unidade hierárquica completa da sequência. Nesse aspecto, uma sequência é uma estrutura, isto é, uma rede relacional hierárquica [...] e uma unidade relativamente autônoma, dotada de uma organização interna.

Estas sequências podem ser classificadas a partir das macroproposições existentes em: narrativa, explicativa, dialogal, descritiva e argumentativa.

Sequência narrativa - Há um desencadear de ações e Adam apresenta características que lhes são próprias: a sucessão de eventos, um sendo desencadeador de outro evento. Há cinco fases principais para a produção deste protótipo padrão: a situação inicial (apresentação dos fatos), complicação (transformação que cria uma tensão), ações (acontecimentos desencadeados por perturbações), resolução (redução efetiva da tensão) e situação final (um novo estado de equilíbrio é possibilitado pela resolução). Não sendo essencial à sequência narrativa, a moral (reflexão sobre o fato narrado) pode ocorrer ou não, e pode ser implícita ou explícita.

Sequência descritiva – Esta apresenta a característica de ser composta de fases que não se organizam em uma ordem linear, que se combinam e se encaixam em uma ordem

hierárquica ou vertical. As fases são: ancoragem (assinalado por uma forma nominal ou tema- título), aspectualização (os aspectos do tema-título são enumerados) e fase de relacionamento (os elementos são descritos por meio de comparação ou anáfora a outros elementos).

Sequência argumentativa – Esta sequência é a mais bem estruturada de todas, pois apresenta um encadeamento canônico, porque trabalha com uma tese com a qual possivelmente vamos concordar e que vai aparecer ao final de um texto. O protótipo desta sequência é composto de: fase de premissas (constatação da partida), apresentação dos argumentos, apresentação de contra-argumentos e fase de conclusão (que integra os efeitos dos argumentos e dos contra-argumentos).

Sequência explicativa – Inspirado em Grize, Bronckart destaca que o raciocínio

explicativo advém da “constatação de um fenômeno incontestável”, podendo se tratar de um

acontecimento natural ou de uma ação humana. Esse fenômeno, porém, reivindica maiores explicações e um agente autorizado e legítimo é que explica as causas e/ou razões da afirmação inicial. O protótipo desta sequência é composto de quatro fases: fase de constatação inicial (introduz o fenômeno não contestável), problematização (explicita-se uma questão), resolução (explicação propriamente dita) e conclusão-avaliação (reformula e completa a constatação inicial).

Sequência dialogal – Realiza-se somente nos discursos interativos dialogados. Esta possui seu protótipo organizado em três fases: fase de abertura (os interactantes entram em contato), transacional (o conteúdo temático da interação é co-construído) e encerramento (põe fim à interação). Cada uma das três fases pode ser decomposta em unidades dialogais ou trocas. Essas trocas são compostas por intervenções, ou seja, turnos de fala.

3.4.3 Capacidade Linguístico-discursiva - Mecanismos de textualização e Mecanismos